Capital da
África do Sul sofreu uma grave crise de abastecimento, resultado de três anos
de chuvas escassas em uma região com alta densidade populacional.
Rio — No início do ano passado, os
moradores da Cidade do Cabo, na África do Sul, viveram um medo nunca antes
experimentado: de ver a metrópole se transformar na primeira do globo a ficar
sem água. A cidade sofreu uma grave crise de abastecimento, resultado de três
anos de chuvas escassas em uma região com alta densidade populacional. O susto
provocou uma grande transformação nos hábitos de moradores e turistas. Além
disso, o valor — simbólico e monetário — da água também mudou.
Susto provocou uma grande transformação nos hábitos de moradores e turistas. Foto Pixabay
— Os governantes culparam o excesso de
demanda e recorreram à única ferramenta que tinham disponível: gerenciar
agressivamente o consumo. Embora isso tenha evitado a crise imediata, também
destruiu a confiança na cidade e minou a economia — afirma Anthony Turton, professor
do Centro de Gestão Ambiental da Universidade do Estado Livre, na África do
Sul, em entrevista ao GLOBO, por e-mail.
Para Turton, outras experiências no
mundo mostram a importância de se pensar na expansão da oferta.
— Uma comparação deve ser feita com
Melbourne, na Austrália, que tem um clima idêntico e um problema semelhante. Os
governantes de lá aumentaram a oferta através da dessalinização. Hoje, são
capazes de expandir a economia porque passaram a usar esta técnica. A Cidade do
Cabo recusou-se a considerar a dessalinização e, quando o fez, ela foi
fragmentada e mal planejada — critica Turton.
A brasileira Camila Buenting foi fazer
mestrado em Filosofia, na Universidade de Stellenbosch, na Cidade do Cabo, e
viveu os dias críticos de redução do uso de água.
— Quando me mudei, já havia restrição.
Mas eu não tinha noção do tamanho da seca. O racionamento foi gradativo até dar
um salto muito grande, quando passaram a limitar o número de litros que cada
pessoa poderia usar por dia — lembra.
A ativista teve de restringir o
consumo a 50 litros por dia — em média, numa descarga no vaso sanitário, são
gastos 12 litros — e teve que mudar seus hábitos.
— Passei a tomar banho com um balde
embaixo do chuveiro e reutilizava a água para dar descarga. Molhava as plantas
com a água usada para lavar louça. Enchia baldes com a água usada para lavar
roupa na máquina e usava para outros fins — conta Buenting.
Aumento de 300%
A pesquisadora garante que essas
mudanças não fizeram com que gastasse mais tempo com as atividades cotidianas
do que o normal. Ela explica por que aderiu ao racionamento sem pestanejar:
— Além de ser uma questão que me é
cara, pelas razões ecológicas, o valor da água chegou a crescer 300%. A gente
sentia no bolso. Também ficamos com muito receio da ameaça de ter de ficar um
dia sem poder usar uma gota d’água.
Autor: Raphael
Kapa – Jornal O Globo
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