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23 de dezembro de 2020

Mensagem de agradecimento e boas festas!

 


O ano difícil de 2020 está chegando ao final, com ele, se vão muitas tristezas, a pandemia, incertezas e o horizonte comprometido pela dúvida quanto a vacinação em 2021.

Mesmo assim, estamos vivos, lutando e tentando sobreviver a este período de provações.

Agradeço imensamente a todos que acessaram, compartilharam e seguiram meu Blog Falando Um Monte neste ano que se encerra.

Foram milhares de acessos que somados aos dos anos anteriores perfazem mais de 1.157.000 mil visualizações em 12 anos de existência. Com 1.272 postagens de artigos de minha autoria e de diversos autores de jornais, sites e blogs famosos.

Desejo a todos um Feliz Natal e um 2021 diferente de 2020, com mais saúde, energias positivas, alegrias e sucesso pessoal e profissional a todos.


 
Autor: Rafael Moia Filho – Escritor, Blogger e Graduado em Gestão Pública.

Um descalabro sem sentido!

 O PSDB, que governa o Estado de SP há 25 anos, represa o salário do governador para prejudicar a carreira dos servidores públicos em SP. O governador recebe hoje R$ 23.048,59. Apenas a título de comparação, o prefeito de SP irá receber a partir de janeiro de 2021, a remuneração de R$ 35.000,00 e os secretários municipais terão remuneração de R$ 31.000,00.

Percebam que o prefeito da Capital e seu secretariado vão ganhar muito mais do que o governador do Estado. Além disso, muitos prefeitos das capitais brasileiras ganham mais do que João Dória. Algo estranho de se explicar, visto que a importância e a responsabilidade de ser governador do maior Estado brasileiro está acima das demais capitais do país.

Também a título de comparação, o governador do Estado do Paraná recebe R$ 33.763,00. O do Rio Grande do Sul recebe R$ 25.322,00, o de Goiás R$ 25.052,00. Então por que os governadores do PSDB de SP mantêm os salários abaixo da maioria dos políticos e da responsabilidade imensa que assumem? Por um motivo nada nobre como poderíamos pensar a princípio. Eles querem evitar que os servidores de carreira, como médicos, professores e demais profissionais, recebam um salário maior.

Mas por que isso acontece? A Secretaria da Fazenda aplica um redutor salarial sempre que o servidor tem um vencimento acima do teto salarial do governador. Com isso, forçam uma economia às custas de algo imoral. Nem o teto constitucional aplicado no poder judiciário, por exemplo, precisa deste tipo de artifício.

Os desembargadores, juízes, ministros e a alta cúpula dos três poderes recebem muito mais do que o Teto Constitucional que hoje é de R$ 39.200,00. Porque para eles o julgamento é diferente: podem incluir adicionais de todo tipo e ordem que não são considerados como vencimentos. Enquanto em SP isso não acontece também, qualquer adicional acrescido ao salário é considerado como vencimento e se aplica o redutor salarial.

Além da injustiça da aplicação do teto, ainda acontece o represamento do vencimento do governador em SP. A Justiça obviamente defende o Estado nos casos em que um servidor contesta. E olha que a Fazenda Estadual aplica o redutor até em quem nunca foi servidor público, caso dos aposentados da Cesp que entraram na empresa antes de maio de 1974.

Os absurdos são tantos e à margem das leis e da constituição federal, que estes empregados ainda sofrem nos seus avisos de pagamento descontos a título de “contribuição previdenciária” na faixa de 11% ao mês, quando na ativa eram celetistas e foram aposentados pelo INSS. Um escárnio cometido pela Fazenda Estadual paulista, que jamais poderia acontecer.

Autor: Rafael Moia Filho – Escritor, Blogger e Graduado em Gestão Pública.

22 de dezembro de 2020

Sem vacina, sem seringa, sem agulha e sem rumo!

Dezenas de pessoas caminham no centro de São Paulo no dia 18 de dezembro. Sebastião Moreira - EFE

Sem uma ação coordenada de todo o país, envolvendo medidas sincronizadas de isolamento social, bloqueio sanitário das rodovias e uma campanha nacional de vacinação, o Brasil não conseguirá derrotar a covid-19.

Apesar de assemelhar-se a um refrão de sucesso de carnavais passados, o título da minha última coluna de 2020 certamente não tem qualquer ambição de servir como inspiração para alguma futura marchinha carnavalesca. Pelo contrário, ao tentar reproduzir o estilo literário predileto do último astrofísico-poeta da humanidade, o persa Omar Khayan, que viveu entre os séculos XI e XII, esta quadra sem rima rica tem como propósito expor, de forma nua e crua, a situação trágica vivida pelo Brasil, depois de nove meses de uma pandemia que nunca esteve sob controle das autoridades governamentais e que ameaça atingir níveis ainda maiores de casos e óbitos nas próximas semanas.

Além dos quatro itens, que fazem parte da “Lista dos Sem”, como a batizei, eu poderia continuar enumerando outras várias razões que transformaram o Brasil num verdadeiro navio à deriva, uma nau “Sem capitão”; um barco gigantesco que, “Sem comando”, se contenta em vagar às cegas num vasto oceano viral, à mercê de ventos e correntes fatais, que ameaçam conduzir este nosso Titanic tupiniquim, depois da maior crise sanitária da nossa história, para dentro de um redemoinho que pode culminar na maior catástrofe socioeconômica jamais vivida abaixo da linha do equador.

O meu alarme decorre de uma simples análise de risco do cenário atual. Por exemplo, apesar de inúmeros avisos prévios, mesmo antes das festas de final e ano, o Brasil já sofre com uma nova explosão de casos e óbitos de covid-19. Esta escalada de casos, gerada pelo afrouxamento das medidas de isolamento social, abertura desenfreada do comércio e pelas aglomerações eleitorais, desencadeou uma segunda onda de superlotação hospitalar em todo país, com algumas capitais atingindo taxas de ocupação de leitos de UTI acima de 90%. Sem qualquer plano de comunicação de massa para alertar a população sobre os riscos que, em razão das aglomerações geradas no período das festas de final de ano, esta nação enfrentará uma explosão ainda maior de casos e óbitos, como ocorrido no período após o feriado de Ação de Graças nos Estados Unidos, quando o “Sem governo” ―ou seria (des)governo?― abandonou sua população à própria sorte. Não é à toa, portanto, que boa parte do país hoje se orienta através do último boato de Whatsapp a viralizar nas redes sociais. Acima de tudo, entre outros crimes lesa-pátria cometidos em 2020, há uma total falta de informações confiáveis e recomendações apropriadas para orientar a população em como proceder para se proteger contra o coronavírus, antes da chegada de uma vacina eficaz e segura.

Mas os absurdos não param aí. No país do “Sem a menor ideia”, técnicos do Tribunal de Contas da União (TCU), depois de minuciosa auditoria, concluíram que não existe planejamento estratégico minimamente aceitável para a distribuição de equipamentos de proteção, kits de testes, bem como de seringas e agulhas, e de vacinas ―até mesmo porque ninguém sabe qual ou quais serão usadas― para todo o território nacional. Se tudo isso não fosse o suficiente para gerar alarme em Pindorama, mesmo depois de vários países terem proibido todos os voos, de passageiros e de carga, oriundos do Reino Unido, para evitar a propagação de uma nova cepa mais contagiosa de SARS-CoV- 2, que provocou o estabelecimento de novo lockdown na Inglaterra, o espaço aéreo brasileiro continua aberto, e nossos aeroportos continuam não checando os passageiros, permitindo desta forma que diariamente novos casos de viajantes infectados possam entrar no Brasil, sem qualquer tipo de controle sanitário.

Diante desta situação dantesca, o Comitê Científico de Combate ao Coronavírus do Consórcio Nordeste publicou na última sexta-feira o seu Boletim de número 13. Nele, além da análise minuciosa da situação atual e futura de cada um dos Estados nordestinos, o comitê fez uma série de recomendações emergenciais para os nove governadores da região. Dentre elas, a mais urgente é a que os governadores nordestinos levem a seus colegas de todo o Brasil a proposta de criar, em caráter emergencial, uma Comissão Nacional de Vacinação, formada pelos principais especialistas na área, para atuar de forma independente do Ministério da Saúde e do Governo federal e criar um Plano Nacional de Imunização efetivo e seguro, a ser implementado em todo território nacional, através da ação conjunta de todos os Estados brasileiros. Esta proposta traz à luz do dia a verdade que ficou escondida em baixo do tapete durante todo o ano de 2020: sem uma ação coordenada de todo o país, envolvendo medidas sincronizadas de isolamento social, bloqueio sanitário das rodovias em todas as regiões do país, e uma campanha nacional de vacinação, o Brasil não conseguirá derrotar a covid-19 nem a curto prazo, nem a médio prazo. E o custo desta omissão será épico, em termos de centenas de milhares de vidas perdidas.

Depois de quase 200.000 mortes, não há mais nenhum tempo a perder se a sociedade brasileira deseja realmente evitar que no Natal de 2021 tenhamos mais de meio milhão de mortos como consequência daquela que já entrou para a história brasileira como a pandemia dos “Sem Noção”.

Autor: Miguel Nicolelis é um dos nomes com maior destaque na ciência brasileira nas últimas décadas devido ao trabalho no campo da neurologia, com pesquisas sobre a recuperação de movimentos em pacientes com deficiências motoras. Incluiu recentemente à sua lista de atividades a participação no comitê científico criado pelos governadores do Nordeste para estudar a pandemia da covid-19. Twitter: @MiguelNicolelis

17 de dezembro de 2020

Google – Mais do mesmo, só que ainda pior!

 Durante muitos anos sempre que alguém via um escritório moderno com políticas de RH flexíveis, com horários alternativos e vestimentas descontraídas lembrava-se do Google.

Era o sonho de muitos analistas e profissionais de recursos humanos pelo mundo afora. Um símbolo de avanço que estava funcionando e dando certo.

Porém, de repente tudo vai por água abaixo quando a sociedade mundial fica sabendo da demissão da cientista Timnit Gebru em dezembro deste ano.

A equipe de pesquisa Ethical AI, do Google, dedicada ao campo de ética e inteligência artificial, solicitou que a empresa afaste uma vice-presidente e se comprometa com uma maior liberdade acadêmica, intensificando um confronto com a administração da companhia após a demissão da cientista Timnit Gebru neste mês.

Os funcionários pediram que a vice-presidente Megan Kacholia seja retirada da gestão da equipe depois dela supostamente excluir o chefe de Gebru da decisão de demiti-la, de acordo com um documento interno visto pela Reuters.

A cientista foi demitida após questionar a exigência do Google para que ela removesse um artigo descrevendo os danos causados por tecnologia semelhante à da companhia, e a gigante de tecnologia respondeu dizendo que aceitava sua renúncia.

No início do mês, a cientista, que é negra, afirmou no Twitter que foi demitida após enviar um e-mail a colegas manifestando frustração com a política de diversidade de gênero na unidade de Inteligência Artificial da empresa.

Ela também questionou se os chefes da empresa revisavam seu trabalho com mais rigor do que o de pessoas de outras origens étnicas.

Gebru se destacou como cofundadora da organização sem fins lucrativos Black in AI (Negros em Inteligência Artificial), que visa aumentar a representação de negros nesse campo de estudos, e como coautora de um artigo marcante sobre o viés racial na tecnologia de reconhecimento facial.

Aquilo que durante anos pensava-se ser um oásis de modernidade, relações humanas avançadas e um pedaço do século XXI que destoava do resto das grandes empresas voltou ao seu lugar comum. Apequenou-se com a demonstração de desequilíbrio diante de um dos crimes mais odiosos da atualidade - o racismo.

         A direção, ao invés de dar o exemplo, se afundou ainda mais diante do fato e da ausência de uma conduta de correção dos estragos aos olhos de seus colaboradores e do mundo corporativo. 

Timnit Gebru, que deu importantes contribuições ao campo de ética e inteligência artificial; ela foi demitida do Google neste mês - NYT

Autor: Rafael Moia Filho – Escritor, Blogger e Graduado em Gestão Pública.

Seu desaforista!

O novo Odorico leva o povo para o altar do sacrifício. Que morram muitos mais. E daí?

Em 1973 não havia liberdade de expressão no Brasil. A ditadura militar torturava dissidentes, exterminava guerrilheiros no Araguaia e tolhia a imprensa. Nas redações dos jornais, censores cortavam reportagens inteiras poucas horas antes de os cadernos começarem a ser impressos nas rotativas. Preencher os vazios abertos pela tesoura da repressão política era um tormento. Este jornal, O Estado de S. Paulo, encontrou uma solução heterodoxa: no lugar do material censurado, passou a publicar trechos de Os Lusíadas, de Luís de Camões. Entre 2 de agosto de 1973 e 3 de janeiro de 1975, foram 655 inserções do épico lusitano nas páginas do Estado, conforme levantamento feito pelo jornalista José Maria Mayrink.

Pois no mesmo ano 1973, em meio a tantas trevas, entrou no ar uma criação primorosa do dramaturgo brasileiro Dias Gomes: O Bem-Amado. Sob a vigência da mordaça absoluta, O Bem-Amado estreou com a força de uma apoteose libertária e satírica. Era um contrassenso: como podia haver espaço na televisão para tamanha exuberância criativa, e tão crítica, sob uma tirania tão estupidamente violenta?

Dias Gomes era um autor de esquerda, com ligações históricas com o Partido Comunista, e dono de um talento assombroso. O protagonista que ele inventou para O Bem-Amado, Odorico Paraguaçu (interpretado pelo ator Paulo Gracindo), comandava com mão de ferro, sem nenhum constrangimento de ordem moral, a prefeitura da fictícia Sucupira. Odorico era um canalha corrupto e truculento que, sob o gênio de Dias Gomes, ganhava ares despudoradamente cômicos. Nisso residia seu carisma. Falastrão semianalfabeto, posava de orador erudito à custa de expressões incultas, mas empoladas, que proclamava em tons triunfais. Gostava de xingar os adversários de “desaforistas” e quando queria humilhar os subordinados dizia que eram “desapetrechados de inteligência”.

Se diante dos noticiários de TV a sociedade prestava silêncio obsequioso aos ditadores que se sucediam, diante da novela podia rir deles sem medo da cana. Graças a Odorico Paraguaçu, o país vilipendiado caçoava do arbítrio, da demagogia e da estultice. Foi um sucesso instantâneo e impune. Os homens da ditadura, que se viam como agentes “modernizantes” e “urbanos”, não percebiam que o prefeito de Sucupira, de feitio rural, regionalista, antiquado e ridículo, era o retrato escarrado deles mesmos. A ditadura era burra, tão burra que batia palmas para a televisão que a fazia de palhaça. Contrassenso total.

Odorico se impôs de tal maneira que nunca mais saiu de cartaz. A Rádio CBN andou usando diálogos da antiga novela para ilustrar a desconversa de políticos da vida real acusados de corrupção. Agora, nos dias que correm – embora corram sem sair do lugar –, recortes de cenas impagáveis viajam nas redes sociais para delícia dos públicos mais diversos,

As semelhanças com o presente são efetivamente cômicas, mas também estarrecem. Numa das cenas que hoje circulam nas redes, Odorico aparece conversando com seu assessor direto, o igualmente antológico Dirceu Borboleta, interpretado por Emiliano Queiroz. O assunto é uma epidemia que ameaça Sucupira. O prefeito armou uma tramoia para impedir que o dr. Leão (Jardel Filho), seu desafeto político, distribua a vacina. Dirceu não se conforma. Sabendo que Odorico vai interceptar o carregamento das vacinas do dr. Leão, interpela o chefe para expressar sua discordância exasperante.

Com a voz medrosa, em titubeios que vão e vêm, Borboleta empreende enorme esforço para externar seu protesto. Ele, sempre submisso, está quase fora de controle. Aquilo não pode ser. Dirceu se exalta. Como deixar sem proteção o povo de Sucupira?

O prefeito reage, impaciente: “E daí, seu Dirceu?”. Esse “e daí?” soa chocante. O espectador descobre que a pergunta retórica vem de entranhas imemoriais da política nacional. O “e daí?”, como expressão de desprezo pela vida, não é de hoje.

Dirceu não se cala. Tomado de furor cívico, aumenta a voz: haverá um “assassinato em massa, um genocídio”. Passa a mão direita sobre a manga da camisa no antebraço esquerdo, como se acometido de comichões, dizendo que isso lhe dá “até arrepio”.

Então Odorico se põe em brios patrióticos, ralha com o assessor e começa a explicar seu plano. Diz que não vai impedir a vacinação, mas apenas desviar o carregamento para o posto de saúde que planeja inaugurar na cidade. Aí, sim, entregará a salvação sanitária a todos e todas. O herói será ele, Odorico, e não o dr. Leão, esse tal “que está do outro lado, do lado da oposição”. Dirceu vai se resignando, vai se rendendo, compreende o plano e fica aliviado. De um jeito ou de outro, a vacina virá e, para ele, está bom assim.

É fato que hoje, na Sucupira Central, há um Odorico pior, assumidamente genocida, que quer exterminar a vacina da oposição sem ter nada para oferecer no lugar. O novo Odorico seguirá levando o próprio povo para o altar do sacrifício ritual. Que morram mais, muitos mais. “E daí?”.

Dias Gomes talvez tenha sido um humorista profético. Ou um charadista. Em que chave cômica se explica a tragédia brasileira?

Autor: Eugênio Bucci é jornalista e professor da Escola de Comunicações e Artes da USP. Artigo publicado no Jornal Estado de S. Paulo