Hoje, o fator de maior instabilidade
política no Brasil está localizado no Palácio do Planalto. É o Presidente Jair
Bolsonaro. É inacreditável o potencial negativo. A cada dia abre uma crise.
Isto quando o cenário político está relativamente calmo, em pleno recesso do
Legislativo e do Judiciário. Poderia aproveitar o vazio e ocupar o espaço do
noticiário com notícias positivas. Não, faz justamente o contrário. Agride os
opositores sem nenhuma razão. Tem uma obsessão pelo confronto. O ódio é o seu
combustível. Necessita agredir. Age de forma irracional, como um animal
incontrolável. É uma marca da sua personalidade.
No livro “O cadete e o capitão” de Luiz
Maklouf Carvalho, há uma passagem referente ao processo que Bolsonaro respondeu
por ter planejado atentados terroristas, em 1987. O coronel Pellegrino, que foi
seu superior hierárquico, descreveu assim sua personalidade: “tinha
permanentemente a intenção de liderar os oficiais subalternos, no que foi
sempre repelido, tanto em razão do tratamento agressivo dispensado a seus
camaradas, como pela lógica, racionalidade e equilíbrio na apresentação de seus
argumentos.” Lembrou que “nas rotinas de trabalho cotidiano, no exercício
permanente das funções de instrutor, formador de soldados, e de comandantes,
faltavam-lhe a iniciativa e a criatividade.” Acerca da aventura fracassada como
garimpeiro, em 1983, o coronel disse que o seu comportamento era “reflexo de
sua imaturidade e a exteriorização de ambições pessoais, baseadas em
irrealidades, aspirações distanciadas do alcance daqueles que pretendem
progredir na carreira pelo trabalho e dedicação.” (p.104)
O retrato psicológico tem mais de 30
anos, porém é absolutamente fiel ao Bolsonaro de 2019: falta de equilíbrio,
agressivo, irracional, sem criatividade, imaturo e vivendo em um mundo
imaginário. A diferença é que o tenente virou Presidente da República
Federativa do Brasil – justamente no momento que o país vive a crise econômica
mais grave do período republicano.
A sucessão de declarações desencontradas vai levar à desmoralização da autoridade presidencial. Bolsonaro não tem noção do que significa a Presidência da República. Acha que ainda está em seu gabinete na Câmara dos Deputados. Lá permaneceu 28 anos na obscuridade, sem relatar sequer um simples projeto. Poderia ter aproveitado o tempo para estudar. Contudo optou pelo panfletarismo barato.
A sucessão de declarações desencontradas vai levar à desmoralização da autoridade presidencial. Bolsonaro não tem noção do que significa a Presidência da República. Acha que ainda está em seu gabinete na Câmara dos Deputados. Lá permaneceu 28 anos na obscuridade, sem relatar sequer um simples projeto. Poderia ter aproveitado o tempo para estudar. Contudo optou pelo panfletarismo barato.
Afinal, saiu do Exército como um
fracassado, com péssimas notas e depois de uma prisão disciplinar humilhante de
15 dias. Sabia que nunca chegaria a um posto de destaque. Teria de estudar, se
dedicar diuturnamente à profissão. Queria enriquecer rapidamente. Servir à
Pátria era um estorvo. Voltando ao coronel Pellegrino: “Deu mostras de
imaturidade ao ser atraído por empreendimento de ‘garimpo de ouro.’ Necessita
ser colocado em funções que exijam esforço e dedicação, a fim de reorientar sua
carreira. Deu demonstrações de excessiva ambição em realizar-se financeira e
economicamente.” (p. 51) Isto pode explicar muita coisa, inclusive as
negociações nebulosas do gabinete do então deputado estadual Flávio Bolsonaro e
o seu chefe de gabinete Fabrício Queiroz. Sem esquecer as relações perigosas
com a milícia de Rio das Pedras.
O deslumbramento com o poder, a
submissão aos interesses norte-americanos, a incompreensão do que significa
interesse público, a irresponsabilidade no trato do dia-a-dia do governo, a
defesa da tortura e de soluções autoritárias, a sujeição aos Estados Unidos,
são as marcas da narrativa bolsonarista. Mantendo a coerência entreguista, o
alvo agora é o nosso subsolo, especialmente o das reservas indígenas. Ignorando
o que determina a Constituição (art. 231, § 3º), Bolsonaro quer autorizar a
mineração nas reservas indígenas (deseja também reduzi-las) e entregar a
exploração aos Estados Unidos. Declarou que esta será uma das tarefas do seu
filho (que, no momento, está surfando na Indonésia) como embaixador em
Washington.
Usou o helicóptero privado da
Presidência da República para transportar familiares ao casamento do seu filho
no Rio de Janeiro. Pior, achou natural o contribuinte pagar a imoralidade,
violando o caput do artigo 37 da Constituição. Foi a São Paulo, no último
sábado, somente para assistir in loco o jogo do seu time de coração, o
Palmeiras. Os gastos também correram por conta do contribuinte.
No dia anterior, demonstrando desprezo
pelo posto de Presidente da República, resolveu “enforcar” a sexta-feira.
Dedicou o dia para almoçar com o cantor Amado Batista em Goiás. Inacreditável!
Isto quando o país tem ¼ da população desempregada, vive uma crise de segurança
pública (basta citar a morte, ontem, de mais de 50 presos em presídio do Pará)
e a estagnação econômica permanece. Sem esquecer o ataque de ontem à OAB e o
elogio da tortura. Fica a pergunta: até quando o Brasil vai conviver com as
diatribes de Jair Bolsonaro? Ele precisa fazer mais o que?
Autor: Marco Antônio Villa – Publicado no
Blog do Villa e nos Jornais Correio Brasiliense e Estado de Minas.
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