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28 de abril de 2020

As reportagens do GGN sobre Bolsonaro e o caso Marielle!

Mas as derrapadas iniciais do JN, e o recuo apressado, mais a blindagem da mídia, em função das tais reformas prometidas, enterraram provisoriamente o caso.
No dia 28/10/2019, matéria do Jornal Nacional divulgava depoimento do porteiro do Condomínio Vivendas da Barra, de que o motorista Élcio de Queiroz entrara no dia 14/03/2018 com autorização da casa 58, de Jair Bolsonaro. No condomínio, encontrou-se com Ronnie Lessa e saíram de lá para algum tempo depois executar a vereadora Marielle Franco.
Naquela noite, Bolsonaro reagiu com uma live colérica, ameaçando cassar a concessão da Globo. Na manhã seguinte, seu filho Carlos, mostrou o sistema de telefonia do condomínio no momento da chegada do carro de Élcio, com o porteiro chamando a casa de Ronnie Lessa.
No mesmo dia, a Globo recuou da posição inicial. Nos dias seguintes, o GGN passou a investigar o caso e trouxe um conjunto sólido de indícios, reforçando as suspeitas sobre os Bolsonaro.
Mas as derrapadas iniciais do JN, e o recuo apressado, mais a blindagem da mídia, em função das tais reformas prometidas, enterraram provisoriamente o caso.
Aqui, uma sequência de reportagens, que podem ser encontradas no amplo levantamento que o GGN fez sobre Bolsonaro e que pode ser encontrado no link https://jornalggn.com.br/xadrez-de-bolsonaro/
Em 30/10/2019 mostrava a intenção de Bolsonaro de buscar o poder total, a pusilanimidade das instituições e o papel da mídia, tentando criar um clima de otimismo na economia, em cima de indicadores ridículos.
Criminalistas denunciavam desvio de competência de Moro, ao colocar a PF para intimidar o porteiro e faze-lo recuar da denúncia.
No mesmo dia falamos do recuo da Globo, depois da denúncia do Jornal Nacional ter sido rebatida por Bolsonaro. O próprio JN, na denúncia, aceitou a falsa explicação de que, por estar em Brasília no dia do encontro dos assassinos de Marielle no condomínio, não poderia ter atendido a ligação do porteiro.
Em 31/10/2019 trouxemos informações exclusivas sobre o sistema de telefonia do condomínio. Ele permite a transferência de chamadas para celulares. A informação desmontava o álibi dos Bolsonaro, mas foi ignorada pela mídia.
Naquele dia, vários partidos políticos denunciaram a interferência indevida de Sérgio Moro, mandando a Policia Federal pressionar o porteiro para mudar seu depoimento.
No mesmo dia, denunciamos o risco de entrar em estado de exceção, com a atitude do Procurador Geral da República Augusto Aras e do Ministro da Justiça Sérgio Moro de mandar pressionar o porteiro do condomínio para que voltasse atrás em seu testemunho. Na época, bolsonarismo e lavajatismo estavam juntos.
No dia 01/11/2019 copiamos a tela do sistema da portaria e propusemos um mutirão de reportagem: os leitores ajudarem a achar o sistema de telefonia que estava na tela do computador.
No dia 02/11/2019 destacamos mais uma informação relevante, que passou em branco na mídia: Bolsonaro admitiu ter pegado uma das provas centrais (o sistema de telefonia) no próprio condomínio.
No dia 04/11/2019 outra informação relevante, levantada pela Piauí, que não teve desdobramentos: uma perícia da Polícia Civil que supostamente comprovaria que a voz do porteiro, divulgada por Carlos Bolsonaro, não era a mesma do porteiro que recebeu o visitante.
No dia 05/11/2019, um blog do Rio de Janeiro publicou o demonstrativo de receitas e despesas do condomínio Vivendas da Barra. Nele, o pagamento pelo aluguel do sistema de telefonia. Uma rápida pesquisa confirmou que o sistema permitia transferir ligações para celulares.
Em 10/11/2019, reportagem da revista Piauí, com peritos afirmam que registros de ligações no condomínio, mostrados por Carlos Bolsonaro, foram editados.
No 11/11/2019 as dúvidas de peritos sobre a edição dos arquivos do sistema de telefonia.
No dia 13.11.2019, um tuite da jornalista Thais Bilenky, no dia da morte de Marielle, informava que Bolsonaro tinha viagem marcada para o Rio. O tuite foi antes do assassinato.
No mesmo dia, juntamos as peças para desenvolver a teoria mais lógica para explicar o jogo de despistes dos Bolsonaro em relação ao dia 14.03.2018 (dia do assassinato de Marielle).
No dia 14.11.2019 escrevemos sobre a incrível apatia da mídia, de não focar nos pontos centrais que desvendariam a trama dos Bolsonaro.
No dia 15.11.2019 mostramos que Bolsonaro tinha viagem marcada para o Rio no dia 14 (da morte de Marielle). Mas alegou mal estar e viajou no dia 15, pela manhã. Apresentamos uma teoria do fato para tentar entender os desacertos de anunciar viagem e recuar.
No dia 17.11.2019 mostramos, com exclusividade, o escorregão de Carlos Bolsonaro, comprovando que estava no condomínio no mesmo momento em que lá se reuniam os dois assassinos de Marielle.

Autor: Luis Nassif - Site GGN

26 de abril de 2020

Chega de politicagem de politiqueiros da esquerda ou da direita

Estou perplexo com os acontecimentos políticos recentes ocorridos no Brasil. Não é fácil entender como um deputado que militou 28 anos na Câmara Federal, após eleger-se presidente da República não entendeu qual foi a delegação que lhe deram mais de 57 milhões de eleitores. Não entendeu porque depois da posse ainda não organizou um plano de ação e prefere brigar com moinhos de vento numa luta tresloucada contra supostos comunistas e inimigos.
O presidente Mito assumiu o cargo sem oposição que o impeça de governar. O principal partido da Oposição, o PT, saiu derrotado e desmoralizado das urnas em 2018 e seus representantes estão mudos no Congresso e na sociedade. O presidente não tem adversários no Congresso. Talvez por isto agride com palavras grosseiras os líderes de todos os partidos e já se desentendeu até com o partido que lhe ofereceu a legenda para conquistar o cargo, o PSL. Hipoteticamente o Mito-Presidente se apresenta como representante de uma Nova Política e nesta condição, critica com palavras grosseiras e qualificativos depreciativos, todos os líderes políticos do País. Só ele e o grupo que o segue nas redes sociais são honestos e patriotas.
O Mito-Presidente montou uma estrutura administrativa com executivos de boa qualidade na maioria dos Ministérios, mas certamente não conhece o Provérbio Bíblico que diz: “quem planta vento colhe tempestade”. O líder da Nova Política, que tanto vento tem plantado, começou a colher tempestades. Uma dela tem o nome de Sérgio Moro, que deixou o governo atirando. Amanhã poderá ser Paulo Guedes e Tereza Cristina, da Agricultura. Ambos bem qualificados.
O presidente precisa entender que há no Brasil, neste momento de crise de Coronavírus, perto de 20 milhões de desempregados, 25 milhões de pessoas desalentadas e milhares de empresas que podem fechar as portas e provocar mais desempregos. Não é tempo de comprar brigas políticas por causa de uma eleição marcada para 2022. A eleição está longe.
O presidente da República precisa assumir agora o comando de ações para desatar nós cegos. Chega de politicagem de politiqueiros da politiquice da politicalha. Não precisamos de políticas da esquerda nem da direita. Precisamos de políticos que assumam responsabilidade no Brasil e enfrentem problemas sociais maiúsculos com firmeza e seriedade. Brasil acima de tudo! Deus acima de todos!

Autor: Jornalista e Escritor Ivan Santos – Blog Uberlândia Hoje!

23 de abril de 2020

Tem gente no Brasil que ainda acredita!

Passou da hora de muitos
experimentarem aquela estranha
sensação do uso do
raciocínio em nosso país.
Fernando Pinho

O presidente Bolsonaro na ânsia de conseguir uma base aliada, algo impossível em quinze meses de gestão, diante da sua postura aliada a ausência de diálogo com o Congresso, o levou a provar de seu próprio veneno.
Desde sua campanha dizia que não iria praticar a “velha política” fazendo troca de cargos ou cedendo cargos em troca de apoio. Pois, está agora desmentindo a si mesmo, quando procura partidos políticos para fazer justamente a velha política tão surrada e criticada no país.
Para o vice-líder do PSL na Câmara, Junior Bozzella (SP), o governo conseguiu fazer uma “aliança com o Centrão” em referência ao nome da sigla que Bolsonaro pretende criar, Aliança pelo Brasil. Na visão dele, o alinhamento com os partidos do grupo é o ato derradeiro para o presidente. “É um ato de desespero, uma flagrante demonstração da sua incompetência, da sua incapacidade política e demonstra que as suas reservas morais foram, todas elas, jogadas na lata do lixo”, disse Bozzella, para quem o presidente não é capaz de sustentar as próprias posições.
Outro ex-aliado do presidente, o deputado Julian Lemos (PSL-PB) disse que as conversas com o Centrão se devem à “inabilidade política, petulância e arrogância” do governo. Segundo ele, o presidente perdeu sua essência e se desmoralizou.
Na visão do senador Major Olímpio (PSL-SP), a aproximação com o Centrão é frontalmente contrária a toda a narrativa de campanha de Bolsonaro, o que tem enfurecido o eleitorado bolsonarista. Olímpio considera que o movimento do presidente representa um tropeço no próprio discurso.
O ápice dessa conduta do presidente foi procurar por Roberto Jefferson que em 2005 ficou popularmente conhecido ao ser interrogado pela CPMI dos Correios para investigar irregularidades e fraudes na estatal. Ele é uma figurinha carimbada da política brasileira há anos.
Jefferson foi deputado de 1983 a 2005 (quando teve o mandato cassado). Uma característica do ex-deputado foi estar sempre na base aliada do Governo Federal. Esteve com Sarney e principalmente ao lado de Collor. Em 1992 foi o principal defensor de Fernando Collor, tanto no plenário, quanto nos meios de comunicação.
Em 1993, na base aliada de Itamar Franco, teve seu nome citado na CPI do Orçamento. Ele foi incluído numa lista de 37 deputados que cometiam fraudes no orçamento da União junto a prefeitos e empreiteiras responsáveis por obras em todo o país. Jefferson foi absolvido no início do processo, que terminou com 18 deputados cassados. Denúncias afirmam que ele supostamente teria embolsado sozinho R$ 470 mil.
Como de praxe, Roberto Jefferson se manteve aliado do Governo com a posse de Fernando Henrique Cardoso em 1995. Em 1997 votou a favor do projeto que permitiria a reeleição de cargos executivos no País. Muitos deputados da base aliada chegaram a afirmar que houve compra de votos para a aprovação. O caso não foi comprovado, mas também sequer foi investigado. A reeleição foi aprovada e o então presidente, FHC, foi reeleito.
Ainda em 1997, Jefferson, buscando mais um mandato de deputado, omitiu na declaração de bens ao Tribunal Regional Eleitoral a posse de dois apartamentos em Cabo Frio. Cerca de R$ 90 mil cada um.
Em 1990, Roberto Jefferson não declarou ao TER uma casa que possui até hoje em Petrópolis. Eleito mais uma vez em 1994, continuou sem declarar o imóvel, que só foi comunicado na eleição de 1998, no valor de R$ 82.276,73.
Em 2005, mesmo ano de sua cassação, Jefferson teve sua aposentadoria publicada no Diário Oficial. O ex-deputado recebe R$ 18.477 dos cofres públicos.
Roberto Jefferson foi condenado a 10 anos de reclusão, mas teve pena reduzida a 7 anos por ter sido o delator do caso. No dia de sua prisão, a apresentadora do SBT Brasil, Raquel Sheherazade, pediu medalha de Honra ao Mérito ao ex-deputado pelos "bons serviços prestados ao Brasil".
Esse detalhamento mais amplo sobre Roberto Jefferson visa mostrar quem é Bolsonaro na verdade, como ele pensa de verdade e não as mentiras que conta aos xiitas que o procuram na porta do palácio do planalto. Fazer acordo com Centrão e Jefferson demonstra a verdadeira face do ex-deputado que militou em muitos partidos, alguns deles como PP – Partido Popular, um dos mais corruptos sem nunca ter denunciado nada.

 Autor: Rafael Moia Filho – Escritor, Blogger e Graduado em Gestão Pública.

21 de abril de 2020

Preparar-se para a guerra!

Os últimos dias mostraram com precisão a tese de Freud que o poder molda sujeitos, fazendo-os a sua imagem e semelhança. Ou alguém esperava ver, em meio à pandemia pessoas fazendo buzinaço em frente ao hospital?
Presidente Jair Bolsonaro fala com a imprensa na saída do Palácio da Alvorada nesta segunda, 20/04/20. Ueslei Marcelino - Ag Reuters
Em 1939, pouco antes de Hitler atacar a Polônia e iniciar a Segunda Guerra, Freud lança seu último livro, Moisés e a religião monoteísta. Neste livro que trata da constituição de identidades coletivas através de identificações a lideranças, há uma ideia surpreendente, sintetizada em uma pequena frase: “Moisés criou o povo judeu”. Ou seja, não se tratava de afirmar que a liderança era a expressão dos traços de seu povo. Na verdade, o quadro estava de cabeça para baixo. 
Aquele que ocupava o lugar do poder e prometia uma grande transformação acabava por constituir o povo, por definir os traços prevalentes de sua identidade coletiva. Ou seja, havia uma força produtiva do poder, não apenas uma força coercitiva. Da representação do poder, vinha uma força de identificação que moldava paulatinamente os sujeitos a ela submetidos, que os transformava em seus afetos, em sua estrutura psíquica, em suas ações. O poder molda os que a ele se assujeitam.
Freud não conheceu o Brasil, nem nunca ouvi falar de Jair Bolsonaro. Mas é certo que os últimos dias mostraram com precisão sua tese de que o poder molda sujeitos, fazendo-os a sua imagem e semelhança. Todos estão a perceber essa mutação na qual expressões de desprezo, indiferença e violência antes inimagináveis de serem feitas a céu aberto e na frente de todos se tornam manifestações cotidianas, em uma espiral em direção ao abismo que parece não ter fim. Ou alguém realmente esperava ver, em meio a uma pandemia, pessoas a manifestar na Avenida Paulista dançando com um caixão, fazendo buzinaço em frente a hospital, zombando abertamente da dor e do desespero de milhares de pessoas infectadas e lutando pela vida em situações hospitalares precárias? Como se fosse o caso de expressar, da forma a mais aberta e brutal, a indiferença em relação aos 2500 corpos mortos até agora, ao menos se confiarmos nos números subnotificados. Como se fosse o caso de repetir os “deslizes”, as “derrapadas”, ou melhor, os traços de caráter de quem ocupa o poder.
Alguns podem dizer que isto sempre esteve aí, na indiferença das classes mais altas ao destino e as chacinas perpetradas contra as classes vulneráveis. Mas o pior erro é não perceber as placas tectônicas se movendo por estar com os olhos submersos na lógica repetitiva do “sempre foi assim”. Não, há algo novo a acontecer. Pois não se trata apenas da conhecida máquina necropolítica do estado brasileiro. Trata-se da explosão de rituais públicos de auto sacrifício e de violência. Trata-se de uma dinâmica “suicidária”. Erra quem acredita que essas hordas envoltas na bandeira nacional “não sabem do perigo que correm”, são “burras”, como se fosse simplesmente o caso de procurar explicar claramente o que é uma pandemia para todos voltarem para casa.
Diante do fascismo, Adorno e Horkheimer disseram um dia que nada mais estúpido do que tentar ser inteligente. Nossa pretensa supremacia intelectual ainda irá nos matar. Ela nos faz não ver como, no fundo, há uma parte da população brasileira que deseja isto e se dispôs a jogar roleta russa com todos e com elas mesmas. É este desejo que deve ser compreendido. Pois esta será sua forma de se sacrificar por um ideal, mesmo que este ideal não prometa nada mais do que o próprio sacrifício, nada além de um movimento permanente em direção à catástrofe.
Neste sentido, estamos a observar uma mutação impressionante. Mesmo sendo o pior governo do globo terrestre diante da pandemia (comparado apenas a Bielorrússia, ao Turcomenistão, e ao renegado que governa a Nicarágua), o apoio a Bolsonaro não cai. Ele muda paulatinamente. Setores da classe alta vão abandonando-o enquanto ele compensa com adesões nas classes populares, repetindo um movimento que vimos inicialmente com o lulismo. Dificilmente, este número mudará. Ele nem subirá, nem cairá. Mas a qualidade deste apoio mudará. Ele deixará de ser simples apoio para ser identificação profunda e aguerrida. Ao final, teremos um país com 30% de camisas negras dispostos a tudo, pois acreditam estar em um processo revolucionário de ressureição nacional. Este processo não tem mais retorno.
Não será a primeira vez na história que uma dinâmica de afetos e crenças desta natureza ganhou corpo. Esta implosão aberta de qualquer princípio elementar de solidariedade, esse desprezo com os que morrem, esse culto do próprio suicídio como prova de “coragem”, essa violência cada vez mais autorizada até a formação aberta de milícias populares, esta crença em uma revolução nacional redentora, isto tudo tem nome. Costuma responder pura e simplesmente por “fascismo”.
Movimentos desta natureza sempre se aproveitam da fraqueza de seus adversários. Enquanto Bolsonaro moldava uma parte da sociedade a sua imagem e semelhança, havia sempre os especialistas em questões palacianas florentinas capazes de identificar as intrigas que iriam “paralisa-lo”, os erros que indicariam que “acabou para você”. Até pouco tempo, Bolsonaro foi descrito como uma “rainha da Inglaterra”. Isto até ele mandar embora seu ministro da Saúde sem que nenhum cataclismo anunciado realmente ocorresse. Não, não há nada que irá pará-lo, nenhum recuo ocorrerá. Um projeto dessa natureza só é parado de forma brutal. Mas esta brutalidade necessária não está na consciência dos atores políticos atuais.
Poderíamos ter começado mobilizações contínuas pelo impeachment há um mês. Mais uma vez, analistas finos diziam que não era a hora, que isto só fortaleceria o discurso persecutório do Governo. Como se o Governo precisasse de nós para alimentar seu próprio discurso persecutório e mobilizar suas hostes. Não, agora eles denunciam um “plano” para derrubar Bolsonaro, sendo que a oposição sequer conseguiu colocar um pedido de impeachment em marcha, sequer permitiu a maioria de gritar por seu nome. No máximo, suas lideranças endossaram um pedido de “renúncia”. 
Faltou pedir “por favor” a Bolsonaro para que ele caísse em si e se afastasse de bom grado. Como dizia Maquiavel, a audácia é qualidade fundamental diante da fortuna. Mas o único ator que demonstra audácia a altura da situação é o próprio Governo. Em breve teremos uma tentativa de golpe vendida como “contragolpe preventivo”, sem que a oposição tenha feito nada mais do que abaixo-assinados, petições e cartas públicas. A última a acreditar em uma democracia parlamentar que simplesmente não existe mais.
Acrescente ao quadro, o cálculo macabro que o Governo conseguiu impor a parcelas da população. Para elas, trata-se de escolher entre a bolsa ou a vida, entre a morte econômica certa e a morte física provável. Nesse cálculo, o certo acaba por vencer o provável, ainda mais diante de setores da população submetidos ao extermínio, ao desaparecimento, a chacina. Este é o grão de racionalidade da situação apresentada por Bolsonaro. Ela só se sustenta porque a terceira opção está interditada, a saber, nem a bolsa, nem a vida, mas os dois.
Diante disto, que a sociedade constitua redes de autodefesa contra o pior que está por vir. Há duas semanas, pessoas que batiam panela em suas casas contra o governo foram vítimas de disparos de balas de espingarda de chumbo. Em manifestações pró-governo, cidadãos e cidadãs oposicionistas foram violentamente agredidos. Quantas semanas ainda faltam para começar os linchamentos e as balas reais?

Autor: Vladmir Safatle – Publicado no El País.

20 de abril de 2020

O coronavírus saiu de um laboratório? A ciência responde às teorias da conspiração!

Donald Trump endossa a versão de que o patógeno tem origem em um centro de pesquisa chinês, como já acontecera em 2004.
A virologista Shi Zhengli libera um morcego de uma caverna chinesa depois de lhe tirar sangue, em 2004. Instituto de Virologia de Wuhan
Laboratórios chineses de alta segurança deixaram escapar coronavírus em outras ocasiões. Em 18 de maio de 2004, a Organização Mundial da Saúde expressou sua “preocupação” depois que dois cientistas do Instituto Nacional de Virologia de Pequim foram infectados com o vírus da síndrome respiratória aguda grave (SARS), um coronavírus ―irmão do atual― que apareceu em 2002 e matou quase 800 pessoas. Nesse vazamento de 2004, o primeiro pesquisador foi infectado no final de março, mas a ditadura chinesa ocultou o surto até 22 de abril. O presidente dos EUA, Donald Trump, está agora dando asas à teoria de que o novo coronavírus também é um vazamento, desta vez do Instituto de Virologia de Wuhan, onde há anos são feitas pesquisas com vírus similares de morcegos.
O geneticista Rasmus Nielsen explica ao EL PAÍS o que significa a palavra “similar”. Eles se parecem um com o outro “mais ou menos como uma pessoa com um porco”, resume Nielsen, da Universidade da Califórnia em Berkeley, ao falar sobre o novo coronavírus ―denominado SARS-CoV-2― e o vírus do morcego RaTG13, pesquisado oficialmente no Instituto de Virologia de Wuhan. “O SARS-CoV-2 não é uma cepa de RaTG13 que escapou do laboratório”, arrematou em sua conta no Twitter.
O virologista australiano Edward Holmes esquadrinhou o genoma do novo coronavírus, seu manual de instruções para infectar células humanas com tanto sucesso. “Não há nenhuma evidência de que o SARS-CoV-2 tenha se originado em um laboratório em Wuhan”, disse Holmes, da Universidade de Sydney, em um comunicado urgente divulgado nesta quinta-feira em meio ao crescimento explosivo da teoria da conspiração nos EUA. Em 17 de março, a equipe de Holmes já havia publicado um estudo genético do vírus na revista Nature Medicine que “mostra claramente que o SARS-CoV-2 não é um constructo de laboratório nem um vírus manipulado propositadamente”. As técnicas de modificação genética dos vírus deixam vestígios. E no novo coronavírus não há traços dessas pegadas dos cientistas.
No Instituto de Virologia de Wuhan trabalha Shi Zhengli, que os próprios colegas chamam de Batwoman. A virologista identificou dezenas de vírus similares ao da SARS em amostras de sangue, saliva e fezes de morcegos de cavernas chinesas. Em 30 de dezembro de 2019, Zhengli recebeu uma ligação do diretor de seu instituto para que investigasse um vírus desconhecido que havia cansado pneumonia em duas pessoas hospitalizadas em Wuhan, segundo ela mesma contou há um mês à revista Scientific American. “Largue tudo o que está fazendo e se dedique a isto agora mesmo”, lhe disse o chefe, de acordo com seu relato. Ao ver que eram coronavírus, ela mesma se perguntou se poderiam ter escapado de seu laboratório.
Dois pesquisadores trabalham no Instituto de Virologia de Wuhan, em uma imagem captada em 2017. Shepherd Hou - EFE
No início da pandemia em Wuhan, Shi Zhengli foi acusada nas redes sociais chinesas de ser “a mãe do diabo”, segundo o jornal South China Morning Post. “Juro por minha vida que o vírus não tem nada a ver com o laboratório”, escreveu ela em 2 de fevereiro na rede chinesa WeChat.
Nesta quinta-feira, a Fox News, um canal de televisão norte-americano muito ligado a Trump, ressuscitou a teoria de que o paciente zero teria sido um cientista do Instituto de Virologia de Wuhan que simplesmente estava estudando uma cepa com origem em morcegos. As fontes citadas pela Fox News, todas anônimas, reconhecem que é apenas uma teoria e afirmam que há uma investigação aberta. Trump evitou nesta quinta-feira rejeitar a hipótese da conspiração. “Vamos ver”, declarou. “Cada vez se escuta mais e mais essa história.” Na terça-feira, o jornal The Washington Post publicou que a Embaixada dos EUA em Pequim havia alertado em 2018 para a suposta falta de segurança do Instituto de Virologia de Wuhan e que ali poderia ter início uma pandemia semelhante ao surto da SARS.
O zoólogo norte-americano Peter Daszak trabalha há anos em estreita colaboração com a virologista chinesa Shi Zhengli. Daszak preside a EcoHealth Alliance, uma organização internacional dedicada a investigar doenças que emergem da vida selvagem e ameaçam a humanidade. Em outubro de 2015, os dois analisaram o sangue de 218 habitantes de quatro cidadezinhas da província chinesa de Yunnan, moradores próximos de cavernas com morcegos. Seis das pessoas, quase 3% do total, tinham anticorpos contra os coronavírus similares ao SARS procedentes dos animais. Para Daszak, não faz sentido pensa em um vazamento de laboratório. “Esses saltos [dos vírus e animais para humanos] acontecem todos os dias”, escreveu ele em sua conta no Twitter.
"Vimos que 3% da população rural no Sudeste Asiático possui anticorpos contra o coronavírus de morcego. Isso significa que todos os anos entre um e sete milhões de pessoas são expostas a coronavírus relacionados à SARS no. É completamente ilógico pensar que não foi isso que levou ao atual surto ", acrescentou Daszak.
“Não houve acidente no laboratório!”, insistiu. “Entrar em cavernas de morcegos e caçá-los para comê-los, refugiar-se do clima do Sudeste Asiático em uma dessas cavernas ou morar perto de uma delas são coisas que acontecem todos os dias. E é assim que se propagam os vírus”, conclui Daszak, que debocha da necessidade de recorrer a explicações improváveis. Em 2003, recorda com ironia, o astrofísico britânico Chandra Wickramasinghe propôs uma teoria alternativa sobre a origem do vírus da SARS na revista médica The Lancet: poderia ter vindo do espaço.

Autor: Manuel Ansede – Publicado no El País

17 de abril de 2020

Bolsonaro não é louco!

Ele tem método!

Bolsonaro contra o planeta: um caso clínico? | Reprodução

Vamos chamar a coisa pelo nome. O presidente eleito por milhões de brasileiros não é louco. Psicóticos e neuróticos podem ser classificados assim. Eles sofrem e enxergam o sofrimento do outro. Eles não têm método. Bolsonaro é diferente. Pelos estudos da psiquiatria inglesa no século XIX, Bolsonaro se encaixaria em outra categoria: a dos psicopatas. 
Conversei com o psicanalista Joel Birman para entender essas fronteiras entre transtornos mentais. “A psicopatia não é uma loucura no sentido clássico, mas uma insanidade moral, um desvio de caráter de quem não tem como se retificar porque não sente culpa ou remorso”. Os psicopatas são “autocentrados, agem com frieza e método”. “Não têm empatia em relação ao outro, o que lhes interessa é o que lhes convém”. A palavra psicopatia vem do grego psyché, alma, e pathos, enfermidade.
A pandemia só tornou esses traços de Bolsonaro mais gritantes. Desde os primeiros grandes gestos do presidente, ficou claro, disse Birman, que seus atos “são marcados por crueldade e violência”. Proposição de liberar fuzis para civis. Proposição de acabar com os radares nas estradas. Proposição de não multar a falta de cadeirinha para crianças. Proposição de acabar com os exames toxicológicos para motoristas de caminhão e ônibus. Proposição de legalizar o garimpo predatório nas florestas e terras indígenas. Tudo isso é um atentado à vida. 
Eu poderia lembrar o que muitos teimam em esquecer. Que Bolsonaro já era assim antes de ser eleito. Quem defende torturador e condena as vítimas, publicamente, no Congresso, não é uma pessoa que preza a vida. Não surpreende, portanto, que o ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal, denuncie, sem meias palavras, a “política genocida” de Bolsonaro. O presidente trocou seu ministro da Saúde, era sua prerrogativa, mas será barrado pelo STF se insistir em condenar o isolamento social e ameaçar a saúde pública.
Ao criar uma realidade paralela, Bolsonaro desfruta sua liberdade de ir e vir sem se importar com as consequências de seu exemplo. Ele refuta a ciência, ignora as normas sanitárias nacionais e internacionais, receita remédios polêmicos sem autoridade para isso, ironiza quem se isola, chamando a mim e a você de “moleques”. Coloca em maior risco os pobres. O presidente é uma temeridade ambulante. Troca um ministro da Saúde competente e popular em plena batalha. 
Ao se recusar a divulgar o resultado de seu exame, Bolsonaro despreza a população, se acovarda e age diferente dos homens públicos que honram seus cargos. Pode até ser que esteja imune após uma versão branda da Covid-19 e por isso se sinta apto a saracotear pelas ruas e padarias, mexendo em dinheiro e comida, enxugando o nariz e apertando as mãos do povo aglomerado. Bolsonaro não é burro nem louco. É perverso, ao estimular um comportamento de altíssimo risco.
A OMS classifica a psicopatia como um transtorno de personalidade caracterizado por um desprezo das obrigações sociais. A psiquiatra Ana Beatriz Barbosa, autora do livro Mentes perigosas, diz que a “psicopatia não é uma doença, é uma maneira de ser”. O psicopata, segundo ela, sempre vai buscar poder, status e diversão. Enxerga o outro apenas como um objeto útil para conseguir seus objetivos. 
Mandetta tinha deixado de ser útil. Por brilhar demais, por ter trânsito com o Congresso e por não se curvar a suas teses temerárias. Um ministro como esse, generoso e articulado, enlouquece um presidente transtornado. A ciência é a luz. O resto é escuridão.

Autora: Ruth de Aquino – Publicado no Jornal O Globo

16 de abril de 2020

Discursos de ódio!

Todos devemos lembrar que os discursos de ódio antecedem os crimes de ódio.
Todos devemos lembrar que o genocídio dos Tutsis em Ruanda, começou com discursos de ódio. 
O holocausto não começou com as câmaras de gás; começou muito antes com os discursos de ódio.
O que temos assistido em Myanmar contra a população Rohingya também começou com discursos de ódio.
Hoje estamos testemunhando em todo mundo, a ascensão do extremismo na Europa, na Ásia e em toda parte. Quando vemos um aumento no número dos grupos Neonazistas, dos grupos Totalitários, quando vemos a maneira como os imigrantes e refugiados são depreciados, devemos fazer todo o possível para falar sobre o discurso de ódio.
Lembre-se de que as palavras matam, as palavras matam tanto quanto balas.
É por isso que devemos fazer todo o possível para investir em educação, nos jovens, para que a próxima geração possa entender a importância de viver em paz. Devemos fazer todo o possível para que acabem todos os atentados como os que vimos no Sri Lanka, na Nova Zelândia, ou o que vimos em Pittsburgh. E para que eles acabem, precisamos investir e mobilizar os jovens. Devemos usar a palavra para que se torne uma ferramenta de paz, uma ferramenta de amor, para a unidade social, para a harmonia, em vez de ser usada para cometer genocídios e crimes contra a humanidade.

Adama Dieng – Assessor da ONU para Prevenção de Genocídios.

14 de abril de 2020

O tamanho do estrago será medido pela capacidade do lider do país!

"Os políticos são um grupo de
homens que vêm os próprios interesses e
não trilham a senda das pessoas honradas"
Abraham Lincoln

As previsões para a retomada da economia mundial e as consequências da paralisação quase que total de toda cadeia produtiva será sentida em breve em todo planeta. Porém, os estragos serão diferentes em dois tipos de países. A divisão será feita levando em conta a estrutura da economia do país e a capacidade de seus líderes para poderem tomar as melhores decisões no momento da retomada.

Neste sentido, o Brasil levará dupla desvantagem em relação aos países considerados mais ricos do chamado G20. Visto que, nossa economia está estagnada há pelo menos seis anos e nosso atual presidente não deu nenhuma demonstração de conhecimento e preocupação para com a nossa economia.
Parece que nos 15 meses de gestão, a simples aprovação da Reforma da Previdência foi o suficiente para sanar todos os problemas do país. Tínhamos antes da pandemia quase 12 milhões de desempregados, milhões de subempregados na completa marginalidade da economia. O governo não tinha nem tem plano de recuperação da economia, do pleno emprego e da volta do investimento na indústria e no comércio. 
Com toda essa paralisação que já dura semanas e pode se estender de acordo com o andamento do atendimento aos infectados com o novo coronavírus, muitas adaptações e reestruturações terão que ser realizadas pelos governantes. 
Difícil imaginar que um presidente que declarou seu ceticismo em relação a tão terrível epidemia possa estar preparado para o pós-pandemia.
Após o final do isolamento e a retomada dos negócios e da vida em situação de normalidade será colocado a prova a capacidade de gestão dos líderes dos vários países do mundo. Neste momento, precisamos rezar muito para que o homem que passou toda quarentena fazendo propaganda do medicamento de cloroquina, seja aquele que terá capacidade e inteligência para liderar a reconstrução da economia do país.
O mesmo medicamento cuja pesquisa realizada nos EUA chegou a conclusão óbvia de que não mostra os benefícios supostos contra a Covid-19. A pesquisa ocorreu em Hospital para Veteranos de Guerra dos EUA com 368 pacientes. Com a constatação de que houve mais mortes entre os que tomaram a Hidrocloroquina do que entre os que receberam tratamento padrão.

 

https://brasil.elpais.com/opiniao/2020-04-13/na-batalha-contra-o-coronavirus-a-humanidade-carece-de-lideres.html

Autor: Rafael Moia Filho – Escritor, Blogger e Graduado em Gestão Pública.

Reflexões que se fazem necessárias diante de tantas Fake News!

“O desafio da nossa geração não é escolher entre o capitalismo e o comunismo, entre o final da história ou o retorno da história, mas sim, entre a política de coesão social baseada em propósitos coletivos e a erosão da sociedade mediante a política do medo”. Tony Judt

Uma parte da população brasileira é bombardeada diariamente com mensagens de cunho Fake News, ou seja, com difamações, mentiras e desinformação a respeito de diversos assuntos importantes do nosso cotidiano. 
Aquilo que começou com a finalidade de vencer uma eleição denegrindo os adversários, passou a ser uma “profissão” para cidadãos desqualificados no mundo cibernético.
O ex-presidente Lula está fora do poder há 11 anos no país, neste período não ocupou nenhum cargo público. Ao contrário, esteve preso por quase um ano. Entretanto, diariamente temos postagens ligando-o a uma série de coisas que são boatos infundados, mentiras.
Isso obviamente não acontece com políticos como Aécio Neves, Michel Temer, Maluf, Sergio Cabral, Eduardo Cunha, Geraldo Alckmin, José Serra, e tantos outros políticos no Brasil. É um sinal de que talvez a “fábrica” de Fake News esteja geograficamente instalada num segmento de direita nacional simpático ao atual presidente.
Mas as mentiras não param no envolvimento de políticos, ela abrange muitos segmentos da nossa sociedade. Envolve escritores, jornalistas e demais personalidades como Mario Sergio Cortella, Alexandre Garcia, Arnaldo Jabor que entre outros, vivem tendo textos atribuídos a eles sem que nunca tenham escrito os mesmos.
Com a pandemia do novo Coronavírus não foi diferente, milhares de noticias falsas atribuindo cura ou denegrindo países foram espalhadas nas redes sociais. O medicamento Cloroquina foi o campeão de inserções no WhatsApp e nas redes sociais, levando desinformação a sociedade num momento dramático onde a transparência é fundamental na luta pela vida.
Nota-se que boa parte das mentiras nascem logo em seguida a quaisquer divergências do presidente Bolsonaro com pessoas ou empresas, seja da mídia ou de outros segmentos. João Dória, Ministro Mandetta, Ronaldo Caiado, Witzel, Rede Globo, Folha de SP, China, presidente da França, até o ator Leonardo de Caprio viraram personalidades não gratas do bolsonarismo, por isso, se tornaram Fake News.
A mentira espalhada por essa gente criminosa, que não estão sendo responsabilizadas civil e criminalmente pela Justiça, acaba passando uma sensação de impunidade plena a quem queira utilizar desse método para denegrir, desinformar e deturpar a vida dos brasileiros. Até quando? 

https://piaui.folha.uol.com.br/lupa/2020/04/09/videos-entrada-hospitais-desacreditar-pandemia-covid/

 

Autor: Rafael Moia Filho – Escritor, Blogger e Graduado em Gestão Pública.

O Isolamento!

“Não são as ervas más que afogam a boa semente,
e sim a negligência do lavrador.” Confúcio


O novo coronavírus trouxe além da Covid-19 a necessidade do isolamento social, com a manutenção de todos em casa, no maior número possível, dos estabelecimentos comerciais, industriais e de prestação de serviços fechados. Salvo os considerados como essenciais pelo governo estadual ou municipal.
Por mais que se discuta a questão, duas coisas ficam bem claras, tanto quanto distintas – Saúde e Economia não podem caminhar juntas neste momento complicado da humanidade.
Ou você cumpre o isolamento e faz com que a curda de contaminação permaneça baixa ou o governo determina o fim desta quarentena forçada e a economia volta ao normal, porém, com a possibilidade real de milhares de mortes justamente pelo contato que voltaria em larga escala.
O presidente desde o início da epidemia ainda na China, desprezou seus efeitos, chegando a dizer entre outras coisas: 
1. Chamou de “gripezinha ou resfriadinho” em 15 de março, antes de apoiar a saída às ruas de seus apoiadores. 
2. "Tem a questão do coronavírus também que, no meu entender, está superdimensionado, o poder destruidor desse vírus. Então talvez esteja sendo potencializado até por questão econômica, mas acredito que o Brasil, não é que vai dar certo, já deu certo."
* Ao falar com a comunidade brasileira em Miami.
3. "Vou ligar para o [ministro da Saúde, Luiz Henrique] Mandetta. Eu não sou médico, não sou infectologista. O que eu ouvi até o momento [é que] outras gripes mataram mais do que esta." * Durante entrevista em frente ao Palácio da Alvorada.
4. “Em 2009, 2010, teve crise semelhante, mas, aqui no Brasil, era o PT que estava no poder e, nos Estados Unidos, eram os Democratas, e a reação não foi nem sequer perto do que está acontecendo no mundo todo.” * Em entrevista à CNN Brasil.
5. "Depois da facada, não vai ser uma gripezinha que vai me derrubar, não. Se o médico ou o ministro me recomendar um novo exame, eu farei. Caso contrário, me comportarei como qualquer um de vocês aqui presentes." * Durante entrevista à imprensa.
Enquanto o presidente falastrão sem conhecimento algum da pandemia, desprezando o que estava acontecendo ao redor do mundo, inclusive nos EUA de seu querido Trump, governadores de praticamente todo país e do DF, percebendo não haver um líder capaz, tomaram a dianteira e fizeram aquilo que todos os presidentes sensatos e inteligentes do planeta adotaram em seus países – o isolamento social.
Claro que todos nós em nossas casas estamos preocupados com a situação dos nossos irmãos que passam necessidades e até fome, com os prestadores de serviços, os brasileiros da chamada economia informal, os comerciantes e todos os empregados com ou sem carteira assinada que dependem do seu trabalho para sustentar suas famílias. 
Eles todos estão sozinhos, desamparados por um governo que a muito custo graças ao esforço da Câmara conseguiu R$ 600,00 reais por três meses, mesmo assim, sabedores que somos que este recurso não chegará a todos que efetivamente precisam. 
Por que além do isolamento social, vivemos há 15 meses o isolamento de governo, onde o ar é rarefeito, as decisões tardam e não chegam. Em momento algum este presidente fez ou determinou que se fizesse algo pela Saúde Pública, Educação, Saneamento, Habitação, obras de infraestrutura ou pela redução do desemprego. Isso é fato, não tem como desmentir, exceto por Fake News.

 

Autor: Rafael Moia Filho – Escritor, Blogger e Graduado em Gestão Pública.

13 de abril de 2020

Bolsonaro se isola do resto do mundo obcecado por seu messianismo perigoso!

Ao longo da história os falsos profetas acabaram sendo os maiores assassinos e enganadores das pessoas simples e menos escolarizadas.
O presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, é visto em uma farmácia em Brasília nesta sexta-feira. Adriano Machado - Reuters
Entre os transtornos psiquiátricos que afetariam o presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, apontados por um grupo de psicanalistas à Folha de S. Paulo figura seu messianismo de querer resolver o drama do coronavírus de forma milagrosa. Assim, se distancia do consenso mundial da ciência que afirma que ainda não existe nenhuma evidência médica de cura fora de uma possível vacina.
Esse messianismo do líder brasileiro e seu falso dilema de que seria preciso escolher que as pessoas morram de fome se forem isoladas ou do novo coronavírus pode levar a um perigoso e fatal equívoco.
Desse modo, o presidente isola o Brasil do resto do mundo, onde ainda não foi encontrada uma forma melhor de evitar que o novo vírus continue matando milhares de pessoas do que o isolamento social. Não por acaso estão sendo aconselhados Governos de unidade nacional para melhor fazer frente à tragédia. O inimigo que assombra o mundo é forte demais para que se possa brincar com ele com cálculos simplistas de política menor. É hora de o mundo estar nas mãos de todas as forças mais bem preparadas para enfrentar o perigo juntos, sem distinções ideológicas.
Já se sabe que todos os messianismos, usados e abusados pelos líderes populistas de todas as tendências políticas, são perigosos porque o ser humano é inclinado a acreditar em receitas milagrosas. Assim, os brasileiros podem acabar sendo arrastados pela miragem do presidente, desobedecendo autoridades ao afrouxar o isolamento, como já se viu em São Paulo e em outras localidades, com consequências que podem ser fatais.
Ao longo da história, os falsos profetas acabaram sendo os maiores assassinos e enganadores das pessoas simples e menos escolarizadas.
Em um país como o Brasil, com um forte componente religioso, brincar com receitas oferecidas pelos pastores ao presidente que consideram ungido por Deus para acabar com a peste é voltar ao obscurantismo da Idade Média, como já lembrei em outra coluna. Pretende-se, como então, substituir a ciência e a medicina por receitas de cunho messiânico.
Insistir como faz o presidente nessa volta aos tempos tristes em que a religião se apoderava da ciência e da medicina hoje significa isolar o Brasil do resto do mundo, onde a ciência está se unindo para dar uma resposta segura à doença mortal que possa evitar tanta morte e tanta dor.
Hoje está claro que nada nem ninguém será capaz de fazer o presidente brasileiro recuar de seu messianismo. Assim, os altos militares de seu Governo se equivocam se acreditam que basta que eles retoquem os discursos do presidente nas redes de rádio e televisão.
Vimos como essa falsa conversão dura menos de 24 horas para o presidente e em seguida sintoniza com o chamado “gabinete do ódio”, e multiplicado pelas redes sociais dominadas pelo seu pequeno grupo de seus seguidores mais fanáticos.
Daí a responsabilidade dos militares presentes no Governo, que deveriam entender neste momento que nem eles são mais capazes de fazer mudar a índole psicológica do ex-capitão Bolsonaro nem de conter seus arroubos autoritários. Não é um paradoxo que, na esperança de que o Brasil possa continuar sendo uma democracia sem ameaças contínuas de golpes autoritários, o país esteja hoje nas mãos dos militares?
Que a democracia conquistada no Brasil com dor e lágrimas depois da ditadura militar esteja hoje ameaçada pela personalidade totalitária do presidente já não é um segredo. Como tampouco o é que o presidente continue defendendo e exaltando a ditadura e a tortura, algo que o melhor do Exército, especialmente os mais jovens, hoje rejeitam e desejam esquecer, como soube esta coluna de testemunhas nos quartéis.
Esses ímpetos absolutistas do presidente só poderiam ser paralisados pelos importantes militares que continuam em seu Governo e que se equivocariam se pensarem que são capazes de detê-lo. Eles deveriam entender que, na realidade, o presidente já não governa.
Quando os militares decidiram entrar em um Governo saído das urnas foi dito que era uma maneira de mostrar que eles respeitariam a democracia e a Constituição.
Portanto, a esperança de que Bolsonaro renuncie a um poder que já não consegue exercer não passa tanto pela longa e complexa liturgia do impeachment ou pelas formas jurídicas de demissão forçada, mas pela esperança de que os militares sejam capazes de convencê-lo a se retirar para o bem da nação.
Depois da ditadura, os militares brasileiros deram provas de ter abraçado os valores da democracia e aceitado a Constituição. E assim foi entendido pela opinião pública, que, segundo as pesquisas, considera o Exército uma das instituições mais confiáveis do país.
São horas difíceis e perigosas para um país da importância do Brasil no xadrez mundial e, embora possa parecer um paradoxo em um país sul-americano, hoje a resolução da crise de Governo por que o país está passando, e que flerta com os tempos sombrios do autoritarismo, recai nas mãos dos militares.
Seria trágico se hoje a opinião pública brasileira também perdesse sua confiança nessa instituição se ela se mostrasse incapaz de deter os arroubos messiânicos e autoritários do presidente capitão aposentado, que muito jovem foi expulso do Exército. E que hoje ameaça até os generais de seu Governo, lembrando-lhe que agora o presidente é ele e somente ele.
O Brasil vive um daqueles momentos históricos em que um erro de cálculo pode arrastar o país para uma aventura da qual um dia terá de se arrepender.

Autor: Juan Arias – El País

9 de abril de 2020

O irmão Justiniano!

Aprender a ler é o que de mais importante me aconteceu na vida. Agora que, por culpa do isolamento, leio do amanhecer ao anoitecer, aqueles dias voltam à minha memória com os fantasmas desvanecidos.
Menina lê dentro de casa em Lavau-sur-Loire, na França, durante quarentena. LOIC VENANCE - AFP
Lembro com exatidão as dez quadras que existiam entre a casa dos Llosa, na rua Ladislao Cabrera, e o colégio La Salle. Eu tinha cinco anos e, sem dúvida, estava muito nervoso. Naquele dia, o meu primeiro no colégio, eu as percorri com minha mãe, que até me acompanhou à classe e me deixou aos cuidados do irmão Justiniano. Ele me apresentou aos que seriam meus amigos cochabambinos a partir de então: Artero, Román, Gumucio, Ballivián. O mais querido deles, Mario Zapata, o filho do fotógrafo que havia documentado todos os casamentos e primeiras comunhões da cidade, seria morto com uma facada, anos depois, em um bar de Cala-Cala. Como era o garoto mais pacífico do mundo, sempre pensei que sua horrível morte foi por defender a honra de uma jovem.
O Irmão Justiniano era um anjo na terra. Tinha cabelos brancos e olhos doces e afetuosos. Dávamos as mãos e com ele cantávamos e dançávamos rodas repetindo o abecedário e as conjugações e assim, brincando, seis meses depois sabíamos ler. O carteiro entregava a cada semana quatro revistas na casa, três argentinas e uma chilena: Leoplán, para o avô Pedro, Para Ti, lida pela avozinha Carmen, Mamaé, minha mãe e a tia Lala, e, para mim, Billiken e El Peneca. Esperava essas revistas como um maná do céu e as lia do começo ao fim, incluindo as propagandas.
Minha mãe tinha um professor de violão e era uma leitora empedernida. Ela me emprestou O Sheik e O Filho do Sheik, mas me proibiu de ler Vinte Poemas de Amor e uma Canção Desesperada, de Pablo Neruda, um livro azul de letras amarelas que escondia em sua cabeceira e relia de noite: entre bocejos, eu a ouvia. Claro que eu o li, às escondidas, e lá havia versos que, eu tinha certeza (“Meu corpo de lavrador selvagem te enfraquecia / e faz saltar o filho do fundo da terra”), eram pecado mortal.
Aprender a ler é o que de mais importante me aconteceu na vida e, por isso, sempre lembro com gratidão do Irmão Justiniano e das cantigas de roda entre as carteiras, cantando e dançando enquanto decorávamos as conjugações. Pela leitura, esse mundo pequenino de Cochabamba se tornou o universo. Graças aos sinais que transformava em palavras e ideias, viajava pelo planeta e até podia voltar no tempo e me transformar em mosqueteiro, cruzado, explorador e viajar pelo espaço até o futuro em naves silenciosas. Minha mãe disse que a primeira manifestação do que, com os anos, seria uma vocação literária, foi que, quando eu não gostava dos finais dos contos e romances que lia, modificava-os com minha letra ruim da época. Eu não me lembro, mas sim das horas que passava lendo todos os dias, após voltar do La Salle e tomar meu copo de leite gelado com canela, meu alimento preferido. O avozinho Pedro brincava comigo: “Para o poeta a comida é prosa”. Mas eu ainda não escrevia versos em Cochabamba; isso viria depois, em Piura.
Agora que, por culpa do coronavírus e do isolamento forçado a que os madrilenhos estão submetidos, leio do amanhecer ao anoitecer, dez horas diárias em um estado de felicidade absoluta (moderada pelo medo à praga), aqueles dias cochabambinos voltam à minha memória com os fantasmas desvanecidos das primeiras leituras que o subconsciente me devolve: a orgulhosa Diana Mayo caía rendida nos braços de seu sequestrador Ahmed ben Hassan nos desertos da Argélia; o espadachim que nasceu em uma cela e, como os gatos, enxergava no escuro; o Judeu Errante e sua peregrinação pelo mundo. As crianças da época —pelo menos em Cochabamba— não liam quadrinhos e sim livros, e sem dúvida por isso jamais me viciei em Pato Donald, Mickey Mouse e Popeye, o marinheiro musculoso. Mas sim em Tarzan e Jane, com quem voei de árvore em árvore, pelas selvas da África.
Na biblioteca com teias de aranhas da Universidade de San Marcos li minha primeira obra-prima: Tirante o Branco, na edição de Martín de Riquer de 1948. Antes ainda, quando cadete do Leoncio Prado, devorei a série dos mosqueteiros de Alexandre Dumas, e sonhava com d’Artagnan todas as noites.
Nada me deu tanto prazer e felicidade como os bons livros; nada me ajudou tanto como eles a passar pelos momentos difíceis. Sem a literatura teria me suicidado nesse período atroz em que soube que meu pai estava vivo, quando me levou para morar com ele e me fez descobrir a solidão e o medo. William Faulkner mudou minha vida em plena adolescência; eu o li com lápis e papel para identificar suas mudanças de narrador, os saltos temporais, os redemoinhos dessa prosa que misturava personagens, tempos e lugares e aparecia, de repente, no romance um reordenamento da história ainda melhor do que o cronológico.
Para ler Sartre, Camus, Merleau-Ponty, Simone de Beauvoir e demais colaboradores da Les Temps Modernes, aprendi francês, e inglês para entender Hemingway, Dos Passos, Orwell e Virginia Woolf, e decifrar o Ulisses de Joyce (consegui na terceira vez). Em uma cabaninha de Perros-Guirec, na Bretanha, no verão de 1962 li o tomo de La Pléiade dedicado a Tolstói e desde então Guerra e Paz me parece o auge do romance, com Dom Quixote e Moby Dick. Entre os do século XX, nada supera no meu entender A Condição Humana, de Malraux, com exceção de A Montanha Mágica, de Thomas Mann. Em Paris, no primeiro dia em que cheguei, em agosto de 1959, descobri Flaubert e passei a noite inteira, no Wetter Hotel, lendo Madame Bovary. Foi para mim a mais frutífera das descobertas: graças a Flaubert, soube o escritor que queria ser e o que não queria ser.
As boas leituras não produzem somente felicidade; ensinam a falar bem, a pensar com audácia, a fantasiar, e criam cidadãos críticos, desconfiados das mentiras oficiais dessa arte suprema do mentir que é a política. A vida que não vivemos podemos sonhá-la, ler os bons livros é outra maneira de viver, mais livre, mais bela, mais autêntica. Essa vida alternativa tem, além disso, a sorte de estar fora do alcance das pragas demoníacas que sempre aterrorizaram os seres humanos porque viam nelas os diabos, que, ao contrário dos inimigos de carne e osso, eram difíceis de derrotar.
Um bom leitor é o cidadão ideal de uma sociedade democrática: nunca se conforma com aquilo que tem, sempre quer mais e coisas diferentes das que lhe oferecem. Sem essas insubmissões o progresso verdadeiro seria impossível, aquele que, além de enriquecer a vida material, aumenta a liberdade e o leque de escolhas para ajustar a própria vida a nossos sonhos, desejos e ilusões. Karl Popper tinha razão: nunca estivemos melhor do que agora (nos países livres, entende-se).
O coronavírus ressuscitou a barbárie no que acreditávamos ser a civilização e a modernidade. Vimos coisas horríveis em Madri, como nos asilos: idosos abandonados ao que parece por cuidadores que não tinham máscaras, remédios e qualquer ajuda. Os mortos convivendo com os vivos, dormindo nas mesmas camas. O horror sempre supera o horror, não importa o tempo histórico. Ainda assim, com toda a ruína econômica e social que essa inesperada praga trará ao país, se, após sobreviver a ela, existir na Espanha um milhão a mais de espanhóis, ou pelo menos cem mil, atraídos à boa leitura graças à quarentena forçada, os demônios da peste terão feito um bom trabalho.

Autor: Mario Vargas Llosa – El País