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16 de agosto de 2019

São inocentes os rompantes linguísticos de Bolsonaro?

Conhecemos muito bem o perigo contido na linguagem, que nunca é inocente, porque também revela o abismo do nosso interior.
Protesto por recursos para a educação e contra Bolsonaro em São Paulo, nesta terça-feira. AMANDA PEROBELLI REUTERS
Existe o perigo de considerar as explosões verbais do presidente Jair Bolsonaro, sejam as escatológicas e de mau gosto sexual ou as mais ideológicas, como um tanto caricaturais e inofensivas. Não basta alegar que o presidente é "politicamente incorreto" à la Trump ou que isso é apenas algo natural e espontâneo nele. Pode acabar sendo mais grave e perigoso. Desde o surgimento da psicanálise, e depois de Freud e Lacan, conhecemos muito bem o perigo contido na linguagem, que nunca é inocente, porque também revela o abismo do nosso interior.
O Brasil está começando a sofrer o perigo da linguagem com a chegada ao poder do capitão reformado ultradireitista Bolsonaro. Nada seria pior do que tomar suas bravatas e loucuras linguísticas como algo sem importância a que deveríamos nos acostumar. Pode ser trágico.
Aonde a linguagem pode levar, às vezes abertamente suja e outras vezes escondida na ambiguidade, é algo que a Humanidade já experimentou ao longo da história com os maiores ditadores, e que sempre acabou em tragédia. Quando, dias atrás, um jornalista lhe perguntou sobre como ajudar a melhorar o meio ambiente — uma questão que o presidente despreza, chegando a negar a evidências de sua gravidade —, Bolsonaro respondeu que “é só você deixar de comer menos [sic] um pouquinho. Quando se fala em poluição ambiental, é só você fazer cocô dia sim, dia não, que melhora bastante a nossa vida também, tá certo?”
Houve quem achasse graça. Esquecemos que algo assim aconteceu, por exemplo, com Mussolini, na Itália. Quando iniciou sua revolução fascista, ele se divertia revelando alguns de seus gostos sexuais, como o de que preferia fazer amor "com camponesas sujas e peludas". Sabemos hoje como acabaram aqueles gostos escatológicos do Duce.
O perigo da linguagem de Bolsonaro reside não apenas no que alguns chamam de vazio intelectual, de pequenez de visão ou de falta de leitura. Pode se tornar algo mais sério, já que pode ser a idiossincrasia da personagem. Não é que tente parecer engraçado e espontâneo. Sua personalidade começa a ser vista como pequena de horizontes e com convicções autoritárias que, hoje vemos, eram típicas dos grandes ditadores, e que em muitas ocasiões foram o resultado de um complexo de inferioridade que os levou a superar com os excessos ditatoriais que conhecemos. Assim, por exemplo, com Mussolini, com Hitler ou com o Caudilho Franco, que sofria como soldado de pequena estatura e voz esganiçada e feminina.
Em Bolsonaro, talvez mais do que suas gracinhas escatológicas e fálicas, o que pode acabar sendo ainda grave são suas ideias autoritárias que parece querer impor a um país como o Brasil, que vive em democracia, com uma Constituição laica e moderna e com liberdade de credo e expressão. Um exemplo do perigo da linguagem bolsonarista, mesmo quando pode parecer inocente, mas que acaba colocando muros à verdadeira liberdade, foram suas palavras, na semana passada, durante a Marcha para Jesus, em Brasília.
O presidente disse que os brasileiros estão cansados de ouvir da "esquerdalha nojenta" defender que o "Estado é laico". E acrescentou: “Mas eu, Jonnie Bravo, sou cristão… respeitamos todas as religiões e quem não é cristão. Mas a maioria dos brasileiros é cristão e ponto final. O Brasil é um só povo, uma só raça e um só coração. É uma bandeira e meia: Brasil e Israel”.
À primeira vista, podem parecer palavras sem especial periculosidade, até mesmo de elogio ao Brasil. Não eram. Havia nessas palavras um ódio profundo à liberdade política. Não há motivo para a esquerda ser "repugnante" só porque ele não gosta dela. É uma opção tão legítima quanto a liberal ou a de direita. Quando ele e os seus "respeitam todas as religiões, e quem não é cristão", e acrescenta, incomodado: "e ponto final", está revelando uma espécie de concessão aos não-cristãos. Equivale a dizer que serão simplesmente suportados. E quando acrescenta que o Brasil é um só povo, uma só raça e um único coração, pode até parecer uma frase bonita. Não é. Tem entranhado o seu desejo, como o de todos os políticos autoritários, de querer plasmar o país ao seu gosto e semelhança. E para quem isso não cair bem, que aguente ou vá embora.
A verdade é que, sob o prisma dos valores democráticos, o Brasil é um e muitos ao mesmo tempo. Reduzi-lo a um e sob o prisma do presidente é apequená-lo. Porque a riqueza deste país é a de ser plural. Não existe só o Brasil sonhado por Bolsonaro. Existe também o anônimo, pelo qual não parece interessar-se, que detesta a liturgia da violência e das armas, o que quer viver em paz suas crenças políticas e religiosas ou seu ateísmo.
Nem é verdade que existe apenas uma raça no Brasil, sem mencionar que a palavra "raça" há muito tempo foi abolida como pejorativa para definir os humanos. Existem diferentes etnias, pessoas com diferentes cores de pele, com visões distintas e enriquecedoras do mundo. E não é verdade que o Brasil seja um só coração que bate em uníssono no querer e pensar com quem o governa, que foi o sonho de todos os ditadores. Existem tantos corações quanto brasileiros. Com diferentes pulsações diante da vida, com valores que os distinguem e enriquecem. E menos ainda existe um país com "uma bandeira e meia", a do Brasil e a de Israel. Por que a de Israel, por mais importante que seja, deve ser também a bandeira do Brasil? E por que não a da China, ou a da Índia ou a do Quênia? A bandeira deste país é um arco-íris de cores e símbolos de riqueza, paz e diálogo e não há por que ser confundida ou fundida com a de outro país, mas respeitar a todos.
Esse querer padronizar um país sob o molde de seus governantes sempre foi o sonho de todos os impérios autoritários e populistas. E a receita de Bolsonaro, de um Brasil com um só coração e uma só raça, me faz recordar o slogan criado na Espanha durante a ditadura do general Franco, o de Una, Grande e Livre. Na verdade, não era nenhuma das três coisas. Não era una porque havia então duas Espanhas em confronto ideológico que produziu mais de um milhão de mortos. Tampouco era grande. Ficou 40 anos isolada do mundo, empobrecido material e intelectualmente. E menos ainda livre, como prova a censura imposta à liberdade de imprensa e até mesmo às artes e à literatura, com a lista de livros proibidos e os espanhóis que tinham de ir à França para poder ver um filme sem censura.
Para que a Espanha voltasse a ser una e plural ao mesmo tempo, livre de censuras, torturas e execuções daqueles que sonhavam com uma Espanha plural e democrática, foi preciso esperar 40 anos e a morte do ditador. Só então o país pôde abrir suas janelas para o mundo e recuperar a pluralidade de suas riquezas espirituais. Só então perdeu o medo de pensar em liberdade, para ser não uma Espanha monolítica, asfixiada pelos estreitos slogans autoritários, mas plural e sem medo de respirar e amar com seu coração e seus pulmões, e não com os do ditador.
Os slogans de quem despreza os valores da liberdade e da pluralidade de ideias costumam estar impregnados da exaltação da violência e da ignorância. Como o do general espanhol José Millán-Astray, criador do mito de Franco, a quem se atribuiu a terrível frase: "Viva a morte, abaixo a inteligência!" Tenho certeza de que o Brasil continua preferindo gritar: viva a vida e viva a inteligência! já que só assim será capaz de seguir respirando sem ser sufocado por lemas de morte e desprezo pela razão.

Autor – Juan Arias – El País

As ondas!

A dificuldade não está nas novas ideias,
mas sim em escapar as antigas.
John Maynard Keynes

A política no Brasil vive de ondas que contém otimismo exagerado, mentiras, omissões de fatos, intenções e fatalmente envolvem desde o eleitor até o mais simples brasileiro em sonhos e promessas não realizadas.
Não se discute a política como deveria e é feito em vários países onde existe o sistema democrático. A disputa é sobre nomes isolados, como se estes não fossem usar partidos para trocas de favores, cargos e muito poder numa corrupção desenfreada.
A primeira onda ocorreu após a ditadura militar (1964 – 1985) com a movimentação que foi fruto das Diretas Já. A emenda Dante de Oliveira foi rejeitada na Câmara e acabou cedendo espaço para a realização das eleições indiretas, onde Tancredo Neves – MDB venceu Paulo Maluf.   
A onda propriamente dita começou com a vitória de Tancredo Neves, um político experiente, exímio articular, porém, sem nenhuma grande passagem pelo Poder Executivo que pudesse dar ao povo brasileiro a certeza de um grande governo pós ditadura. Sua grave doença pegou a todos desprevenidos e provocou uma onda messiânica que tomou ruas, igrejas em todos os cantos do país.
Com sua morte no dia 21 de abril de 1985, a esperança morreu junto e no lugar dela assume José Sarney, em quem ninguém nunca confiou e estavam certos. Seu governo foi desastroso. 
Em 1989, aconteceu enfim a tão sonhada eleição direta para a presidência da república. No primeiro turno vinte e dois candidatos disputaram as eleições. Coube aos eleitores escolherem Lula e Collor para a disputa do segundo turno. Começava a segunda onda naquele momento, com as pessoas enaltecendo o então desconhecido Fernando Collor de Melo. Foi eleito e em questão de minutos após sua posse o sonho se desfez quando ele tirou o dinheiro de todos inclusive da poupança. Foi cassado através de um processo de Impeachment.
A terceira onda veio em 1995 com a eleição de FHC do PSDB-SP, trazendo consigo o Plano Real, que era seu maior aliado e carro chefe. Enquanto a inflação esteve baixa e sem crises, voou em céu de brigadeiro, vencendo a reeleição que ele próprio criou às custas de R$ 200 mil cada deputado. Se perdeu na arrogância achando que seu partido teria vinte anos de poder.
A quarta onda veio com o então sindicalista Lula em 2002, levando ao poder pela primeira vez um homem simples, semialfabetizado, com origens eminentemente populares. Teve medidas de impacto junto a população das classes C, D e E. Porém, sucumbiu a corrupção e acabou preso na Operação Lava Jato.
A eleição de Dilma Rousseff e após seu impeachment com a posse de Michel Temer, seu vice não causou onda alguma, pelo contrário, teve repercussões que derrubaram a economia de forma avassaladora.
A quinta onda ressurgiu com a eleição de um sujeito que foi mandado embora do exército, foi vereador do RJ e depois deputado federal por 28 anos sem nenhum grande projeto. Entretanto esse então desconhecido Capital Jair Bolsonaro, surfou na onda do ódio ao PT. Venceu as eleições com 38% dos votos, porém, ainda não entendeu que esse momento passou e que desde sua posse em janeiro deveria estar governando para o país inteiro.  
Preso a questões ideológicas que lhe tomam tempo e causam desgaste desnecessário, quando na verdade deveria estar implantando projetos para recuperar a economia, alavancar o emprego e melhorar a saúde pública e a educação. Essa talvez seja a pior onda criada pelos eleitores que votaram com o fígado ao invés de usarem o cérebro. Em pouco tempo, muito já perceberam a ineficácia do projeto de governo de Bolsonaro.
Essa onda de extrema direita pode levar o país para um estágio nunca antes visto e vivido no Brasil. Animosidade interna, agressividade que provoca o afastamento de países importantes do ponto de vista político e comercial. Governa para uma minoria e tenta manter um discurso raso, nulo e ignorante pensando apenas em manter estes mesmos 38% que o elegeram em 2018.
Autor: Rafael Moia Filho – Escritor, Blogger e Graduado em Gestão Pública.

9 de agosto de 2019

O Novo Iluminismo: Como a civilização resolverá os desafios contemporâneos!

Da sobrevivência pré-histórica às leis que regem o mundo contemporâneo: como evoluímos para criar ideias e estruturas tão complexas? Quais caminhos nosso cérebro tomou até chegarmos a sociedades capazes de prevenir e conter possíveis desordens em nossos sistemas? Steven Pinker se propõe a explicar tudo isso. A mais recente obra do psicólogo canadense, que acaba de chegar ao Brasil, é mais do que uma aula sobre a história do pensamento.
O livro O Novo Iluminismo reúne dados da psicologia, história, comunicação, neurociência, economia e muitos outros campos (muitos mesmos) para esclarecer como criamos nossa civilização – e o que precisa ser retomado se não quisermos perder o que construímos.
Pinker, conhecido (e até criticado) por seu suposto otimismo, mostra lados nem tão positivos assim. O psicólogo aponta crenças, tendências e padrões humanos primitivos que prosseguem até os dias atuais.
Para ele, o mundo não é cor-de-rosa, o ser humano não é pura bondade e a natureza é sim caótica. O otimismo de Pinker surge a partir da capacidade que o ser humano tem de modificar estes quadros desordenados.
O otimismo surge quando ele aborda as ferramentas que criamos para barrarmos a violência e o sofrimento – para aprendermos a dialogar mesmo em um mundo onde as antigas aldeias, tão pequenas, se tornaram globais. A leitura da obra é densa, mas fluida. São diversos os dados apresentados ao longo dos capítulos e a costura destas informações pode assustar o leitor. Mas, não se assuste.
É justamente a habilidade de Pinker de interligar tantas áreas que o torna um dos pensadores de maior influência do nosso tempo. Escolhemos, para compartilhar com vocês, um trecho-chave da obra. Neste excerto inédito, Steven Pinker resume como nossa civilização foi construída (ou como a construímos).
O psicólogo vai da alimentação paleolítica à Revolução Industrial, sem deixar de passar pela influência do Iluminismo, é claro, até chegar aos desafios da convivência na nossa Era da Informação.
São algumas páginas capazes de nos “iluminar” sobre quem fomos, quem somos e onde vivemos. Confira abaixo. Mas, antes, curta nossa página e assista à conversa entre Pinker e Bill Gates sobre o livro (legendas em inglês). 

Autor: Steven Pinker - Fronteiras do Pensamento 

Confira cinco maldades da reforma de Bolsonaro que 370 deputados aprovaram!

Deputados traem os trabalhadores e as trabalhadoras e aprovam duras regras para concessão de aposentadoria.
Edson Rimonatto
A tentativa de colocar uma pá de cal no direito de uma vida digna após anos de trabalho foi dada na noite de terça-feira (6) por 370 deputados federais que aprovaram em segundo turno o texto da reforma da Previdência. Mas, a luta não acabou e é possível reverter a decisão com muita organização e luta. Para ser aprovada, a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) nº 006/2019 de Jair Bolsonaro (PSL/RJ) precisa ser aprovada em duas votações no Senado.
“E no dia 13 de agosto, vamos ocupar as ruas e as redes para protestar contra esta reforma e alertar os senadores sobre os prejuízos que as mudanças que Bolsonaro quer fazer representam para a classe trabalhadora”, diz o presidente da CUT, Vagner Freitas, se referindo ao Dia Nacional de Mobilizações, Paralisações e Greves, que está sendo organizando pelas principais centrais sindicais do país e pelos movimentos sociais.
A PEC impõe duras regras que dificultam a aposentadoria, reduzem os valores dos benefícios, aumentam o tempo de contribuição e deixam órfãos e viúvas com menos de um salário mínimo de pensão por morte, entre outras maldades para com o trabalhador e a trabalhadora.
O Portal CUT listou cinco itens que mais vão impactar negativamente na vida de milhões de trabalhadores, entre eles o fim da aposentadoria por tempo de contribuição e a obrigatoriedade de idade mínima de 62 anos para as mulheres e 65 para os homens terem direito a um benefício menor – 60% da média de todos os salários.
Pensão por morte
Atualmente, o valor da pensão equivale a 100% do benefício que o segurado que morreu recebia ou teria direito.
A reforma reduz esse valor para 50% mais 10% por dependente. Como a esposa ou o órfão são considerados dependentes, recebem 60% do valor.
Se a viúva tiver um filho com menos de 21 anos receberá 70%, dois filhos, 80%, três filhos, 90%, quatro filho, 100%. Ela perderá 10% a cada filho que completar 22 anos até chegar nos 60% que receberá enquanto viver.
E para piorar, se a viúva ou dependente tiver outra fonte de renda formal, por menor que seja, poderá receber benefício de menos de um salário mínimo.
Aposentadoria por invalidez
Atualmente todo trabalhador que contribuir com o INSS tem direito a 100% do valor da aposentadoria em caso de doença contraída – decorrente ou não – da sua atividade profissional, tenha sofrido um acidente no trabalho ou fora dele.
A reforma diz que se um trabalhador sofreu um acidente fora do trabalho ou contraiu uma doença que não tenha relação com a sua atividade, ele terá direito a apenas 60% do valor da aposentadoria por invalidez, acrescido de 2% para cada ano que exceder 20 anos de contribuição, no caso de homem e 15 anos, se for mulher.
Só terá direito a 100% do benefício se o acidente ocorreu no local de trabalho ou a doença foi contraída devido a atividade profissional.
Aposentadoria especial
Atualmente, o trabalhador que comprovar exposição a agentes nocivos à saúde, como produtos químicos ou calor e ruído, de forma contínua e ininterrupta, tem direito de se aposentar com 15, 20 ou 25 anos de contribuição, dependendo do enquadramento de periculosidade da profissão. O valor do benefício é integral.
A reforma, apesar de manter os tempos mínimos de contribuição exigidos atualmente, cria três idades mínimas: 55,58 e 60 anos, que variam de acordo com o grau de risco ao trabalhador. Ela acaba com o benefício integral da aposentadoria especial e equipara homens e mulheres nas mesmas regras.
Fim da aposentadoria por tempo de contribuição
Atualmente, é possível se aposentar por tempo de contribuição com renda integral depois de contribuir durante 30 anos (mulher) e 35 anos (homem), desde que a soma da idade e do período contribuído resulte em 86 pontos (mulher) ou 96 (homem).
Pelas regras atuais também é possível se aposentar por idade, aos 60 anos (mulher) e 65 anos (homem), com 15 anos de contribuição. Neste caso incide o fator previdenciário ou a formula 86/96.
A reforma acaba com a aposentadoria por tempo de contribuição e impõe uma idade mínima de 62 anos para as mulheres e 65 para os homens.  Uma trabalhadora terá de comprovar 15 anos de tempo mínimo de contribuição e o trabalhador, 20 anos.
Para receber uma aposentadoria integral, mulheres precisarão contribuir por 35 anos e homens, por 40 anos.
Cálculo da renda / Média salarial
O cálculo dos benefícios proposto pela reforma é desvantajoso se considerado o tempo de contribuição necessário para obter a aposentadoria com valor integral da média salarial. Atualmente, são levadas em conta as contribuições feitas a partir de julho de 1994. O cálculo é feito em cima de 80% das maiores contribuições – as 20% menores são descartadas. Com isso, a média é maior e, portanto, melhora o valor do benefício.
Hoje, um trabalhador e uma trabalhadora que comprovarem 15 anos de contribuição recebem 85% dos maiores salários, sendo 70% de início, e mais 1% por cada ano trabalhado.
A reforma muda o cálculo para a média de todas as contribuições desde julho de 1994. O resultado será a redução na renda de beneficiários que tiverem variações salariais ao longo do tempo. O trabalhador vai receber apenas 60% da média geral de 20 anos que contribuiu com a Previdência e 2% a mais por cada ano que ultrapasse os 20 anos.
Hoje, com 20 anos de contribuição esse trabalhador recebe 90% do valor do seu benefício. Com a reforma, vai receber 60%.
Já a trabalhadora vai receber apenas 60% da média geral dos 15 anos que contribuiu com a Previdência e 2% a mais por cada ano que ultrapasse esse período. Hoje, com 15 anos de contribuição as mulheres recebem 85% do valor do benefício. Com a reforma, vai receber 60%.

Autores: Marize Muniz e Rosely Rocha

8 de agosto de 2019

Uma competição desleal!

A dificuldade não está nas novas ideias,
mas sim em escapar as antigas.
John Maynard Keynes

Isso já aconteceu no começo do século XX, quando os maquinários da época da revolução industrial inglesa começaram a se tornarem obsoletos. Poucas décadas após o início daquele século e eles desapareceram praticamente. Os cavalos de tração deram espaço e lugar aos veículos motorizados.
Hoje, mais de um século depois os trabalhadores de diversos segmentos têm razões de sobra para se preocuparem com a evolução tecnológica e nova onda com a Inteligência Artificial e a Robótica avançando celeremente sobre vários segmentos e não apenas os industriais. O automotivo, por exemplo, já tem em funcionamento a algum tempo robôs na confecção dos automóveis, caminhões e máquinas agrícolas.
O avanço agora com a utilização de robôs que conseguem ler, falar e até escrever e, pasmem – calcular, transformam completamente o papel dos seres humanos, antes, o fator mais importante na produção. Essas transformações começaram a ser preconizadas desde a década de 80, como por exemplo, o vencedor do Prêmio Nobel Wassily Leontief que em 1983 já alertava sobre a diminuição da importância do homem na produção.
Assim como os animais deixaram de ser utilizados na indústria no começo do século XX, agora é a vez dos humanos serem substituídos pelos robôs de alta tecnologia e eficiência.
Se no século XIX, os trabalhadores se preocupavam com a crescente utilização das máquinas nas indústrias. Na Inglaterra William Leadbeater, operário inglês dizia que: “Essas máquinas... são ladrões que vão roubar milhares de empregos”.
Nos Estados Unidos entre 1969 e 2009 o valor real dos salários dos trabalhadores em tempo integral caíram em média 14% (Quatorze por cento). Na Alemanha e no Japão, os salários estão estagnados na maioria das ocupações há anos, mesmo com o contínuo crescimento da produtividade. A razão é simples: oferta de mão de obra está se tornando cada vez maior. Avanços tecnológicos estão colocando os habitantes da terra em competição direta com bilhões de trabalhadores por todo o mundo, além da competição com as máquinas em si.
No Brasil, pouco se discute essa modernização, estamos ainda vivendo sob a égide da CLT – Consolidação das Leis Trabalhistas elaborada na década de 40. Desatualizada, completamente sem sentido nos padrões atuais onde a modernização tecnológica rompeu espaços e colocou novas formas de trabalho em busca da produtividade.
São muitos os exemplos, os múltiplos aplicativos (que vem do inglês application) que inundam o mundo atualmente usados através dos celulares para alimentação, delivery, transporte, etc. Os espaços de trabalho conjunto CoWorking que é uma nova forma de pensar o ambiente de trabalho. Seguindo as tendências do freelancing e das startups, os coworkings reúnem diariamente milhares de pessoas a fim de trabalhar em um ambiente inspirador.
Essa união de pessoas permite que mais e mais escritórios se espalhem pelo país. No Brasil, contam-se mais de 100 espaços. No mundo todo, estima-se que já existam mais de 4.000 espaços em funcionamento.
Em breve veremos a nossa relação com os Bancos deixar de existir na forma atual, passando a ser exercida praticamente de forma virtual. O celular que entrou no país timidamente em 1991, com muitas pessoas torcendo o nariz, acreditando que aquilo era modismo, hoje é ferramenta imprescindível para todos.
É preciso que o país saia das discussões ideológicas infrutíferas e passe urgentemente a trabalhar com o futuro, que já estacionou sua nave ao lado de fora do nosso mundo. O futuro é ontem, a modernização já começou e está a passos largos, se o Brasil demorar muito ficará como sempre a reboque da utilização da IA – Inteligência artificial enquanto o presidente brinca com o abastecimento ou não de navios iranianos nos portos brasileiros. 

Autor: Rafael Moia Filho – Escritor, Blogger e Graduado em Gestão Pública.

6 de agosto de 2019

A linha tênue que nos separa de um novo regime de excessão!

"A democracia sobrevive quando
a inteligência do sistema compensa
a mediocridade dos atores"
Daniel Inneraty

Apesar de estarmos próximos de completar 30 anos da primeira eleição após o regime militar com sua ditadura de 21 anos (1964-1985), com o retorno a normalidade democrática do país, com eleições livres e liberdade plena de expressão. Vivemos neste ano de 2019 uma situação que nos remete (principalmente para quem viveu) ao ano de 1964.
Discussões sobre esquerda e direita, muita falação sobre comunismo, um regime que o brasileiro desconhece por completo em sua república. Intervenções do presidente demitindo quem o contrarie, censura a entidades, institutos e pessoas. Enfim, algo que preocupa e destoa para um país onde boa parte da população dizia ter medo de uma guinada que levasse o país a uma situação como a da vizinha Venezuela.
O presidente eleito sem praticamente nenhuma participação em debates televisivos, utilizando-se de insinuações e agressões com o uso de fake News nas redes sociais, só teve êxito em boa parte pelo ódio que uma parcela considerável da população nutre pelo PT.
Diante de algumas falas que remetem aos tempos de ditadura militar, corroboradas pela massiva indicação de militares da reserva para postos diversos da administração federal paira no ar a sensação de nuvens negras rondando o céu do Brasil.
Em Manaus, antes de uma visita do presidente, policiais interviram numa reunião onde se planejavam protestos contra o governo federal. Em SP, uma reunião de mulheres do Partido PSOL, foi invadida por alguns policiais militares que questionavam o objetivo daquela reunião ordeira, normal e permitida para qualquer partido político.
Não bastasse isso, no estádio de futebol quando muitas pessoas xingavam o presidente mesmo ausente do local, policiais militares prenderam aleatoriamente um jovem, bateram, machucaram o rapaz sem que houvesse quaisquer crimes cometidos. A delegada interpelada pelo jovem disse: Estamos cumprindo o Estatuto do torcedor. Como? A Constituição Federal que nos garante o direito de livre expressão foi rebaixado diante do estatuto do torcedor pela delgada?
Que país é esse cujo presidente não aceita dados e números vindos do INPE, IBGE ou quaisquer outros órgãos estatais? Onde o presidente assume publicamente que vai colocar o filho como embaixador mesmo sem estudo e carreira diplomática por mero capricho e nepotismo.
Um país que o presidente afronta os organismos ambientais e cientistas renomados afirmando não haver desmatamentos quando o índice em 2019 salta aos olhos de todos. Um país onde o presidente desrespeita irmãos nordestinos com “brincadeiras” que passam longe de serem engraçadas. Afrontando negros, homossexuais e até pessoas orientais.
Um país assim, não pode mesmo viver em paz sem temer que nos subterrâneos do poder estejam tramando um novo golpe militar. Por que não? A história muitas vezes se repete, neste caso para pior, muito pior.
Autor: Rafael Moia Filho – Escritor, Blogger e Graduado em Gestão Pública.

1 de agosto de 2019

“História não é bula de remédio"

Foi dado, então, um pontapé inicial, e fundamental, para a disciplina que chamaríamos, anos mais tarde, e com grande naturalidade, de “História do Brasil”, como se as narrativas nela contidas houvessem nascido prontas ou sido resultado de um ato exclusivo de vontade ou do assim chamado destino. Sabemos, porém, que na imensa maioria das vezes ocorre justamente o oposto: momentos inaugurais procuram destacar uma dada narrativa temporal em detrimento de outras, criar uma verdadeira batalha retórica — inventando rituais de memória e qualificando seus próprios modelos de autênticos (e os demais de falsos) —, elevar alguns eventos e obliterar outros, endossar certas interpretações e desautorizar o resto. Episódios como esse são, portanto, bons para iluminar os artifícios políticos da cena e seus bastidores. Ou seja, ajudam a entender como, quando e por que, em determinados momentos, a história vira objeto de disputa política. 
No caso, a intenção do concurso era criar apenas uma história, e que fosse (por suposto) europeia em seu argumento, imperial na justificativa e centralizada em torno dos eventos que ocorreram no Rio de Janeiro. Desbancando Salvador, o Rio se tornara capital do Brasil desde 1763, e agora precisava exercer sua centralidade política e histórica. Além do mais, o estabelecimento necessitava confirmar sua origem palaciana, bem como justificar a composição do quadro de sócios, basicamente pertencentes às elites agrárias locais. 
Dessa maneira, nada mais adequado que a construção de uma história oficial que concretizasse o que, àquela altura, parecia artificial e, além do mais, recente; um Estado independente nas Américas, mas cujo projeto conservador levou à formação de um Império (regido por um monarca português) e não de uma República. Ademais, era preciso enaltecer um processo de emancipação que ia gerando muita desconfiança e conferir-lhe legitimidade. Afinal, diferentemente de seus vizinhos latino-americanos, o chefe de Estado no Brasil era um monarca, descendente direto de três casas reais europeias das mais tradicionais: os Bragança, os Bourbon e os Habsburgo. Mas a singularidade da competição também ficou associada a seu resultado e à divulgação do nome do vencedor. 
O primeiro lugar, nessa disputa histórica, foi para um estrangeiro — o conhecido naturalista bávaro Karl von Martius (1794-1868), cientista de iliba da importância que, no entanto, era novato no que dizia respeito à história em geral e àquela do Brasil em particular —, o qual advogou a tese de que o país se definia por sua mistura, sem igual, de gentes e povos. Escrevia ele: “Devia ser um ponto capital para o historiador reflexivo mostrar como no desenvolvimento sucessivo do Brasil se acham estabelecidas as condições para o aperfeiçoamento das três raças humanas, que nesse país são colocadas uma ao lado da outra, de uma maneira desconhecida na história antiga, e que devem servir-se mutuamente de meio e fim”. Utilizando a metáfora de um caudaloso rio, correspondente à herança portuguesa que acabaria por “limpar” e “absorver os pequenos confluentes das raças índia e etiópica”, representava o país a partir da singularidade e dimensão da mestiçagem de povos por aqui existentes. 
A essa altura, porém, e depois de tantos séculos de vigência de um sistema violento como o escravocrata — que pressupunha a propriedade de uma pessoa por outra e criava uma forte hierarquia entre brancos que detinham o mando e negros que deveriam obedecer mas não raro se revoltavam —, era no mínimo complicado simplesmente exaltar a harmonia. Além do mais, indígenas continuavam sendo dizimados no litoral e no interior do país, suas terras seguiam sendo invadidas e suas culturas, desrespeitadas. 
Nem por isso o Império abriu mão de selecionar um projeto que fazia as pazes com o passado e com o presente do Brasil, e que, em lugar de introduzir dados históricos, que mostrariam a crueldade do cotidiano vigente no país, apresentou uma nação cuja “felicidade” era medida pela capacidade de vincular diversas nações e culturas, acomodando-as de forma unívoca. Um texto, enfim, que apelava para a “natureza” edênica e tropical do Brasil, essa sim acima de qualquer suspeita ou contestação.
Martius, que em 1832 havia publicado um ensaio chamado “O estado do direito entre os autóctones no Brasil”, condenando os indígenas ao desaparecimento, agora optava por definir o país por meio da redentora metáfora fluvial. Três longos rios resumiriam a nação: um grande e caudaloso, formado pelas populações brancas; outro um pouco menor, nutrido pelos indígenas; e ainda outro, mais diminuto, alimentado pelos negros. Na ânsia de escrever seu projeto, o naturalista parece não ter tido tempo (ou interesse), porém, de se informar, de maneira equânime, sobre a história dos três povos que originavam a jovem nação autônoma. O item que tratava do “rio branco” era o mais completo, alvissareiro e volumoso. Os demais pareciam quase figurativos, demonstrando visível falta de conhecimento. “Falta” esta que na verdade era “excesso”, pois dava conta do que interessava para valer: contar uma história pátria — a europeia — e mostrar como ela se imporia, “naturalmente” e sem conflitos, às demais.
Ali estavam, pois, os três povos formadores do Brasil; todos juntos, mas (também) diferentes e separados. Mistura não era (e nunca foi) sinônimo de igualdade. Aliás, por meio dela confirmava-se uma hierarquia “inquestionável” e que, nesse exemplo, e conforme revelava o artigo, apoiava-se num passado imemorial e perdido no tempo. Essa era, ainda, uma ótima maneira de “inventar” uma história não só particular (uma monarquia tropical e mestiçada) como também muito otimista: a água que corria representava o futuro desse país constituído por um grande rio caudaloso no qual desaguavam os demais pequenos afluentes. 
É possível dizer que começava a ganhar força então a ladainha das três raças formadoras da nação, que continuaria encontrando ampla ressonância no Brasil, pelo tempo afora. Vários autores repetiriam, com pequenas variações, o mesmo argumento. Sílvio Romero em Introdução à história da literatura brasileira (1882), Oliveira Viana em Raça e assimilação (1932), Artur Ramos em Os horizontes místicos do negro da Bahia (1932). De forma, dessa vez, irônica e crítica, mas mostrando a regularidade da narrativa, o modernista Mário de Andrade em Macunaíma (1928) retoma a fórmula na conhecida passagem alegórica em que o herói e seus dois irmãos resolvem se banhar na água encantada que se acumulara na pegada do “pezão do Sumé”, e saem dela cada qual com uma cor: um branco, um negro e outro da “cor do bronze novo”. 
Foi sobretudo Gilberto Freyre quem tratou, ele sim, de consolidar e difundir esse tipo de interpretação, não só em seu clássico Casa-grande & senzala (1933) como, anos depois, em livros sobre o luso tropicalismo, caso de O mundo que o português criou (1940). Assim, se foi o antropólogo Artur Ramos (1903-49) quem cunhou o termo “democracia racial” e o endereçou ao Brasil, coube a Freyre o papel de grande divulgador da expressão, até mesmo para além de nossas fronteiras. 
A tese de Freyre teve tal ressonância internacional que acabou batendo nas portas da Unesco. No final dos anos 1940, a instituição ainda andava sob o impacto da abertura dos campos de concentração nazistas, que levaram à descoberta das práticas de genocídio e da violência estatal, bem como alertaram sobre as consequências do racismo durante a Segunda Guerra Mundial. Também tinha ciência da situação do apartheid na África do Sul e da política de ódios que se formava no contexto da Guerra Fria. Animada, então, pelas teses do antropólogo de Recife, e tendo a certeza de que o Brasil representava um exemplo de harmonia racial para o mundo, a organização financiou, na década de 1950, uma grande pesquisa com a intenção de comprovar a inexistência de discriminação racial e étnica no país. Porém, o resultado foi, no mínimo, paradoxal. Enquanto as investigações realizadas pelos norte-americanos Donald Pierson (1900-1995) e Charles Wagley (1913-1991), na Região Nordeste, buscavam corroborar os pressupostos de Freyre, já o grupo de São Paulo, liderado por Florestan Fernandes (1920-1995), concluía exatamente o oposto. Para o sociólogo paulista, o maior legado do sistema escravocrata, aqui vigente por mais de três séculos, não seria uma mestiçagem a unificar a nação, mas antes a consolidação de uma profunda e entranhada desigualdade social. 
Nas palavras de Florestan Fernandes, o brasileiro teria “uma espécie de preconceito reativo: o preconceito contra o preconceito”, uma vez que preferia negar a reconhecer e atuar. Foi também Fernandes quem chamou a já velhusca história das três raças de “mito da democracia racial”, revalidando, ao mesmo tempo, a força de tal narrativa e as falácias de sua formulação. O golpe de misericórdia foi dado pelo ativismo negro, que, a partir do fim da década de 1970, mostrou a perversão desse tipo de discurso oficial, o qual tinha a potencialidade de driblar a força dos movimentos sociais que lutavam por real igualdade e inclusão. Mas, apesar dos esforços, mais de um século depois a imagem da mistura das águas continuava a ter impacto no Brasil e soava como realidade!

Autora: Historiadora Lilia Schwarcz – Fronteiras do Pensamento

Está na hora de o Brasil cair na realidade!

Ocupado com ofensas, mentiras e absurdos, o presidente ignora a mudança climática. Uma das desvantagens do sistema presidencialista é uma só pessoa poder definir a agenda de todo um país. E se ela é um psicopata?
Ultimamente tenho um certo receio de olhar as notícias. Quase diariamente se ouve mais uma crueldade, um comentário infantil, uma mentira ou uma ameaça do presidente Jair Bolsonaro ou de um de seus ministros. É desesperador, é frustrante, é de sentir vergonha alheia. É também de dar medo.
O trágico é que estamos vivendo um momento-chave da história. Se a humanidade não agir depressa e coletivamente, dentro de não muito tempo viveremos uma reviravolta inimaginável. O mundo como existe hoje se transformará dramaticamente.
Quem diz isso não são teóricos da conspiração, mas sim instituições científicas de todo o mundo. É consenso entre os especialistas: a mudança climática global está chegando! A questão é só com que força vai se abater. Ela é a maior ameaça a nossa segurança. A situação é de emergência.
É claro que a mudança climática também atingirá o Brasil. No entanto, a maioria dos brasileiros age como se vivesse em outro planeta. Os especialistas dizem que as condições meteóricas extremas vão se agravar no Brasil. Ficará mais quente e mais seco, vai haver mais secas e carência d'água. Também as tempestades fortes e chuvas apocalípticas aumentarão; graves inundações serão cada vez mais frequentes. Tudo isso já se faz sentir, de forma incipiente.
Nas democracias ocidentais, o consenso é que se atingiu um ponto crítico, e seria necessário agir de forma rápida e decidida. Consenso, com duas grandes exceções: os Estados Unidos e o Brasil. Lá, quem governa é a vulgar nova direita, que declarou a mudança climática uma invenção da esquerda.
De que o presidente do Brasil se ocupou nas últimas duas semanas? Uma seleção aleatória:
– Ele elogia o trabalho infantil.
– Ele nega a fome no Brasil.
– Ele ofende o Nordeste.
– Ele não conhece os dados das repartições governamentais sobre o desmatamento da Amazônia. Quando é informado sobre eles, diz que são falsos.
– Ele quer tornar seu filho embaixador nos Estados Unidos, "porque pretendo beneficiar filho meu, sim".
– Ele distribui "abraços héteros".
– Ele divulga o Instagram da esposa para ter "alguma recompensa hoje em casa".
– Ele ameaça o jornalista de renome mundial Glenn Greenwald de "pegar cana no Brasil".
– Ele tacha de "idiotas" as perguntas sobre o uso de verbas públicas no casamento de seu filho.
– Ele anuncia que quer explorar as terras indígenas protegidas pela Constituição.
– Ele ataca da pior maneira possível o presidente da OAB e sua família.
– Ele corta os cabelos ao vivo.
Com seu sadismo, sua infantilidade, sua fanfarronice, sua preguiça intelectual e suas mentiras, Bolsonaro domina o discurso no dia a dia do Brasil. Uma das muitas desvantagens dos sistemas presidencialistas do continente americano é uma só pessoa poder definir a agenda de todo um país. Pois: e se essa pessoa não bater muito bem da bola?
O ser humano é um animal altruísta, que deve seu sucesso no planeta, acima de tudo, à cooperação. Provavelmente, todos os leitores concordam com essa frase. Portanto, a grande questão é: por que somos cada vez mais governados por psicopatas?
Uma sociedade é sempre bem-sucedida quando reconhece desafios, procura soluções e as implementa – essa sempre é uma enorme chance de progresso e crescimento. A mudança climática é um desses desafios, ela exige que raciocinemos diferente. Faz parte da tragédia de nossa época as duas maiores e mais populosas nações das Américas serem governadas por homens condicionados pelo velho raciocínio, respectivamente, raciocínio nenhum. Eles vivem em mundos paralelos, onde a mudança climática não acontece.
Em sua obra Colapso, o biólogo e evolucionista americano Jared Diamond enumera alguns fatores importantes que contribuíram para o ocaso de sociedades, na história. Entre eles: ignorância diante de problemas existenciais como carência d'água ou desflorestamento; fanatismo religioso ou político; conflitos internos graves; líderes com mais interesse na manutenção de poder no curto prazo do que em mudanças de longo prazo. Soa familiar?
O Brasil é o quinto maior emissor de gases do efeito estufa do mundo, atrás apenas de China, EUA, Rússia e Índia. Cerca de 75% das emissões do Brasil estão associadas a usos da terra, como agropecuária e sobretudo desmatamento. Dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) mostram que o desmatamento avança rapidamente em 2019. A devastação das florestas cresceu 54% entre janeiro e julho, em relação ao mesmo período em 2018.
O governo do Brasil não quer reconhecer isso. Jair Bolsonaro prefere chamar os dados de "mentiras". A ministra da Agricultura, Tereza Cristina, diz: "Não podemos cair nessa histeria." O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, afirma que a Amazônia tem "desmatamento relativo zero" e faz propaganda no Twitter para a montadora americana Chevrolet.
Na mudança climática, a questão não são as asneiras e vaidades de Jair Bolsonaro ou Donald Trump. Os interesses especiais dos seus ministros. Ou esquerda ou direita. A questão somos todos nós.

Autor: Philipp Lichterbeck queria abrir um novo capítulo em sua vida quando se mudou de Berlim para o Rio, em 2012. Desde então, ele colabora com reportagens sobre o Brasil e demais países da América Latina para os Jornais   Tagesspiegel (Berlim), Wochenzeitung (Zurique) e Wiener Zeitung. Siga-o no Twitter em @Lichterbeck_Rio.

Bolsonaro e o irracionalismo político.

Hoje, o fator de maior instabilidade política no Brasil está localizado no Palácio do Planalto. É o Presidente Jair Bolsonaro. É inacreditável o potencial negativo. A cada dia abre uma crise. Isto quando o cenário político está relativamente calmo, em pleno recesso do Legislativo e do Judiciário. Poderia aproveitar o vazio e ocupar o espaço do noticiário com notícias positivas. Não, faz justamente o contrário. Agride os opositores sem nenhuma razão. Tem uma obsessão pelo confronto. O ódio é o seu combustível. Necessita agredir. Age de forma irracional, como um animal incontrolável. É uma marca da sua personalidade.
No livro “O cadete e o capitão” de Luiz Maklouf Carvalho, há uma passagem referente ao processo que Bolsonaro respondeu por ter planejado atentados terroristas, em 1987. O coronel Pellegrino, que foi seu superior hierárquico, descreveu assim sua personalidade: “tinha permanentemente a intenção de liderar os oficiais subalternos, no que foi sempre repelido, tanto em razão do tratamento agressivo dispensado a seus camaradas, como pela lógica, racionalidade e equilíbrio na apresentação de seus argumentos.” Lembrou que “nas rotinas de trabalho cotidiano, no exercício permanente das funções de instrutor, formador de soldados, e de comandantes, faltavam-lhe a iniciativa e a criatividade.” Acerca da aventura fracassada como garimpeiro, em 1983, o coronel disse que o seu comportamento era “reflexo de sua imaturidade e a exteriorização de ambições pessoais, baseadas em irrealidades, aspirações distanciadas do alcance daqueles que pretendem progredir na carreira pelo trabalho e dedicação.” (p.104)
O retrato psicológico tem mais de 30 anos, porém é absolutamente fiel ao Bolsonaro de 2019: falta de equilíbrio, agressivo, irracional, sem criatividade, imaturo e vivendo em um mundo imaginário. A diferença é que o tenente virou Presidente da República Federativa do Brasil – justamente no momento que o país vive a crise econômica mais grave do período republicano.
A sucessão de declarações desencontradas vai levar à desmoralização da autoridade presidencial. Bolsonaro não tem noção do que significa a Presidência da República. Acha que ainda está em seu gabinete na Câmara dos Deputados. Lá permaneceu 28 anos na obscuridade, sem relatar sequer um simples projeto. Poderia ter aproveitado o tempo para estudar. Contudo optou pelo panfletarismo barato.
Afinal, saiu do Exército como um fracassado, com péssimas notas e depois de uma prisão disciplinar humilhante de 15 dias. Sabia que nunca chegaria a um posto de destaque. Teria de estudar, se dedicar diuturnamente à profissão. Queria enriquecer rapidamente. Servir à Pátria era um estorvo. Voltando ao coronel Pellegrino: “Deu mostras de imaturidade ao ser atraído por empreendimento de ‘garimpo de ouro.’ Necessita ser colocado em funções que exijam esforço e dedicação, a fim de reorientar sua carreira. Deu demonstrações de excessiva ambição em realizar-se financeira e economicamente.” (p. 51) Isto pode explicar muita coisa, inclusive as negociações nebulosas do gabinete do então deputado estadual Flávio Bolsonaro e o seu chefe de gabinete Fabrício Queiroz. Sem esquecer as relações perigosas com a milícia de Rio das Pedras.
O deslumbramento com o poder, a submissão aos interesses norte-americanos, a incompreensão do que significa interesse público, a irresponsabilidade no trato do dia-a-dia do governo, a defesa da tortura e de soluções autoritárias, a sujeição aos Estados Unidos, são as marcas da narrativa bolsonarista. Mantendo a coerência entreguista, o alvo agora é o nosso subsolo, especialmente o das reservas indígenas. Ignorando o que determina a Constituição (art. 231, § 3º), Bolsonaro quer autorizar a mineração nas reservas indígenas (deseja também reduzi-las) e entregar a exploração aos Estados Unidos. Declarou que esta será uma das tarefas do seu filho (que, no momento, está surfando na Indonésia) como embaixador em Washington.
Usou o helicóptero privado da Presidência da República para transportar familiares ao casamento do seu filho no Rio de Janeiro. Pior, achou natural o contribuinte pagar a imoralidade, violando o caput do artigo 37 da Constituição. Foi a São Paulo, no último sábado, somente para assistir in loco o jogo do seu time de coração, o Palmeiras. Os gastos também correram por conta do contribuinte.
No dia anterior, demonstrando desprezo pelo posto de Presidente da República, resolveu “enforcar” a sexta-feira. Dedicou o dia para almoçar com o cantor Amado Batista em Goiás. Inacreditável! Isto quando o país tem ¼ da população desempregada, vive uma crise de segurança pública (basta citar a morte, ontem, de mais de 50 presos em presídio do Pará) e a estagnação econômica permanece. Sem esquecer o ataque de ontem à OAB e o elogio da tortura. Fica a pergunta: até quando o Brasil vai conviver com as diatribes de Jair Bolsonaro? Ele precisa fazer mais o que?

Autor: Marco Antônio Villa – Publicado no Blog do Villa e nos Jornais Correio Brasiliense e Estado de Minas.

As duas faces de Ezra Pound!

Poeta e caçador de talentos literários ficou deslumbrado pelos textos de James Joyce e lhe procurou editores. Na Segunda Guerra Mundial repetiu as maldades que os nazistas atribuíam aos judeus.
Fernando Vicente
A biblioteca do barco que me leva a Anchorage é pequena e pulquérrima. Com exceção de uma coleção de clássicos cuja letra microscópica os coloca fora de meu alcance, seus romances de aeroporto, de autores desconhecidos, me deixam frio, tanto como suas biografias de jogadores de beisebol, ases das corridas e do ringue, os livros de autoajuda e as fofocas de Hollywood. Mas, perdido nas estantes de Current Affairs encontro um livro de um jovem professor de Harvard, Kevin Birmingham, que é de muito proveito: O Livro mais perigoso. James Joyce e a Batalha por Ulisses.
Versa sobre muito mais do que dizem seu título e subtítulo, ou seja, os contratempos que James Joyce passou com seus livros, pela cegueira e covardia dos editores do Reino Unido e dos Estados Unidos que, temerosos pela censura, as multas e os julgamentos, não se atreviam a publicá-los. O caso de Joyce é único: foi famoso antes de ter um só livro editado.
E, em boa parte, isso se deveu a esse extraordinário caçador de talentos literários que foi o poeta Ezra Pound. É bem conhecido o que ele fez por T. S. Eliot e o tempo que dedicou (renunciando ao que lhe tomava escrever) para corrigir A Terra Sem Vida. Mas provavelmente fez ainda muito mais para que o gênio de Joyce fosse reconhecido e, sobretudo, publicado. Soube dele pela primeira vez em 1914, pelo poeta W. B. Yeats, que lhe aconselhou que pedisse uma colaboração de Joyce a uma antologia dedicada à literatura irlandesa que Pound preparava.
Ele o fez e Joyce, que era totalmente desconhecido, além de sua colaboração, lhe enviou vários contos dos Dublinenses e fragmentos de Retrato do Artista quando jovem, para os quais procurava editor. O deslumbramento de Pound ao ler esses textos está documentado em suas cartas. Como homem prático que era, de imediato inundou de relatórios os melhores editores ingleses e norte-americanos, exortando-os a publicar esses primeiros livros de Joyce que, lhes garantia, eram de altíssima qualidade literária e de uma grande originalidade. As respostas que recebeu são de dar nojo: nenhuma reconhecia o menor talento literário em Joyce. Afirmavam que haviam recusado seus livros porque eram mal escritos e pior organizados, tinham estruturas deficientes, além de vulgares e ordinários. Para que se arriscar a receber uma multa e processos por esses livros que não passariam por nenhuma censura se, além do mais, eram tão medíocres?
Pound não deu o braço a torcer. Respondeu a todas essas objeções com argumentos literários, acusando os editores de cegos e medíocres e afirmando que o jovem escritor irlandês estava revolucionando a literatura de seu tempo e, em especial, a prosa literária da língua inglesa. Seu entusiasmo contagiou duas mulheres extraordinárias: Harriet Weaver, diretora de uma pequena revista literária inglesa, The Egoist, onde apareceriam os primeiros contos de Dublinenses e capítulos de Retrato do Artista quando Jovem, e Margaret Anderson, que em 1918 começou a publicar episódios de Ulisses na revista que dirigia nos Estados unidos, The Little Review. As duas enfrentaram ações judiciais por sua ousadia. Impertérritas, continuaram empenhadas em divulgar a obra de James Joyce e, inclusive, lhe enviaram dinheiro para ajudá-lo a sobreviver apesar de suas crônicas crises econômicas e do que gastava em oculistas.
Ao contrário dos editores da época, muitos escritores e livreiros (entre esses, a primeira editora de Ulisses, Sylvia Beach, a criadora da Shakespeare and Company, a livraria norte-americana de Paris) ficaram muito impressionados ao tomar conhecimento dos textos de Joyce. Ainda que provavelmente nenhum tenha demonstrado isso como Valery Larbaud (que seria o primeiro tradutor ao francês de Ulisses), que, após ler em The Little Review os fragmentos do grande romance de Joyce, lhe escreveu uma carta oferecendo-lhe sua casa (com uma criada) e sua grande biblioteca, além de sua célebre coleção de soldadinhos de chumbo. Joyce se mudou para lá com Norah, sua mulher, e seus dois filhos e por um bom tempo pôde continuar trabalhando com tranquilidade nesse romance que lhe tomaria mais de sete anos.
Ainda que a primeira edição em livro de Ulisses tenha aparecido em Paris em 1922 graças a Sylvia Beach, somente 12 anos depois – 1934 – um juiz de Nova York – John Woolsey – em uma memorável sentença autorizou a circulação do romance, que apareceria pouco depois já na edição da Random House. A sentença de Woolsey foi reproduzida nessa nova edição e abriria desde então um precedente decisivo a todas as tentativas de proibir a circulação de obras “atrevidas e desavergonhadas” nos Estados Unidos. Uma sentença semelhante foi emitida na Inglaterra nesse mesmo ano.
Nos dois países a reação da crítica foi muito semelhante. Quase todos os que escreveram sobre o romance reconheceram – alguns a contragosto – o gênio de Joyce e as extraordinárias novidades que o livro trazia tanto no domínio da língua como na estrutura da narração desse dia tão minuciosamente descrito de Leopold Bloom. Mas quase todos eles denunciavam a vulgaridade atroz do palavreado “pestilento” com o qual se expressavam não só os personagens como o próprio narrador e, principalmente, no longo monólogo final de Molly Bloom, que alguns chamaram de “insolente” e até mesmo “demoníaco”.
Cedo ou tarde todos eles reconheceriam que o romance seria a partir de então algo radicalmente diferente graças a Joyce e a sua prodigiosa realização. Esse sucesso se deveu em boa parte ao instinto e aos esforços de Ezra Pound. No extraordinário ensaio que dedicou ao livro foi o primeiro a reconhecer que desde o surgimento de Ulisses todos os romancistas contemporâneos, incluindo os que nunca o leram, seriam discípulos de Joyce; e isso também reconheceu William Faulkner, outro romancista fora do comum que provavelmente nunca teria escrito sua saga sulista sem as lições que recebeu lendo Joyce.
O serviço que Ezra Pound prestou ao autor de Ulisses não consistiu somente em encontrar editores para seus textos; também conseguiu mecenas que o ajudaram economicamente e lhe permitiram, por exemplo, operar tantas vezes seu olho direito. Quando se conheceram pessoalmente, em Paris, em 1918, Ezra Pound já estava havia quatro anos multiplicando esforços para divulgar a quem chamaria de “o renovador da cultura do Ocidente”. Pound é a figura mais simpática que aparece no livro de Kevin Birmingham.
É difícil identificar esse homem generoso e altruísta com o Ezra Pound que, durante a Segunda Guerra Mundial, pedia na rádio italiana que os jovens soldados norte-americanos desertassem de suas fileiras e repetia todas as maldades que os nazistas atribuíam aos judeus. Por isso foi capturado pelo Exército norte-americano e levado por toda a Itália em uma jaula, como um louco furioso. Depois, nos Estados Unidos, um tribunal, para não o fuzilar por traição à pátria, o declarou louco. E passou alguns anos em um manicômio. Em nossos dias, na Itália fascista de Matteo Salvini, uma das seitas mais radicais da ultradireita antidemocrática se chama nada menos do que Casa Pound. Georges Bataille escreveu que o ser humano é uma jaula onde habitam os anjos e os demônios. Em poucas pessoas isso foi tão evidente como no caso de Ezra Pound.

Autor: Mario Vargas Llosa – Publicado no El País

Que loucuras são essas que estamos ouvindo no Brasil?

"A democracia sobrevive quando
a inteligência do sistema compensa
a mediocridade dos atores"
Daniel Inneraty

Apesar do governo estar no primeiro ano de sua gestão de quatro anos, chama a atenção que em menos de sete meses tantas iniquidades e coisas inverossímeis estejam saindo da boca dos ministros e do presidente.
São coisas que nem no ensino fundamental conseguiríamos extrair com tanta facilidade e eloquência. Uma verborragia de inutilidades sem fim, que inundam redes sociais e a mídia.
O ministro das relações exteriores Ernesto Araújo disse em alto e bom tom que o Nazismo alemão era proveniente da esquerda. Isso causou assombro entre os alemães e os judeus de Israel. Afinal eles são cultos e sabem a verdade, além do mais jamais iriam distorcer fatos históricos apenas para tentar agredir partidos ou segmentos políticos de quaisquer ideologias.
A ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos Damares Alves, ex-assessora do rejeitado Magno Malta, primeiro disse que viu Jesus Cristo na Goiabeira de sua casa na infância. Nada demais. Duro é ouvi-la e vê-la num vídeo dizendo que na Ilha de Marajó as meninas não tem calcinhas para usar, motivo, segundo a ministra de tantos abusos e estupros. Para resolver a situação ela diz que vai mandar construir uma fábrica de calcinhas no local, com isso, irá gerar empregos e resolver o problema grave dos abusos para com as meninas.
E eu pensando que depois de meninas vestem rosa e meninos vestem azul ela fosse dar um tempo, se envolver com a burocracia e o serviço de seu ministério... Ledo engano o meu, ela está a mil por hora.
Recentemente o Ministro da Cidadania Osmar Terra ameaçou fechar a ANVISA. Recentemente, proferiu uma de suas perolas impagáveis ao afirmar que: “A Noruega e o Japão estão no mesmo nível que o Brasil quando o assunto é fome”. Difícil não acreditar que o ministro estivesse muito louco no ato que proferiu esta sandice.
A Noruega país com o melhor IDH do mundo estaria no mesmo nível que o Brasil? Somente posso imaginar que o Sr. Terra nunca tenha visitado ou lido a respeito da Noruega e do Japão. Beira o ridículo um homem público com o cargo de ministro da cidadania falar uma asneira dessas. Deveria ser demitido apenas por isso, evitando maiores vexames da próxima vez que abrir sua boca.
Mas o exemplo vem de cima, neste caso, do presidente eleito, que não tem freios na língua. Sua verborragia atinge cultura, educação, ciência, profissões e países sem pudor algum.
Tentando imitar o bufão Donald Trump, presidente americano o presidente brasileiro utiliza a mesma ferramenta para comunicar-se com a sociedade, pelo menos isso é o que ele disse ao se eleger. Na realidade as falas são para minorias e visa sempre atingir pessoas, partidos e demais segmentos da sociedade civil.
Veja algumas pérolas do Bolsonaro:
“Falar que se passa fome no Brasil é uma mentira. Passa-se mal, não come bem, aí eu concordo. Agora passar fome não. Você não vê gente pobre, com um físico esquelético pelas ruas como a gente vê em alguns outros países aí pelo mundo.”
“Nós temos 61% do território brasileiro de área preservada. Aí você bota aí dentro que são reservas indígenas, quilombolas, estação ecológicas, parques nacionais unidades de conservação, entre outras.”
“O Brasil é o país que menos usa agrotóxicos.” Mentira: Brasil é o terceiro maior consumidor de agrotóxicos do mundo (210 mil toneladas/ano). O país só perde para a China (1,3 milhão de toneladas/ano) e para os Estados Unidos (406 mil toneladas/ano).
“O Brasil é exemplo para o mundo na preservação ambiental.”
“Trabalhando com nove, dez anos de idade na fazenda, eu não fui prejudicado em nada. Quando um moleque de nove, dez anos vai trabalhar em algum lugar, tá cheio de gente aí 'trabalho escravo, não sei o que, trabalho infantil'.”
“Não há dúvida né [que o nazismo é de esquerda]? Como é o nome do partido? Partido Nacional Socialista da Alemanha, né?”
“Aprendi a dirigir com dez anos um trator na fazenda, não vejo necessidade alguma de Autoescolas ministrarem aulas aos que querem tirar uma CNH”.
Mentiras absurdas, palavras muitas vezes jogadas ao vento, enquanto o país parado espera por alguma ação contra o desemprego, por projetos que contribuam para a melhoria imediata da economia, por melhores condições da Saúde Pública e da segurança. Entretanto, o presidente fala bobagens, assiste futebol nos estádios, viaja, mente descaradamente e assim segue a vida na nossa republiqueta...

Autor: Rafael Moia Filho – Escritor, Blogger e Graduado em Gestão Pública.