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1 de maio de 2019

'Sem' dias de governo!

Sim, sem dias de tranquilidade nós tivemos nos supostos cem dias de governo federal. O pacote anunciado é mais perfumaria do que ações concretas. O decreto de extinção de 250 outros decretos é inócuo, além de criar uma jurisprudência interessante, uma vez que dá 30 dias de prazo para entrar em vigor. Ou seja, algo que já não possuía aplicação pode voltar a tê-la! As propostas reais dependem de tramitação no   Congresso Nacional, que sabemos não está sintonizado na mesma frequência que o Executivo. Assim, mais um simulacro de prestação de contas foi feito. O desconhecimento do presidente sobre o País - não apenas sobre a economia - é pior do que os mais pessimistas imaginavam. A intervenção na Petrobras às escondidas, que teve de ser explicitada, uma vez que o diário oficial é a rede social, mostra o nível de desorganização e despreparo do governo.
Se nem o mercado está tranquilo com as atitudes do ministro Guedes, o que dirá o trabalhador comum deste País? A bolsa cai porque não gostou da forma como a reforma da previdência está sendo negociada, e o cidadão comum também 'cai' em si ao ver que não adianta capitalizar uma contribuição, pois o que falta é gestão desse fundo, que já devia ter sido assim feito pelos governos nas últimas décadas. Novamente se quer privatizar os lucros e socializar os prejuízos.
Decepção sem surpresas. Assim foi a escolha do novo Ministro da Educação (MEC), que não é da área, pertence ao grupo dos olavetes e vai continuar o desvario da ignorância. Machucando o alemão, é uma uva passa e amarga para engolir. Creio que o principal problema no MEC - e na maior parte do governo - não é a gestão per se, mas sim, o foco em pautas extravagantes e desnecessárias, como as baseadas em costumes. Enfatizar o combate a um suposto marxismo universitário ou mesmo defender a predominância de posições religiosas sobre a cultura e ciência, são as evidências mais nefastas de um sério problema de fundamentos no plano de governo (se é que há um), não apenas do como fazer. Fica-se com a impressão de que não fazer nada é melhor do que propor bobagens como as que até aqui têm sido conduzidas.
Lamento que algumas pessoas - bem poucas, na verdade - com as quais eu tinha alguma convivência se submeteram à cegueira do momento e passaram a desprezar o conhecimento, o estudo, a ciência, as causas ambientais e a própria história. Dizem defender a cultura e a educação, mas apoiam os que baseiam seus argumentos em um certo astrólogo e pseudo-filósofo.
Postam em grupos defensores do meio-ambiente, mas elegeram o governo que menospreza essa causa e tem por política sobrepor todas as ações econômicas (agronegócio, por exemplo) às de preservação de florestas. O maior incômodo, entretanto, é ver ex-alunos e seus familiares defendendo, ainda que indiretamente, o fim do ensino público, gratuito e de excelência, no qual se formaram e eu atuei como professor.

Autor: Adilson Roberto Gonçalves - É pesquisador da Unesp, e-mail -adilson.goncalves@unesp.br

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