Movimentação
em espécie de ex-assessor de Flávio é apontada em relatórios do Coaf!
Relatórios do Conselho de
Controle de Atividades Financeiras (Coaf) enviados ao Ministério Público
do Rio apontam que Fabrício Queiroz, ex-assessor do senador Flávio
Bolsonaro (PSL-RJ) na Assembleia Legislativa do Rio (Alerj), sacou R$
661 mil em dinheiro durante um período de 18 meses, entre janeiro de 2016 e
junho de 2018.
As movimentações consideradas atípicas
– detectadas originalmente pelo sistema de compliance do Banco Itaú, onde
Queiroz é correntista – foram anexadas pelos promotores ao pedido de quebra de
sigilo bancário e fiscal de Flávio, do ex-assessor e de outras 93 pessoas e
empresas no âmbito do inquérito que investiga o hoje senador por peculato
(desvio de dinheiro público por servidor) e lavagem de dinheiro.
Até agora, os dois principais
documentos conhecidos da investigação envolvendo o filho mais velho do
presidente Jair Bolsonaro eram relatório que apontava movimentações
(saques e depósitos) atípicas de R$ 1,2 milhão na conta de Queiroz ao longo de
2016, revelado pelo Estado em dezembro de 2018, e outro que reportava
48 depósitos fracionados de R$ 2 mil na conta de Flávio entre junho e julho de
2017.
Os novos registros mostram, segundo o
MP, que Queiroz “movimentou enormes volumes de créditos e saques em espécie”.
Só em retiradas de dinheiro foram R$ 146,4 mil entre janeiro e abril e de
outubro a dezembro de 2016; R$ 324,8 mil entre janeiro e março de 2017; e R$
190 mil entre novembro de 2017 e junho do ano passado. Nos mesmos períodos, de
acordo com o documento, a conta de Queiroz recebeu R$ 628,2 mil em créditos ou
depósitos.
Para os promotores, “as centenas de
depósitos e saques em espécie realizados de forma fracionada na mesma conta
corrente” de Queiroz “evidencia” a suspeita de que o ex-assessor de Flávio
recebia mensalmente parte do salário dos demais assessores, e “distribuía parte
do dinheiro a outros integrantes da organização criminosa”, através da prática
conhecida no meio político como “rachadinha”.
Os promotores lembram que o próprio
Queiroz admitiu em manifestação enviada por escrito – ele faltou aos
depoimentos presenciais – que arrecadava dinheiro dos demais colegas de gabinete,
mas não conseguiu provar até agora a versão de que usava esses recursos para
contratar assessores externos por fora, prática proibida pela Alerj. “Não há
evidências de que quaisquer pessoas tenham sido remuneradas pelos valores
desviados para a conta de Fabrício Queiroz”, afirmam os investigadores.
Inquérito
Investigação
criminal feita por promotores do Rio quebrou o sigilo bancário fiscal do
senador Flávio Bolsonaro (PSL), de seu ex-assessor Fabrício Queiroz e de outras
93 pessoas e empresas. Suspeita
levantada pelo Ministério Público - Indícios investigados.1
Funcionários
fantasmas
Nomeação
de assessores que não davam expediente na Assembleia ou escritório político do
parlamentar Flávio Bolsonaro. Então deputado estadual nomeia funcionários
fantasmas em seu gabinete na Assembleia do Rio!
Peculato
(desvio de dinheiro público por servidor)
Assessores
que não dão expediente ou têm outra fonte de renda repassam parte do salário a
Fabrício Queiroz. Nove ex-assessores depositavam mensalmente parte de seus
vencimentos na conta de Queiroz, prática conhecida como ‘rachadinha’
Lavagem
de dinheiro Fabrício Queiroz
48
depósitos de R$ 2 mil foram feitos na conta de Flávio entre junho e julho de
2017, segundo relatório do Coaf. Ex-motorista
de gabinete repassa dinheiro para outros integrantes da organização, incluindo
Flávio.
Lavagem
de dinheiro
Parlamentar
registra transações imobiliárias com valores fraudados para simular lucro e
encobrir enriquecimento ilícito decorrente de desvio de dinheiro da Assembleia.
Transações imobiliárias feitas com altas quantias em espécie, com valor de
compra subfaturado e valor de venda superfaturado, e com empresa com sede em
paraíso fiscal
Organização
criminosa
Esquema
teria funcionado entre 2007 a 2018 no gabinete de Flávio na Assembleia
Legislativa no Rio. Participação de diversos assessores, com certo grau de
estabilidade e permanência e divisão de tarefas.
Fonte:
Ministério Público do Rio de Janeiro.
O primeiro relatório do Coaf revelado
pelo Estado apontou que Queiroz recebeu depósitos de outros nove
assessores de Flávio e ainda emitiu um cheque de R$ 24 mil para a
primeira-dama, Michelle Bolsonaro. Segundo relato do presidente, o cheque
serviu para quitar um empréstimo feito por ele a Queiroz. Único assessor a
prestar depoimento ao MP, o policial militar Agostinho Moraes da Silva admitiu
que repassava R$ 4 mil do salário (de R$ 6 mil) a Queiroz, mas que seria para
investir na compra e venda de carro intermediada pelo colega.
Segundo os promotores, somente a
quebra de sigilo de Flávio e seus assessores permitirá “desvendar os mecanismos
utilizados para branquear os valores de origem ilícita”, “quantificar o volume
de recursos desviados dos cofres públicos pelo esquema das rachadinhas” e
“identificar todos os coautores e partícipes”.
Mãe. Outro relatório do Coaf
anexado pelo MP revela que o policial militar Jorge Luis de Souza, também
ex-assessor de Flávio na Alerj, fez um depósito de R$ 90 mil em espécie na
conta bancária de sua mãe, Nicelma Ferreira de Souza, em 23 de março de 2018,
em Rio das Ostras, na Região dos Lagos. Souza era um dos policiais requisitados
da corporação para assessorar Flávio na Alerj.
Em nota, Flávio Bolsonaro disse que
lamenta que “algumas autoridades do Rio de Janeiro continuem a vazar
ilegalmente à imprensa informações sigilosas querendo conduzir o tema
publicamente pela imprensa e não dentro dos autos” e reiterou que seus mandatos
“sempre foram pautados pela legalidade” e “tudo será provado em momento oportuno
dentro do processo legal”.
Procurado nesta quinta-feira, 16, o
advogado de Queiroz, Paulo Klein, não respondeu o contato. O ex-assessor sempre
negou as acusações de desvio de recursos da Alerj. O Estado não
localizou os demais citados, nem seus advogados.
Autores:
Fabio Leite, Marcelo Godoy e Roberta Jansen - O Estado de S.Paulo
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