Paulinho da Viola.
No meu Olimpo Musical, Paulinho está ao lado de Chico, Caetano, Gil e Milton — como um dos artistas que, com sua música, ajudaram a construir uma nação.
A música popular brasileira é um dos maiores patrimônios culturais do país. Ela não apenas embala nossas emoções, mas também conta a história de um Brasil em constante transformação. Nomes como Chico Buarque, Caetano Veloso, Gilberto Gil e Milton Nascimento são unanimidades quando se fala em MPB. No mesmo nível, mas menos falados, estão Edu Lobo e Geraldo Vandré. Depois, a geração imediatamente posterior, com João Bosco, Ivan Lins, Djavan.
Mas há um nome que, apesar de sua importância, muitas vezes é deixado de fora dessa constelação: Paulinho da Viola.
A bossa nova e o nascimento de uma nova consciência musical
Nos anos 1950 e 60, a bossa nova surgiu como expressão da nova classe média carioca, influenciada pela internacionalização do Rio de Janeiro no pós-guerra. João Gilberto foi o grande elo entre o samba tradicional e a nova estética musical. Ele trouxe consigo o samba choro, a malandragem de Wilson Batista e Geraldo Pereira, e a poesia de Dorival Caymmi.
Mas esse movimento também carregava um certo elitismo, especialmente através de figuras como Ronaldo Bôscoli, que ajudaram a consolidar uma visão preconceituosa sobre a música popular anterior. Essa visão ainda ecoa em obras como o livro de Ruy Castro, que, embora rico em dados históricos, oferece uma leitura musical limitada.
Por esta visão, antes da bossa nova existiam só os bolerões, o baião era uma música de matar barata, Jacob do Bandolim um artista de segunda – conforme Rui me afirmou, em uma entrevista na TV Gazeta.
MPB, festivais e a revolução tropicalista
Com a chegada da MPB e dos festivais universitários, surgiu um novo nacionalismo cultural. Ainda assim, havia preconceitos — como o repúdio à guitarra elétrica. Foi o Tropicalismo, liderado por Caetano, Gil e Gal, que rompeu essas barreiras, misturando o erudito com o popular, o brega com o experimental. Esses artistas, junto com Chico e Milton, são vistos como os grandes construtores da identidade musical brasileira. Mas e Paulinho da Viola?
Paulinho: o curador do samba e do choro
Paulinho da Viola trouxe o samba de morro e o choro para a primeira fila da MPB, com uma sofisticação musical única. Mais do que compositor, Paulinho foi um curador da memória musical brasileira, resgatando clássicos do samba com o mesmo cuidado com que João Gilberto revisitava o passado e Caetano abraçava o brega.
“Foi um Rio que passou em minha vida” tornou-se quase um hino oficial do carnaval carioca. “Sinal Fechado” é de uma riqueza musical fantástica. Paulinho sai do quadradão do samba (1a, 2a, 2a, 1a) para uma solução melódica, sofisticada e, ao mesmo tempo, simples, uma síntese difícil de ser alcançada. O impacto das duas músicas alcançou rádios de todo o país, com o mesmo ímpeto com que eram acolhidas as músicas de Chico, Caetano, Gil e Vandré.
Preconceito de classe: a barreira invisível
Então, qual a razão para jamais ser citado ao lado do quadrado mágico?
Por que, então, Paulinho não é sempre lembrado ao lado dos grandes? A resposta pode estar em um preconceito de classe média, que ainda vê o samba de morro como algo menor, menos intelectualizado. Um episódio envolvendo cachês desiguais em um show sobre o Rio de Janeiro pode ter contribuído para essa marginalização simbólica.
Mas pouco importa. No meu Olimpo Musical, Paulinho está ao lado de Chico, Caetano, Gil e Milton — como um dos artistas que, com sua música, ajudaram a construir uma nação.
Autor: Luis Nassif – Publicado no Site GGN.
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