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23 de março de 2019

Cidade do Cabo: Lições da Megalópole que correu o risco de ficar sem água!

Capital da África do Sul sofreu uma grave crise de abastecimento, resultado de três anos de chuvas escassas em uma região com alta densidade populacional.

Rio — No início do ano passado, os moradores da Cidade do Cabo, na África do Sul, viveram um medo nunca antes experimentado: de ver a metrópole se transformar na primeira do globo a ficar sem água. A cidade sofreu uma grave crise de abastecimento, resultado de três anos de chuvas escassas em uma região com alta densidade populacional. O susto provocou uma grande transformação nos hábitos de moradores e turistas. Além disso, o valor — simbólico e monetário — da água também mudou.
Susto provocou uma grande transformação nos hábitos de moradores e turistas. Foto Pixabay
— Os governantes culparam o excesso de demanda e recorreram à única ferramenta que tinham disponível: gerenciar agressivamente o consumo. Embora isso tenha evitado a crise imediata, também destruiu a confiança na cidade e minou a economia — afirma Anthony Turton, professor do Centro de Gestão Ambiental da Universidade do Estado Livre, na África do Sul, em entrevista ao GLOBO, por e-mail.
Para Turton, outras experiências no mundo mostram a importância de se pensar na expansão da oferta.
— Uma comparação deve ser feita com Melbourne, na Austrália, que tem um clima idêntico e um problema semelhante. Os governantes de lá aumentaram a oferta através da dessalinização. Hoje, são capazes de expandir a economia porque passaram a usar esta técnica. A Cidade do Cabo recusou-se a considerar a dessalinização e, quando o fez, ela foi fragmentada e mal planejada — critica Turton.
A brasileira Camila Buenting foi fazer mestrado em Filosofia, na Universidade de Stellenbosch, na Cidade do Cabo, e viveu os dias críticos de redução do uso de água.
— Quando me mudei, já havia restrição. Mas eu não tinha noção do tamanho da seca. O racionamento foi gradativo até dar um salto muito grande, quando passaram a limitar o número de litros que cada pessoa poderia usar por dia — lembra.
A ativista teve de restringir o consumo a 50 litros por dia — em média, numa descarga no vaso sanitário, são gastos 12 litros — e teve que mudar seus hábitos.
— Passei a tomar banho com um balde embaixo do chuveiro e reutilizava a água para dar descarga. Molhava as plantas com a água usada para lavar louça. Enchia baldes com a água usada para lavar roupa na máquina e usava para outros fins — conta Buenting.
Aumento de 300%
A pesquisadora garante que essas mudanças não fizeram com que gastasse mais tempo com as atividades cotidianas do que o normal. Ela explica por que aderiu ao racionamento sem pestanejar:
— Além de ser uma questão que me é cara, pelas razões ecológicas, o valor da água chegou a crescer 300%. A gente sentia no bolso. Também ficamos com muito receio da ameaça de ter de ficar um dia sem poder usar uma gota d’água.

Autor: Raphael Kapa – Jornal O Globo

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