Que
assunto nos levaria o mais longe possível do catastrófico noticiário do dia?
Nestes
dias em que a atualidade nos assusta, o desafio é encontrar uma maneira de não
escrever sobre a atualidade, embora ela não nos saia da cabeça. Que assunto nos
levaria o mais longe possível do catastrófico noticiário do dia? Já sei: a
batata.
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A
batata começou a existir no Peru, onde era tão importante que os incas usavam,
como unidade básica de tempo, o tempo que levava para cozinhá-la. Na Europa, para
onde foi levada em 1570, a batata tornou-se uma safra dominante dada a
facilidade do seu plantio, o teor dos seus carboidratos e vitaminas e sua
adaptação à agricultura de subsistência.
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Os
franceses, a princípio, resistiram à batata, como resultado de uma crença de
que ela causava lepra. Quem acabou com a crença foi Antoine-Augustin
Parmentier, que adquiriu o gosto por sopa de batata numa prisão da Prússia e,
na volta à França, transformou o tubérculo num sucesso, tanto que flores da
planta passaram a ser usadas na lapela, na corte de Luis XVI. O lançador da
moda é comemorado até hoje nos nomes de “potage parmentier”, “crepes
parmentier” e qualquer outro prato em que a batata predomine.
*
A
batata também tem uma história trágica. Na Irlanda do século 19, as várias
virtudes da batata a transformaram numa virtual monocultura, cujas sucessíveis
colheitas fracassadas foram responsáveis pela fome que matou um milhão de
pessoas.
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Batatas
fritas são as batatas mais comuns e democráticas feitas no mundo desde que elas
foram levadas do Peru. Nos Estados Unidos elas são chamadas de “french fries”,
porque lá gostam de pensar que o que é muito excitante não pode ser muito
americano e, por exemplo, chamam beijo de língua de “french kiss”. Quando os
franceses não quiseram apoiar a invasão do Iraque por tropas americanas, surgiu
um movimento nos Estados Unidos para rebatizar as fritas de “freedom fries”.
Não pegou.
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Pronto.
Consegui chegar ao fim da crônica sem citar uma vez o noticiário do dia.
Autor: Luis Fernando Verissimo, O Estado
de S. Paulo.
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