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18 de junho de 2025

O império em ruínas, a barbárie em Gaza e o futuro que emerge!

  

Palestinos deslocados retornam para suas casas enquanto caminham perto de um ataque israelense durante o conflito, em meio à trégua temporária entre o Hamas e Israel, em Khan Younis, Faixa de Gaza.

O império está ruindo. Sua farsa não se sustenta mais. Mas ele ainda é perigoso.

Vivemos um tempo perigoso. As instituições que sustentaram a chamada ordem internacional, chefiada pelos Estados Unidos, se revelam apodrecidas, incapazes de esconder sua verdadeira face: a da opressão, do lucro acima da vida e do uso brutal da força para manter privilégios coloniais. Ao mesmo tempo, o império que prometeu liberdade e democracia exporta repressão, censura, desigualdade e, mais recentemente, genocídio.

Enquanto a crise social se aprofunda dentro dos próprios Estados Unidos, com protestos sendo sufocados à força, líderes sindicais sendo presos, direitos civis sendo esmagados sob o pretexto de segurança nacional, o mundo assiste ao massacre sistemático do povo palestino com a chancela da Casa Branca. Gaza virou um campo de extermínio a céu aberto. E não há exagero algum em dizer isso. Centenas de milhares de pessoas desalojadas, milhares de crianças mortas, hospitais bombardeados, alimentos negados. É um cerco medieval com armamentos do século XXI, financiado pelo maior império militar da história da humanidade.

A cumplicidade estadunidense com Israel no massacre da Palestina não é exceção, é regra. Reflete a lógica imperial que sempre guiou a política externa dos Estados Unidos: garantir aliados submissos, assegurar o controle sobre recursos estratégicos e sufocar qualquer voz de resistência. Apoiar Israel significa, para Washington, manter um bastião armado no Oriente Médio, uma base avançada para seus interesses no petróleo, no comércio de armas e na geopolítica global. Pouco importam as vidas palestinas. Para o império, elas são descartáveis. São "efeitos colaterais", como disseram em outras guerras, no Vietnã, no Iraque, no Afeganistão, na Líbia, na Síria.

A mesma mão que empurra as bombas em Gaza é a que fecha as portas para imigrantes na fronteira mexicana, que ergue muros, que prende quem protesta, que arma a polícia para matar negros nas periferias de suas próprias cidades. O império é coerente em sua brutalidade. Não distingue o inimigo externo do inimigo interno. Para os donos do capital, todos que ousam questionar a ordem são tratados como ameaça: sejam camponeses na Faixa de Gaza, grevistas em Chicago ou trabalhadores organizados em Los Angeles.

É nesse cenário que Donald Trump ressurge com força. Não como exceção, mas como expressão mais transparente dessa lógica de dominação. Ele é o rosto do autoritarismo que sempre existiu na política norte-americana, mas agora sem máscaras. Promete limpar o “pântano de Washington”, mas na verdade quer torná-lo ainda mais podre, entregando o governo ao fundamentalismo religioso, à supremacia branca e aos interesses corporativos. Seu projeto não é novo. É o velho fascismo pintado com as cores da bandeira americana. E há milhões prontos para segui-lo, armados, ressentidos, manipulados.

A deportação de imigrantes, a militarização da Guarda Nacional, os ataques aos direitos civis, a criminalização de protestos, o uso seletivo do Judiciário para perseguir opositores, a censura disfarçada de combate à desinformação – tudo isso mostra que a democracia americana está sendo desmontada de dentro para fora. A democracia liberal, tão vendida como modelo ao mundo, não passa de um espetáculo encenado para esconder a dominação de classe. Quando a classe dominante se sente ameaçada, joga fora o script. Foi assim na ditadura do Chile, no golpe contra o PT, na perseguição a Julian Assange. Está sendo assim agora.

Mas o mundo não é mais o mesmo. O domínio unilateral dos Estados Unidos encontra resistência. Não apenas nas ruas de Nova York, onde milhares protestam contra o genocídio em Gaza. Não apenas nos bairros operários que rejeitam o discurso de ódio e violência. A resistência se fortalece também nos espaços internacionais, na articulação entre países que recusam o papel de colônias submissas. O BRICS é hoje muito mais do que um bloco econômico. É um sinal de que a ordem imperial pode ser desafiada.

Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul e agora países como Irã, Egito e Arábia Saudita começam a construir uma outra rota. Não porque sejam perfeitos, mas porque têm a coragem de dizer não à chantagem do dólar, aos tratados desiguais, ao domínio dos bancos norte-americanos. Começam a fazer comércio em moedas locais. Criam seus próprios sistemas financeiros. Defendem uma nova governança global. Isso assusta os senhores da guerra. Porque, no fundo, sabem que estão perdendo o monopólio da força e da mentira.

A América Latina precisa acordar para esse momento histórico. Nós, que já sofremos os golpes financiados pela CIA, que vimos nossos líderes assassinados, que enfrentamos ditaduras apoiadas por Washington, sabemos o que está em jogo. Sabemos que a democracia deles sempre foi um privilégio para poucos e um castigo para os pobres. Sabemos que a liberdade deles termina onde começa a nossa soberania. E sabemos, mais do que nunca, que não temos nada a ganhar com a submissão.

O povo palestino nos lembra, com sua dor e sua resistência, que nenhum império é invencível. Que um povo que luta não se rende. Que mesmo diante da destruição total, a dignidade não pode ser apagada. Gaza não é apenas uma tragédia. É também um grito. Um chamado à solidariedade entre os povos. Um lembrete de que não existe liberdade real enquanto houver colônia, apartheid e ocupação. O que fazem com a Palestina hoje é o que tentaram fazer com toda a periferia do mundo. Mas os tempos mudam.

É hora de ampliar nossa voz. Fortalecer a integração do Sul Global. Avançar na construção de uma nova ordem baseada na paz, na soberania, na justiça social. Reforçar nossas alianças populares. Valorizar o trabalho, a cultura, os saberes dos povos. Rejeitar a guerra como instrumento de poder. Substituir o lucro como medida de valor. Apostar na vida.

O império está ruindo. Sua farsa não se sustenta mais. Mas ele ainda é perigoso. Ainda mata. Ainda mente. Ainda corrompe. Por isso, a luta precisa ser firme. Precisamos de coragem para dizer não. De organização para resistir. De imaginação para construir.

Porque um novo mundo não é apenas possível. Ele já começou. Está nas ruas da Palestina. Nos sindicatos criminalizados dos EUA. Nos fóruns populares da África. Nas universidades públicas da América Latina. Na voz de cada trabalhador que recusa a barbárie e defende a esperança. Na convicção de que, por mais longo que seja o caminho, a história ainda pertence àqueles que se levantam. 

Autor: Henrique Pizzolato - Ex-sindicalista bancário; ex-presidente da CUT Paraná; ex-diretor da Previ e do Banco do Brasil; militante de Direitos Humanos e membro da Rede Lawfare Nunca Mais. Publicado no Site Brasil 247.

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