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5 de abril de 2019

Bruno Latour: “O sentimento de perder o mundo, agora, é coletivo”.

Em seu último livro, o influente pensador francês descreve um planeta onde a mudança climática altera tudo.
O prestigiado ensaísta francês, na semana passada, em seu apartamento de Paris. ERIC HADJ
Bruno Latour (Beaune, 1947) é um dos filósofos franceses mais influentes da atualidade. Acaba de publicar Down to Earth. Politics in the New Climatic Regime (Com os pés no chão. Política no novo regime climático, em tradução livre). O livro faz um diagnóstico sobre um mundo onde tudo é perturbado pela mudança climática e permite compreender fenômenos que vão das desigualdades até a globalização, passando pela ascensão do populismo. A obra também é um pedido de ação e um manifesto europeísta. E, finalmente, uma síntese do pensamento de um precursor de disciplinas como a sociologia da ciência sobre os fatos e a verdade.
Pergunta: O senhor contou que uma vez, sobrevoando a baía de Baffin numa viagem ao Canadá, viveu um momento revelador ao ver como o gelo retrocedia. O que aconteceu?
Resposta: Olhando pela janela, percebi que a placa de gelo, por sua forma, resumia o problema que vivemos. Ao estar no avião eu já não assistia a um espetáculo, mas o estava modificando, pois o CO2 que a aeronave emite influi na placa de gelo. Antes, esse espetáculo – o da placa de gelo vista do avião – teria tido um caráter sublime. Agora é complicado senti-lo assim. Se te dizem que você é responsável pelo que vê, o sentimento é diferente, é uma forma de angústia.
P. Essa é a vertigem da qual fala no livro?
R. Antes, a angústia que a natureza nos causava vinha do fato de que éramos pequenos demais, e a natureza era imensa. Agora temos o mesmo tamanho, influímos em como a Terra se comporta. E é desorientador, por exemplo, para os jovens que se manifestam [contra a mudança climática]. Da extrema esquerda à extrema direita, todas as posições políticas estão marcadas pela angústia.
P. No caso dos coletes amarelos ou dos eleitores de Trump, a angústia é mais econômica que ambiental, não?
R. É como se o solo do país onde estou já não me fosse favorável. Não é ecológica no sentido da natureza, mas é do território. O problema é esse sentimento de perder o mundo. Já existia antes, mas eram os artistas, os poetas, que o sentiam. Agora é um sentimento coletivo.
P. Segundo o senhor, uma elite, ante essa situação, diz: “Vamos embora”. Abandona o barco.
R. Comparemos isso com as reações fascistas dos anos trinta. Há semelhanças, uma espécie de retirada nacional, étnica. Mas naquela época eram projetos de desenvolvimento.
P. Desenvolvimento em que sentido?
R. Era uma loucura, mas era um projeto de civilização. Agora estamos diante de um projeto para desfazer os vínculos, abandonar as construções. A reação mais extraordinária de Donald Trump consiste em dizer: “Nós não temos problemas de mudança climática; é algo que ocorre na casa de vocês, não na nossa.” Ele considera que o continente americano não está sujeito aos mesmos problemas climáticos que a Europa ou a China. Isso é uma novidade.
P. Mas Trump é uma exceção, não? O Acordo de Paris para combater a mudança climática foi firmado pelos Governos do mundo todo, o que poderíamos chamar de elites.
R. Essa ideia de abandonar as obrigações é compartilhada agora também pelo Brasil, e consiste em dizer: “Vamos embora.” Essa é a versão Trump, mas existe outra variante hightech que diz: “Nós também vamos, mas rumo a um futuro tecnófilo extremo.” É o projeto californiano, pós-humano, Marte, a inteligência artificial, os robôs. O interessante é que agora existem pessoas que vivem em planetas diferentes.
P. E outras, diz o senhor, que fogem para o âmbito local.
R. Sim, a reação dos que se sentem abandonados pelos que vão embora para Marte é regressar ao Estado-nação como o imaginam, um Estado-nação imaginado, uma ficção. O exemplo é o Brexit. Ao contrário dos fascismos, não há um retorno a uma conquista territorial, e sim a um Estado-nação vazio de todo sentido prático. Então alguns vão para Marte, outros regressam ao planeta nacional, que também é abstrato, e no meio estamos os infelizes que pensamos que, em um momento ou outro, será preciso aterrissar: reconciliar a economia, o direito, a identidade com o mundo real do qual dependemos.
P. Aonde regressar exatamente?
R. Ao [plano] terrestre. Pode parecer estranho: por que aterrissar se já estamos na Terra? Mas os europeus, os ocidentais, temos vivido numa Terra muito utópica. Imaginávamos que ela se desenvolveria ad infinitum, sem limites. Mas o sonho de que o planeta se modernizaria indefinidamente nunca foi verificado, não tinha fundamento material. Desde o século XIX, com o carvão e o petróleo, a economia havia se tornado infinita. E há uma angústia geral por esse desajuste.
P. Diante disso, pode haver uma ideia compartilhada da verdade?
R. As pessoas se queixam das fake news e da pós-verdade, mas isso não significa que sejamos menos capazes de raciocinar. Para conseguir manter um respeito pelos meios de comunicação, a ciência, as instituições, a autoridade, deve haver um mundo compartilhado. É um tema que estudei no passado. Para que os fatos científicos sejam aceitos, é preciso um mundo de instituições respeitadas. Por exemplo, sobre as vacinas se diz: “Estas pessoas ficaram loucas, estão contra as vacinas.” Mas não é um problema cognitivo, de informação. Os que são contra não serão convencidos com um novo artigo na revista The Lancet. Essas pessoas dizem: “É este mundo contra este outro mundo, e tudo o que se diz no mundo de vocês é falso.”
P. Os fatos não existem independentemente desses mundos?
R. É preciso sustentar os fatos, não vivem sozinhos. Um fato é só um cordeiro frente aos lobos.
P. Quem são os lobos?
R. Os que devoram os fatos. Um fato deve estar instalado numa paisagem, sustentado pelos costumes de pensamento. São necessários instrumentos e instituições. As vacinas são o exemplo de um fato que precisa de uma vida pública. Se eu sair pela rua com uma seringa tentando vacinar as pessoas, serei considerado um criminoso. Se a vida pública é deteriorada por pessoas que consideram que – não importa o que você disser – este não é o mundo delas, os fatos não servem para nada.
P. Mas nesse caso há um fato: as vacinas são úteis, não importa se os outros acreditam ou não.
R. No meu mundo e no dos leitores do EL PAÍS, sim. Mas nem todo mundo lê o seu jornal, nem tem um doutorado, nem confia nas instituições médicas, nem vive num país onde o Ministério da Saúde apoia as vacinas. É preciso muita coisa para sustentar os fatos.
P. Os dois mundos valem o mesmo?
R. Não, mas estão em guerra. É um problema geopolítico. Antes, eram problemas de valores ou ideologia, mas num tabuleiro estável. Agora, não. O mapa está em discussão. “Na América não há problema climático, isso é falso”, diz Trump.
P. Qual é a solução?
R. Se aterrissarmos no terrestre, poderíamos começar a definir um mundo comum. Então já não poderíamos nos permitir dizer que não há mudança climática, que os problemas de saúde não nos dizem respeito, que a reprodução das abelhas não é nosso problema. Voltaríamos a discutir entre civilizados.

Autor: Marc Bassets – Publicado no Diário El País

4 de abril de 2019

Mortalidade infantil cresce 75% em 5 anos na Venezuela!

O país comandado por Maduro é o único da América do Sul que retornou a níveis observados nos anos 90.
Um relatório divulgado nesta quinta-feira 3 pela Human Rights Watch, em parceria com a universidade americana Johns Hopkins, mostra que a mortalidade infantil na Venezuela teve um aumento de 75% em um período de cinco anos. A Venezuela é o único país da América do Sul que retornou a níveis observados nos anos 90.
O estudo avaliou a situação da saúde no país de Nicolás Maduro, que sofre com uma crise política e humanitária. A equipe fez 156 entrevistas no período de 12 meses ouvindo médicos que atuam na Venezuela e cidadãos que cruzaram a fronteira do Brasil ou da Colômbia.
Desde 2017 não existe uma comunicação oficial do governo venezuelano sobre os dados da saúde do país. Para chegar aos números foram utilizadas pesquisas de órgãos internacionais que defendem os direitos humanos e as entrevistas realizadas pela equipe. Os médicos consultados também enviaram documentos.
A conclusão não foi animadora: o estudo se deparou com um sistema de saúde em colapso total, aumentando os níveis de mortalidade materna e infantil; a propagação de doenças evitáveis ​​por vacinação, como o sarampo e a difteria; e o aumento no número de doenças infecciosas, como malária e tuberculose.
“Embora o governo tenha parado de publicar dados oficiais sobre nutrição em 2007, pesquisas realizadas por organizações e universidades venezuelanas documentam altos níveis de insegurança alimentar e desnutrição infantil, e dados disponíveis mostram altas admissões hospitalares de crianças desnutridas”, diz o relatório.
Sobre a mortalidade infantil foram utilizados dados da Unicef que mostram uma quase duplicação das taxas nos últimos cinco anos. De 14,6 mortes por 1.000 nascidos vivos em 2012 para 25,7 mortes por 1.000 nascidos vivos em 2017. Em um dos hospitais do país, a situação é ainda pior: de 2016 a 2018, as mortes neonatais aumentaram 54% e o número de mortes infantis dobrou.
Ajuda humanitária
A ajuda humanitária internacional à Venezuela teve crescimento em 2018, após uma mudança no discurso do governo de negar totalmente a crise humana e econômica. Maduro, entretanto, sustentou (e sustenta) que a escassez tem a ver com as sanções impostas pelos EUA. Organizações internacionais e não-governamentais têm relatado consistentemente que a ajuda à Venezuela não é suficiente para cobrir as necessidades urgentes da população.
Tamara Taraciuk é venezuelana radicada na Argentina e foi uma das responsáveis pelo estudo. Ela conta que a conclusão do relatório é de que a crise venezuelana é consequência de uma má gestão. “O governo de Nícolas Maduro esconde os dados para maquiar a magnitude da crise. Mais de 7 milhões de pessoas precisam de ajuda humanitária na Venezuela, precisamos agir”, disse.
Segundo Tamara, o secretário-geral da ONU, António Guterres, deve liderar esforços para desenvolver um plano abrangente de resposta humanitária, dentro e fora do país. “Nada deve ser feito diretamente ao Estado. Toda a ajuda deve ser direcionada à ONU. Os países precisam agir, mas sem envolver a política”, pontua.
“A combinação de escassez de medicamentos e de alimentos, juntamente com a disseminação de doenças nas fronteiras da Venezuela, equivale a uma emergência humanitária complexa que requer uma resposta completa”, conclui Tamara.

Autor: Alexandre Putti

2 de abril de 2019

A aposentadoria que restabelece a escravidão e o Brasil da submissão

Só uma relação desigual, subordinada, colonial pode justificar um tal rendimento, uma entrega tão completa, uma submissão escancarada.
Uma vez, conversando com meu compadre, perguntei a ele por que não se aposentava, uma vez que já tinha tempo de serviço necessário (isso foi antes da proposta de “reforma da previdência”, que na prática restabelece a escravidão).
Corajoso, fundador do Partido dos Trabalhadores em Carazinho, cidade natal de ninguém menos do que o ícone político Leonel Brizola, ele me respondera: “O problema é o jaque”. Sem entender, indaguei: “Que jaque é esse?”.  Ele me contestou: “Jaque tu tá aposentado, tu faz para mim…”.
De maneira figurada, a aposentadoria tem sido um pouco similar para mim. Faço muitas coisas prazerosas, inclusive escrever esta coluna, mas também tenho plena noção de que o passado me acompanha, me olha com expectativa e continuamente. O mesmo acontece com a conjuntura, não consigo escapar dela: sou perseguido e instado a todo momento.
Resignemos-nos, pois.
No momento em que os desatinos chegam à circunavegação do espectro ideológico – tal o incontido oportunismo dos palhaços no picadeiro, o colonialismo recoloca-se na ordem do dia (da qual nunca deixou de figurar, ainda que, por alguns momentos, tenha sido reduzida às notas de rodapé, como as cláusulas perigosas dos contratos internacionais).
Para tratar do assunto, como sempre, cabe superar as trevas, como faz a luz. No caso específico, caberá compreender o contrário do colonialismo: a soberania.
Chego, destarte, à segunda lição da minha aposentadoria: muitas vezes, toda a bagagem arduamente obtida, guardada e carregada pode valer menos do que uma ideia brilhante, leve, chegada do mais puro azul.
Explico-me: “Por conta de umas questões paralelas…”, parafraseando o Chico Buarque, precisei tirar umas férias do Itamaraty, após o golpe parlamentar de 2016.
Dessa forma, pude dedicar-me a traduções e interpretações voluntárias para movimentos sociais. No Congresso Nacional do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), em 2017, no Rio de Janeiro, ouvi algo que me marcou muito. Ao encontrarmos a delegação da central sindical francesa CGT (Central Geral dos Trabalhadores, seção dos trabalhadores da energia), o geólogo da Petrobras que descobriu o pré-sal disse-lhes: “Vou dizer algo que vocês, franceses, entenderão: neste momento, somos um país sob ocupação estrangeira”.
Essa para mim foi uma lição (aquela segunda da minha aposentadoria, a que antes me referi): alguém que não era da área de relações internacionais conseguia ver mais claro do que eu, com 35 anos de Itamaraty, pesando (e como) nas costas. Permitam-me o trocadilho, no caso, mais valeu conhecer a costa do que as costas.
Dessas lições, decorre, para mim, que as cenas de subserviência explícita às quais fomos submetidos na semana passada – inescapáveis – têm de ser interpretadas pela ótica do neo-colonialismo a que o país foi submetido.
Com efeito, só dessa maneira é possível compreender a gravíssima cessão de território – a Base de Alcântara – para a qual o acesso de brasileiros será restrito, em troca de minguado aluguel que sequer repõe os recursos que deixaremos de recolher da isenção de vistos unilateralmente concedida aos cidadãos estadunidenses – sem sequer contrapartida para os nacionais – que continuarão a desembolsar não poucos recursos para obter o visto para os Estados Unidos.
Ao lado disso, a compra de trigo dos EUA, em substituição ao mercado argentino, irá prejudicar o comércio justamente com o país que mais importa produtos com alto valor agregado do Brasil, a Argentina. Pior, a igualmente nefasta importação de carne suína dos EUA – subsidiada – colocará inteiras regiões inteiras do país sob o signo da depressão socioeconômica, principalmente no Sul do Brasil.
Em troca, sequer miçangas ou espelhinhos, apenas uma camiseta de nylon, cujo custo não supera três dólares.
Como explicar? Só o neocolonialismo pode aclarar. Nenhuma política externa de país independente faria isso. Só uma relação desigual, subordinada, colonial pode justificar um tal rendimento, uma entrega tão completa, uma submissão escancarada.
Vale notar que a situação é gravíssima, pois estamos nos vinculando como colônia – o que per se é gravíssimo – de uma potência em franca decadência socioeconômica (a China já a ultrapassa na maioria dos indicativos) e militar (superada pela Rússia).
Ou seja, o nosso atual atrelamento é ainda pior do que aquele do Tratado de Methuen, celebrado entre Portugal e Inglaterra, em 27/12/1703, o qual relegou a pátria-mãe ao subdesenvolvimento por mais de três séculos, ao determinar a venda de vinhos por Portugal, em troca da importação de tecidos da Inglaterra. Por meio dele, o ouro e os diamantes das Minas Gerais – além de outras riquezas brasileiras – também foram drenados para o Reino Unido. Como símbolo da dominação de um país sobre o outro, o instrumento não mascarou seu caráter intrinsecamente colonial, em que as formalidades são dispensadas. De fato, contava apenas com três artigos, sendo o menor tratado da história diplomática europeia. A aplicação daquele instrumento demonstrou cabalmente como a troca de produtos primários por produtos com valor agregado conduz ao subdesenvolvimento, pela deterioração constante dos termos de troca, em favor dos produtos com maior valor tecnológico.
No caso dos acordos em apreço com os EUA, a relação é ainda mais desfavorável: comprometemos-nos a importar produtos primários. Regredimos, dessa maneira, a período anterior ao século XVIII… e ainda cedemos território… o que diria o Barão do Rio Branco?

Autor: Milton Rondó – Publicado na Carta Capital.

A retaliação do lixo

São 332 barragens nas cabeceiras do Rio São Francisco. Cerca de 70% cheias de rejeitos da mineração. Basta estourar a de Congonhas do Campo, com rejeitos de metais pesados para minerar o ouro, que o Velho Chico estará morto por 100 anos, calculam especialistas da área.
Portanto, Brumadinho e Mariana, que não mandaram aviso, avisaram que estamos com uma barragem de rejeito amarrada em cada pescoço. Nós somos 18 milhões de pessoas no Vale do São Francisco, sem falar agora dos paraibanos que bebem também dessa água.
Mas, o aviso da velha mídia é que na região de Caldas, também Minas Gerais, há uma represa com rejeitos de material radioativo. Isso mesmo. 
É a bacia do Rio Grande, portanto do Paraná, portanto do Prata. Só na bacia do Grande são 9 milhões de pessoas. O povo, a Universidade e o MPF alertam para a insegurança da barragem diante de acontecimentos incomuns na parede, leiam-se vazamentos e infiltrações. Porém, a Indústrias Nucleares do Brasil (INB) já disse que não tem mais de 1 bilhão de reais (sic!) para desativar a barragem. 
Papa Francisco já disse que essa economia mata. Mata pessoas e mata a natureza. Não há duas crises, há apenas uma crise de civilização. Na verdade, ninguém sabe qual a segurança de rejeitos radioativos e de mineração em toda face da Terra. Uma bomba pode aparecer nas nossas vidas a qualquer momento.
Enquanto isso, o povo da região de Itacuruba, Pernambuco, se manifesta mais uma vez contra a instalação de mais uma usina nuclear, dessa vez no Baixo São Francisco. Horror em cima de horror. 
Nem vamos falar do plástico que ocupa os oceanos, da contaminação por metais pesados da agricultura, dos hormônios e antibióticos lançados em toneladas nas águas. O capital não pode medir as suas próprias consequências, tem apenas que seguir em frente.
A retaliação do lixo vai se tornando fantástica. Para quem gosta do caos, somando a vingança do lixo com a vingança de Gaia – vide Moçambique -, o espetáculo vai sendo dantesco e inimaginável, apocalíptico. Ninguém vai poder reclamar da falta de emoção. Divirtam-se.

Autor: Roberto Malvezzi é agente pastoral na região do Semiárido – Publicado no Correio da Cidadânia

México: 40 mil desaparecidos!

No Dia Internacional de Direito à Verdade, o presidente do México, Andrés Manuel Lopez Obrador esteve com familiares de desaparecidos e coletivos de buscas e afirmou que, no seu governo, não haverá teto financeiro quando o assunto for encontrar os mexicanos e mexicanas vítimas da política neoliberal. “Esses 40 mil desaparecidos são a herança mais dolorosa e mais triste que recebemos dos governos anteriores”. 
O presidente também anunciou a reinstalação do Sistema Nacional de Busca de Pessoas e firmou três compromissos inarredáveis: fluxo ilimitado de recursos, avaliação trimestral do avanço das buscas e realizar de maneira urgente a identificação de mais de 26 mil cadáveres que estão nas instalações forenses. 
López Obrador afirmou que não quer ver o México vivendo cenas como as de ter caminhões cheios de corpos percorrendo as ruas. “Isso é dantesco e desumano”. Segundo ele a desaparição de pessoas é uma responsabilidade do Estado e no seu governo todos os esforços serão feitos para encontrar essas pessoas, para que os familiares possam dar o devido descanso a seus corpos.
Mas, para além de encontrar os corpos dos desaparecidos, a violência no México é um tema que também vai requerer muito trabalho. Obrador garantiu que não vai enfrentar violência com violência, mas sim atacando as causas sociais que fizeram brotar todas essas ações de violência sem freio.
“Vamos ter bons resultados para que não voltemos mais aos anos de sofrimento e dor”. Segundo ele, o ataque será no campo da economia e das oportunidades, garantindo empregos e crescimento econômico. É certo que ainda há muitos problemas e a violência ainda é alta, mas tudo isso, diz ele, será enfrentado com programas sociais e programas de segurança pública.
Para os mexicanos a campanha de “perdão e esquecimento” que tenta se consolidar não tem muito sentido. Para a maioria daqueles que, de alguma maneira, teve a vida atravessada pela violência, seja sentindo na própria pele ou perdendo algum familiar, a palavra de ordem é “memória e justiça”. Não é possível esquecer o horror, há que sempre lembrar para que nunca mais ocorra. Encontrar os desaparecidos, finalizar o processo de luto e manter viva a memória é tudo o que se quer. 
Foto La Jornada
Autor: Instituto de Estudos Latino-Americanos é um organismo da UFSC. Com informações do La Jornada.

1 de abril de 2019

"Broadway brasileira" capta 202 milhões da Lei Rouanet em quatro anos!

O que o teatro musicado, a riqueza no mundo e o Brasil têm em comum? Acertou quem disse que os três se baseiam em um sistema de concentração de renda. Primo rico do gênero teatral, o musical tornou-se uma eficaz máquina captadora de recursos das artes cênicas. Nos últimos quatro anos, 30 empresas captaram 202 milhões de reais, dos quais 200 milhões se concentraram em produções em São Paulo e no Rio de Janeiro. Levantamento no Sistema de Apoio às Leis de Incentivo à Cultura feito por CartaCapital revela que 160 projetos tiveram autorização para captação, dentro do período de execução de 2016 a 2019. Desses, só 48 conseguiram sair do zero.
Essa desigualdade é colossal entre as campeãs. De cada 4 reais captados pela Lei Rouanet, três acabaram nos cofres de quatro empresas que arrecadaram junto à iniciativa privada 149 milhões de reais. A T4F é a número 1, captando 78 milhões. A empresa produziu os musicais Les Misérables, O Fantasma da Ópera, Mudança de Hábito, Wicked, Antes Tarde do Que Nunca e 2 Filhos de Francisco. Em seguida, três empresas disputam um distante segundo lugar: a Atelier de Cultura (captou 34 milhões de reais), que trouxe Billy Elliot, O Homem de La Mancha, Annie e A Noviça Rebelde, a IMM Live (23 milhões de reais), que produziu A Pequena Sereia, Cantando na Chuva e Sunset Boulevard, e a Musickeria (15 milhões de reais), com a série de espetáculos Bem Sertanejo.
Com exceção de 2 Filhos de Francisco e Bem Sertanejo, essas peças são produtos made in Broadway, de Nova York, ou West End, de Londres, as duas capitais mundiais do teatro musicado. O Brasil que concentra renda descobriu que copiar os passos de americanos e ingleses nos musicais é fórmula certa para gerar riqueza. Para poucos. O público, que pode pagar ingressos de até 300 reais (plateia vip de O Fantasma da Ópera, no Teatro Renault), aprecia musicais que, de fato, se tornaram produções de qualidade e vistosas. Para as empresas patrocinadoras, virou uma ação eficiente de marketing.
Billy Elliot, de Stephen Daldry e músicas de Elton John é o musical mais premiado nos EUA, com dez Tony, captou 6,8 milhões de reais. Foto de João Caldas F.
“Empresas de São Paulo e do Rio gostam muito de investir em teatro musical porque ao receberem a cota de ingressos gratuitos podem desenvolver uma política para seus colaboradores ou clientes, oferecendo a eles uma experiência gratificante”, explica o produtor Carlos Cavalcanti, responsável pela montagem de Billy Elliot no Brasil. Depois de mais de dois anos de negociação, foram licenciados o texto, a coreografia de Peter Darling e as canções de Elton John. Recordista em premiações com dez Tony Awards (entregue em Nova York) e cinco Olivier Awards (Londres), o musical conta a história de um menino que decide ser bailarino, rompendo o ciclo natural da família, composta de pai e irmão mineiros, em meio a uma greve que opõe trabalhadores e o governo de Margaret Thatcher. A história, que virou filme, ficou mais de dez anos em cartaz.
A montagem brasileira (em cartaz no Teatro Alfa, em São Paulo, até 30 de junho) conseguiu captar 6,8 milhões de reais dos 16,7 milhões solicitados. Cavalcanti afirma que a Atelier de Cultura, como outras produtoras de grandes espetáculos, costuma bater nas portas de dezenas ou centenas de empresas, mas apenas quatro ou cinco decidem investir recursos. Segundo ele, o teatro musicado pôde profissionalizar-se graças ao uso da lei de incentivo. Quando se tentou montar Les Misérables, musical baseado no épico de Victor Hugo, nos anos 2000, não havia atores preparados. “Hoje se faz uma grande produção, porque têm elenco, coreógrafos e figurinistas, técnicos que sabem montar equipamentos de som, de luz, de projeção. Enfim, criou-se uma cadeia produtiva.”
Para o diretor-artístico americano Fred Hanson, que já montou musicais em Nova York como The Phantom of the Opera, Miss Saigon e Les Misérables, e agora está à frente do espetáculo Sunset Boulevard (no Teatro Santander, em São Paulo, até 7 de julho), os espetáculos que vêm de fora encantam pela música, pelos cenários grandiosos e pelas histórias que prendem a atenção. A superprodução Sunset Boulevard narra à história de Norma Desmond, uma atriz decadente do cinema mudo (interpretada pela atriz Marisa Orth, em grande forma) que vive em um mundo particular com o sonho de voltar ao estrelato. A IMM Live captou 4,7 milhões de reais. “Essas produções, embora não tenham origem no Brasil, se expandiram e levaram ao surgimento de peças nacionais, com conteúdo nacional”, afirma Hanson.
Produtora de montagens musicais sobre as biografias de artistas como Tim Maia, Cazuza, Cássia Eller, Wilson Simonal e Elis Regina, Joana Motta produziu O Frenético Dancing Days, espetáculo nacional da nova safra de montagens do teatro musicado em São Paulo. A peça, no estilo jukebox, apresenta a história da danceteria carioca que teve quatro meses de vida, lançou o grupo Frenéticas e virou tema de novela da Globo. Escrito pelo pai de Joana, o jornalista Nelson Motta, um dos sócios da casa, e por Patrícia Andrade, o musical possui uma dramaturgia desprovida de grandes pretensões além do de animar a plateia que vai ao Teatro Opus para, afinal, ouvir canções dos anos 1970. Desde que a peça estreou no Rio, a produção captou 2,8 milhões de reais de 8,3 milhões solicitados. “Não dá para entrar na estrutura dos peixes grandes sem o dinheiro dos peixes grandes”, explica a produtora.
Aparecida, escrita por Walcyr Carrasco, leva ao palco do Teatro Bradesco (até 21 de abril) 33 artistas e 12 músicos para contar a história da padroeira do Brasil. O musical é um caso singular pela temática religiosa, não muito comum ao gênero, mas se assemelha a outras produções nas quais os atores precisam revelar apurada capacidade para dançar, cantar e interpretar. São executadas 19 canções originais. Fernanda Chamma, que dirige e coreografa o espetáculo, é uma bailarina com formação na Broadway, onde aprendeu a seguir “a Bíblia”, como é chamado o roteiro técnico pormenorizado das peças. “O teatro musicado não permite o improviso. Se o ator não seguir as marcações, pode ter um cenário descendo em cima de sua cabeça”, diz.
A TV Cultura deve estrear em 7 de abril um reality show que simula uma seleção de elenco para um musical. Houve mais de 1.250 inscritos para o programa O Musical, a grande maioria jovem e talentosa. No primeiro dia de pré-seleção, só 11 candidatos foram eliminados. Muitos cantores que hoje fazem parte dos musicais vieram da ópera, que já não atrai ou emprega tantos profissionais do canto. “O teatro musicado está produzindo, as casas estão lotadas, tanto para os espetáculos de franchising quanto para os de conteúdo nacional. Qual outro gênero consegue atrair tanto público jovem?”, questiona o diretor José Roberto Walker.
Estudiosa da interseção do teatro, da história e da polícia, Kátia Paranhos, da Universidade Federal de Uberlândia, lembra que o teatro musicado existe desde o fim do século XIX e início do XX no Brasil, e que naquela época já era visto com desdém pelos críticos, mas adorado pelo público. Nos anos 1950, títulos internacionais como My Fair Laid ainda eram minoria diante das produções brasileiras. Nas décadas seguintes, autores como Augusto Boal (Arena Conta Zumbi e Arena Conta Tiradentes), Gianfrancesco Guarnieri (Botequim) e Chico Buarque (Roda Viva, Calabar e A Ópera do Malandro) introduziram temas mais áridos, uma tendência que foi se dissipando até chegar aos anos 2000, quando os espetáculos da Broadway se impuseram. “De olho nas classes média e média alta, não há mais um convite à reflexão, mas à diversão. Quanto mais contente o público sai do teatro, melhor”, explica a professora.

Autor: Eduardo Nunomura – Carta Capital

Um resumo da história do Brasil!

Para afastarmos de vez as alienações.

Tem sido constante nos últimos tempos ouvirmos ou lermos na mídia declarações de pessoas dentro do atual governo brasileiro tentando reescrever uma parte da história do país com fatos distorcidos e que não condizem com a verdade.
Não é de se estranhar que pessoas obtusas, mal intencionadas, digam que o nazismo alemão é um movimento ligado à esquerda. Sendo que foi justamento a URSS que derrotou os alemães do exército de Hitler, colocando fim a II Guerra Mundial.
Estas pessoas inescrupulosas dizem que não houve Ditadura militar no país entre 1964 e 1985, na tentativa sem qualquer laivo de inteligência, de preservar algo que foi registrado em livros, filmes e principalmente na memória da sociedade brasileira e mundial.
Para tentar esclarecer e levar um pouco de informação utilizo a seguir dados reais que estão sendo veiculados na internet, redes sociais e whats app, no afã de evitar a desinformação e o fake news sobre fatos históricos que não podem ser alterados pela simples vontade ideológica que alguns debiloides com finalidade político partidária.

SEIS CONSTITUIÇÕES FEDERAIS:
1891 – 1934 – 1937 – 1946 – 1967 - 1988

NOVE MOEDAS:
Réis: até 1941 - Cruzeiro: 1942 - Cruzeiro Novo: 1967 - Cruzeiro: 1970 - Cruzado: 1986 -Cruzado Novo: 1989 - Cruzeiro: 1990 - Cruzeiro Real: 1993 - Real: julho de 1994.

SEIS VEZES O CONGRESSO FOI FECHADO:
1891 – 1930/34 – 1937/46 – 1966 – 1968/69 e 1977

SEIS GOLPES DE ESTADO:
1889 – 1930/34 – 1937/45 – 1945 – 1955 – 1964/85
                                                 
UM PLEBISCITO IGNORADO:
Venda de armas: 2005

13 PRESIDENTES QUE NÃO CONCLUÍRAM O MANDATO:
Deodoro da Fonseca: 1891 - Afonso Pena: 1909 - Rodrigues Alves: 1918 - Washington Luís: 1930 - Júlio Prestes: 1930
Getúlio Vargas: 1945/1954 - Carlos Luz: 1955 - Jânio Quadros: 1961 - João Goulart: 1964 - Costa e Silva: 1969 - Tancredo Neves: 1985
Fernando Collor: 1992 - Dilma Rousseff: 2016

31 PRESIDENTES NÃO ELEITOS DIRETAMENTE (também considerando posse de interinos):
Deodoro da Fonseca: 1889* - Floriano Peixoto: 1891*
Prudente de Morais: 1894* - Campos Sales: 1898*
Rodrigues Alves: 1902* - Afonso Pena: 1906* - Nilo Peçanha: 1909* - Hermes da Fonseca: 1910* - Venceslau Brás: 1914* - Rodrigues Alves: 1918* - Delfim Moreira: 1918* - Epitácio Pessoa: 1919*
Arthur Bernardes: 1922* - Washington Luis: 1926*
Júlio Prestes: 1930* - Getúlio Vargas: 1930 - José Linhares: 1945 - Café Filho: 1954 - Carlos Luz: 1955 - Nereu Ramos: 1955
Ranieri Mazilli: 1961 - João Goulart: 1961
Castelo Branco: 1964 - Costa e Silva: 1967
Médici: 1969 - Geisel: 1974 - Figueiredo: 1979
Tancredo Neves: 1985 - José Sarney: 1985
Itamar Franco: 1992 - Michel Temer: 2016
* Presidentes do Período da República Velha, marcado pelas fraudes eleitorais e pelo coronelismo.

31 REVOLTAS E GUERRILHAS
Golpe Republicano: 1889
Primeira Revolta de Boa Vista: 1892-1894
Revolta da Armada: 1892-1894
Revolução Federalista: 1893-1895
Revolta de Canudos: 1893-1897
República de Curani: 1895-1900
Revolução Acreana: 1898-1903
Revolta da Vacina: 1904
Segunda Revolta de Boa Vista: 1907-1909
Revolta da Chibata: 1910
Guerra do Contestado: 1912-1916
Sedição de Juazeiro: 1914
Greves Operárias: 1917-1919
Levante Sertanejo: 1919-1930
Revolta dos Dezoito do Forte: 1922
Revolução Libertadora: 1923
Coluna Prestes: 1923-1925
Revolta Paulista: 1924
Revolta de Princesa: 1930
Revolução de 1930: 1930
Revolução Constitucionalista: 1932
Revolta Mineira: 1935-1936
Intentona Comunista: 1935
Caldeirão de Santa Cruz do Deserto: 1937
Revolta das Barcas: 1959
Regime Militar: 1964-1985
Luta Armada: 1965-1972
Guerrilha de Três Passos: 1965
Guerrilha do Caparaó: 1967
Guerrilha do Araguaia: 1967-1974
Revolta dos Perdidos: 1976 
Como pode tanta gente realmente acreditar que o país sempre foi tranquilo e só recentemente teve distúrbios? Vivemos em um país que sempre foi manipulado pelos "doutores da lei". Temos uma elite política doutrinada a deixar de lado o povo. A vontade que emana deles é a dos interesses próprios, e não a do povo! *O que nos falta é mais conhecimento. 

Autor: Rafael Moia Filho – Escritor, Blogger e Graduado em Gestão Pública.

Um engodo no Palácio do Planalto!

A ignorância é a maior
enfermidade do gênero humano
Marco Túlio Cícero.

Alguns dados foram tirados de uma entrevista concedida pelo economista Pérsio Arida para o pessoal da XP Investimentos. Infelizmente para os 38% de eleitores que sufragaram seus votos em Jair Bolsonaro, o economista está coberto de razão.
Antes de entrar na questão do engodo, não posso esquecer a frase retumbante do deputado Rodrigo Maia – DEM-RJ sobre o governo atual “O governo Bolsonaro é um deserto de ideias” Nada poderia ser tão verdadeiro e tão preocupante para um país que saiu dividido das eleições, porém, esperava um mínimo de avanço, trabalho e seriedade.
Por que então chamar Jair de um engodo?
Simples, ele enquanto deputado federal defendendo vários partidos, por 28 anos representando o Estado do Rio de Janeiro, teve uma atuação que não vai de encontro ao seu atual perfil conservador, ultra-direita e defensor de um Estado mínimo, senão vejamos:
Votou contra o Plano Real do PSDB;
Votou contra a quebra do monopólio das Telecomunicações;
Votou contra a quebra do monopólio do Petróleo pela Petrobrás;
Votou contra a reforma administrativa que impunha um teto de gastos aos funcionários públicos federais;
Votou recentemente contra o cadastro positivo;
Votou a favor do Regime Especial de Aposentadorias para Deputados e Senadores;
Ou seja, é um engodo na medida em que votou como se fosse um estatizante de esquerda. Somente depois de 25 anos de atuação parlamentar conseguiu aprovar um projeto seu em plenário. Um desempenho pífio, mas que mostrou antecipadamente aos eleitores desatentos que não se poderia esperar muito deste político tosco e sem perfil de liderança para exerce um cargo no poder executivo.
A pauta usada na campanha eleitoral visava conquistar o voto da bancada evangélica que poderia conseguir atrair o eleitorado evangélico, sempre muito mais conservador, usando para isso a questão da família e da ideologia de gênero. A bancada da bala, que representa o segmento da sociedade que quer a liberação das armas, antigamente patrocinados pelas empresas de armamento nacionais e estrangeiras. Porém, não havia na pauta de Bolsonaro discussões sobre questões estruturais do país, motivo pelo qual agora com mais de noventa dias de governo fica a sensação do deserto de ideias e projetos.
O nosso país precisava de um governante experiente em negociação, com condições de dialogar com os diversos segmentos da sociedade, entendendo assim, os principais desafios do Brasil para conseguir atrair investimentos e poder voltar a crescer de forma sustentável. O discurso de que isso será alcançado apenas com a aprovação da reforma previdenciária é outro conto de fada.
Aos poucos a sociedade vai se dando conta e percebendo que se deixou ser enganada acreditando que tudo poderia ser melhor, simplesmente não reelegendo o partido dos trabalhadores, mas isso é também foi um engodo. 

Autor: Rafael Moia Filho – Escritor, Blogger e Graduado em Gestão Pública.

Modernidade cada dia mais distante!

A dificuldade não está nas novas ideias,
mas sim em escapar as antigas.
John Maynard Keynes

Quando olhamos para a América do Sul podemos por instantes, mesmo que fugazes, achar que nossa realidade de atraso em relação ao mundo moderno não é tão severa como imaginamos.
Porém, quando nosso olhar é direcionado para além do oceano atlântico, as lágrimas começam a escorrer por nossas faces lívidas e sem nenhuma comiseração.
Enquanto aqui no Brasil não temos saneamento básico em 70% dos municípios, 60% da população é analfabeta ou alfabetizado funcional, mal conseguindo interpretar um texto, percebemos que no chamado primeiro mundo, seja na América do Norte (EUA e Canadá) Europa e alguns países da Ásia a evolução tecnológica, cientifica e humana é anos luz a nossa frente.
Em Bauru, onde resido no Estado de São Paulo, o mais rico da nação, muitos moradores jogam lixo orgânico, reciclável e de construção civil em terrenos públicos ou privados, contribuindo para a pior epidemia de Dengue do país.
Se a população não contribui, o Estado também não faz a sua parte, não investe em educação ambiental, não coloca lixeiras modernas por toda cidade, não dá o exemplo, mantendo terrenos públicos imundos.
O país que tem os impostos mais altos do mundo, sem dar necessariamente nada em troca, não investe em energia alternativa. Sua frota antiga de carros, caminhões e ônibus não são elétricos, consumindo diesel, gasolina e etanol. Com isso a poluição é cada dia maior em todo território nacional.
Quando olhamos para a Espanha nos deparamos com serviço automático de recolhimento de lixo via subterrânea, redes de fiação elétrica por debaixo das ruas e avenidas e a utilização da energia solar em várias cidades.
Na Noruega, a sua capital Oslo, está para se tornar à primeira cidade do mundo a instalar sistemas de recarga sem fio para táxis elétricos, na esperança de tornar a recarga rápida e eficiente o suficiente para acelerar a chegada de táxis não poluentes. O projeto usará tecnologia de indução, com placas de carregamento instaladas em pontos de táxi ligados a receptores instalados no veículo, informou a empresa finlandesa Fortum.
A energia eólica e a solar são realidades em várias cidades europeias, abastecendo milhões de pessoas ao invés de utilizar energia poluente como a Termoelétrica que queima carvão ou a hidroelétrica que apesar de limpa causa destruição ao meio ambiente com a inundação de milhares de hectares de terras.
Nosso atraso na maior parte se deve aos políticos corruptos que destinam a maior parte dos nossos recursos financeiros na manutenção de uma máquina administrativa pesada, inútil e ultrapassada. Se boa parte destes recursos não caísse na vala da corrupção e pudesse ser destinada a pesquisa, desenvolvimento de tecnologias de ponta e educação, muitas coisas poderiam ser diferentes e melhores no país. 

Autor: Rafael Moia Filho – Escritor, Blogger e Graduado em Gestão Pública.

Da arte de mentir de verdade!

O presidente Bolsonaro mandou "comemorar" os 55 anos da ditadura militar. Depois disse que o objetivo não era "comemorar", mas "rememorar" o evento. O ministro do STF Marco Aurélio Mello, aconselhou que se fizessem eventos "em memória" da redentora. Na sexta-feira, entra em cena uma juíza federal de Brasília e proíbe que a ordem de Bolsonaro seja cumprida, sob-risco de afronta à memória e à verdade. Para o capitão da reserva, não houve ditadura, a despeito do país ter vivido 21 anos sem eleição direta para presidente. Atravessamos o período com perseguições políticas, cassações, tortura praticada pelo Estado e censura à imprensa, à música, ao teatro.
Nenhum dos presidentes militares negou ser ditador. Entrou para a história o diálogo gravado entre o ministro do Trabalho, Jarbas Passarinho, e o presidente Artur da Costa e Silva, no dia da edição do AI-5. O Congresso foi colocado em recesso, aboliram o habeas-corpus e foram extintos os partidos políticos. "Sei que a Vossa Excelência repugna, como a mim, enveredar pelo caminho da ditadura pura e simples" - disse Passarinho, para, em seguida, mandar "Às favas, senhor presidente, todos os escrúpulos da consciência".
Debatemos, agora, se houve ditadura no Brasil. Se vacinas são mesmo saudáveis. Se a goiabada cascão existe. Até se a terra é realmente elipsoide. Meu pai morreu achando que o homem na Lua era truque dos americanos. Prova cabal: eles desceram na Lua, e nela, conforme sabemos, não se desce, sobe-se. Ela está no céu, acima de nós.
Entramos na era da pós-verdade, aquela em que os fatos objetivos têm menos influência que os apelos às emoções e às crenças pessoais. Algo que aparenta ser verdade é mais importante que a própria verdade. O mundo digital ampliou por mil a Esfera Pública, que é onde se dá o debate a respeito das coisas de interesse comum.
Melhor seria, hoje, comemorar a mentira, já que estamos na véspera do 1º de abril. Dizendo melhor: a arte de mentir de verdade. Esta, não causa celeuma. O poeta gaúcho Mário Quintana minimizava a mentira, por ser, "uma verdade que esqueceu de acontecer". Certa vez, perguntaram ao escritor satírico anglo-irlandês Jonathan Swift (1733), se a verdade não seria a melhor maneira de combater a mentira? Resposta: "A maneira mais apropriada e eficaz de destruir uma mentira é contar outra".
Escrevendo para os jornais, em 1898, Olavo Bilac cravava: "Para ser político, é preciso ante de tudo ter força de saber mentir e transigir. Diante do eleitorado, que poderia eu dizer? A verdade? Mas o eleitorado, aceso em justa cólera, me correria às pedradas". O eleitor gosta mesmo de ouvir mentiras, embora os jornais, segundo Bilac, prefiram contar verdades. Afinal, para ele, a imprensa era um bem comum, cuja prática tinha de ser transparente.
Mudaram os tempos, ampliaram-se os meios de comunicação, mas as mentiras e os políticos não ganharam rugas. O político passou de notável a notório. E essa notoriedade conduziu ao contato com o povo, ao corpo a corpo e à promessa - ou mentira - jamais cumprida. Bastam poucas palavras num tuite, fora de contexto. A mentira diária dos políticos bombardeia os potenciais eleitores. E estes, ao contrário de "corrê-los a pedradas", fingem que acreditam.
A mentira, durante oito séculos objeto de anátemas bíblicos e de severos ataques de todos os lados, é hoje considerada um "mal necessário" e como tal apreciada e até cultivada como estratégia para sobreviver numa sociedade na qual, de acordo com os versos de Ariosto: "não se vive sempre entre amigos". Contrasta com a linha de origem Iluminista da "transparência", tão presente na nossa Constituição.
O problema está em que, na sociedade moderna, somos invadidos por uma superabundância de notícias. A informação contínua nas redes é fragmentada. Serve para difundir uma verdade superficial que esconde a essência das coisas. Poucos se dispõem a ler os "textões". Deste modo, por trás do direito de informar, pode se esconder uma estratégia de controle da informação.
O escritor russo Anton Tchékov, admitia que seja possível mentir no amor, na política, na medicina; é possível enganar as pessoas e até mesmo Deus. O único refúgio da verdade está na arte. Nela, o artista busca a verdade pessoal. Para Tchékov, a literatura é uma ronda em torno da verdade. Essa busca pode estar fadada ao fracasso, mas sempre sobra um resto de verdade. Muito a propósito, ele dizia escrever para si mesmo.

Autor: Zarcillo Barbosa - Jornalista - Publicado no Jornal da Cidade - Bauru

Os gurus digitais criam os filhos sem telas!

No Vale do Silício proliferam escolas sem tablets nem computadores e jardins da infância onde o celular é proibido por contrato.
A professora, armada com giz colorido, acrescenta frações no grande quadro-negro, emoldurado em madeira rústica, que cobre a parede frontal da classe. As crianças da quarta série, 9 e 10 anos, fazem suas contas nas carteiras com lápis e cartelas. A sala de aula é revestida de papéis: mensagens, horários, trabalhos dos alunos. Nenhum saiu de uma impressora. Nada, nem mesmo os livros didáticos, que as próprias crianças elaboram à mão, foi feito por computador. Não há nenhum detalhe nesta aula que possa estar fora de sintonia com as memórias escolares de um adulto que frequentou a escola no século passado. Mas estamos em Palo Alto. O coração do Vale do Silício. Epicentro da economia digital. Habitat daqueles que pensam, produzem e vendem a tecnologia que transforma a sociedade do século XXI.
Escolas de todo o mundo se esforçam para introduzir computadores, tablets, quadros interativos e outros prodígios tecnológicos. Mas aqui, no Waldorf of Peninsula, uma escola particular onde são educados os filhos de administradores da Apple, Google e outros gigantes tecnológicos que rodeiam esta antiga fazenda na Baía de São Francisco, as telas só entram quando eles chegam ao secundário (o ensino médio).
"Não acreditamos na caixa preta, na ideia de que você coloca algo em uma máquina e sai um resultado sem que se compreenda o que acontece lá dentro. Se você faz um círculo perfeito com um computador, deixa de ter o ser humano tentando alcançar essa perfeição. O que desencadeia o aprendizado é a emoção, e são os seres humanos que produzem essa emoção, não as máquinas. Criatividade é algo essencialmente humano. Se você coloca uma tela diante de uma criança pequena, você limita suas habilidades motoras, sua tendência a se expandir, sua capacidade de concentração. Não há muitas certezas em tudo isso. Teremos as respostas daqui a 15 anos, quando essas crianças forem adultas. Mas queremos correr o risco? ", pergunta Pierre Laurent, pai de três filhos, engenheiro de computação que trabalhou na Microsoft, na Intel e em várias startups, e agora preside o conselho da escola.
Suas palavras ilustram o que está começando a ser um consenso entre as elites do Vale do Silício. Os adultos que melhor entendem a tecnologia dos celulares e dos aplicativos querem que seus filhos se afastem dela. Os benefícios das telas na educação infantil são limitados, argumentam, enquanto o risco de dependência é alto.
USO DE CELULARES EM MENORES NOS ESTADOS UNIDOS

Famílias onde há pelo menos uma criança menor de oito anos.
Fonte: Common Sense Media. 
Os pioneiros tinham isso claro desde o início. Bill Gates, criador da Microsoft, limitou o tempo de tela de seus filhos. "Não temos telefones na mesa quando estamos comendo e só lhes demos celulares quando completaram 14 anos", disse ele em 2017. "Em casa, limitamos o uso de tecnologia para nossos filhos", explicou Steve Jobs, criador da Apple, em uma entrevista ao The New York Times em 2010, na qual disse que proibia os filhos de usarem o recém-criado iPad. "Na escala entre doces e crack, isso está mais próximo do crack", declarou Chris Anderson, ex-diretor da revista Wired, bíblia da cultura digital, também ao The New York Times.
Laurent, que só deu um celular ao filho mais novo quando ele estava no último ano do ensino básico (14 ou 15 anos), alerta para uma mudança perigosíssima no modelo de negócios, do qual foi testemunha em sua vida profissional. "Qualquer um que faz um aplicativo quer que seja fácil de usar", explica. "É assim desde o começo. Mas antes queríamos que o usuário ficasse feliz em comprar o produto. Agora, com smartphones e tablets, o modelo de negócios é diferente: o produto é gratuito, mas são coletados dados e colocados anúncios. Portanto, o objetivo hoje é que o usuário passe mais tempo no aplicativo, a fim de coletarem mais dados ou colocarem mais anúncios. Ou seja, a razão de ser do aplicativo é que o usuário gaste o máximo de tempo possível diante da tela. Eles são projetados para isso."
O problema da relação das crianças com a tecnologia é que o ritmo vertiginoso em que se transforma dificulta a reflexão e o estudo. Uma pesquisa da Common Sense Media, organização sem fins lucrativos, “dedicada a ajudar as crianças a se desenvolverem em um mundo de mídia e tecnologia”, dá uma ideia da velocidade das mudanças: as crianças norte-americanas de zero a oito anos passavam em 2017 uma média de 48 minutos por dia no celular, três vezes mais que em 2013 e 10 vezes mais que em 2011. "Quando teve início todo esse furor pelos smartphones?", se pergunta María Álvarez, vice-presidenta da organização. "Não tem mais que 12 ou 13 anos. E os primeiros tablets ainda menos. É preciso ainda muitas pesquisas para determinar qual é o impacto que essa exposição pode ter nas crianças pequenas. Mas há alguns estudos que começam a ver uma relação entre essa tecnologia e certos marcos na educação. Eles oferecem indicações que os pais precisam levar em conta.”
Um estudo publicado em janeiro deste ano na revista médica JAMA Pediatricsrevelou que um tempo maior diante da tela aos dois e três anos está associado com atrasos das crianças em atingir marcos do desenvolvimento dois anos depois. Outros estudos relacionam o uso excessivo de telefones celulares por adolescentes com falta de sono, risco de depressão e até suicídios. A Academia de Pediatras dos Estados Unidos publicou algumas recomendações em 2016: evitar o uso de telas para crianças menores de 18 meses; apenas conteúdo de qualidade e visualizações na companhia de pais, para crianças entre 18 e 24 meses; uma hora por dia de conteúdo de qualidade para crianças entre dois e cinco anos de idade; e, a partir dos seis anos, limites coerentes no tempo de uso e conteúdo.
Acontece que definir limites não é fácil para os pais que trabalham. E isso leva a uma redefinição do que significa a brecha digital. Até recentemente, a preocupação era que as crianças mais ricas levassem vantagem por acessar a Internet antes. Hoje, segundo a Common Sense Media, 98% dos domicílios com filhos nos EUA possuem celulares, ante 52% em 2011. Quando a tecnologia se generalizou, o problema é o contrário: as famílias com elevado poder aquisitivo têm mais facilidade para impedir que seus filhos passem o dia na frente de celulares. Enquanto os filhos das elites do Vale do Silício são criados entre lousas e brinquedos de madeira, os das classes baixa e média crescem colados em telas.
Adolescentes de famílias de baixa renda, de acordo com um estudo da Common Sense Media, gastam duas horas e 45 minutos por dia a mais nas telas do que aqueles de famílias de alta renda. Outros estudos indicam que crianças brancas são significativamente menos expostas a telas do que negras ou hispânicas. A lacuna é vista até mesmo dentro do Vale do Silício. Dirigindo 15 minutos para o norte, partindo do Waldorf of Peninsula, instituição cuja matrícula é de cerca de 30.000 dólares por ano (117.000 reais), chega-se à escola pública Hillview. A primeira só introduz as telas no secundário. A segunda anuncia um programa pelo qual cada aluno tem um iPad. Na primeira, o visitante é recebido por um espantalho rústico, colocado em uma horta que os alunos cultivam. Na segunda, por uma tela de LED que expõe os comunicados do dia.
"Quantas famílias trabalhadoras podem se dar ao luxo de deixar seus filhos completamente longe das telas?", pergunta Álvarez, da Common Sense Media. "Não acho que isso seja algo realista para a maioria das famílias. Tenho um filho de 12 e outro de 6. Não sei quantas vezes eles se jogaram no chão gritando como loucos se eu lhes tirava o tablet. Estive nessa posição como mãe e sei que não é fácil.”
Funcionários das grandes empresas de tecnologia se reuniram no ano passado em uma iniciativa chamada A Verdade Sobre a Tecnologia. Seu objetivo é convencer as empresas da necessidade de introduzir parâmetros éticos na concepção de ferramentas utilizadas diariamente por bilhões de pessoas, incluindo crianças. "A engenharia da computação foi por muito tempo algo muito técnico, não havia uma ideia clara do impacto que isso teria nas pessoas, e menos ainda nas crianças", explica Pierre Laurent. "Não havia a consciência de que tínhamos que lidar com a ética. Algo que acontece, por exemplo, se você trabalha na indústria médica. Na tecnologia nunca houve um código ético claro.”
É uma luta desigual. Pais superatarefados contra equipes de engenheiros e psicólogos que projetam tecnologia para manter seus filhos viciados. Mas algo está começando a mudar. Os gigantes tecnológicos, cada vez mais questionados em suas políticas comerciais e de privacidade, começam a introduzir mudanças em seus produtos, exceções tímidas ao sacrossanto princípio de captar mais atenção.
No ano passado, dois grandes investidores da Apple, a Jana Partners ea CalSTRS (fundo de aposentadoria de professores da Califórnia), detentores em conjunto de cerca de 2 bilhões de dólares em ações (7,8 bilhões de reais), enviaram uma carta aberta aos chefes da empresa de Cupertino, pedindo que tomem mais medidas contra o vício das crianças nos celulares. "Analisamos as evidências e acreditamos que há uma clara necessidade da Apple de oferecer aos pais mais opções e ferramentas para ajudá-los a garantir que os jovens consumidores usem seus produtos da melhor forma", escreveram eles.
A Apple respondeu apresentando o Screen Time, uma nova ferramenta que ajuda a controlar e limitar o uso de dispositivos móveis. O Google incorporou uma ferramenta semelhante, a Digital Wellbeing. Para os críticos, são apenas remendos que não atacam o problema subjacente: a natureza viciante dos produtos. Até que isso seja abordado, os pais serão responsáveis por orientar seus filhos neste mundo de potencial incerto.
"Nós incentivamos os pais a serem mais proativos quando se trata de procurar conteúdo", conclui Álvarez. "A chave é como aprendemos a equilibrar, a tirar proveito, a limitar o uso e a saber que, para sua saúde física e mental, é preciso haver momentos na família em que nada disso seja usado. Temos uma campanha que convida as pessoas a comer e jantar sem celulares, sem um dispositivo constantemente interrompendo com notificações. Recomendamos também o uso compartilhado dos dispositivos e conversar com as crianças sobre o que elas veem. E é importante que sejamos um modelo para os nossos filhos. Se estamos olhando compulsivamente para o celular, justificando que é para o trabalho, que mensagem estamos passando?"
Plantas, móveis de madeira, lápis e uma lousa se destacam na sala de aula no colégio Waldorf of Peninsula do Vale do Silício 

Autor: Pablo Guimón - Palo Alto (Califórnia, EUA)