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1 de outubro de 2025

A verborragia inútil de um prefeito do interior de SP.

 

Na cidade de Sorocaba o prefeito eleito em 2020 e reeleito em 2024 vive envolto em polêmicas e investigações sobre sua gestão. Alheio a esses processos investigatórios do qual é parte integrante, ele tem se destacado por sua verborragia inconsequente.

Entre as muitas falas atribuídas ao prefeito de Sorocaba que tem forte presença nas redes sociais (conhecido como "prefeito tiktoker"), e, é muito criticado por declarações e promessas exageradas ou falsas, frequentemente vistas como marketing vazio ou desinformação. Existe uma lista de polêmicas, com foco em falas ou ações que geraram repercussão negativa por serem consideradas absurdas, mentirosas ou desconectadas da realidade. Elas envolvem promessas irrealistas, negação de investigações e desinformação em vídeos virais.

1. Promessa de "Disney em Sorocaba"

Manga gravou um vídeo em frente ao parque Disney, em Orlando (EUA), durante um evento sobre parques temáticos, dizendo: "Vai ter Disney em Sorocaba". Logo depois, corrigiu que não seria a Disney oficial, mas o "maior parque temático da América Latina", com um "pedacinho" em Sorocaba (a maior parte ficaria em Itu, cidade vizinha). A declaração viralizou como engano ou exagero, e o prefeito de Itu negou qualquer divisão territorial. Críticos chamaram de "bobagem" por criar expectativas irreais sem base concreta.

2. "Praia melhor que as do Nordeste" em lagoa artificial

Em vídeo viral, Manga promoveu uma lagoa artificial em Sorocaba como "praia melhor que as do Nordeste", incentivando moradores a "vir morar em Sorocaba". A postagem gerou memes e críticas por desrespeitar o Nordeste e exagerar um projeto simples de lazer, sem infraestrutura comparável a praias reais. Foi visto como marketing superficial, ignorando problemas locais como alagamentos crônicos na cidade.

3. Rasgar carnê de IPVA e IPTU, sugerindo isenção total

Num vídeo de fevereiro de 2025, Manga rasgou um carnê de IPVA junto com um de IPTU, dando a entender que donos de veículos não pagariam mais esses impostos. Na verdade, só houve isenção parcial no IPVA para certos grupos (como estudantes), e municípios não podem conceder descontos no IPVA estadual. A ação foi acusada de desinformação e de induzir a erro, levando a processos no Ministério Público.

4. Construção do "maior prédio do Brasil" de 1 km de altura

Manga defendeu e prometeu bancar o "prédio de Pablo Marçal", um edifício de 1 km de altura em Sorocaba, que seria o maior do país. Apesar de Marçal negar o convite para ser secretário, Manga insistiu no projeto como atração econômica. Engenheiros e especialistas ridicularizaram a viabilidade técnica e custo (bilhões de reais), chamando de "delírio megalomaníaco" sem planejamento real.

5. Negação de perseguição política em investigações de corrupção

Durante a Operação Copia e Cola (abril de 2025), que investigava desvios de R$ 100 milhões na saúde (incluindo propina e fraudes em Organização Social (OSs), Manga disse à CNN que a PF encontrou em sua casa apenas "Nutella, Pokémon do filho, bolo de cenoura", e que era "ação política para expor quem estava crescendo", sem citar nomes, mas insinuando o governo federal. Em outra operação é réu por superfaturamento de R$ 11 milhões em lousas digitais (maio de 2025). Contou "10 mentiras em 2 minutos" em vídeo, desviando foco para supostos recordes do PIB e pesquisas eleitorais falsas. Críticos como o deputado André Janones, chamaram de vitimismo absurdo, já que as provas começaram em 2022, antes de sua reeleição.

6. Projeto para proibir manifestações pró Palestina

Em outubro de 2023, durante o conflito Israel Hamas, Manga propôs um projeto de lei para multar (R$ 10 mil a R$ 50 mil) quem se manifestasse "em favor de terroristas" (referindo-se a pró Palestina), após hastear bandeira de Israel na prefeitura. A iniciativa foi acusada de autoritarismo e violação à liberdade de expressão, especialmente por ele ter apoiado atos golpistas em 2022. O projeto não avançou, mas foi visto como "bobagem antidemocrática".

7. Uso de livro didático falso para atacar "ideologia de gênero"

Em 2021, como prefeito eleito, Manga mostrou um livro com desenhos de "meninos com saias" para criticar suposta "ideologia de gênero" nas escolas, dizendo que o governo distribuía isso. O Ministério da Educação (MEC) confirmou que o material não fazia parte do PNLD e nunca foi comprado. A ação foi desmentida como fake news, gerando ridículo e processos.

Com todas essas promessas falsas e envolvimento em investigações, o prefeito fala aos quatro cantos que em 2026 será candidato ao governo do Estado de SP, caso o governador Tarcísio de Freitas não seja candidato à reeleição. Na hipótese de Tarcísio se candidatar ao governo do Estado, seu plano “B” é tentar uma das duas vagas do Estado de São Paulo ao Senado Federal.

Antes de pensar em eleição, seria interessante que o prefeito resolvesse suas pendências com a Justiça. Provando sua inocência nos diversos processos que estão se acumulando em suas gestões à frente da Manchester Paulista. 

Autor: Rafael Moia Filho – Escritor, Acadêmico da ABLetras, Blogger, Analista Político e Graduado em Gestão Pública.

Bauru: e as rádios que perderam a sintonia com a verdade!

Arte: Frenando Redondo.

Bolsonarismo não é só uma preferência eleitoral: é uma máquina de distorcer realidade. Nasceu do amálgama entre moralismo seletivo, punitivismo de ocasião e um populismo que grita “ordem” enquanto sabota a lei. Em 2025, a coreografia ficou explícita: a Câmara acelerou a urgência do PL da Anistia para os condenados e investigados do 8 de janeiro — o maior ataque institucional desde 1964 — abrindo caminho para limpar a ficha de quem tentou incendiar a República. Ao mesmo tempo, a pauta que aliviaria o bolso do trabalhador — isenção de IR até R$ 5 mil — virou novela: o governo enviou o projeto, o Senado (CAE) aprovou e remeteu à Câmara, mas a tramitação anda a passo de tartaruga enquanto a energia política se gasta em blindagens corporativas.

No front judicial, a narrativa do “nada aconteceu” ruiu. A PGR denunciou o núcleo golpista e descreveu, em linguagem nada ambígua, a trama para romper o Estado de Direito, com Jair Bolsonaro no centro da articulação — o enredo do decreto para intervir no processo eleitoral e da mobilização para deslegitimar o resultado vai muito além de bravata de palanque. Não bastasse, Eduardo Bolsonaro virou alvo de inquérito no STF por coação no curso do processo e tentativa de obstrução, após peregrinar nos EUA pela aplicação de sanções do tipo Lei Magnitsky contra ministros do Supremo — exportação de conflito institucional travestida de “patriotismo”.

E é aqui que entra Bauru — não como exceção, mas como sintoma. Enquanto o país enfrenta a anatomia de um projeto autoritário, parte da imprensa local faz de conta que não é com ela. Rádios que já foram sinônimo de serviço público preferem a curadoria da conveniência: editorializam a favor de “anistias camaradas”, relativizam a tentativa de golpe, e deixam para “depois” o debate que interessa ao assalariado — como a faixa de IR até R$ 5 mil. A pauta urgente vira irrelevante; e o irrelevante, manchete. Aí está o truque: esvaziar o fato, inflar o enredo. Enquanto isso, quem pagou imposto o ano inteiro continua pagando — e quem atacou a democracia ganha prioridade de agenda.

Em Bauru, a história se repete em escala local, com o beneplácito de microfones outrora altivos. A Auri-Verde, conduzida por Alexandre Pittoli, e a 96 FM, com o economista Reinaldo Cafeo à frente do programa Cidade 360°, tornaram-se ilustrações perfeitas desse fenômeno: seletividade editorial como método e conformismo como linha de conduta.

De Pittoli, esperava-se a tradição da rádio que já foi referência em agilidade informativa. O que se ouve, contudo, é a reprodução acrítica de pautas convenientes à direita nacional, a priorização de agendas bolsonaristas travestidas de “voz da cidade” e um noticiário onde a apuração cede espaço à militância disfarçada de prestação de serviço. É a reinvenção do papel da imprensa: de mediadora crítica a porta-voz de bolha ideológica.

a 96 FM, o cenário é mais sofisticado — e, por isso, mais grave. O programa Cidade 360°, apresentado como “plural” e “abrangente”, torna-se exemplo didático da apropriação seletiva do jornalismo. Ali, o economista Reinaldo Cafeo exerce uma função curiosa: analista econômico para a plateia conservadora, mas incapaz de dedicar a mesma energia crítica à Avenida Faria Lima, onde o PCC lavou bilhões, ou a políticos que aparecem sorridentes em fotos com suspeitos de vínculos criminosos. Café frio, servido em doses de catastrofismo seletivo: rigor para criticar governos progressistas, silêncio cúmplice quando os holofotes deveriam incomodar aliados de ocasião.

Assim como o bolsonarismo nacional recorta a imprensa para sustentar seu ethos negacionista, em Bauru a imprensa radiofônica pratica a mesma alquimia: destaca manchetes convenientes, ignora fatos incômodos e oferece respostas simplificadas à complexidade do real. A estratégia é idêntica: apropriar-se da credibilidade histórica da imprensa local — construída em décadas de serviço público — para transformá-la em insumo discursivo a serviço de um grupo político.

O resultado? O mesmo observado em escala nacional: a conversão sistemática de responsabilidades. Onde há desmonte institucional, culpa-se a esquerda. Onde há captura econômica por facções criminosas, a pauta desaparece. Onde há alianças espúrias, a notícia perde fôlego. Não se trata de informar: trata-se de reinterpretar, de domesticar a realidade para caber no estreito repertório de uma bolha que se desfaz, mas que ainda dita o tom dos microfones.

Se o jornalismo existe para confrontar poder, em Bauru há microfones que desaprenderam a fazer perguntas difíceis. É por isso que este texto existe: para lembrar que não há neutralidade possível entre a ordem constitucional e a anistia do golpismo; entre aliviar a vida de quem ganha até R$ 5 mil e aliviar a barra de quem tentou rasgar a Constituição. O resto é ruído — ou, como diria o próprio bolsonarismo, “narrativa”. 

Autor: Fernando Redondo – Publicado na página do Facebook do autor.

Arautos do engano: atitudes de Trump e Robert Kennedy Jr. mostram negacionismo.

Kennedy Jr. foi fundador e presidente do Conselho da Children’s Health Defense (CHD), ONG antivacina que em 2022 teve receitas de US$ 23,5 milhões Foto  Mark Schiefelbein - AP.

Menor cobertura vacinal leva a mais doença e maior gasto direto e perda de produtividade; onde a descrença cresce, a cobertura cai e os surtos custam caro.

Na semana passada, numa coletiva na Casa Branca, Trump e o secretário de Saúde Robert F. Kennedy Jr. anunciaram medidas sobre autismo. A frase chave de Trump foi “Se você está grávida, não tome Tylenol…”. A cena não é inusitada, mas não deixa de ser chocante. Nessa reunião foi anunciado que a U.S. Food and Drug Administration (FDA) iniciaria processo de mudança de bula do paracetamol (Tylenol) para incluir menção a possível associação com certos resultados prejudicais ao desenvolvimento infantil quando usado na gestação. Trump afirmou que tomar muitas vacinas “muito juntas” estaria ligado ao autismo e defendeu espaçar e dividir o calendário de vacinação infantil.

Uma das frases ditas pelo presidente nesse encontro mostra bem como o tema é tratado: “Há grupos de pessoas que não tomam vacinas nem remédios e não têm autismo”.

Entidades médicas vieram a público garantir a segurança do paracetamol como analgésico/antitérmico de escolha na gestação, com uso criterioso, e que os dados não sustentam um elo causal com TEA/TDAH. A OMS (Organização Mundial de Saúde) rejeitou a ideia de vínculo causal entre Tylenol e vacinas e o autismo.

As atitudes de Trump e Robert Kennedy Jr. mostram negacionismo. Kennedy é um advogado ambientalista, com boa formação e que ganha dinheiro com a divulgação antivacinas. Foi fundador e presidente do Conselho da Children’s Health Defense (CHD), ONG antivacina que em 2022 teve receitas de US$ 23,5 milhões, e recentemente divulgou expectativa de pelo menos US$ 2 milhões em adiantamentos por livros futuros e relatou ganhos de US$ 200 mil em três dias de palestras. Não há um balanço global de quanto dinheiro é perdido pelo negacionismo, mas os dados mostram os impactos econômicos. Em 2021, nos EUA, os custos diretos evitáveis da covid em hospitalizações de não vacinados geraram gastos de US$ 13,8 bi.

A menor cobertura leva a mais doença e maior gasto direto e perda de produtividade. Onde a descrença cresce, a cobertura cai e os surtos custam caro — tratamento, vigilância, resposta, ausências no trabalho. Em 2023, houve 10,3 milhões de infecções e 107,5 mil mortes, impulsionadas por cobertura vacinal insuficiente do sarampo, diz a OMS. Se considerarmos um custo de US$ 2,6 a 3,7 mil por caso, os gastos anuais diretos em sarampo atingem de US$ 2,7 a 3,8 bilhões — fora mortes e perda de produtividade. O negacionismo é vivo em nossa sociedade, embora não dê para entender por que acreditam nesses “Apóstolos da ignorância”. “O problema do mundo é que tolos e fanáticos estão sempre certíssimos, e os sábios, cheios de dúvidas”, disse Bertrand Russell. 

Autor: Fabio Gallo – Professor de Finanças da FGV – Publicado no Jornal O Estado de São Paulo.