O livro revela a sabedoria ancestral transmitida entre gerações e convida a refletir sobre democracia, dignidade e futuro. Escrevo movida pela emoção que senti ao acompanhar o lançamento de “Memórias do Cacique”, em Brasília. Estar diante de Raoni Mẽtyktire, ao lado dos netos, foi mais do que assistir a uma cerimônia: foi presenciar a força de uma liderança que atravessa gerações. Ali percebi que não era apenas um livro sendo lançado, mas a memória viva de um povo que insiste em nos lembrar que, sem floresta, não há futuro.
Um dos momentos mais marcantes para mim foi a fala inicial do cacique, quando destacou a urgência da preservação da Amazônia. Sua voz trazia a força da natureza e o chamado da ancestralidade, lembrando que a floresta é vida e que, sem ela, não existe amanhã. Suas palavras ecoaram como um alerta, e logo pensei em tudo o que se perdeu nos últimos anos: políticas ambientais desmontadas, invasões de terras, garimpo ilegal em expansão. Desde a chegada de Cabral, os povos indígenas resistem, atravessaram séculos de violências e seguem afirmando sua presença, sua cultura e seu direito de existir. Os retrocessos recentes custaram vidas e revelaram a violência de uma política de extermínio, mas também mostraram que, mesmo diante de tudo, os povos originários continuam lutando para existir.
É nesse contraste entre destruição e resistência que o gesto de Raoni ganha ainda mais sentido. Ao escrever sua autobiografia em família, com o apoio dos netos, ele reafirma que a luta não se faz apenas no enfrentamento ao inimigo, mas também na transmissão de saberes, na preservação da memória e na união entre gerações. O livro não é apenas um registro individual, mas um projeto coletivo que reforça que a história se mantém viva quando é partilhada. Em tempos em que tanto se tentou calar os povos indígenas, ver o cacique transformar sua trajetória em palavra escrita é um ato de resistência e esperança.
Reconstruir não é simples nem imediato. É um processo que exige compromisso coletivo e políticas públicas de Estado, como a reativação do Fundo Amazônia, o enfrentamento ao garimpo na Terra Yanomami e o Programa Cidadania Marajó. Essas medidas mostram que o país voltou a cuidar da floresta e de sua gente. E me deixa feliz e confiante perceber que temos hoje um Brasil soberano e ao lado do povo brasileiro, que reconhece sua história, protege sua gente e mantém viva a memória capaz de garantir dignidade e sustentabilidade para as próximas gerações.
“Memórias do Cacique” não é apenas uma autobiografia, mas parte essencial da história do Brasil e da luta pela democracia. Suas páginas reafirmam que proteger os povos originários é proteger também o futuro de todos nós.
Autora: Michelle Catarine Machado - Jornalista com experiência em comunicação institucional, política, mídias sociais e produção de conteúdos acessíveis e inclusivos. Publicado no Site Brasil 247.
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