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3 de abril de 2020

Compartimentos!

O conhecimento sempre foi único e fazemos divisões por matérias, disciplinas, níveis e grupos como forma de nos organizarmos, crendo que assim facilita a percepção e aquisição de tantos dados e informações. O conceito de universidade pressupõe a universalidade do saber, mas é pouco provável que um notável epidemiologista será também um sábio filósofo.
Por mais erudição que seja apregoada nos meios acadêmicos, o conceito universal se traduz em propiciar às várias facetas do saber seu convívio no mesmo espaço, esperando que tais esferas se interpolem de alguma maneira. Trabalhar em grupo, de forma conjunta, cada vez mais inter- e multidisciplinar é a característica da pesquisa científica moderna.
Resultados publicados contendo mais de uma centena de autores já não são incomuns. Mas, furar tais compartimentos é saudável e por isso faço minhas fortuitas inserções na literatura. #IniCiencias
Nos grupos de WhatsApp literários leio apenas as postagens referentes a essa atividade. Lamento, colegas, se ignoro ali suas opiniões políticas, os vídeos engraçados de animais e crianças e a proliferação de falsas notícias sobre tudo&todos. Mas postem uma crônica de sua autoria, alguns versos e sua produção artística que lá estarei lendo e admirando.
Até fiz alguma intervenção para denunciar as mentiras postadas, mas foi em vão, porque "a mentira é uma verdade que se esqueceu de acontecer", como poetizou Mario Quintana e adaptei para um artigo no início do ano para o Correio Popular de Campinas. Assuntos políticos levo para outros espaços e fóruns de discussão, nos quais possam ser verdadeiramente avaliados com contra-pontos, opiniões balizadas em um nível de embate inteligente inexistente naqueles referidos grupos. Meu celular não é dos mais modernos e também não tenho o hábito de tudo lançar para as nuvens guardarem. Assim, reservo algum tempo para apagar indistintamente esse enorme conjunto de postagens. E, infelizmente, resta muito pouco de arte literária.
O confinamento em compartimentos residenciais é experiência inédita para os que não haviam sido impedidos do livre ir e vir. Melhoramos nossa comunicação virtual e descobrimos outras formas de usar melhor o tempo, já discutimos isso. Mas me deparo com uma crise de abstinência inusitada: as bancas de Campinas não estão mais recebendo revistas mensais e semanais. Como passarei esse período sem a fundamental leitura de piauí, CULT, CartaCapital e Pesquisa Fapesp? Sim, esta última é a única que recebo em casa por ser pesquisador paulista com direito à assinatura. As outras terei de fazer assinatura e incluir a versão digital, pois é previsto que os entregadores também tenham de fazer o devido isolamento social. #ficaemcasa

Autor: Adilson Roberto Gonçalves é pesquisador da Unesp - Rio Claro.

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