As
sombras do poder circundam o palácio.
O presidente Jair Bolsonaro, durante solenidade em Brasília - Lucio Tavora - 23/06/2020 -Xinhua
Um
silêncio sepulcral ecoa no Palácio do Planalto. As paredes reverberam o som de
antigos brados, mas as novas conversas se tornaram murmúrios. Onde estão os “cala
a boca!” ou os “acabou, porra!”? Para onde foram os discursos
inflamados sobre a picape na frente do quartel general ou os desfiles
a cavalo?
Se
a maior epidemia, que já colocou na cova mais de 60 mil brasileiros,
não pôde sensibilizar o nosso governante, agora o desenrolar da história —e um
ministro ou outro do STF— o faz.
Nesse
palácio mal-assombrado, os fantasmas que vagam são tipos específicos de
assombração. De um lado: o inquérito das Fake News. Por detrás da
cortina que tremula: o inquérito sobre a interferência na PF. Como se não
bastasse, o amigo e antigo assessor parlamentar, tal qual alma penada, aparece
na casa do advogado da família do presidente, num sítio em Atibaia. Melhor
consultar também os astros...
Quando
nenhum lugar parece seguro, a velha política oferece o seu refúgio. Embalado
nos braços do centrão, o nosso presidente prorroga o auxílio
emergencial —como se nunca tivesse desejado pagar apenas R$ 200 e,
enquanto isso, procura um programa para chamar de seu.
Haverá
quem diga que a base bolsonarista estridente não sobrevive sem a histeria e que
não existe entusiasta de Paulo Guedes que consiga dormir num país que
socorre os mais pobres, mas existe barquinho alternativo no qual essas pessoas
possam pular?
Enquanto
assistíamos, atônitos, à sequência de absurdos, Bolsonaro levava o seu
cercadinho ao limite da vergonha, de onde voltar é muito mais difícil. Quanto
mais se afunda na lama, maior a dificuldade de sair.
Ao
mesmo tempo, o Bolsonaro “Nutella” pode desmobilizar parte dos atores em prol
da Frente Ampla que se anunciava. Como reagirão os “70%”?
Num
jogo de cartas, ganha quem joga com a mão que recebeu, não quem aguarda a mão
perfeita.
Autora:
Gabriela Prioli - Mestre em direito penal pela USP e professora na
pós-graduação da Universidade Presbiteriana Mackenzie.
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