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12 de abril de 2019

So(ma)mos ciência

Face ao desalento com o conhecimento e desinteresse das pessoas pelo saber, a pergunta correntemente feita nos fóruns de discussão é: ciência pra quê? Uma resposta imediata à desvalorização da ciência é porque o brasileiro não conhece as pesquisas científicas realizadas no país. Quando pedimos para nomear cientistas brasileiros, as pessoas se calam.
As sociedades científicas têm feito uma forte campanha de popularização da ciência, assim a chamemos, especialmente no mês de março, evidenciando a importância das centenas de cientistas mulheres de nosso país. É um bom começo.
O desconhecimento é fruto de uma ação de três vertentes: a) o complexo de vira-latas pressupõe que não podemos desenvolver nada de útil, interessante ou relevante, pois apenas o que é feito lá fora é que é bom; b) há no momento uma política oficial de desmonte do sistema de ciência e tecnologia, iniciado no governo passado, que fundiu essa área com a de telecomunicações e, hoje, continua com cortes que chegam à metade do recurso anual que deveria ser ali investido, sem contar o viés de alta e gravíssima ignorância dos mentores dos mandatários; c) nós pesquisadores temos nossa parte em não nos preocuparmos em desenvolver uma linguagem própria de interlocução com a população sobre o que fazemos. A comunicação acadêmica deveria ser prioritariamente a jornalística e, dentro dela, é o jornalismo científico que contém os elementos necessários para a comunicação.
A pesquisa científica brasileira é feita basicamente nas universidades e institutos públicos. A vinculação com a pós-graduação - área de ensino das universidades - é forte, e há o receio de que a substituição do ministro da educação piore a situação, já que o mais recente indicado é economista da ala dura, nunca atuou em gestão educacional, e tem como parâmetro de "eficiência" o que acontece nas faculdades e universidades privadas. Ou seja, ali não é feita pesquisa científica de qualidade porque o objetivo é mal e mal formar um aluno razoável. Usar essa régua para balizar orçamentos é como comparar a importância de uma galinha com a de um peixe: animais diferentes, ambientes distintos.
Mesmo que um projeto científico não atenda a todos os quesitos de aplicabilidade ou utilidade, ainda assim pode e deve ser financiado, pois o objetivo maior é a expansão do conhecimento. A exploração espacial poderia ser vista como um luxo desnecessário, mas é uma das principais causas dos sistemas de georreferenciamento que nos permitem uma comunicação global e o uso do GPS. Tudo bem que muitos estão usando seus smartphones para propalar fakenews e estabelecer conceitos abandonados há séculos, mas é o preço que se paga pela tolerância à ignorância.
As iniciativas de divulgação científica estão sendo marcadas com #IniCiencias, proposta minha, que indico a todos usarem em seus trabalhos e reflexões. A Unicamp, por meio de seu LabJor, oferece o curso de especialização em Jornalismo Científico, gratuito, cujo processo de seleção deve acontecer no fim deste semestre. É um excelente espaço para aprendizado sobre o qual posso falar por experiência própria. A revista eletrônica ComCiência é editada por esse grupo e, mensalmente, traz dossiês aprofundados sobre temas selecionados e de interesse científico, procurando uma abordagem que possa ser entendida por público não especializado (http://www.comciencia.br).
Sejamos, pois, ciência, e com ela saibamos construir - ou reconstruir - um país que tenha projeção internacional pela inteligência de seu povo e não pela beligerância de seus mandatários.

Autor: Adilson Roberto Gonçalves é pesquisador da Unesp!

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