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30 de outubro de 2018

A nova era dourada das distopias!

Séries de televisão, romances e filmes parecem ratificar que estamos em uma era de ouro das distopias!

A primeira utopia da literatura é a de Thomas Morus: uma ficção em que um dos marinheiros de Américo Vespúcio conta que encontrou a república perfeita na ilha de Utopia. Tudo começou ali, em 1516. Como escreveu Jill Lepore na revista The New Yorker, “a utopia é o paraíso; a distopia, o paraíso perdido”. Assim, uma segue a outra irremediavelmente, ou melhor, a utopia, a sociedade ideal, já contém sua própria distopia. Lepore afirma que estamos na era de ouro da distopia. Traça uma cronologia do romance distópico, que surge como resposta aos utópicos. Em 1887, a escritora Anna Bowman Dodd publicou A República do Futuro, uma distopia socialista ambientada em Nova York no ano de 2050. As pessoas não têm muito que fazer e passam o dia na academia, obcecadas pela forma. Como acontece em um dos capítulos de Black Mirror – uma das séries que lideram a volta da distopia tecnológica –, a distopia é a academia.
No fundo, poderíamos pensar as distopias não mudaram tanto ao longo de dois séculos. Ou, com outras palavras, o caminho da humanidade, em sua maior parte, foi quase sempre na direção do progresso e o mundo é melhor do que era. Isso é demonstrado por livros como O Otimista Racional, de Matt Ridley, ou Enlightenment Now: The Case for Reason, Science, Humanism and Progress, de Steven Pinker.
Por mais difícil que seja acreditar, estamos mais perto do que nunca do paraíso e, portanto, o espaço para a catástrofe é maior. As distopias podem ser apocalípticas ou não, aparecerem acompanhadas por um cenário de guerra ou não, mas em todas o que acontece é que a liberdade do indivíduo foi sacrificada para alcançar uma suposta perfeição.
Os romances distópicos por excelência (Nós, de Levguéni Zamiátin, publicado em 1924; Admirável Mundo Novo, de Aldous Huxley, em 1932; 1984, de George Orwell, em 1949) são parábolas políticas. Os horrores vistos na Segunda Guerra Mundial dispararam os cenários apocalípticos e as possibilidades das sociedades autoritárias que as distopias exploraram.
Depois veio a crítica do consumismo e do conforto que banalizaram tudo (Fahrenheit 451, de Ray Bradbury, publicado em 1953, ou O Reino do Amanhã, de J. G. Ballard, em 2006). A Guerra Fria foi um terreno fértil para as distopias cheias de super-heróis e ameaças nucleares. Nas distopias de meados do século XX, Lepore vê a rejeição ao Estado liberal. A historiadora explica que, para cada dilema atual, há um romance distópico.
Em 1985 foi publicado O Conto da Aia, romance de Margaret Atwood que faz parte do que ela chama de “ficção especulativa”. É uma distopia feminista que se transformou em série de televisão em 2017. Por casualidade, começou a ir ao ar pouco depois da chegada de Donald Trump à Casa Branca e à manifestação das mulheres em reação. Naquele protesto havia uma faixa com o seguinte lema: “Make Margaret Atwood fiction again” (Façam que Margaret Atwood seja ficção novamente). No romance de Atwood houve um golpe de Estado nos Estados Unidos que devolveu o país aos princípios do puritanismo do século XVII.
A série faz referências ao presente (Uber, Estado Islâmico) para que o paralelismo seja mais evidente. É uma sociedade vigiada, militar e teocrática, mas com uma particularidade: encontrou uma solução para o problema que o mundo enfrenta com a infertilidade provocada pela poluição ambiental.
Em Gilead (esse é o nome, depois da guerra, dos Estados Unidos), as mulheres férteis são sequestradas, suas orelhas são grampeadas por um brinco (como se fossem gado, pois de fato o são) e são vestidas de vermelho. Depois de eficientes sessões de lavagem cerebral que, claro, incluem torturas físicas e amputações– são enviadas às casas designadas para serem estupradas (e fecundadas) pelo chefe da casa uma vez por mês. A ideia é uma interpretação literal da Bíblia, verdadeira constituição da nova ordem. A questão que inevitavelmente surge é: como isso pôde acontecer? No prólogo da reedição do romance, Atwood explica que “sob determinadas circunstâncias, qualquer coisa pode acontecer em qualquer lugar”.
Perguntada sobre se o Conto da Aia é uma profecia, a escritora canadense diz que é, em vez disso, uma “antiprofecia: se esse futuro pode ser descrito em detalhes, talvez não chegue a acontecer. Mas tampouco podemos confiar muito nessa ideia bem-intencionada”. Nisso Atwood tem razão: no site Electric Literature, Andy Hunter reuniu algumas das previsões que aparecem em livros de ficção científica (a lista tem desde engenharia genética, tanques ou energia solar até a bomba atômica e a espionagem massiva dos Governos) e não é absolutamente reconfortante.
Por outro lado, o esquete de Muchachada nui sobre as previsões fracassadas do filme De Volta para o Futuro é um bom antídoto. Em parte, a função das distopias é fazer uma advertência do que o futuro pode trazer: é uma das leituras do romance Rendición, de Ray Loriga, em que a transparência e limpeza da cidade de vidro que permanece isolada da guerra são sinais inconfundíveis da ausência de emoções, isto é, da perda de humanidade. Os romances de Philip K. Dick são entre outras coisas, uma advertência sobre para onde a proliferação tecnológica e a artificial nos levam.
Neste mês chegou a continuação do filme Blade Runner, ambientada em 2049 – o filme de Ridley Scott acontece em 2017 e no romance Androides sonham com Ovelhas Elétricas? o futuro distópico é em 1992. Além disso, está sendo preparada uma série que adapta alguns dos romances de Dick. Mas também Wall-E, o filme da Pixar, tinha um alerta em forma de distopia com uma história de amor entre dois robôs.
O auge das distopias não se deve a Trump, mas não deixa passar a oportunidade de demonstrar o quanto é capaz de criar um cenário apocalíptico. Na verdade, elas nunca se foram. Embora tenham picos, como em Jogos Vorazes, uma trilogia juvenil que foi um sucesso literário antes de ser levada ao cinema. O que acontece, de acordo com Lepore, é que a distopia (e seus leitores) também têm uma classificação ideológica: durante o primeiro ano da presidência de Obama, A Revolta de Atlas, de Ayn Rand, vendeu meio milhão de exemplares e no primeiro mês de Trump na Casa Branca 1984 foi um dos livros mais vendidos na Amazon.
Para Lepore, a distopia deixou de ser uma ficção de resistência e se tornou uma ficção de submissão. Seu sucesso responde à incapacidade – em parte resultado da preguiça e da covardia – de imaginar um futuro melhor e revela um desencanto também em relação à política: “De esquerda ou de direita, o pessimismo radical de um distopismo incessante contribuiu para desmantelar o Estado liberal e enfraquecer o compromisso com o pluralismo político”.

Autora: Aloma Rodríguez é escritora e jornalista. Seu último livro é Los Idiotas Prefieren la Montaña (Xordica).

Somos capazes de criar novos neurônios em qualquer idade com um simples exercício!

Calce os tênis, seu cérebro agradecerá!
Somos capazes de criar novos neurônios, inclusive na idade adulta. A descoberta é relativamente nova, porque se pensava que nascíamos com um determinado “banco de neurônios” que ia diminuindo com o passar do tempo e que não éramos capazes de aumentar. No entanto, as últimas descobertas da neurociência derrubaram essa crença.
Nosso cérebro é plástico: podemos criar conexões diferentes e inclusive, em algumas áreas, como o hipocampo, podemos fazer com que novos neurônios nasçam, como explica o professor Terry Sejnowski, do The Salk Institute for Biological Studies. Assim, temos margem de manobra, independentemente da idade. Uma boa notícia!
O hipocampo tem a forma de cavalo-marinho e é um dos responsáveis por nossa memória e nossa capacidade espacial. As pesquisas sobre o hipocampo começaram com roedores: várias imagens foram mostradas aos ratos, que tinham que diferenciá-las. Quando os roedores aprenderam a distingui-las depois da prática, observou-se que novos neurônios haviam sido gerados em seu hipocampo.
Curiosamente, se o animal parasse de fazer esse exercício, os neurônios jovens desapareciam. E se retomasse a atividade, voltavam a aparecer. Assim, já temos uma pista importante: a prática repetida ajuda a gerar novos neurônios em nosso hipocampo. Mas se tivéssemos de decidir qual atividade nos permite realmente manter nosso cérebro jovem, Sejnowski não hesita: o esporte é o melhor presente que podemos nos dar, é o melhor medicamento antienvelhecimento para nossa massa cinzenta.
Sabíamos que praticar esportes é uma maneira de cuidar do nosso corpo e reduzir o estresse, graças às danças hormonais desencadeadas pela dopamina, serotonina e noradrenalina. Mas pesquisas mais recentes mostram que o exercício também melhora a secreção do fator neurotrófico cerebral (o que influencia positivamente na memória e em um estado de ânimo mais positivo) e permite que novos neurônios nasçam em nosso hipocampo. No entanto, apesar de suas vantagens, não parece haver muita sensibilidade na relação entre aprendizagem e esporte. De fato, o exercício físico nas escolas é frequentemente visto como uma disciplina fácil de aprovar e sem muito valor.
Mas estávamos errados. Educar crianças e adultos nos esportes não apenas ajuda nosso corpo a estar melhor e mais saudável como também ajuda nosso cérebro a permanecer mais jovem e com capacidade de gerar novos neurônios. E, como Sejnowski resume, “a academia e a recreação são as partes mais importantes do currículo”.
Então, se nosso cérebro é capaz de gerar novos neurônios com o esporte, o que precisamos fazer para que isso aconteça? Bem, mais uma vez, frequência. Como os especialistas sugerem, precisamos praticar exercícios três vezes por semana, com duração mínima de 30 minutos.
Portanto, pense em você. Qual a sua relação com o esporte? Se não é exatamente um amor constante, vale a pena lembrar as vantagens físicas e neuronais, buscar um exercício bom para você, com um grupo de amigos se você tem dificuldade para se motivar sozinho e calçar os tênis. Seu hipocampo agradecerá. 

Autora: Pilar Jericó

29 de outubro de 2018

Números finais que precisam ser analisados!

A lei de ouro do comportamento é a tolerância mútua,
já que nunca pensaremos todos da mesma maneira,
já que nunca veremos senão uma parte da
verdade e sob ângulos diversos. Mahatma Gandhi

A eleição para escolha do presidente da república pelo período de 2019 a 2022 terminou neste dia 28 de outubro de 2018, com o seguinte resultado final: Jair Bolsonaro – PSL com 57.796.986 votos (55,13%) e Fernando Haddad – PT com 47.038.963 (44,87%).
Entretanto, somando-se os votos nulos 7,43% - 8.608.088, brancos 2,14% - 2.486.591 e as abstenções 21,30% - 31.341.417, chegamos a um total de aproximadamente 42.466.096 (Quarenta e dois milhões quatrocentos e sessenta e seis mil e noventa e seis) eleitores que não votaram em nenhum dos dois candidatos no segundo turno.
Esses números além de demonstrar que as escolhas feitas no primeiro turno não eram aquelas desejadas, denotam o afastamento gigantesco de uma parcela considerável da população brasileira da política partidária em nosso país. Isso é muito ruim, preocupante e digno de análise não somente pelos partidos, mas por todo contexto da nação.
Na prática, o candidato eleito foi ungido ao cargo por apenas 39% (trinta e nove por cento) dos eleitores aptos a exercerem o direito de votar no Brasil. Se levarmos em consideração a população do país de aproximadamente 210 milhões, esse percentual cai para 28% (vinte e oito por cento).
O país não está dividido nas urnas e nas ruas entre quem é favorável a Bolsonaro ou ao PT, mas a conta certa é a seguinte:
39% - Bolsonaro (PSL) - 32% - Haddad (PT) - 29% - Ausentes ou descrentes (Branco e Nulo).
Se somados os votos dados ao PT e aqueles que anularam, deixaram em branco ou se abstiveram de votar chegamos a 61% do eleitorado do país. O que não é pouco, mas sim, uma parcela considerável de quase dois terços do eleitorado.
Entre as tarefas do novo presidente além de recuperar a economia, o pleno emprego, conduzir as reformas estruturais necessárias (Fiscal e Tributária, Previdenciária e Política), enxugar a máquina federal e o Estado brasileiro, estimular e combater a corrupção, retomar o crescimento dando segurança, educação de qualidade e saúde pública decente, estará a reconstrução da credibilidade perdida na classe política pelo povo brasileiro ao longo dos últimos 33 anos, incentivando o Congresso Nacional a reduzir o número obsceno de partidos políticos.
Não são tarefas fáceis para nenhum presidente, seja um gestor público experiente ou um ex-deputado acostumado a ser pedra e não vidraça. Palavras daqui para frente pouco ou nada importam, medidas e exemplos serão ou não seguidas e aceitas dependendo da sua abrangência.
Ao partido que perdeu as eleições resta apenas uma única saída, a reconstrução sob uma nova base, sob novos conceitos pragmáticos e de novas lideranças menos rejeitadas, mais pró ativas e com menos laivos de traços de passado, olhando para o futuro e pensando nos erros cometidos para nunca mais os cometê-los. Isso obviamente serve para os demais partidos que perderam nestas eleições no primeiro turno.
O Brasil jamais será o mesmo após o resultado destas eleições, caberá agora mais do que nunca que os brasileiros exerçam na plenitude seus direitos de cidadão e fiscalizem, cobrem e acima de tudo acompanhem aquilo que estará sendo discutido e realizado no país.
O tempo de submissão e acompanhamento à distância ajudou a produzir aquilo que não queremos na vida pública, portanto, vamos alternar a nossa forma de olhar para a política e cuidemos da nossa democracia. O momento é agora!
https://www1.folha.uol.com.br/poder/2018/11/brancos-e-nulos-crescem-em-90-das-cidades.shtml

Autor: Rafael Moia Filho - Escritor, Blogger e Gestor Público.

17 de outubro de 2018

Para o duplipensar brasileiro, Roger Water é uma ameaça!

Vivemos tempos de falsificação grosseira da história. O jogo sórdido da simplificação vence com facilidade porque a burrice vem pronta e embalada, para consumo rápido e fácil. A crítica e a reflexão são vistas como inimigos. Elas ameaçam esse mundo distópico de realidade paralela alimentado por notícias falsas e verdades distorcidas. Há que se dizer que a história é e sempre foi um campo de disputa. O passado, inclusive, nunca está inerme. Nunca esteve e nunca estará imune ao dissabor de quem o controla.
A história é uma arena de batalha permanente. Cada fissura no tecido social abre flancos que normalmente são usados com objetivos espúrios, por quem tem muito a perder com essa coisa inconveniente que é o pensamento crítico, sobretudo doutrinas autoritárias e sociedades em que o nazifascismo está galopante. Este é o Brasil que Roger Water se encontrou e, inevitavelmente, chocou-se contra o muro quase intransponível dos eleitores de Bolsonaro.
Como explicar, afinal, para um inglês que teve seu pai morto na II Guerra Mundial enquanto combatia o fascismo em 1944 na Itália quando Waters tinha apenas 5 meses de idade que, em um país que normaliza a barbárie, há um exército de zumbis capaz de dizer que “o nazifascismo é de esquerda”, tentando inclusive “desmentir” a Embaixada da Alemanha e absolutamente todos os intelectuais sérios a respeito do tema?
Como explicar a Waters, que dedicou sua vida inteira, pessoal e artística, a combater o autoritarismo, que, no Brasil, milhões de pessoas votam orgulhosas em um candidato que defende a tortura e a ditadura, o extermínio de “adversários”, a criminalização de movimentos sociais, a cassação de partidos políticos, o estupro de mulheres, o racismo, a perseguição aos gays, o preconceito e a eliminação primeira e última do “outro”? E mais, que boa parte dessas pessoas são, também, seus fãs?
É contra essa mediocridade falsificadora reinante que Waters se chocou no primeiro show em São Paulo, quando endereçou diretamente o fascismo de Bolsonaro, colocando-o corretamente ao lado de outros nomes que representam a ascensão da extrema-direita no mundo, de Trump a diversos países europeus. A reação do público, mista, entre o júbilo e a vaia, provocou um verdadeiro curto-circuito na cabeça de Waters. Então estou sendo atacado e vaiado por criticar o fascismo? Sim, está.
E aí precisamos voltar a Orwell não apenas porque Orwell dedicou sua obra inteira a analisar o autoritarismo, direta e indiretamente, mas também porque Waters e o Pink Floyd tem ligações umbilicais com o autor. Em 1984, livro chave da sua obra, Orwell diz que quem controla o passado, controla o futuro, quem controla o presente, controla o passado. Mas as alterações na história nunca passavam como mudanças de fato. O que agora era verdade sempre foi verdade. Bastava apenas “uma ideia infinda de vitórias sobre a memória”. O puro e simples controle da realidade ou, em “novilíngua”, o novo “idioma” deste mundo de simplificações grotescas, o controle da realidade é o duplipensar. Mas que diabos é isso?
Saber e não saber, ter consciência de completa veracidade ao exprimir mentiras cuidadosamente arquitetadas, defender simultaneamente duas opiniões opostas, sabendo-as contraditórias e ainda assim acreditando em ambas; usar a lógica contra a lógica, repudiar moralidade em nome da moralidade, crer na impossibilidade da democracia e que o Partido era o guardião da democracia; esquecer tudo quanto fosse necessário esquecer, trazê-lo à memória prontamente no momento preciso, e depois torná-lo a esquecer; e acima de tudo, aplicar o próprio processo ao processo. Essa era a sutileza derradeira: induzir conscientemente a inconsciência e então tornar-se inconsciente do ato de hipnose que se acabava de realizar. Até para compreender a palavra “duplipensar” era necessário usar o duplipensar.
Qualquer semelhança com o mundo criado por Bolsonaro e sua equipe e engolido prontamente pelo séquito de milhões de eleitores sobretudo via WhatsApp não é mera coincidência, é estratégia. A tática de Bolsonaro – seja orientada por Steve Bannon seja tipificada pelas dezenas de generais que fazem parte da sua campanha – é duplipensar purinho. Todo o seu discurso, cada movimento que faz, cada declaração que dá, cada fake news que espalha, cada suposta “contradição” do seu comitê visa o controle da realidade. É duplipensar em estado bruto e também lapidado.
É assim que não é tão difícil compreender como um fã de Roger Waters e do Pink Floyd é capaz de, ao mesmo tempo, adorar a banda e votar em Bolsonaro. Ouvir e cantar um discurso antifascista e ser fascista na prática, na crença e nos costumes, consciente ou não. Novamente: “ter consciência de completa veracidade ao exprimir mentiras cuidadosamente arquitetadas, defender simultaneamente duas opiniões opostas, sabendo-as contraditórias e ainda assim acreditando em ambas”.
Aqui entra o fenômeno não exatamente recente do “roqueiro reaça”. O reacionário convicto que tem no rock o “estilo de música favorito”, parte da “maneira como leva a vida”. O rock, supostamente rebelde e revolucionário, teoricamente questionador, há muito já processado, branqueado e falseado, há muito já parte intrínseca da indústria cultural contemporânea do consumo acéfalo. Não é preciso ler os teóricos da Escola de Frankfurt para chegar a tal conclusão.
O rock como parte fundamental da cultura pop tem no Pink Floyd um dos seus exemplos mais únicos. The Dark Side of the Moon é um dos cinco discos mais vendidos da história da música. 45 milhões de cópias – em números subestimados – de um álbum conceitual, de uma banda de rock progressivo, que endereça, do início ao fim, a alienação, as psicoses, o desconforto da modernidade, a ganância, a ansiedade, a angústia, os transtornos mentais causados pela sociedade contemporânea.
Nada mais paradoxalmente popular, portanto, que The Dark Side of the Moon, o disco que mudou o Pink Floyd de patamar, que catapultou a banda de uma estrela do underground psicodélico para os mega shows em estádios, o distanciamento cada vez maior entre banda e público e entre seus próprios integrantes. Que registra o início do domínio de Waters – que assina sozinho (mais) ou em conjunto (menos) quase todas as faixas do álbum – com exceção de duas instrumentais. Dark Side… é o início do fim do Floyd, dos conflitos e do esgarçamento da tensão que levarão em última instância a The Wall e ao fim da banda pós-Barrett, sua fase mais longeva e popular até então.
A história de Waters, portanto, é uma alegoria exata do show, do momento atual, dos conflitos, paradoxos e tensões que só o Brasil, com a sua jabuticaba de fascistas ouriçados que se julgam donos da história contra todo o resto do mundo, pode oferecer. De eleitores de um candidato que louva o mais notório torturador da ditadura brasileira e que tem como livro de cabeceira justamente A Verdade Sufocada, escrito por Brilhante Ustra, este mesmo torturador que exprime seu desespero, sua busca incessante em reescrever a história. Nada mais duplipensar do que isso.
 O fã do Pink Floyd, banda que ultrapassa os nichos de mercado e se tornou um dos pilares da cultura pop contemporânea, portanto, certamente é bastante diversificado. E há aqui o elemento do espetáculo, teórica e diretamente falando, o cidadão que vai a grandes eventos para se sentir parte daquele acontecimento, para se exibir em redes sociais, como puro entretenimento, mesmo que no caso de Waters não seja só isso.
Em Brasília, após a querela em SP – teve muita gente abandonando o show cedo e querendo até (risos) fazer boletim de ocorrência contra Waters – a imensa maioria do público reagiu positivamente às suas críticas contra o fascismo e Bolsonaro, levando-o até a se emocionar. Perto de mim, um senhor goiano com camisa de tintas policiais, acuado pela maioria, não se conteve ao gritar “mito, mito, mito!”, prontamente contido pela esposa. Para quem gosta da metáfora do FlaXFlu, o clima no Mané Garrincha era nítido.
O incômodo explica-se também porque não se trata de uma mensagem curta e breve projetada no imenso telão durante uma das músicas. Waters dedica todo o intervalo do show, cerca de 15 minutos, em um crescendo de mensagens contra o autoritarismo, o fascismo, o domínio militar, a espionagem no mundo, as redes sociais, a supressão de liberdades individuais e de expressão, a defesa de direitos humanos, endereçando e nomeando adversários de tudo que ele acredita, até chegar a Bolsonaro – com uma tarja de “conteúdo político censurado” após o show em SP – o suficiente para trazer desconforto aos eleitores do Messias.
Das três turnês de Waters que tive a oportunidade de ver – 2007 no RJ, 2011 em SP e esta Us + Them em Brasília – a atual é a mais politizada de todas. Não por acaso: tivemos a ascensão da extrema-direita em praticamente toda a Europa e a vitória de Trump nos Estados Unidos, alvo principal de Waters. Durante “Pigs (Three Different Ones)”, música de Animals, de 77, todo o conceito é direcionado a defenestrar, expor e tripudiar da estupidez, do racismo, da xenofobia, da insegurança sexual, do autoritarismo de Trump, retratado em montagens francamente ofensivas, exposto em frases cretinas de sua autoria, até culminar em “Trump é um porco”, já que “os porcos mandam no mundo” e “que os porcos se fodam”, conforme levantado em cartazes por Waters, devidamente mascarado de acordo com o conceito de A Revolução dos Bichos, de Orwell, fábula-livro que serviu de base para todo o material do disco citado.
É de se pensar não só se algum artista brasileiro terá a coragem de ser tão incisivo, tão gráfico e direto em críticas a Bolsonaro, caso eleito, mas sobretudo se esse tipo de crítica será permitida e aceita sem represálias. Se não viveremos a volta da censura. Validado pelo voto, que cara terá o fascismo brasileiro do século XXI? Com um presidente fraco cercado de generais e um Congresso e Senado em que dominam a bancada BBB (bala, bíblia e boi), não é necessário um golpe propriamente dito para que toda a agenda de criminalização de movimentos sociais, o ultraliberalismo entreguista da Universidade de Chicago via Paulo Guedes, a destruição total dos biomas brasileiros, a perseguição a adversários políticos e o empoderamento dos nazifascistas brasileiros, como já se observa na onda de violência alimentada por Bolsonaro Brasil afora.
É este ninho de serpente que Waters encontrou. É nesse contexto tipicamente brasileiro após o fim do pacto que mantinha a Nova República em pé, mesmo cambaleante, que Waters traz toda a sua parafernália, seu espetáculo, suas críticas e sua história. Para quem se acostumou a falseá-la e simplificá-la de acordo com o que foi levado a acreditar para um projeto de poder autoritário que tem o intelectual como inimigo, é exigir demais o mínimo de discernimento. Perdemos todos. Mas toda a carreira de Waters e o mundo nos prova que, de fato, todos os seres humanos são iguais, mas alguns serão sempre mais iguais que outros.
Autor: Maurício Angelo, do Movin' Up

16 de outubro de 2018

Uma terra fértil para a fake news e as mentiras!

“A mente de um fanático é como a pupila do olho:
quanto mais luz incide sobre ela, mais se irá contrair”.
Oliver Wendell Holmes.

Nunca imaginei que a tecnologia nos trouxesse até a era da comunicação rápida, com imagens instantâneas de qualquer parte do planeta em questão de segundos. Com celulares ultramodernos captando sons, cores e todos os tipos de mensagens em tempo real.
Conviver com tanta modernidade trinta anos depois de vivenciar a escassez de linhas telefônicas fixas e a dificuldade gigante para conseguir se comunicar até 1990, é algo fantástico.
De bônus, junto com toda esta tecnologia de ponta, esta modernidade incrível, veio à internet, as redes sociais, o contato aproximado com o mundo ao nosso redor num piscar de olhos, no celular ou em várias outras plataformas digitais. As fronteiras foram alteradas e tudo ficou próximo num mundo globalizado, onde a informação está disponível para todo, sem exceção ,em tempo recorde.
Entretanto, nós brasileiros precisamos conviver com a mentira propagada pelas fake news. Fatos distorcidos, imagens arranhadas e muitas bobagens disseminadas por quem deveria primar pela inteligência, usando as informações para levar conhecimento ao maior número de pessoas.
Virou moda entre os incultos, os iletrados espalharem mentiras eletrônicas pelas redes sociais e pelo WhattApp. O terreno fértil da ignorância ajuda na divulgação, pois muitos replicam as mentiras sem se preocupar em checar a veracidade das mesmas. Ninguém tem “tempo” para fazer o certo nos dias atuais, correm com os dedos no seu celular repassando bobagens, mentiras, acusações levianas para um numero cada vez maior de pessoas.
Antes, durante e depois das eleições o que mais li no Twitter foram às mentiras baseadas em fotos falsas, imagens inexistentes e teorias conspiratórias sem nexo. Pessoas com prazer em divulgar coisas sem fundamento para atingir partidos, candidatos ou pessoas de vários segmentos, ou ainda, para enaltecerem seus personagens queridos, como se estes precisassem de proteção.
E não só no campo político, extrapolando para o esporte, o cinema, televisão, enfim, posts falsos distorcem verdades, enaltecem criminosos e desvirtuam o conhecimento através de informações falsas e maliciosas. O trote agora é virtual e traz consigo o ódio, o preconceito, a mentira, a desfaçatez de uma gente sem pudor, sem conteúdo e que deveriam ser banidas do nosso convívio.
É verdade que está havendo uma reação da mídia, de algumas autoridades, porém, ela é lenta e não consegue evitar em tempo real nem minimizar o estrago que estas inverdades causam no nosso cotidiano.
Precisamos muito de educação de qualidade, informação e principalmente de pessoas com ética que deixem de lado partidos, clubes, religiões e passem a respeitar o próximo como gostariam de ser respeitados, seguindo o ensinamento de quem não mentiu e viveu por nós aqui nesta mesma Terra há dois mil anos atrás.
Autor: Rafael Moia Filho - Escritor, Blogger e Gestor Público.

8 de outubro de 2018

Algumas ponderações sobre a eleição em I Turno

Aprenda como deter o julgamento; Aprenda a escutar;
Entre em contato com seu próprio Eu interior;
Olhe para a vida com alegria e jamais chore por algo que não
pode chorar por você. Cheewa James – Modoc

Após meses de incertezas, discussões acaloradas, coligações e conchavos mais de 147 milhões de eleitores conheceram neste domingo de outubro os resultados das eleições no Brasil. Foram 54 senadores que se juntam a outros 27 eleitos em 2014, formando o quadro de 81 parlamentares no Senado Federal. Também tivemos 513 deputados federais e aproximadamente 1059 deputados estaduais eleitos para quatro anos de mandato da Câmara Federal e Assembleias Estaduais.
Também tivemos eleições para governadores nos 27 Estados e no Distrito Federal. Em 13 Estados a vitória aconteceu em primeiro turno. Nos demais 14 Estados e no DF teremos segundo turno para decidir quem governará de 2019 a 2022.
A eleição para presidente da república também terá a ocorrência de segundo turno para decidir qual será o novo escolhido, ficando entre Jair Bolsonaro – PSL e Haddad – PT, conforme demonstra o quadro abaixo com o resultado final.
ELEIÇÃO PARA PRESIDENTE
IBOPE – 06/10/18

SIGLA
CANDIDATO
IBOPE
VOTOS
URNAS
PSL
BOLSONARO
36
49.275.358
46,03
PT
HADDAD
22
31.341.839
29,28
PDT
CIRO GOMES
11
13.344.074
12,47
PSDB
ALCKMIN
07
5.096.277
4,76
NOVO
AMOÊDO
02
2.679.596
2,50
PATRI
CABO DACIOLO
01
1.348.317
1,26
MDB
MEIRELLES
02
1.248.941
1,20
REDE
MARINA
03
1.069.538
1,00
PODE
ALVARO DIAS
01
859.574
0,80
PSOL
BOULOS
-
617.115
0,56

VOTOS EM BRANCO

3.106.916
2,65

VOTOS NULOS

7.102.162
6.14

ABSTENÇÕES

29.932.639
20,32

TOTAL DE ELEITORES

147.306.295

Analisando o quadro final, tenho de destacar o fato de que 40.141.717 (Quarenta milhões, cento e quarenta e um mil, setecentos e dezessete) eleitores deixaram de votar por abstenção, voto nulo ou branco. Essa soma de brasileiros é maior do que a população do Canadá, um contingente inaceitável que terá de conviver com o mesmo país que os eleitores que usaram de seu direito ao voto. A soma poderia mudar o quadro político completamente e preocupa na medida em que estes milhões de votos deixaram de ser destinados ao legislativo também.
Os votos em branco teriam ficado em 5º lugar, os votos nulos ocupariam o quarto lugar no pleito e as abstenções estariam em terceiro lugar. Esse comportamento não auxilia em nada o processo democrático e apenas permite que muitos candidatos sem a mínima capacidade legislativa assumam cargos da maior relevância no Brasil.
Em São Paulo, por exemplo, mais uma vez tivemos a eleição de candidatos a deputado federal que sabidamente não possuem preparo necessário para ocupar a Câmara Federal, e representar os paulistas nas discussões sobre tantos assuntos importantes. Veja alguns exemplos da falta de seriedade do eleitor do Estado mais rico da Nação:
     a)   O palhaço sem graça Tiririca - 453.855 votos;
     b)  Ator pornô Alexandre Frota -   155.522 votos;
     c)   O suspeito Paulinho da Força – 75.613 votos;
De uma forma geral, o brasileiro vota contra alguém ou algum partido. Foi assim em 1986 quando votou em massa no PMDB contra a ditadura. Em 1990 quando votou em Collor contra Lula. Em 1994 e 1998 quando votou no Plano Real contra o PT. De 2002 a 2014 quando votou contra o PSDB. Em 2018 quando novamente vota contra o PT.
Talvez no dia em que de uma maneira geral, o eleitor brasileiro votar com consciência em projetos de governos calcados em propostas fundamentadas a favor do país e seu desenvolvimento talvez tenhamos algumas chances.
Autor: Rafael Moia Filho - Escritor, Blogger e Gestor Público.

5 de outubro de 2018

Dados reais que parecem mentiras!

A lei de ouro do comportamento é a
tolerância mútua, já que nunca pensaremos
todos da mesma maneira, já que nunca
veremos senão uma parte da verdade
e sob ângulos diversos. Mahatma Gandhi

O Brasil é um país de contradições, capaz de comportar uma agricultura com vasta área de plantio como poucas regiões no mundo, e ao mesmo tempo abrigando milhares de pessoas no limite da miséria e da fome.
Uma concentração de riquezas incalculáveis nas mãos de um por cento da população de quase 208 milhões de brasileiros e os demais passando necessidades básicas, atingidos pelo desemprego, doenças e pobreza.
A oitava economia do planeta contratastando com milhões de desempregados, milhões de analfabetos completos e funcionais, num cenário de educação pública aquém da necessidade verdadeira daqueles que sonham chegar ao ensino superior.
Um Estado que arrecada como a Alemanha e retribui à sociedade como Uganda, fazendo com que os recursos sejam sugados pela máquina pública bilhões de recursos que deveriam ser investidos em Saúde, Educação, Habitação, Segurança, Saneamento obras de infraestrutura.
Um país de vasta área territorial e riquezas cobiçadas pelas grandes nações do planeta que não consegue explorar com inteligência a possibilidade de captação de recursos oriundos do turismo, nem com a venda de alimentos, ficando sempre a reboque das grandes potências mundiais.
Na base central dos problemas, o Brasil tem a pior casta política do mundo mantida por um eleitorado desinformado, carente de educação e de acesso a informação. Em sua grande maioria os eleitores responsáveis pela assunção ao poder de bandidos travestidos de salvadores da pátria não sabem em quem votaram nas eleições anteriores. A maioria não pesquisa, não cobra e nem reivindica seus direitos constitucionais, caminhando como zumbis das redes sociais completamente a deriva.
Impossível esperar crescimento e economia sustentável num país que despreza a Educação e pensa que o sistema democrático se resume ao ato de votação a cada dois anos. Impossível acreditar num sistema político falido, com instituições que funcionam, porém, não resolvem os problemas da sociedade nas três esferas de poder.
Como podemos entender que a oitava economia do planeta possa ter o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) na posição vexatória de 79º lugar, o que por si só, mostra quão descontrolado é a comparação entre as riquezas e os investimentos feitos pelo país. A desigualdade social é a marca do Brasil e sua maior ferida, diante do fato de que seus governantes e congressistas trabalham na contra mão, favorecendo sempre os mais ricos e abastados.
Autor: Rafael Moia Filho - Escritor, Blogger e Gestor Público.

4 de outubro de 2018

Os resultados na educação preocupam muito


Uma discussão prolongada significa
que ambas as partes estão erradas.

    Ao analisarmos os principais indicadores da educação, percebemos que apesar do acesso à educação ter melhorado um pouco, a qualidade não tem acompanhado esse crescimento. Os países da América Latina ainda ocupam as últimas posições nas avaliações PISA – OCDE. A média de abandono escolar é de mais de 40% e é deficitária a cobertura pública da Educação Infantil – uma peça chave na batalha pela equidade na educação.
    Os alunos no começo e no final do ensino fundamental não conseguiram adquirir as aprendizagens básicas em leitura e gramática. A análise dos resultados fica ainda pior na matemática, onde o desempenho é sofrível.
    Apesar de seu tamanho territorial e sua grandeza econômica, se comparada com a maior parte da América Latina, o Brasil luta para tentar manter seus jovens dentro do sistema educativo. Não existe uma política definida para a Educação, iniciando seus investimentos justamente no começo do processo educacional – Educação infantil. Ao contrário, nossos governantes invertem a pirâmide e dão mais apoio ao ensino superior, esquecendo-se do caminho que os alunos têm de percorrer até chegar à última etapa das suas vidas na educação.
    O reflexo aparece na vida adulta quando os jovens começam suas carreiras profissionais. Uma pesquisa feita pelo Banco Internacional de Desenvolvimento (BID) na Argentina, Chile e Brasil identificou que a maioria das empresas tem inúmeras dificuldades para encontrar competências que precisam nos jovens saídos do Ensino Médio.
    Neste universo pesquisado, apenas 12% dos entrevistados declararam não ter dificuldades para encontrar jovens preparados para os desafios que suas empresas possuíam. As habilidades socioemocionais foram as mais difíceis de serem encontradas nos jovens entrevistados.
    A Educação deve fazer parte da estratégia de um governo, tem de estar em perfeita sintonia com o sistema educacional e o mercado de trabalho que deverá assumir essa oferta de jovens preparados para a vida profissional. Neste sentido, percebemos que no Brasil discutem-se muitas questões paralelas, porém, os jovens chegam ao mercado de trabalho despreparados para a realidade da indústria e do mercado sempre voláteis e em desenvolvimento constante. As novas tecnologias passam à mercê do sistema, enquanto nossos alunos continuam sendo obrigados a aprender matérias decorativas e sem qualquer aproveitamento na vida útil dos estudantes.
    A tarefa é árdua se nosso país quiser ser competitivo, ter educação de qualidade e produzir, desde a tenra idade jovens capazes de absorver todas as múltiplas informações advindas do período de ensino, desde o infantil até o superior.
Autor: Rafael Moia Filho - Escritor, Blogger e Gestor Público.