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29 de abril de 2018

Qual é a única coisa que une os brasileiros e que o poder prefere esconder?

Até os mais pobres estão mais preocupados com a corrupção dos poderosos do que com a própria economia, algo que só seria concebível em países com velhas raízes democráticas.

Será verdade que, como injustamente se divulga no exterior, os brasileiros estão divididos em tudo? Que nada é capaz de unir os cidadãos de um lado e do outro do arco político? Há dois brasis irreconciliáveis em tudo? A julgar pelos resultados da última pesquisa nacional do Datafolha, a resposta é não.
De acordo com essa pesquisa, quem aposta em um Brasil dividido em tudo deve se sentir frustrado. Existe um tema que vem incendiando a opinião pública nos últimos anos e que se intensificou com a condenação e prisão de Lula: o apoio à Lava Jato, cuja continuidade é defendida por 84% dos brasileiros. Apenas insignificantes 12% acham que deve terminar.
O Brasil todo parece unido na luta contra a corrupção e contra as tentativas de “estancar a sangria”, sonho de tantos políticos e poderosos e até mesmo de boa parte do Supremo Tribunal Federal. Entre esses 84% que querem que a Lava Jato continue estão, por exemplo, 77% dos eleitores de Lula, algo que o PT, que acusa a Justiça de ser seletiva com seu partido, deveria explicar se de fato a grande maioria de seus eleitores também defende essa cruzada contra a corrupção.
Outro dado importante de uma pesquisa anterior do Datafolha confirma que os brasileiros concordam, quase unanimemente, que a Lava Jato deve seguir seu caminho: em 22 anos, é a primeira vez que a corrupção é a maior preocupação do país. Não é a violência? Não. A corrupção já preocupava quatro vezes mais em 2015. E a educação? Também não. Preocupa quatro vezes menos que a corrupção. Não seria economia, ou o desemprego, a maior preocupação dos brasileiros? Não, a corrupção preocupa cinco vezes mais. E a saúde, a angústia das filas nos hospitais? Nem isso. A corrupção interessa duas vezes mais que a saúde.
Será que os pré-candidatos à presidência tomaram consciência de que a sociedade como um todo, pobres e ricos, continua a favor da luta contra a corrupção? E os governadores, senadores e deputados que pretendem ser reeleitos? Terão percebido excelentíssimos magistrados do Supremo que a única coisa que parece unir os brasileiros é a luta contra a corrupção, e quase 60% defendem a prisão após condenação em segunda instância sem esperar pelos recursos a instâncias superiores? E que a grande maioria é contra o foro privilegiado?
Sabemos que mais de um magistrado disse não entender o que significa a voz das ruas e que lhes interessa mais a letra da lei que no seu espírito, que é o que deve ser levado em conta quando se trata de julgar indivíduos de carne e osso. Não é segredo que, no Brasil, antes da Lava Jato, a Justiça procurava ser humana e respeitosa com os condenados importantes, para quem a presunção de inocência deveria ser sagrada. O condenado sem nome tornava-se, por outro lado, um número frio e sem alma.
Um povo que foi capaz de metabolizar sem dramas nem tumultos a prisão de Lula e dos grandes industriais do país acusados de corrupção talvez seja mais solidamente democrático e socialmente mais saudável do que uma minoria exaltada se esforça para negar. Se for esse o caso, é uma injustiça grave apresentar, no exterior, um Brasil à beira de um descarrilamento democrático, um golpe militar ou uma guerra civil, como vi escrito em jornais sérios. É injusto porque é falso. O que o mundo deve saber é que, no Brasil, até os mais pobres estão mais preocupados com a corrupção dos poderosos do que com a própria economia, algo que só seria concebível em países com velhas raízes democráticas.
Às vezes, chego a pensar que este país pode até dar uma reviravolta na teoria de Murphy, segundo a qual “se algo pode dar errado, dará”. Talvez seja capaz de interpretar essa lei pessimista mudando-a para o lado positivo: “se algo pode dar certo, dará”. E se nas próximas eleições, apesar de todo o pessimismo, acabar, por exemplo, acontecendo o melhor?

Autor: Juan Arias – El País

19 de abril de 2018

Uma guerra inacabável: Guia para entender o que está em jogo na Siría!


Intervenção de Trump dificilmente influirá na divisão territorial consolidada em sete anos de conflito.

conflito da Síria parece estar a um passo de se transformar em guerra mundial, haja vista a internacionalização das forças em confronto, mas ainda não ultrapassou a categoria de contenda regional com múltiplas frentes abertas. 
Depois de sete anos de guerra civil — meio milhão de mortos, a metade da população desabrigada pelos combates e dependente da ajuda exterior —, a intervenção ordenada pelo presidente Donald Trump para castigar Damasco pelo ataque químico de sábado passado dificilmente influirá na divisão territorial do país. O presidente Bashar al Assad controla quase dois terços do território e consolidou sua vitória sobre os rebeldes, aquartelados no norte e em alguns bolsões restritos do centro e do sul, graças ao apoio de Rússia, Irã e seus aliados xiitas.
Os Estados Unidos, que quase deram por concluída a missão contra o Estado Islâmico, se dispõem a deixar à própria sorte os aliados curdos que o ajudaram a enfrentar o EI e que agora dominam outro terço do país. A Turquia irrompeu em solo sírio para se apoderar de um cordão de segurança na fronteira que lhe permita manter a influência sobre os insurgentes do norte. Israel e outros vizinhos observam atentos as mudanças no tabuleiro sírio para reagir em função de seus interesses. Estas são as posições do front depois da represália dos EUA, secundada por França e Reino Unido.
Regime sírio
Domina a chamada Síria útil, as grandes cidades, o litoral e as regiões férteis. Mediante assédios, ofensivas esmagadoras e “pactos de reconciliação” (rendição em troca de uma evacuação segura), está se apoderando dos redutos da oposição. A campanha da Guta Oriental, na periferia da capital, termina exatamente com o recuo dos rebeldes de Jaish al Islam depois do bombardeio químico denunciado em Duma. Al Assad praticamente venceu a guerra, mas mantém-se associado e à mercê de seus aliados de Moscou e Teerã, que o salvaram a três anos de uma derrota iminente.
Rússia
Vladimir Putin reforçou o destacamento de sua melhor aviação de combate na Síria em setembro de 2015. Agiu em defesa de sua única base aeronaval no Mediterrâneo, apesar de que parece ter ocupado aos poucos o espaço abandonado por Washington no Oriente Médio. Cerca de 50.000 militares russos passaram em sucessivas rotações pelo front sírio. Com seus sistemas de mísseis terra-ar S-400 domina o espaço aéreo, de forma que EUA e Israel notificam o país de seus voos para evitar enfrentamentos acidentais. O Kremlin se apresenta como vencedor visível do conflito.
Irã e as milícias xiitas
Os oficiais da Guarda Revolucionária enquadram dezenas de milhares de milicianos xiitas do Líbano (Hezbollah) e Iraque, que constituem a verdadeira tropa de choque — e bucha de canhão — das fileiras governamentais. Teerã tenta erigir uma “ponte terrestre” até o Líbano passando por Iraque e Síria para consolidar sua hegemonia sobre três nações com forte prevalência do ramo muçulmano xiita. Este plano iraniano é visto com preocupação pelo Ocidente.
Oposição sunita
Centenas de milhares de combatentes de milícias islâmicas sunitas foram se reagrupando no norte da Síria, na província de Idlib e em parte da de Alepo, depois de serem expulsos pelo Exército do regime de seus territórios. Tahrir al-Sham, que integra a antiga Frente al Nusra (filial da Al Qaeda) e outros grupos salafistas são as forças preponderantes. A oposição no exílio conseguiu reunir-se em torno de uma plataforma que exige a saída de Al Assad do poder para poder negociar com o regime.
Milícias curdas
Mais de 50.000 combatentes curtidos na luta contra o Estado Islâmico controlam duas terças partes da fronteira com a Turquia e grandes trechos do vale do Eufrates. Tentam uma aproximação do Governo de Damasco e da Rússia depois do anunciado recuo dos EUA, que até agora foram seu principal defensor na contenda.
Estados Unidos
A Casa Branca pretendia retirar os 2.000 a 4.000 militares das forças especiais destacados na Síria para assessorar as milícias curdas, apesar de o Pentágono considerar a ideia prematura ainda. O voo dado por Trump depois das denúncias do ataque químico em Duma pode levar os EUA a reconsiderar a presença militar e seu envolvimento na guerra. Na campanha eleitoral Trump garantiu que o único objetivo era a derrota do Estado Islâmico.
Turquia
O Exército de Ancara se apoderou de uma ampla faixa de território sírio em paralelo à fronteira norte ocidental. Com o apoio de forças rebeldes do Exército Livre da Síria desalojou este ano as milícias curdas do cantão de Afrin e garantiu posições diante de uma divisão territorial depois da guerra.
Estado Islâmico
Centenas de jihadistas vagam ainda pelo deserto que separa a Síria do Iraque, sem serem totalmente erradicados. O califado territorial fundado por Abu Bakr al Baghdadi em 2014 passou para a história. Mas a ameaça de terror jihadista global do EI não desapareceu.
Israel
            Putin telefonou para o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu para estimulá-lo a não desestabilizar a Síria com uma intervenção como a que foi atribuída à aviação israelense esta semana. Israel rechaça “a qualquer preço” que o Irã se estabeleça como potência militar no vizinho país árabe.

Autor: Juan Carlos Sanz

10 de abril de 2018

Lembrança de Luis Loayza!


Lucho era um escritor esplêndido, mas segredo, de leitores tão lúcidos e sensíveis como ele mesmo. Nunca será “popular”, mas sempre terá seguidores.
Estava tentando lembrar quando havia sido a última vez que tinha vindo ao cemitério de Père-Lachaise antes desta manhã, e acho que foi em 1960, para a cremação dos restos mortais da viúva de Trotski, Natalia Sedova, porque queria ouvir André Breton, que era um dos oradores. Agora estou aqui para uma cerimônia parecida, na qual vamos nos despedir de Luis Loayza, que era um de meus melhores amigos.
Há certa confusão no crematório, porque vários atos fúnebres ocorrem ao mesmo tempo, e um deles, numeroso, reúne muitos paquistaneses, que choram alto. Por fim, distingo entre a multidão Rachel e Daniel, a viúva e o filho mais velho de Lucho. Entristeço-me em vê-los destroçados pela dor, fazendo um esforço extenuante para não chorar também. Há 58 anos exatamente, por Rachel, Lucho Loayza provavelmente cometeu o único ato de loucura em sua vida, do qual, tenho certeza, nunca se arrependeu. Seu pai o havia presenteado com um ano em Paris quando se formasse advogado. O ano estava prestes a acabar e, se bem me lembro, Lucho já tinha a passagem de volta. Mas, como despedida, foi ao Festival de Teatro de Avignon e lá conheceu Rachel, que ainda era estudante. Naquele mesmo dia me escreveu uma carta exagerada, dizendo que havia se apaixonado; não iria mais ao Peru e começaria a procurar trabalho imediatamente em Paris. Pouco tempo depois, casaram-se na prefeitura do Quartier Latin, e fui à única testemunha. Depois, fomos os três comemorar num bistrô da esquina com uma taça de vinho.
A cerimônia começou com música de Bach, em uma salinha ocupada pelos restos mortais do falecido, em um caixão fechado e coberto de flores. Daniel fala em memória do pai, e ele e a neta mais velha de Lucho lê, em francês e espanhol, um fragmento de O Avarento, relacionado com a morte. Quando é minha vez de dizer algumas palavras, sinto angústia e vontade de chorar. Mas aguento, sabendo muito bem que Lucho, sempre tão comedido, acharia tal sentimentalismo intolerável.
Eu o conheci em 1955, em Lima, e desde o primeiro dia falamos sem cessar e sem limites de literatura. Ele me apresentou logo depois a Abelardo (o chamávamos de O Delfim, e eu era chamado de O Sartrezinho Valente), com quem formávamos um inquebrável triunvirato. Nós nos víamos a toda hora, para falar de livros, os que líamos e os que iríamos escrever quando nos tornássemos escritores. Para isso era preciso fugir de Lima e ir para Paris, onde até o ar era literatura. Enquanto planejávamos a viagem, líamos muito e, às vezes, Lucho e eu discutíamos, ele defendendo Borges, e eu, Sartre, até ficarmos sem nos falar. O tranquilo Abelardo nos reconciliava uma hora ou um dia depois. (Lucho tinha razão; ainda continuo relendo Borges e sei que, se tentasse reler Sartre, o livro escorreria das minhas mãos).
Por fim, as coisas ficaram complicadas para Abelardo, e Lucho e eu partimos sozinhos para a Europa, em um barco que saía do Rio e chegava a Barcelona. Na viagem, quando não lia, o que raramente acontecia, Lucho inventava um jogo que chamava de “a contemplação do infinito”. Na pensão onde fomos parar em Madri, ele começou a escrever Una Piel de Serpiente, e eu, A Cidade e os Cachorros. No final do ano, ele foi a Paris, e eu, alguns meses depois. Em um quartinho do Wetter Hotel, onde morávamos, dei a Rachel às primeiras aulas de espanhol. Foi nessa época, quando tentávamos ganhar o que Cortázar chamava de “direito de cidade” para que Paris nos aceitasse, quando nos vimos mais, quase diariamente, e, por carta, Abelardo também participava dessas conversas, discussões e projetos nos quais a literatura continuava sendo a estrela.
Depois, Lucho, Rachel e seus dois filhos foram para Lima, Nova York, Suíça. Desde então, nos vimos menos e, pouco a pouco, paramos de nos corresponder. Mas a amizade e o carinho sempre estiveram presentes e, claro, as lembranças. Nas raras ocasiões em que nos encontrávamos, às vezes com intervalos de anos, a comunicação, os subentendidos, as piadas eram as de sempre. Em uma dessas vezes, ele tinha acabado de ler seu primeiro livro em italiano e estava feliz: abria-se diante dele um universo de novas leituras.
Agora, as pessoas que participam da cerimônia se levantam e se aproximam do caixão e o tocam com respeito. Algumas fazem o sinal da cruz três vezes. Um senhor que trabalha com Daniel no Odeon diz que nunca conheceu Lucho pessoalmente, mas, pelo que ouviu, entende que era admirável e quer prestar sua homenagem. Tenho a impressão de que todas as pessoas que participam são francesas, e que sou o único peruano. Quando éramos jovens, eu era quem falava em “romper com o Peru”; no final, foi Lucho quem rompeu, pelo menos fisicamente. Porque, em seus ensaios e relatos, a presença do peruano e dos peruanos é obsessiva. Mas fazia 30 anos que não pisava em Lima, e as razões que me dava para isso nunca me convenceram completamente.
Suportou sua doença com extraordinária elegância. Lembro-me, há alguns anos, quando essa longuíssima agonia de tratamentos intermináveis começou, como era difícil que falasse algo a respeito. Respondia com duas ou três frases e mudava de assunto, geralmente o livro que acabara de terminar ou o que estava começando. Aquilo que Borges escreveu – “Li muitas coisas e vivi poucas” – o definia melhor até mesmo que seu autor. Era também dificílimo conseguir que falasse sobre algo que havia escrito, estava escrevendo ou pensava em escrever. Tinha um pudor extremo e se recusava a transformar o íntimo e entranhável em tema de conversa, como se esta banalizasse o importante. Por isso, penso eu, quase nunca falamos sobre seus ensaios e histórias, que li e reli muitas vezes. Estou convencido de que era um esplêndido escritor, mas secreto, de leitores tão lúcidos e sensíveis quanto ele próprio, que conseguiu depurar a língua e torná-la tão limpa, precisa e transparente quanto à dos autores que mais admirava, como o sonolento Henry James (estou te provocando, Lucho, agora que você não pode me responder). Por isso nunca será “popular”, mas sempre terá leitores. Era um excelente tradutor: De Quincey, por exemplo, é preferível lê-lo em sua versão em espanhol do que em inglês, onde muitas vezes a prosa se emaranha e obscurece uma prosa que Loayza afinou e tornou esbelta e clara.
A música de Bach parou, e o funcionário do Père-Lachaise que atua como mestre de cerimônias explica, com muito tato, que o culto chegou ao fim e que temos de sair da sala, onde, imagino, será agora realizado um novo funeral. O nosso foi organizado e discreto, como gostaria o “borgiano de Petit Thouars”. Abraço Rachel, Daniel, as duas netas de Lucho que acabo de conhecer e que já falam um espanhol que continuam aperfeiçoando, nada menos do que em Salamanca. Saio e, embora ainda faça frio, o sol aparece. No táxi rumo ao aeroporto de Orly, sem fazer barulho, faço o que evitei fazer toda a manhã: começo a chorar.

Direitos mundiais de imprensa em todas as línguas reservados a Edições EL PAÍS, SL, 2017. © Mario Vargas Llosa, 2018.

Revisão pericial ou crime premeditado contra os beneficiários?

Podeis enganar toda a gente durante certo tempo;
podeis mesmo enganar algumas pessoas todo o tempo;
mas não vos será possível enganar sempre toda a gente.
             Um pouco antes de ver frustrados seus planos de impor a reforma da previdência sobre os trabalhadores assalariados, o governo Temer impôs uma agenda ao INSS – Instituto Nacional de Seguridade Social que mais se parece com uma meta a ser alcançada – Trata-se da revisão dos benefícios de Auxilio Doença e Aposentadorias concedidas por invalidez.
Em 2017, os postos do órgão começaram a chamar os beneficiários que possuem os benefícios para passarem por uma Perícia ou Revisão do Benefício.
A princípio seria apenas um direito do INSS, no que tange a revisar e verificar se os dispêndios do governo federal estavam sendo realizados de acordo com a lei e as regras existentes.
Porém, na maioria dos casos, o que está acontecendo é que os peritos ao receberam os beneficiários, mal olham na face deles, fazem uma ou duas perguntas e encerram a conversa cancelando drasticamente o benefício. O cidadão não tem direito a reclamar, questionar ou exigir nada. 
Em alguns casos, os peritos não analisam os laudos médicos nem os prontuários ou quaisquer documentos que sejam fundamentais para que pudessem tomar a decisão final de manutenção ou corte do benefício em questão.
Não há no país a quem recorrer, exceto, entrar com um processo na Justiça Federal, esperar uma nova perícia solicitada pelo juiz e depois rezar durante o período de seis meses a um ano e meio, para que a decisão seja favorável e possa fazer com que o INSS reconsidere o benefício e pague inclusive os atrasados durante o período que a pessoa ficou sem este seu direito adquirido.
Minha funcionária, que trabalhou durante dezessete anos conosco, sofreu um AVC em abril de 2016, ficou três meses na UTI, conseguiu sobreviver e sair viva do hospital. Recebia seu benefício de auxilio doença, quando em dezembro/2017, o mesmo foi cortado sem que o perito do posto de Agudos – SP, tivesse analisado os laudos do neurocirurgião do SUS e todos os documentos de seu extenso prontuário médico.
Ele recebia um salário mínimo de auxílio doença, agora mal consegue pagar o aluguel, a energia e a água da residência, que divide com a única filha, que trabalha numa lanchonete e tenta manter a casa. Mal podem se alimentar corretamente, estão passando necessidades básicas enquanto os peritos felizes atingem suas metas propostas pela direção do órgão.
Em outro, um aposentado por invalidez em Bauru, teve sua aposentadoria cancelada depois de oito anos recebendo normalmente o benefício. Mesmo com trombose, as pernas inchadas e manchadas de sangue pisado, não teve chance de ver seu sustento mantido. A perita ainda disse a ele: “Isso não é nada, tem gente que perde uma perna e nós conseguimos uma prótese para que ele possa continuar trabalhando”.
Enquanto isso, o país segue sua rotina de corrupção, desvios de verbas e desperdício por culpa dos mesmos políticos que mandam no INSS, no Banco Central e nos demais órgãos que deveriam servir ao povo e não o contrário. Os grandes devedores que não precisam passar por pericia continuam sonegando e devendo mais de três bilhões ao INSS com toda tranquilidade do mundo.

Autor: Rafael Moia Filho - Escritor, Blogger e Gestor Público.