Relatório do WWF revela pela primeira
vez quais países terão suas economias mais afetadas nos próximos 30 anos
se o mundo não agir com urgência para lidar com a crise ambiental global.
Foto – Evren Ozdemir por Pixabay
O estudo Global Futures, que
calculou o custo econômico do declínio da natureza em 140 países, da Índia ao
Brasil, mostra que, se o mundo continuar fazendo negócios da forma como sempre
fez (business as usual), os EUA sofrerão as maiores perdas do PIB anual em
termos absolutos, com US$ 83 bilhões varridos de sua economia por ano até 2050
– uma quantia equivalente a todo o PIB anual da Guatemala. Isso se deve
em grande parte aos danos esperados em suas infraestruturas costeiras e terras
agrícolas, e devido ao aumento das inundações e erosão como resultado das
perdas de defesas costeiras naturais, como recifes de coral e manguezais.
Danos ocasionados na Zona Costeira
são a principal causa dos prejuízos à economia brasileira, que ocupa o
sexto lugar no ranking, com perdas de US$ 14 bilhões (ou R$ 60 bilhões no
câmbio atual) ao ano até 2050. A destruição da zona costeira irá gerar perdas
anuais de US$ 12,382 bilhões (ou R$ 53.243 no câmbio atual), seguida por
produção florestal (US$ 1,326 bi ou R$ 5.702 bilhões), polinização (US$ 1,013
bi ou R$ 4.356 bilhões), água doce (US$ 0,69 bi ou R$ 2,967 bilhões) e produção
pesqueira (US$ 0,108 bi ou R$ 464 milhões). A Zona Costeira brasileira, que abriga
cerca de 60% da população do país, possui grande vulnerabilidade frente às
mudanças climáticas. O aumento do nível do mar e das erosões costeiras, as
frequentes e intensas as perdas de bens e pessoas são os aspectos mais visíveis
que impactam nas perdas econômicas. Já a produção florestal tem perda da
produtividade causada pela mudança das condições climáticas alteradas pelo
desmatamento e uso do solo. No último ano o Brasil teve uma taxa de 9.762 km²
de desmatamento e as emissões por uso de solo responderam por 44% de toda a
emissão do País.
A polinização é outro aspecto apontado
pelo estudo. No Brasil cerca de 32 alimentos dependem exclusivamente de
polinizadores (BPBES/REPPIB) e com as alterações climáticas este ciclo de
produção fica altamente comprometido. Outros elementos como água doce e
produção pesqueira também serão afetados à medida que a mudança e intensidade
de chuvas alteram o ciclo hidrológico do sistema, impactando na segurança para
as comunidades costeiras, na mudança de seu habitat e na reprodução dos peixes
além de contar com grandes períodos de estiagem.
Foto – Goumbik por Pixabay
No caso específico das commodities
agrícolas, são previstas perdas anuais na cultura de cana (US$ 8 milhões ou R$
34,4 milhões) e na pecuária (US$ 51 milhões ou R$ 219,3 milhões) caso o atual
modelo intensivo em carbono persista. Por outro lado, a mudança para
modelos mais limpos e sustentáveis permitiria ganhos anuais de US$ 87 milhões
ou R$ 374,1 milhões para a cana, e US$ 4 milhões ou R$ 17,2 milhões para a
pecuária. Para a indústria alimentícia, a perda é de US$ 460 milhões ou
R$ 1.978 bilhão no cenário de um modelo econômico que desconsidera os serviços
ecossistêmicos como atualmente, enquanto a indústria em geral perderia US$ 2,2
bilhões ou R$ 9,46 bilhões. Já uma economia de baixo carbono geraria
ganho de US$ 1,5 bilhão ou R$ 6,45 bilhões para a indústria em geral e de US$
459 ou R$ 1.974 bilhão para a indústria alimentícia. O setor de serviços perde
nos dois cenários, porém em proporções totalmente diferentes: US$ 9,3 bilhões
(ou quase R$ 40 bilhões/ano) se a economia permanecer como está e US$ 1,6
bilhão (R$ 6,9 bilhões) em uma economia que mantenha os serviços ecossistêmicos.
Outras regiões em desenvolvimento também
serão seriamente impactadas, com a África Oriental e Ocidental, a Ásia Central
e partes da América do Sul sendo particularmente afetadas devido à perda de
seus serviços ecossistêmicos que afeta seus níveis de produção, o comércio e os
preços dos alimentos. De acordo com o relatório, os três países que mais devem
perder PIB em termos percentuais são Madagascar, Togo e Vietnã, que até 2050
deverão ver quedas de 4,2%, 3,4% e 2,8% ao ano, respectivamente.
O estudo Global Futures prevê
perdas globais anuais até 2050 de:
US$ 327 bilhões em proteções danificadas
contra inundações, tempestades e erosão devido a mudanças na vegetação ao longo
da costa e aumento do nível do mar
US$ 128 bilhões com a perda de
armazenamento de carbono que protege contra as mudanças climáticas
US$ 15 bilhões em habitats perdidos para
abelhas e outros insetos polinizadores
US$ 19 bilhões provenientes da redução
da disponibilidade de água para a agricultura
US$ 7,5 bilhões de florestas perdidas e
serviços de ecossistemas florestais
O estudo também prevê aumentos de preços
globais nos próximos 30 anos para as principais commodities, já que o setor
agrícola global será o mais atingido pelo declínio dos serviços ecossistêmicos
da natureza, como escassez de água e a diminuição de abelhas e outros insetos
polinizadores. Em última análise, isso poderá levar a um aumento dos preços dos
alimentos para os consumidores em todo o mundo, com implicações para a
segurança alimentar em muitas regiões.
Os aumentos de preços previstos até 2030
para as principais commodities incluem:
Madeira + 8% - Algodão + 6% - Sementes oleaginosas + 4% - Frutas e verduras + 3%
“Este estudo inovador mostra como a
natureza perdida não apenas terá um enorme impacto na vida e nos meios de
subsistência humanos, mas também será catastrófica para nossa prosperidade
futura. Pessoas de todo o mundo já estão sentindo o impacto do aumento dos
preços dos alimentos, secas, escassez de mercadorias, inundações extremas e
erosão costeira. No entanto, para a próxima geração, as coisas serão muito
piores, com trilhões varridos das economias mundiais até 2050”, disse Marco
Lambertini, diretor geral da WWF Internacional.
Foto – Jose Antonio Alba por Pixabay
“O mais alarmante é que essas são
estimativas conservadoras pois, atualmente, apenas alguns dos muitos benefícios
que a natureza nos fornece podem ser modelados. Também não é possível levar em
consideração os efeitos multiplicadores de riscos dos pontos de inflexão
ambiental, além dos quais os habitats mudam rápida e irreversivelmente, levando
à súbita perda catastrófica dos serviços da natureza. Se todas essas questões
fossem levadas em consideração, os números seriam ainda mais graves.”
Alexandre Prado, diretor de Economia
Verde do WWF-Brasil afirma que “o estudo aponta que economia e conservação têm
estreita relação e que é necessário dar ênfase e escala a modos de produção e
consumo mais sustentáveis. Os serviços ecossistêmicos não são somente a
garantia de nossa sobrevivência em nosso planeta, mas também da geração de
oportunidades econômicas e da qualidade de vida para as sociedades humanas”.
“O mundo perde muito em não agir,
principalmente pelo aumento do nível do mar e demais eventos extremos nas
costas, mas também pela perda de produtividade agrícola e florestal e o menor
volume de água doce disponível. Outro ponto é que as perdas serão muito
desiguais: os países-ilha, por exemplo, serão varridos do mapa. Só vamos conseguir
manter o crescimento econômico e a prosperidade global em um cenário de
conservação”, ressalta Prado.
O estudo Global Futures usou
uma nova modelagem econômica e ambiental para avaliar qual seria o impacto
macroeconômico se o mundo persistisse no business as usual, incluindo
mudanças generalizadas e não direcionadas no uso da terra, aumento contínuo nas
emissões de gases de efeito estufa e perda adicional de recursos naturais.
Em um cenário em que o uso da terra é
cuidadosamente gerenciado para evitar novas perdas de áreas importantes para a
biodiversidade e os serviços ecossistêmicos, que o estudo chama de cenário de
‘Conservação Global’, os resultados econômicos seriam dramaticamente melhores.
O PIB global aumentaria 0,02% ao ano, gerando um ganho líquido de US$ 490
bilhões por ano acima do cálculo da economia como sempre.
Esse método pioneiro de análise foi
criado por meio de uma parceria entre o WWF, o Projeto Global de Análise de
Comércio da Universidade de Purdue e o Projeto Capital Natural, co-fundador
pela Universidade de Minnesota. Steve Polasky, co-fundador do Projeto
Capital Natural, afirma que: “as economias do mundo, as empresas e nosso
próprio bem-estar dependem da natureza. Mas, desde mudanças climáticas,
condições climáticas extremas e inundações, até falta de água, erosão do solo e
extinções de espécies, as evidências mostram que nosso planeta está mudando
mais rapidamente do que em qualquer outro momento da história. A maneira como
alimentamos, abastecemos e financiamos a nós mesmos está destruindo os sistemas
de apoio à vida dos quais dependemos, arriscando a devastação econômica
global.”
Foto – Molly Allen por Pixabay
homas Hertel, diretor executivo do
Projeto Global de Comércio e Análise, entende que: “a ciência e a economia são
claras. Não podemos mais ignorar o forte argumento econômico de restaurar a
natureza. A inação nos custará muito mais do que ações para proteger as
contribuições da natureza para a economia. Para garantir um futuro global
positivo, precisamos alcançar padrões mais sustentáveis de produção e de uso da
terra, e reformar os sistemas econômico e financeiro para incentivar a tomada
de decisão baseada na natureza.” Lambertini disse: “A boa notícia é que
esses resultados desastrosos podem ser evitados se ao invés de continuarmos no
modelo antigo de fazermos negócios os governos agirem urgentemente para deter a
perda de natureza e enfrentar a nossa emergência planetária. Não precisamos
nada menos que um novo acordo para a natureza e as pessoas, tão
abrangente, ambicioso e científico como o acordo climático global acordado em
Paris em 2015.”
Os números incluídos no estudo Global
Futures referem-se ao impacto econômico projetado de formas específicas de
perda de natureza, mas não incluem todas as diferentes maneiras pelas quais a
degradação ambiental afetará as economias globais entre agora e 2050. O impacto
total, quando todos esses fatores sejam em consideração, deverá ser muito
maior.
Países mais afetados em termos de perda
real do PIB nacional anual (bilhões) em um cenário business as usual até 2050:
1) Estados Unidos da América (- US $ 83) - 2) Japão (- US$ 80) - 3) Reino Unido (- US$ 21) - 4) Índia (- US$ 20) - 5) Austrália (- US$ 20) - 6) Brasil (- US$ 14) - 7) Coréia do Sul (- US$ 10) - 8) Noruega (- US$ 9) - 9) Espanha (- US$ 9) - 10) França (- US$ 8)
Países mais afetados em termos de% de
perda do PIB nacional anual em um cenário business as usual até 2050:
1) Madagáscar (-4,2%) - 2) Togo (-3,37%) - 3) Vietnã (-2,84%) - 4) Moçambique (-2,69%) - 5) Uruguai (-2,54%) - 6) Sri Lanka (-2,48%) - 7) Cingapura (-2,31%) - 8) Nova Zelândia (-2,29%) - 9) Omã (-2,25%) - 10) Portugal (-1,95%)
Autor: Aviv Comunicação – Neo Mondo.
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