O conhecimento sempre foi único e
fazemos divisões por matérias, disciplinas, níveis e grupos como forma de nos
organizarmos, crendo que assim facilita a percepção e aquisição de tantos dados
e informações. O conceito de universidade pressupõe a universalidade do saber,
mas é pouco provável que um notável epidemiologista será também um sábio
filósofo.
Por mais erudição que seja apregoada nos
meios acadêmicos, o conceito universal se traduz em propiciar às várias facetas
do saber seu convívio no mesmo espaço, esperando que tais esferas se interpolem
de alguma maneira. Trabalhar em grupo, de forma conjunta, cada vez mais inter-
e multidisciplinar é a característica da pesquisa científica moderna.
Resultados publicados contendo mais de
uma centena de autores já não são incomuns. Mas, furar tais compartimentos é
saudável e por isso faço minhas fortuitas inserções na literatura. #IniCiencias
Nos grupos de WhatsApp literários leio
apenas as postagens referentes a essa atividade. Lamento, colegas, se ignoro
ali suas opiniões políticas, os vídeos engraçados de animais e crianças e a
proliferação de falsas notícias sobre tudo&todos. Mas postem uma crônica de
sua autoria, alguns versos e sua produção artística que lá estarei lendo e
admirando.
Até fiz alguma intervenção para
denunciar as mentiras postadas, mas foi em vão, porque "a mentira é uma
verdade que se esqueceu de acontecer", como poetizou Mario Quintana e
adaptei para um artigo no início do ano para o Correio Popular de Campinas.
Assuntos políticos levo para outros espaços e fóruns de discussão, nos quais
possam ser verdadeiramente avaliados com contra-pontos, opiniões balizadas em
um nível de embate inteligente inexistente naqueles referidos grupos. Meu
celular não é dos mais modernos e também não tenho o hábito de tudo lançar para
as nuvens guardarem. Assim, reservo algum tempo para apagar indistintamente
esse enorme conjunto de postagens. E, infelizmente, resta muito pouco de arte
literária.
O confinamento em compartimentos
residenciais é experiência inédita para os que não haviam sido impedidos do
livre ir e vir. Melhoramos nossa comunicação virtual e descobrimos outras
formas de usar melhor o tempo, já discutimos isso. Mas me deparo com uma crise
de abstinência inusitada: as bancas de Campinas não estão mais recebendo
revistas mensais e semanais. Como passarei esse período sem a fundamental
leitura de piauí, CULT, CartaCapital e Pesquisa Fapesp? Sim, esta última é a
única que recebo em casa por ser pesquisador paulista com direito à assinatura.
As outras terei de fazer assinatura e incluir a versão digital, pois é previsto
que os entregadores também tenham de fazer o devido isolamento social. #ficaemcasa
Autor: Adilson Roberto Gonçalves é pesquisador da Unesp - Rio Claro.
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