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12 de março de 2020

Batata!

Que assunto nos levaria o mais longe possível do catastrófico noticiário do dia?

Nestes dias em que a atualidade nos assusta, o desafio é encontrar uma maneira de não escrever sobre a atualidade, embora ela não nos saia da cabeça. Que assunto nos levaria o mais longe possível do catastrófico noticiário do dia? Já sei: a batata.
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A batata começou a existir no Peru, onde era tão importante que os incas usavam, como unidade básica de tempo, o tempo que levava para cozinhá-la. Na Europa, para onde foi levada em 1570, a batata tornou-se uma safra dominante dada a facilidade do seu plantio, o teor dos seus carboidratos e vitaminas e sua adaptação à agricultura de subsistência. 
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Os franceses, a princípio, resistiram à batata, como resultado de uma crença de que ela causava lepra. Quem acabou com a crença foi Antoine-Augustin Parmentier, que adquiriu o gosto por sopa de batata numa prisão da Prússia e, na volta à França, transformou o tubérculo num sucesso, tanto que flores da planta passaram a ser usadas na lapela, na corte de Luis XVI. O lançador da moda é comemorado até hoje nos nomes de “potage parmentier”, “crepes parmentier” e qualquer outro prato em que a batata predomine.
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A batata também tem uma história trágica. Na Irlanda do século 19, as várias virtudes da batata a transformaram numa virtual monocultura, cujas sucessíveis colheitas fracassadas foram responsáveis pela fome que matou um milhão de pessoas. 
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Batatas fritas são as batatas mais comuns e democráticas feitas no mundo desde que elas foram levadas do Peru. Nos Estados Unidos elas são chamadas de “french fries”, porque lá gostam de pensar que o que é muito excitante não pode ser muito americano e, por exemplo, chamam beijo de língua de “french kiss”. Quando os franceses não quiseram apoiar a invasão do Iraque por tropas americanas, surgiu um movimento nos Estados Unidos para rebatizar as fritas de “freedom fries”. Não pegou.
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Pronto. Consegui chegar ao fim da crônica sem citar uma vez o noticiário do dia.

Autor: Luis Fernando Verissimo, O Estado de S. Paulo.

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