Face
ao desalento com o conhecimento e desinteresse das pessoas pelo saber, a
pergunta correntemente feita nos fóruns de discussão é: ciência pra quê? Uma
resposta imediata à desvalorização da ciência é porque o brasileiro não conhece
as pesquisas científicas realizadas no país. Quando pedimos para nomear
cientistas brasileiros, as pessoas se calam.
As
sociedades científicas têm feito uma forte campanha de popularização da
ciência, assim a chamemos, especialmente no mês de março, evidenciando a
importância das centenas de cientistas mulheres de nosso país. É um bom
começo.
O
desconhecimento é fruto de uma ação de três vertentes: a) o complexo de
vira-latas pressupõe que não podemos desenvolver nada de útil, interessante
ou relevante, pois apenas o que é feito lá fora é que é bom; b) há no momento
uma política oficial de desmonte do sistema de ciência e tecnologia, iniciado
no governo passado, que fundiu essa área com a de telecomunicações e, hoje,
continua com cortes que chegam à metade do recurso anual que deveria ser ali
investido, sem contar o viés de alta e gravíssima ignorância dos mentores dos
mandatários; c) nós pesquisadores temos nossa parte em não nos preocuparmos
em desenvolver uma linguagem própria de interlocução com a população sobre o
que fazemos. A comunicação acadêmica deveria ser prioritariamente a
jornalística e, dentro dela, é o jornalismo científico que contém os
elementos necessários para a comunicação.
A
pesquisa científica brasileira é feita basicamente nas universidades e
institutos públicos. A vinculação com a pós-graduação - área de ensino das
universidades - é forte, e há o receio de que a substituição do ministro da
educação piore a situação, já que o mais recente indicado é economista da ala
dura, nunca atuou em gestão educacional, e tem como parâmetro de
"eficiência" o que acontece nas faculdades e universidades
privadas. Ou seja, ali não é feita pesquisa científica de qualidade porque o
objetivo é mal e mal formar um aluno razoável. Usar essa régua para balizar
orçamentos é como comparar a importância de uma galinha com a de um peixe:
animais diferentes, ambientes distintos.
Mesmo
que um projeto científico não atenda a todos os quesitos de aplicabilidade ou
utilidade, ainda assim pode e deve ser financiado, pois o objetivo maior é a
expansão do conhecimento. A exploração espacial poderia ser vista como um
luxo desnecessário, mas é uma das principais causas dos sistemas de
georreferenciamento que nos permitem uma comunicação global e o uso do GPS.
Tudo bem que muitos estão usando seus smartphones para propalar fakenews e
estabelecer conceitos abandonados há séculos, mas é o preço que se paga pela
tolerância à ignorância.
As
iniciativas de divulgação científica estão sendo marcadas com #IniCiencias,
proposta minha, que indico a todos usarem em seus trabalhos e reflexões. A
Unicamp, por meio de seu LabJor, oferece o curso de especialização em
Jornalismo Científico, gratuito, cujo processo de seleção deve acontecer no
fim deste semestre. É um excelente espaço para aprendizado sobre o qual posso
falar por experiência própria. A revista eletrônica ComCiência é editada por
esse grupo e, mensalmente, traz dossiês aprofundados sobre temas selecionados
e de interesse científico, procurando uma abordagem que possa ser entendida
por público não especializado (http://www.comciencia.br).
Sejamos,
pois, ciência, e com ela saibamos construir - ou reconstruir - um país que
tenha projeção internacional pela inteligência de seu povo e não pela
beligerância de seus mandatários.
Autor:
Adilson Roberto Gonçalves é pesquisador da Unesp! |
Artigos, crônicas, e algumas verdades sobre o cotidiano no Brasil escritas por Rafael Moia Filho e convidados - 15 anos - 1.715.000 de acessos. Twitter @rafamfilho
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12 de abril de 2019
So(ma)mos ciência
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