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4 de junho de 2025

Big techs e a ameaça às democracias!

 

Imagem Freepik.

“Big Techs" é o termo usado para se referir às grandes empresas de tecnologia que dominam seus mercados, possuem enorme influência econômica, social e até política, e estão presentes na vida de bilhões de pessoas. Elas atuam em setores como tecnologia da informação, redes sociais, e-commerce, publicidade digital, computação em nuvem, inteligência artificial e muito mais.

As novas tecnologias não são neutras e exercem implicações diretas na dinâmica social, política e econômica, colocando em risco, inclusive, a democracia. Quando elas conseguem afetar tanto a esfera pública quanto o setor privado, as tecnologias emergentes, como a internet, as redes sociais e a inteligência artificial passam a ser instrumentos que podem ser usados para manipular opiniões, controlar e direcionar o comportamento das pessoas. É primordial que se faça uma reflexão dos paradoxos e limites éticos das novas tecnologias e seus impactos na organização política e na democracia contemporânea. Um dos paradoxos discutidos é que “nunca tínhamos tido tanto acesso à informação, mas, ao mesmo tempo, nunca estivemos tão mal informados”.

Segundo os pesquisadores, isso pode ocorrer em grande parte pela saturação dos dados que circulam na internet, que, em vez de promover uma compreensão mais profunda dos assuntos, acaba os tornando mais difíceis de distinguir. Os robôs operados por grandes empresas de tecnologia (Meta, Microsoft, Amazon, Google, Apple) monitoram, avaliam e influenciam o comportamento dos usuários, direcionando o acesso à informação, aos debates políticos e às decisões dos cidadãos.

Exemplos de Big Techs: Google (Alphabet) – busca, publicidade, inteligência artificial, YouTube, Android, nuvem. Apple – hardware (iPhones, iPads, Macs), software (iOS, macOS), serviços (App Store, iCloud). Microsoft – software’s (Windows, Office), nuvem (Azure), inteligência artificial, LinkedIn, games (Xbox). Amazon – e-commerce, serviços de nuvem (AWS), inteligência artificial, streaming (Prime Vídeo). Meta (Facebook) – redes sociais (Facebook, Instagram, WhatsApp), metaverso, publicidade digital. Outras podem entrar no radar, como Tesla, Nvidia, Samsung, Alibaba, Tencent e ByteDance (TikTok), dependendo do contexto.

As Big Techs atuam em várias frentes, com algumas estratégias e práticas comuns:

Modelo de Negócio Baseado em Dados

Coletam dados de usuários (buscas, interações, localização, preferências) para: Melhorar produtos. Personalizar experiências. Vender publicidade ultra direcionada (especialmente Google, Meta e Amazon).

Ecossistema Fechado

Criam ambientes em que o usuário depende de seus próprios serviços, como: Apple: iPhone → iCloud → App Store → Apple Music → Mac. Google: Android → Google Maps → Gmail → YouTube → Google Ads. Isso fideliza o usuário e gera uma cadeia de consumo difícil de abandonar.

Escala Global

Elas operam mundialmente, impactando bilhões de pessoas simultaneamente, o que permite que cresçam de forma exponencial.

Monopolização e Aquisições

Compram startups e concorrentes menores (ex.: Facebook comprou WhatsApp e Instagram). Isso reduz a competição e consolida seu domínio.

Inteligência Artificial e Automação

Investem pesado em IA para: Melhorar produtos (buscas, recomendações, tradutores, assistentes virtuais). Automatizar processos internos. Aumentar a eficiência e os lucros.

Influência em Políticas Públicas

Fazem lobby em governos e influenciam decisões sobre regulamentações, impostos, privacidade de dados e concorrência. As Big Techs enfrentam críticas e investigações em vários países por: Práticas anticompetitivas (monopólio). Violação de privacidade. Manipulação de informações (fake news, desinformação). Impactos no mercado de trabalho (automação, gig economy). Concentração de poder econômico e social.

Nos últimos anos, as grandes empresas de tecnologia, conhecidas como big techs têm sido acusadas de coletar dados massivamente, muitas vezes sem o conhecimento ou consentimento dos usuários. Esse comportamento levanta sérias preocupações sobre privacidade e segurança, especialmente em países como o Brasil. Nosso país, infelizmente, tem se tornado alvo frequente de espionagem tanto de empresas quanto de governos estrangeiros. Durante o governo Bolsonaro, a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) realizou a compra de tecnologias de espionagem sem a devida transparência, gastando cerca de R$ 34,7 milhões em contratos sigilosos.

Equipamentos de vigilância, como a ferramenta Augury, permitiram o rastreamento contínuo da navegação de cidadãos, capturando dados detalhados de tráfego, incluindo credenciais de acesso às plataformas privadas​​. Além disso, há um crescente debate sobre a necessidade de regulamentação das atividades das big techs no Brasil. O Ministério das Comunicações defendeu recentemente a regulamentação e taxação dessas plataformas, argumentando que elas consomem uma parte significativa do tráfego de dados do país e faturam bilhões sem pagar impostos adequados​​.

A questão da espionagem e da falta de transparência nas compras de tecnologias de vigilância no Brasil é um alerta para a necessidade de uma regulamentação mais rígida e de medidas que garantam a soberania digital do país. Implementar políticas de proteção de dados e adotar tecnologias de software livre podem ser passos cruciais para assegurar que o conhecimento e os dados produzidos no Brasil permaneçam sob controle nacional.

Para nosso temor, a composição do Senado e Câmara Federal é composta por maioria de políticos de centro, direita e extrema-direita, que se recusam a discutir essas questões. Sempre que o assunto vem a pauta, eles simplesmente reduzem a discussão a questão pueril de “censura” por parte do governo. 

 Autor: Rafael Moia Filho – Escritor, Acadêmico da ABLetras, Blogger, Analista Político e Graduado em Gestão Pública.

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