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28 de novembro de 2019

Ilicitude

A história da luta por um pedaço de terra no Brasil é marcada pelo sangue daqueles que só querem um chão para trabalhar.
Duas leis em gestação se arrastam na direção de Brasília para nascer. As duas trarão grande alegria para o califado brasileiro, se passarem, ou grande decepção pra o califado se o Congresso, numa demonstração de grandeza insuspeitada, as rejeitarem. As duas leis se complementariam.
Uma instalaria no Brasil o princípio do excludente de ilicitude que, em qualquer país civilizado do mundo, significaria um retrocesso jurídico vergonhoso e aqui passa por progresso, a outra propõe uma reforma agrária que finalmente viria, mas ao contrário: polícia e Forças Armadas estariam autorizadas a atirar primeiro e determinar que ilícito foi cometido pelo agricultor sem-terra depois, a critério do dono da terra, muitas vezes baldia e improdutiva.
A história da luta pela terra no País está cheia de sangue e a maior parte é sangue de quem só pedia um pouco de chão para trabalhar. Por sinal, você se lembra da última vez que viu notícias de acampamentos e colônias do MST produtivos e bem-sucedidos no País? E eles existem. Agora, se passar a lei que arma e perdoa os proprietários por todas as suas ilicitudes, notícias da guerra serão mais frequentes e sangrentas. 
O excludente de ilicitude, essa nova frase que se intrometeu em nossas vidas como uma solitária insidiosa, significa simplesmente licença para matar. Seria uma autorização dada às forças da ordem para reagir à desordem sem se preocupar com limites.
Compreende-se que uma nação apavorada com o crime deseje isso, ou pense que a solução é dar todo poder aos xerifes e deixá-los tão soltos e sem limites morais e operacionais quanto os bandidos, para a guerra no mínimo ser parelha. Mas espera-se demais do policial que precisa distinguir, em segundos, o que é uma ilicitude e o que não é. E o resultado seria forças da ordem que já agem com notória arbitrariedade passarem a agir com a certeza da impunidade.
O Congresso pode reagir aos projetos, matá-los, proteger ainda que debilitado a democracia e zelar pela sua própria biografia. É difícil que o faça. Todos as forças do califado estarão do outro lado.

Autor: Luis Fernando Verissimo – Publicado no Jornal Estado de São Paulo.

26 de novembro de 2019

País com déficit de Ética!

                                                                    A verdadeira descoberta não consiste em procurar novas paisagens,
mas em possuir novos olhos.
Marcel Proust

O Brasil desde sua colonização jamais foi um paraíso da ética e das virtudes, mas nos últimos quarenta anos elas estão sendo vilipendiadas diariamente por aqueles que deveriam dar o melhor exemplo. Como via de regra, o exemplo vem de cima, o andar de baixo na sociedade brasileira vem sendo comprometido ano após ano. Contribui para este estado de coisas a péssima educação e a falta de informação.
Quer seja na economia, na política, nos negócios ou na vida em geral, jamais podemos permitir que a ética seja conspurcada pelos modelos propagados através de figuras grotescas da nossa grande mídia. Até por que eles são movidos geralmente por interesses ainda mais escusos que os citados em suas falas radiofônicas ou televisivas, ou ainda, por seus escritos em grandes jornais e revistas.
Há algumas décadas atrás, o jogador da seleção brasileira Gerson, exímio meio campista e um grande líder do futebol de sua época, fora convidado para participar de uma propaganda de uma certa marca de cigarros. O bordão era mais ou menos assim: “Leve vantagem em tudo”.
Até os dias atuais, a máxima “Levar vantagem em tudo”, ficou intimamente associado ao jogador como a famosa e triste “Lei de Gerson”. Com certeza uma tremenda injustiça para com o jogador, que sempre foi um grande caráter no meio esportivo e fora dele.
Na política brasileira inexiste a ética, incompatível com a gana dos políticos de enriquecer em pouco tempo, de preferência durante seus seguidos mandatos. Os partidos políticos se transformaram em grandes empresas lucrativas, auferindo sem muito controle e nenhuma auditagem quantias obscenas a cada período eleitoral. Não recolhem impostos, não precisam comprovar nada, apenas usam na sua maioria recibos e notas mais falsas que uma nota de R$ 3,00 (Três reais).
A alguns anos atrás assistimos a poderosa Volkswagen, potência automobilística mundial da Alemanha, burlar a lei se envolvendo em um escândalo de falsificação de resultados de emissões de poluentes em motores a diesel. A montadora admitiu que, para burlar inspeções, usou um programa de computador em 11 milhões de carros em todo o mundo.
Portanto preocupa o fato de que a gigante dos automóveis precise de um exemplo de falta de ética e absoluta morbidez mercadológica para se valer da “Lei de Gerson”. O dinheiro é importante para todos, mas jamais pode sobrepujar os limites da ética, da decência e da moral.
Muitos pretendem que se ensine muitas coisas em sala de aula porém, ninguém ergue a voz para pedir que seja colocado no currículo escolar matérias que envolvam a Ética, Cidadania e Organização Social e Política do país.

Autor: Rafael Moia Filho: Escritor, Blogger e Graduado em Gestão Pública.

25 de novembro de 2019

“A crise econômica tem nome: Paulo Guedes.”

Não é mais possível esconder o fracasso da política econômica do governo. As sucessivas quedas do índice Bovespa nas últimas semanas, a disparada do dólar – alcançando o maior valor nominal desde o plano Real -, o fracasso do leilão do pré-sal, a retirada de bilhões de dólares de investimentos estrangeiros – a maior desde a crise de 2008 -, a queda das reservas internacionais em apenas cinco meses no valor de 22 bilhões de dólares, a permanência de milhões de desempregados, são claras evidências  que as projeções  de crescimento da economia feitas em janeiro estavam absolutamente equivocadas.
Tudo indica que o aumento do PIB deve ficar abaixo de 1%, menos da metade do que tinha sido estimado pelas consultorias econômicas, que, como de hábito, erraram feio. E, no horizonte de curto prazo, as perspectivas são sombrias. Em 2020 o crescimento do PIB deve ser próximo ao de 2019. Se há preocupações com o mundo exterior, como na turbulenta relação entre China e Estados Unidos, com os acontecimentos de Hong Kong, as permanentes tensões no Oriente Médio – os protestos no Irã podem se alastrar – , o retorno da América do Sul ao antigo caminho de governos instáveis e questionados nas ruas, como na Bolívia, Equador, Peru e Chile, especialmente; são fatores internos que explicam e determinam fundamentalmente a estagnação econômica.
No caso dos nossos vizinhos, basta recordar os anos 1960-1970 quando viveram graves crises – marcadas por sucessivos golpes de Estado – isto não significou para o Brasil algum tipo de interferência direta na economia. Pelo contrário, neste período o país chegou a crescer mais de dois dígitos ao ano.   
    Mesmo neste cenário preocupante, Paulo Guedes continua a apresentar projetos e emendas constitucionais em enorme profusão. Como se o sucesso da gestão desse a ele um cacife político ao estilo Delfim Netto nos anos do milagre. Não é o caso. Sua gestão é muito fraca. Os resultados são pífios. Não pode reclamar do presidente da República. Tudo o que pediu, acabou recebendo.
Agora insiste em propostas que vão desmontar o pouco que existe de um Estado de bem-estar social no Brasil. Sabiamente o Congresso Nacional rejeitou parcela da reforma da Previdência que era nociva aos mais pobres. O fim do abono do PIS, da aposentadoria rural, do BPC, por exemplo, atingia diretamente os despossuídos e também os pequenos munícipios e o comércio voltado às classes populares. A suposta economia para o Erário significava jogar na miséria milhões de brasileiros. E não podemos esquecer do engodo da capitalização que seria a base da “Nova Previdência.” Guedes e seus sequazes insistiram durante meses apresentando as benesses da capitalização e davam como exemplo positivo o Chile. Sim, o Chile. Diziam que a Previdência chilena era excelente. Que todos lá estavam satisfeitos com a aposentadoria recebida (em caso de dúvida, basta acessar os registros da Comissão especial da Previdência da Câmara dos Deputados).
Era engodo. Desejava a capitalização para retirar do Estado a administração dos recursos e transferi-los para os especuladores do sistema financeiro, de onde ele veio, registre-se. O mesmo Guedes – aquele que optou por ser professor no Chile, sob o tacão do ditador Pinochet, numa universidade sob tutela militar – disse com ares de profeta do caos que se a reforma não atingisse 1,3 trilhão de economia para o Tesouro, o Brasil iria quebrar. A economia será de 800 bilhões, cerca de 70% do previsto. O Brasil quebrou?       
    Agora Guedes, para esconder o fracasso da sua gestão, apresentou quase ao final do ano legislativo, um conjunto de projetos de leis e propostas de emendas constitucionais. O pacote não tem um fio condutor. Mas tem um claro objetivo: destruir o Estado edificado pela Constituição de 1988. Aos quatros ventos, o ministro propalou que vai refazer o pacto federativo. Deve desconhecer que o que está propondo deveria necessariamente ser objeto de uma nova assembleia constituinte, algo inimaginável nas atuais circunstâncias.
Entre os desvarios, o ministro advoga que a jornada de trabalho dos funcionários públicos seja reduzida, isto em um país onde o Estado presta serviços insuficientes para a maioria da população – os pobres, entenda-se. Ou seja, o que já é precário deve, de acordo com Guedes, piorar. Não satisfeito deseja reduzir o pagamento de salários dos funcionários. Isto mesmo, reduzir. No Executivo, os funcionários não recebem reajuste – reajuste e não aumento de salário – há mais de 4 anos. Sendo assim, os funcionários que, em ternos reais, já ganham menos, vão receber um salário ainda menor. Ah, não terão também mais promoções. Ou seja, só faltam transformá-los na casta dos impuros.
    Paulo Guedes prepara sua saída do governo, preferencialmente no primeiro semestre de 2020. Dirá que o Congresso não deu os instrumentos para enfrentar a crise. Falácia. Faz parte do show. Dele, claro. 

Autor: Professor Marco Antonio Villa – Publicado no Correio Braziliense e Estado de Minas.

Século XXI com cara de Século XIX no Brasil!

Criamos a época da velocidade, mas nos sentimos
enclausurados dentro dela. Nossos conhecimentos
fizeram-nos céticos; nossa inteligência,
empedernidos e cruéis. Pensamos em demasia
e sentimos bem pouco. Charles Chaplin

No decorrer da década de 80 em São Paulo, ouvi, li e até participei de diversas palestras e cursos que falavam da necessidade de nos prepararmos para a chegada do Século XXI. Toda vez que isso acontecia era um enorme frisson, cercado de apreensão pelo desconhecido e por informações desencontradas a cerca do que realmente iria acontecer a partir de 01 de janeiro de 2001.
Não havia internet no Brasil em 1980, o celular era apenas um sonho ou uma ilusão dos filmes de ação. A tecnologia ainda muito atrasada dificultava completamente o planejamento e a correta interpretação do que viria pela frente.
O certo é que ninguém imaginava essa onda que varreu o mundo desde a Globalização, passando pelo avanço da tecnologia, robótica, informática avançada e tantas outras coisas que se sucederam com enorme rapidez neste curto período.
Entretanto, muitos administradores, estrategistas, podem até ter previsto muito do que hoje vivemos, mas duvido que tenham imaginado ao menos no Brasil, que iríamos regredir tanto no campo das relações humanas, no trato com o ser humano e na política nacional.
Claro que, isso não é exclusividade brasileira, vivemos em vários cantos do planeta uma onda de intolerância que jamais imaginávamos fosse persistir no novo século. O racismo sobrevive e continua horrorizando a todos. Ressurgem na Europa e em vários locais, células nazistas, ogros travestidos de adeptos da “supremacia branca”, algo que pensávamos ter ficado no túmulo de Hitler em 1945.
A verdade é que paradoxalmente vivemos num mundo altamente tecnológico, com avanços na indústria, medicina, engenharia ao mesmo tempo que convivemos com ataques raciais, homofóbicos completamente sem sentido.
No Brasil e nos demais países pobres, naturalmente a Educação anda para trás, apoiada por políticos corruptos de esquerda ou sem cérebro de direita. Educar e informar é algo que não combina com os políticos que nos governam, quanto maior o atraso melhor o resultado nas urnas.
Neste particular o Brasil é muito bem servido, pois o eleitorado (38%) alçou ao poder políticos ainda piores do que os dos mandatos anteriores. Boa parte desqualificada, sem projeto político, urrando ofensas e propondo coisas que não estão no escopo daquilo que podemos chamar de avanço.
Em São Paulo, na Assembleia Legislativa Estadual teve uma proposta do Deputado Frederico D’Ávila – PSL-SP, propondo homenagear um dos maiores assassinos do Chile. O general que comandou a ditadura militar de 1973 a 1990. Este sanguinário foi o responsável direto por mais de 3.600 mortes, além de promover a tortura de mais de 40 mil pessoas.  
Em Brasília, deputados postam imagens da Constituição Federal sendo jogada no vaso sanitário, enquanto outros homenageiam o general Ustra, um dos maiores assassinos e torturadores da ditadura militar no Brasil entre 1964 – 1985.
A sociedade não fica atrás, pais não vacinam seus filhos baseados em informações falsas emanadas em redes sociais sem conteúdo científico. Estes pais preferem expor seus filhos a doenças e provocar o contagio de inocentes. Isso é um dos sinais do atraso incompatível com o avanço tecnológico e científico do mundo em que vivemos neste século XXI.  

Autor: Rafael Moia Filho – Escritor, Blogger e Graduado em Gestão Pública.

14 de novembro de 2019

Transformação digital pode gerar grande impacto econômico global!

A digitalização de indústrias e serviços pode ter um grande impacto em diversos setores da economia em todo o mundo.
Foto – Marcello Casal Jr/ Agência Brasil
      Segundo estudo da empresa de dispositivos móveis Ericsson, até 2030, essas tecnologias podem aportar até US$ 3,8 trilhões (R$ 15,86 trilhões) à economia global. O tema foi debatido nesta quarta-feira (13) em workshop da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), em Brasília.
Esse processo, denominado “transformação digital”, envolve a coleta e processamento de grandes quantidades de dados, a aplicação de uma série de novas tecnologias, como o 5G e a inteligência artificial, e a disseminação de dispositivos tanto para usuários (como smartphones) quanto nas atividades econômicas, como em linhas de montagem.
O estudo da companhia também mapeou quais setores têm maior potencial de geração de receitas neste montante que pode ser gerado com a digitalização. A área de saúde pode chegar a 21% dessas verbas, seguida pela indústria (19%); segmento automotivo e energia (12%); mídia, entretenimento e segurança pública (10%).
Na avaliação dos presentes no evento, o processo de digitalização vai alterar sobremaneira a forma como as atividades econômicas estão estruturadas. Um novo conjunto de negócios ganha importância, relacionado à fabricação de dispositivos, oferta de serviços de conectividade e infraestrutura, habilitação de serviços (como plataformas) e provimento de aplicações (como redes sociais, mecanismos de busca, comércio eletrônico, transporte etc.).
Foto – Pixabay
5G
Dentre o montante projetado pela Ericsson, US$ 1,5 trilhão (R$ 6,2 trilhões) está relacionado à implantação do ecossistema do 5G. Essa nova geração dos serviços móveis é apontada não apenas como uma evolução das tecnologias móveis, mas uma mudança qualitativa que pode permitir uma série de novas aplicações a partir de um tráfego de alta velocidade que pode ser acessado por dispositivos móveis.
Segundo Tiago Machado, representante da Ericsson no evento, o 5G terá um papel chave para impulsionar a digitalização. “Antes ninguém sabia o que era 5G e agora só se fala nisso. Ele quebra cadeias tradicionais de valor. O carro é basicamente o que era 100 anos atrás. A partir do 5G, além da evolução do acesso móvel, a gente tem toda uma expectativa de digitalização de diferentes setores”, comentou.
A coordenadora política e regulatória da GSMA para América Latina Adriana Sarkis destacou a importância dos equipamentos e serviços móveis, de smartphones à banda larga móvel, no fenômeno da transformação digital hoje, e reforçou que a chegada do 5G pode ampliar essa participação.
“Economicamente falando, só no ano de 2018, US$ 1,1 trilhão (R$ 4,6 trilhões) da economia global foi influenciado pelo ecossistema móvel. Com advento do 5G, dentro dos próximos 15 anos essa tecnologia deve contribuir com US$ 2,2 (R$ 9,2 trilhões) para a economia global”, projetou a coordenadora, cuja entidade é uma das maiores analistas do mercado móvel do mundo.
Para Sarkis, as mudanças se darão em três frentes. A primeira está ligada aos usuários. Em 2018 havia cerca de 5 bilhões de usuários de smartphones no mundo. A previsão da GSMA é que este número suba para 6 bilhões até 2025. As práticas históricas de comunicação utilizando esses dispositivos tendem a se ampliar para diferentes atividades, como transações financeiras a aplicações de comércio eletrônico.
Foto – Pixabay
Um segundo movimento está vinculado à evolução tecnológica. Atualmente, o 4G é o padrão dominante no mundo. A expectativa da GSMA é que até 2025 existam 14 bilhões de conexões em 5G, representando quase metade de todos os países. “É uma transição de tecnologia mas de forma mais disruptiva. Permitir muito mais em suas redes, como manipulação remota, dar apoio à indústria 4.0 e ofertar uma internet móvel de altíssima velocidade”, disse a representante da GSMA.
Um terceiro vetor de mudança está nos aparelhos. Em 2018, os smartphones representavam 60% das conexões à Internet e a projeção é que representem 80% até 2025. Contudo, a grande transformação deve estar no crescimento de equipamentos que se comunicam com outras máquinas, indo além do tradicional aparelho e serviço voltado ao consumidor. Esse ambiente vem sendo chamado de Internet das Coisas. Entre 2018 e 2025, a GSMA estima que o número de dispositivos conectados saia de 9 bilhões para 25 bilhões.
Globo
Membro da Diretoria Integrada de Negócios da Globo, Eduardo Perez apresentou o caso da transformação digital do grupo. O conglomerado unificou seus negócios, o que chamou de “uma só Globo”, reconfigurando sua estrutura institucional. Na área de conteúdo, para além do portal Globo.com, o serviço de streaming Globoplay passou a oferecer conteúdos específicos.
Perez explicou que um dos objetivos é ampliar a base de dados sobre a audiência dos veículos do grupo, cadastro chamado de Globo ID. Quando se loga nas plataformas, o usuário passa a ser monitorado. Interações de programas e serviços online da Globo, como votações no BBB ou o uso do aplicativo Cartola FC, são utilizadas também para ampliar o conhecimento sobre os usuários.
“O nível de interação também nos traz muitas informações sobre estes usuários. Nossa estratégia é entender nosso consumidor, usar massivamente dados que a gente tem e aproveitar o nosso diferencial competitivo de conteúdo de alta qualidade e distribuição para poder, usando os dados, fazer coisas diferenciadas pensando em publicidade digital”, afirmou o executivo.

Foto – Pixabay


Autor: Jonas Valente – Agência Brasil – Neo Mondo

13 de novembro de 2019

Deus salve a América do Sul (dela própria)

O mundo é um lugar perigoso de se viver,
não por causa daqueles que fazem o mal,
mas sim por causa daqueles que observam
e deixam o mal acontecer. Albert Einstein

São doze os países que compõem a América do Sul: Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, Equador, Guiana, Paraguai, Peru, Suriname, Uruguai e Venezuela. A Guiana Francesa é um território ultramarino e não um país.
Nesse subcontinente americano que engloba a América Central e a do Norte, onde a língua predominante é o Espanhol, pois o Português é falado apenas no Brasil, nosso país é o mais populoso, com aproximadamente 204 milhões de habitantes.
A América do Sul possui 393 milhões de habitantes, cuja densidade demográfica é de 22 habitantes por quilômetro quadrado. A maioria dos habitantes reside em áreas urbanas: 84%. O crescimento demográfico sul-americano é um dos mais altos do mundo: 1,1% ao ano. Porém, seu território apresenta grandes vazios demográficos, como, por exemplo, o deserto do Atacama e a Patagônia. Por outro lado, algumas cidades são extremamente povoadas: Brasília, Rio de Janeiro, São Paulo, Buenos Aires, Lima, Bogotá, Santiago, Caracas, entre outras.
Depois do continente africano, a América do Sul é o canto mais atrasado do planeta no que diz respeito ao Índice do Desenvolvimento Humano – IDH. Os níveis de Educação mais distantes do chamado primeiro mundo, algo que não era assim nas décadas de 30 a 50.
Seu processo industrial é ainda rudimentar, com o Brasil sendo o único com um parque industrial que ainda consegue produção forte, embora não comparada com os tigres asiáticos, alguns países europeus e a América do Norte.
O Brasil sozinho tem a extensão territorial maior do que os demais 11 países juntos, o que dá uma dimensão do tamanho do nosso país, praticamente um continente.
Não existe, apesar do cambaleante Mercosul, moeda única entre os doze países, nem tampouco um comércio forte e integrado. As diferenças não ficam apenas no idioma, mas são enormes na política e na economia.
Raras vezes ao longo de sua existência o continente viveu sem a existência de golpes militares, golpes políticos, convulsões populares de toda ordem, contribuindo para o atraso do desenvolvimento dos países e da América do Sul como um todo.
No momento a Venezuela enfrenta fome, doença, uma grave crise econômica por conta de um regime que após a eleição de Hugo Chavez em 1998, permanecendo no poder por três mandatos consecutivos até 2013, quando veio a falecer. Foi então substituído por Nicolás Maduro, que permanece no poder até os dias atuais impedindo a liberdade de imprensa, o crescimento econômico e a própria democracia.
A Bolívia eclodiu uma crise com a renúncia de seu presidente Evo Morales, que havia vencido sua quarta eleição consecutiva, novamente com suspeitas de fraudes denunciadas pela oposição e pela OEA. O país mais uma vez está à beira de uma convulsão político social.
O Chile, depois de seu processo de redemocratização após a mais sangrenta ditadura militar do continente, volta a ter instabilidade política e econômica. Seu atual presidente, Sebastián Piñera instituiu reformas que desagradaram completamente a população chilena, que fez eclodir nas ruas de Santiago uma manifestação gigante com mais de um milhão de chilenos revoltados com os preços do transporte público, previdência social e demais reformas do governo.
Os demais países vivem momentos de turbulência política misturados a períodos de calmaria aparente. Casos do Brasil, Colômbia, Equador, Peru, Argentina e Uruguai, por exemplo.
O péssimo desempenho na educação, os problemas graves de saúde pública jogam a América do Sul para baixo, deixando sempre a impressão de que não teremos jamais como concorrer com os demais países desenvolvidos.
Nem a existência de grande parte das águas fluviais do planeta, florestas, riquezas minerais, reservas gigantes de petróleo na terra e no oceano, conseguem mudar a trajetória de pobreza, ignorância e atraso dos países do nosso continente.
Um dos motivos é que contrastando com estas riquezas citadas, a América do Sul possui uma das piores e mais corrupta classe política do planeta. É marca registrada e conhecida mundo afora pelos golpes, pelo desserviço e pela facilidade com que flertam com o golpe político e a perpetuação no poder.

Autor: Rafael Moia Filho – Escritor, Blogger e Graduado em Gestão Pública.

10 de novembro de 2019

Querem provar o que não existe!

“Não se pode raciocinar com os fanáticos.
Temos de ser mais fortes que eles.”
Émile-Auguste Chartier, “Alain”.

Recebi outro dia uma mensagem de WhatsApp que continha uma comemoração pelos 300 dias de gestão do atual presidente, com supostas 100 realizações ao longo deste período. Seria cômico não fosse trágico, pelo fato de que em primeiro lugar muitas das citações sejam mentiras, outras tantas não possam ser classificadas como “realizações’ de um governo federal.
Para exemplificar melhor cito algumas entre as cem elencadas: a) Bolsa de valores alcança 100 mil pontos pela primeira vez; b) Trabalhou com colostomia durante meses; c) Foi ao aniversário do filho de sua assessora com o tema de Bolsonaro;
Não precisa ser economista ou expert em mercado financeiro para saber que isso não tem nada a ver com o desempenho do governo federal, nem nunca teve. Ter despachado alguma coisa no hospital contrariando a equipe médica não é motivo de classificação como “realização”. E por fim, a presença em aniversário virou algo que devemos enaltecer na gestão pública?
Pelas três afirmações acima o leitor pode ter uma vaga ideia do desconhecimento completo do autor do que sejam realizações ou Gestão Pública. Esse fanatismo aflorou desde a campanha eleitoral misturando algumas verdades com muitas mentiras (Fake News) divulgadas nas redes sociais e no WhatsApp.
Nunca em tempo algum presenciei esse tipo de situação. Em São Paulo na década de setenta, quando malufismo estava no auge e MP agia com a mesma sonolência com que age nas investigações dos políticos do PSDB, os fanáticos falavam das realizações de Maluf, a diferença é que podíamos questionar o custo das obras, porém, não a sua importância.
Isso aconteceu nos tempos de Jânio Quadros e Adhemar de Barros quando os dois rivalizavam na política paulista. Entretanto nada se compara ao que estamos vivenciando desde que Bolsonaro oficializou sua candidatura à presidência da república em 2018. Difícil entender essa necessidade mórbida de mentir para justificar o que não está sendo realizado.
Talvez o motivo seja a vergonha perante amigos e parentes de assumir a verdade sobre a gestão de Bolsonaro. que é fraca, com muitos atritos, problemas de relacionamento entre os 3 Poderes, agressividade desnecessária para com lideres de outras nações (França, Alemanha, Argentina, etc.).
Chama a minha atenção o fato de que na lista de cem realizações não conste as palavras: Saúde Pública, Cultura, Educação, Segurança Pública, Habitação Popular e Empregos. Isso por si, já define o que foram estes primeiros 300 dias de gestão e Bolsonaro.
Pode mudar? Tempo há para isso, afinal de contas restam ainda aproximadamente 860 dias de prazo para que o governo realize algo que possa ser quantificado e qualificado como ótimo, bom, razoável, ruim ou péssimo pela sociedade brasileira, em particular pelos eleitores que vão julgar a gestão apenas em outubro de 2022.

Autor: Rafael Moia Filho – Escritor, Blogger e Graduado em Gestão Pública.

8 de novembro de 2019

A mentira como instrumento de poder!

Nada mais confortável do que ler apenas o que queremos acreditar. E políticos descobriram que podem sequestrar essa massa a seu favor e operar em um terreno fértil.

Manifestante faz foto durante ato no Rio de Janeiro em apoio ao então candidato Jair Bolsonaro, em outubro/18 Tânia Rêgo (Agência Brasil)

A Primeira Guerra Mundial mudou a história da civilização. A partir daquele momento, atrocidades ganhariam uma nova dimensão, e o que a Europa viveu entre 1914 e 1918 abalaria os pilares da sociedade.
Ao fim do conflito, um esforço internacional se concretizou na criação de uma estrutura que tentaria impedir que aquela tragédia voltasse a ocorrer. O projeto ganhou sede em Genebra, recursos e milhares de horas de reuniões. Mas a Liga das Nações fracassaria alguns anos depois.
Um outro fenômeno ainda mais revelador, porém, foi notado nos anos que se seguiram ao fim do conflito. Cientistas de diversas áreas, profundamente machucados pela perda de alguns ou de todos os seus filhos nas trincheiras, passaram a recorrer a médiuns para que pudessem entrar em contato com os mortos.
Desesperados, sem razão para viver ou acreditar, muitas daquelas mentes optaram por colocar a ciência de lado e simplesmente acreditar que poderiam falar com seus filhos. A história comovente é contada por Jay Winter, em seu livro Sites of Memory, Sites of Mourning. Feridos em suas almas, alguns deles deixaram suas convicções científicas na busca incerta por uma solução para sua dor.
Tal história pode ajudar a decifrar o motivo pelo qual, em plena era da internet, da ciência, do conhecimento e do acesso à informação, uma parcela da sociedade escolhe em acreditar numa promessa não comprovada, numa esperança, numa ilusão.
Diante de um mundo repleto de incertezas e do questionamento constante da suposta normalidade, não é de se estranhar que aqueles desconfortáveis com o aparente mal-estar saiam em busca de promessas, certezas e de garantias, ainda que fabricadas e mentirosas. E nada mais confortável do que ler apenas o que queremos acreditar. Sem contraditório, sem desconstrução.
Minada profundamente em seu orgulho, com um exército de desempregados, corrupção, 60 mil assassinatos e descobrindo que não existe um atalho para o desenvolvimento, uma parte da sociedade brasileira optou por apenas consumir o que possa confirmar as teses sobre as quais está construída. Infelizmente, muitas delas são racistas e autoritárias.
E um grupo no poder descobriu rapidamente que, com atalhos intelectuais, poderia sequestrar essa massa a seu favor e operar em um terreno fértil.
A desinformação não é uma novidade de nossa era. Governos mantiveram por décadas operações de enormes proporções para censurar e manipular a opinião pública. Desta vez, seus artífices possuíam um enorme arsenal tecnológico, com um poder inimaginável há apenas poucos anos.
Assim, nesse contexto, prosperaram pseudonotícias como a do "Kit Gay", a ameaça comunista iminente, a tese de que os termômetros estão nos locais errados, o poder ilimitado do Foro de São Paulo, o questionamento do formato do planeta e mesmo ideias conspiratórias de um astrólogo de rede social. A última dessas peças de desinformação foi transmita em rede nacional e dentro do próprio parlamento quando um blogueiro citou um suposto esquema de troca de armas nucleares entre Brasil e Cuba.
Sobre a enxurrada de elementos tóxicos, acompanham discursos de líderes charlatões especializados na venda de ilusões. Contam meias-verdades, apresentam falsas soluções simplistas e deixam uma brecha de silêncio suficiente para que aquelas populações preencham os vazios com seus preconceitos, temores e angústias.
Com um exército de contas falsas em redes sociais e uma milícia real pelo mundo digital, a receita está pronta para transformar aquela versão dos fatos na verdade chancelada para a manipulação. Uma vez mais, nada de novo. Basta ver as estratégias adotadas pela Stasi ou da KGB para fazer implodir grupos de resistência com base na mentira, na divulgação de falsos informes e na destruição de reputações.
No século 21, essas informações fabricadas de forma deliberada vieram seguidas por um ataque diário contra os meios de comunicação, numa estratégia orquestrada de deslegitimar qualquer questionamento.
Constrói-se a legitimidade de canais paralelos da realidade, enquanto pilares da democracia são abalados numa estratégia por parte de um grupo que sabia que encontraria terreno fértil. A mentira, portanto, passa a ser um instrumento de poder. E não é por acaso que, a cada quatro dias, o presidente Jair Bolsonaro dá uma declaração falsa ou imprecisa, segundo um levantamento do jornal Folha de S.Paulo. Não são deslizes. É um método.
Ela serve a várias funções: desviar a atenção das massas e da imprensa para evitar temas estruturais, recriar o passado para justificar decisões futuras ou simplesmente confundir atores que não ousariam cruzar essa linha.
A luta contra a desinformação certamente passa por uma questão de tecnologia e de Justiça. Mas o uso deliberado da angústia de uma população e o grau de aceitação de tais “notícias” devem servir de alerta para que se compreenda a dimensão dos problemas que se enfrenta.
Não bastará fechar um site e punir um difusor de desinformação se temos, ao mesmo tempo, um dos filhos do presidente, Carlos, confortavelmente publicando uma foto armado: de uma pistola e de um computador.
O antídoto terá de passar por uma sólida reação das instituições, por respostas sociais, pelo diálogo, pela aceitação das regras do jogo democrático e por um modelo que mostre que um caminho sustentável exige um longo trabalho. Também passa por uma educação que ensine a pensar, criticar e desconstruir. Não apenas a ser "útil" para o mercado de trabalho. Uma verdadeira insurreição das mentes numa sociedade dividida e fragilizada não será construída da noite para o dia. No fundo, terá de ser permanente. Enfrentar a realidade da manipulação exigirá lidar com a dor, aceitar o contraditório, questionar as autoridades e construir uma sociedade em que líderes defendam os direitos de todos. Inclusive de seus adversários.
Desmontar o atual Zeitgeist será uma missão tão penosa quanto necessária. Mas a busca não poderá ser por um novo partido no poder ou pela troca – uma vez mais – de ideologia. Mas uma busca pela civilização. O debate sobre desinformação, portanto, não é sobre tecnologia. É sobre sociedade e democracia. E vai exigir muito mais que um debate na Câmara dos Deputados, regado a meias-verdades e muitas mentiras.

Autor: Jamil Chade é correspondente na Europa desde 2000, mestre em relações internacionais pelo Instituto de Altos Estudos Internacionais de Genebra e autor do romance O Caminho de Abraão (Planeta) e outros cinco livros.

7 de novembro de 2019

Promiscuidade!

A ideia era fazer um churrasco, mas com aqueles vizinhos, os espetos seriam fatalmente transformados em espadas.
No mesmo condomínio da Barra, no Rio, onde mora o presidente da República, quando não está em Brasília, mora um filho do presidente, mora um dos suspeitos de ter matado a Marielle (preso, no momento), mora o dono até agora não identificado da casa onde encontraram todas aquelas armas, moram os três porquinhos pobres e o lobo mau, que compreensivelmente não se falam quando se cruzam na área social do condomínio, moram Cinderela e suas irmãs invejosas, que também não podem se enxergar, e uma lista de condôminos inimagináveis que só agora começa a ser conhecida. A lista é enorme e cheia de surpresas.
No estranho condomínio, Batman e o Coringa são quase vizinhos. Quem se espanta com a presença do suposto assassino da Marielle morando tão perto de um presidente da República vai se espantar ainda mais com a revelação de que as armas – sobre as quais nunca mais se ouviu falar – tinham chegado para a milícia da zona, via Sedex, e recebidas pelo porteiro do condomínio. Mais tarde o porteiro diria que vira o tamanho dos pacotes e as pontas de ferro aparecendo e concluíra que eram patinetes.
Lá estão Zorro e o Capitão Garcia, lá estão Eliot Ness e Al Capone, lá estão Tom e Jerry morando na mesma casa, mas em eterna briga pelo uso da piscina. Lá estão desafetos históricos vivendo numa promiscuidade improvável da qual ninguém tinha ideia. Sherlock Holmes e o dr. Moriarty! 
A intervalos, há trégua entre os vizinhos para tentar diminuir a tensão causada pela promiscuidade insana. Os Montecchios e os Capuletos, que ocupam lados opostos do condomínio e vivem em constantes choques dos quais nunca ficamos sabendo, unem-se para fazer uma macarronada comunitária. A ideia original era fazer um churrasco, mas os espetos acabariam fatalmente transformados em espadas. O banho de sangue seria inevitável. 

Autor: Luis Fernando Verissimo, O Estado de S. Paulo

4 de novembro de 2019

O enigma chileno!

         A onda de protestos contra o Governo de Piñera é uma mobilização das classes médias, como a que agita boa parte da Europa, e tem pouco ou nada a ver com as erupções latino-americanas dos que se sentem excluídos do sistema.
Dentro da catastrófica quinzena que foi esta para a América Latina –derrota de Macri e retorno do peronismo com a senhora Kirchner na Argentina, fraude escandalosa nas eleições bolivianas que permitirá ao demagogo Evo Morales se eternizar no poder, agitações revolucionárias dos indígenas no Equador–, há um fato misterioso e surpreendente que me nego a emparelhar com os mencionados: a violenta explosão social no Chile contra a alta dos bilhetes do metrô, os saques e a destruição, os vinte mortos, os milhares de presos e, por último, a manifestação de um milhão de pessoas nas ruas protestando contra o Governo de Sebastián Piñera.
Por que misterioso e surpreendente? Por uma razão muito objetiva: o Chile é o único país latino-americano que travou uma batalha eficaz contra o subdesenvolvimento e cresceu nestes anos de maneira assombrosa. Embora eu saiba que os relatórios internacionais não comovem ninguém, recordemos que a renda per capita chilena é de 15 mil dólares anuais (e em poder aquisitivo é de 23 mil dólares, segundo órgãos como o Banco Mundial). O Chile acabou com a pobreza extrema e em nenhuma outra nação latino-americana tantos setores populares passaram a fazer parte das classes médias.
Goza de pleno emprego, e os investimentos estrangeiros e o desenvolvimento notável de seu empresariado e seus técnicos fizeram com que seu nível de vida subisse velozmente, deixando muito para trás os demais países da região. No ano passado viajei pelo interior chileno e fiquei maravilhado ao ver o progresso que se manifestava em toda parte: os lugares esquecidos de trinta anos atrás são hoje cidades pujantes, modernas e com nível de vida muito alto, levando em conta os padrões do Terceiro Mundo.
Por isso o Chile quase já deixou de ser um país subdesenvolvido e está mais perto do Primeiro Mundo que do Terceiro. Isto não se deve à ditadura feroz do general Pinochet. Deve-se ao resultado do referendo de 31 anos atrás com o qual o povo chileno pôs um ponto final à ditadura (e em que, além do mais, Piñera fez campanha contra Pinochet) e ao consenso entre a esquerda e a direita para manter uma política econômica que trouxe gigantescos progressos ao país.
Em 29 anos de democracia a direita só governou cinco anos e a esquerda –ou seja, a Concertação–, 24. Não é descabido afirmar, portanto, que a esquerda contribuiu mais que ninguém para que aquela política, de defesa da propriedade e das empresas privadas, o estímulo aos investimentos estrangeiros, a integração do país nos mercados mundiais e, claro, as eleições livres e a liberdade de expressão, tivessem levado ao extraordinário desenvolvimento do Chile. Um progresso de verdade, não só econômico, como também ao mesmo tempo político e social.
Como explicar, então, o ocorrido? Para entender é imprescindível dissociar o que se passou no Chile do levantamento camponês equatoriano e das desordens bolivianas pela fraude eleitoral. A que comparar, então, a explosão chilena? Ao movimento francês dos coletes amarelos, antes melhor, e ao grande mal-estar que há na Europa denunciando que a globalização aumentou as diferenças entre pobres e ricos de modo vertiginoso e pedindo uma ação do Estado que a freie.
É uma mobilização das classes médias, como a que agita boa parte da Europa, e tem pouco ou nada a ver com as erupções latino-americanas dos que se sentem excluídos do sistema. No Chile ninguém está excluído do sistema, embora, sem dúvida, a disparidade entre os que têm e os que mal começam a ter algo seja grande. Mas esta distância se reduziu muito nos últimos anos.
O que falhou, então? Acredito que um aspecto fundamental do desenvolvimento democrático que os liberais postulamos: a igualdade de oportunidades, a mobilidade social. Esta última existe no Chile, mas não de maneira tão eficaz a ponto de frear a impaciência, perfeitamente compreensível, daqueles que passaram a fazer parte da classe média e aspiram a progredir mais e mais graças a seus esforços.
Ainda não existe uma educação pública de primeiro nível, nem uma saúde que concorra com sucesso com a privada, nem aposentadorias que cresçam no ritmo dos padrões de vida. Este não é um problema chileno, mas algo que o Chile compartilha com os países mais avançados do mundo livre. Uma sociedade admite as diferenças econômicas, os distintos níveis de vida, só quando todos têm a sensação de que o sistema, precisamente pelo quanto é aberto, permite em cada geração que haja progressos individuais e familiares notáveis, ou seja, que o êxito –ou o fracasso– esteja no destino de todos. E que isso se deva ao esforço e à contribuição feita ao conjunto da sociedade, não ao privilégio de uma pequena minoria. Esta é, provavelmente, a matéria pendente no progresso chileno, como sustenta, em um inteligente ensaio, o colombiano Carlos Granés, cujas opiniões em grande parte compartilho
A obrigação nesta crise do Governo chileno não é, portanto, de dar volta atrás em suas políticas econômicas, como pedem alguns enlouquecidos que gostariam que o Chile retrocedesse até se tornar uma segunda Venezuela, mas de completá-las e enriquecê-las com reformas na educação pública, na saúde e nas aposentadorias até dar ao grosso da população chilena –que em toda sua história nunca esteve melhor que agora– a sensação de que o desenvolvimento inclui também essa igualdade de oportunidades indispensável em um país que escolheu a legalidade e a liberdade, e rejeitou o autoritarismo. A Justiça tem que estar no coração da democracia e todos têm de sentir que a sociedade livre premia os esforços, e não as conexões e os pistolões.
O segundo homem da “revolução venezuelana”, o tenente Diosdado Cabello, teve a desfaçatez de dizer que todas as mobilizações e tumultos latino-americanos se devem a que um “terremoto chavista” está soprando sobre o continente. Não parece ter se inteirado de que quatro milhões e meio de venezuelanos fugiram de seu país para não morrer de fome, porque na Venezuela socialista destes dias só comem como se deve quem está no poder e seus comparsas, ou seja, aqueles que roubam, traficam e desfrutam dos típicos privilégios que as ditaduras e extrema esquerda (e as de direita, com frequência) concedem a seus súditos submissos.
Não é impossível que agitadores venezuelanos, enviados por Maduro, tenham turvado e agravado as reivindicações dos indígenas equatorianos, e até dado uma mão a Cristina Kirchner em seu retorno ao poder, meio oculta sob o guarda-chuva do presidente Fernández, mas, no Chile, certamente que não. Que na cúpula venezuelana celebrem com champanhe francês as dores de cabeça do Governo de Piñera, dá-se como certo. Mas que seja o motor da revolta, é inconcebível, por mais que tenha sido justo a meninada quem queimou vinte e nove estações de metrô de Santiago e fez pichações em favor do socialismo do século XXI (o paradoxal é que esses moleques nem sequer pagam a passagem do metrô: sua carteirinha estudantil os exclui desse expediente).

Autor: Mario Vargas Llosa – El País

1 de novembro de 2019

O reflexo da ausência da educação de qualidade!

É hora de muitos experimentarem àquela estranha
sensação do uso do raciocínio em nosso país.
Fernando Pinho

O Brasil possuí aproximadamente 11,3 milhões de brasileiros com mais de 15 anos que são analfabetos. Some-se a eles os analfabetos funcionais, que são aqueles com incapacidade de compreender textos simples. Tais pessoas, mesmo capacitadas a decodificar minimamente as letras, geralmente frases, textos curtos e os números, não desenvolvem habilidade de interpretação de textos e de fazer operações matemáticas.
O Indicador Nacional de Analfabetismo Funcional - Inaf em 2018, apontou que cerca de 30% dos brasileiros entre 15 e 64 anos são analfabetos funcionais.
Esses dados alarmantes indicam que aproximadamente 49 milhões de brasileiros do total de 210 milhões de habitantes do país são analfabetos completos ou funcionais. Enquanto isso assistimos à preocupação única do atual Ministro da Educação com ideologia. Nenhuma ação prática, nenhuma estratégia, nada que possa reduzir esses dados alarmantes.
Se num exercício ainda maior incluirmos a essa população os brasileiros que concluíram o segundo grau (ensino médio), num ambiente sem a qualidade necessária para fornecer uma base sólida de ensino e conhecimento ao aluno, teremos a razão para tantos problemas enfrentados em diversos setores do país.
Percebemos problemas graves em vários setores da sociedade, onde é nítida a falta de educação, como no trânsito por exemplo, onde as pessoas desconhecem as regras do trânsito, o teor das placas de sinalização.
Os alunos não aprendem o esperado e o sistema não garante sequer que todos cheguem até o final do ensino médio. O que parece ficar nas sombras são os efeitos dessa situação. Indivíduos sem educação de qualidade tendem a sofrer mais com o desemprego, e os que estão empregados recebem salários menores.
A educação é também um escudo contra a violência. Há diminuição de 2% dos homicídios a cada 1% a mais de jovens entre 15 e 17 anos na escola, apontam estudos e pesquisas do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada).
A baixa qualidade educacional prejudica ainda a economia. São necessários quatro trabalhadores brasileiros para produzir o que um americano produz, de acordo com a consultoria The Conference Board, organização norte-americana que reúne empresas e pesquisadores.
A dura realidade é que sem uma educação de qualidade, com professores bem remunerados e plenamente capacitados, que prepare para a vida, cidadania e mercado de trabalho o Brasil está condenando suas crianças e jovens à exclusão social. Mais emprego e renda, qualidade de vida e aprendizado para conviver em sociedade são avanços que começam nas salas de aula. E a virada de jogo nas crises política e econômica do país, também. Precisamos mudar e mudar já.
Entretanto, não percebemos no atual governo, assim como nos anteriores, vontade política de realizar uma revolução na Educação do nosso país. Para fazê-lo seria preciso uma completa reestruturação do MEC, em seguida o esforço de transformar o currículo escolar numa agenda que priorize a formação do jovem para o mundo moderno, para o futuro.
A transformação começa nas salas de aulas, porém, deve ser apoiada por um pensamento único em todo país – Só a Educação de qualidade salva o futuro do nosso imenso país.

Autor: Rafael Moia Filho é Escritor, Blogger e Graduado em Gestão Pública.

As transformações que estão mudando o mundo!

A utopia está lá no horizonte.
Aproximo-me dois passos, ela se afasta dois passos.
Caminho dez passos, ela se afasta dez passos.
Por mais que eu caminhe jamais a alcançarei.
A Utopia serve para que jamais
deixe de caminhar em sua direção.
Eduardo Galeano

As manifestações populares ao redor do mundo mostram claramente uma transformação que não passa apenas pela insatisfação dos povos em relação aos seus governantes. Elas têm se acentuado nos últimos meses deste conturbado ano de 2019.
A linda Barcelona está em polvorosa com a antiga reivindicação de separação da Catalunha da Espanha. As prisões dos lideres deste movimento iludiram a policia e a inteligência do governo espanhol por alguns meses, porém, a fúria voltou as ruas com o dobro de pessoas e uma vontade única de separar-se de vez do julgo do governo espanhol. Se estão certos ou não a história no futuro dirá e poderá julgar todos os fatos e suas consequências.
No Líbano, milhares de pessoas tomaram as ruas em outubro para protestar vigorosamente contra o governo e sua incapacidade de resolver a grave crise econômica que afeta a sociedade libanesa. As manifestações, que acontecem pelo quarto dia consecutivo, são as maiores no país nos últimos cinco anos.
Os protestos, iniciados na quinta-feira, continuaram na capital, Beirute e em outros pontos do país, desde Trípoli e Akkar, no Norte, até Tiro e Nabatieh, no Sul, passando por áreas centrais. Os manifestantes agitavam bandeiras libanesas e cantavam: "O povo quer derrubar o regime".
A divulgação do governo libanês da criação de novos impostos, justificados como parte de medidas de austeridade para enfrentar uma crescente crise econômica. "As pessoas não aguentam mais", avisou Nader Fares, um manifestante no centro de Beirute, acrescentando que está desempregado. "Não há boas escolas, eletricidade e água", alertou.
Neste sentido, o estopim das manifestações, foi o anúncio de uma taxa para chamadas feitas através da internet, como pelo aplicativo de mensagens WhatsApp dentro do programa de austeridade. A medida, entretanto, foi retirada devido à pressão das ruas. Casos de corrupção e de má gestão governamental intensificaram a revolta da população.
Na América do Sul, o Chile ferve e milhões estão nas ruas protestando contra recém Reforma da Previdência implantada naquele país, a desigualdade crescente e a situação da economia claudicante do Chile. O estopim das manifestações vigorosas nas ruas chilenas foi o decreto de aumento dos transportes públicos. O governo pensou que eram atos isolados e feitos por baderneiros, porém, alguns dias depois, o presidente chileno Sebastián Piñera, percebeu seu erro de avaliação, pediu desculpas, revogou medidas, aumentou o salário mínimo e até pediu aos seus ministros que renunciassem aos cargos. Nada disso garantiu a trégua dos manifestantes que chegaram a colocar mais de um milhão de pessoas nas ruas de Santiago.
As eleições na Argentina, Uruguai e Bolívia mostram que o cidadão está muito atento aos destinos de seus países, confrontam ideias, exigem mudanças na economia, no trato com o meio ambiente e na forma de governar seus países.
A exceção fica por conta do maior país da América do Sul, o Brasil elegeu um deputado inepto por 28 anos, dentro de um partido pequeno, lotado de fisiologistas, oportunistas e com muitas suspeitas de fraudes através de candidaturas laranjas.
Sua gestão em dez meses não atacou o desemprego, nem estabilizou a economia, mantém a saúde e a educação em terceiro plano e, se caracteriza por agressões verbais inúteis tanto quanto desnecessárias que isolam o Brasil de grandes nações. Sua verborragia inútil contribui para o fracasso do acordo do Mercosul com a União Europeia, podendo inclusive levar ao esfacelamento do Mercosul, trazendo aos empresários brasileiros um prejuízo monstruoso para seus negócios.

Autor: Rafael Moia Filho – Escritor, Blogger e Graduado em Gestão Pública