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1 de março de 2019

A importância da mentira!

Já são bem estabelecidos os estudos do psicólogo norte-americano Jerald Jellison que afirmou que estamos sujeitos a centenas de mentiras todo dia, além de cada um de nós também dizermos mentiras nessa mesma proporção. São dados de algumas décadas atrás, devidamente documentados, mas pelo ativismo atual de tais estudos e reincidência de menções ao tema, parece que a essência dos números não se alterou.
O filósofo e colunista da Folha de S. Paulo Hélio Schwartsman é um dos que rotineiramente trazem o assunto à discussão com exemplos perturbadores. A natureza humana é mais desumana do que pensamos ou que gostaríamos que fosse. Sem desespero, há que se concluir que a mentira é uma necessidade.
No âmbito fisiológico - e pensando primeiramente a fisiologia de nossos corpos e, não ainda, a política - a arte da mentira e da enganação é sinônimo de sobrevivência. Analgésicos, por exemplo, em sua maioria têm por princípio ativo mentir para o cérebro para não sentir a dor. São substâncias que bloqueiam a informação que se origina no foco de dor (um impulso elétrico) para não chegar ao centro neurológico, bloqueio quase sempre por meios químicos de impedir algum 'informante' (íons, por exemplo) de seguir em frente.
A fonte do desconforto continua lá, mas como o cérebro não sabe, nada sente. A mentira política é, por sua vez e como conclusão, apenas mimetismo de funções biológicas.
E qual a importância da mentira na vida política atual? A mentira elegeu o presidente e mantém o governo no poder. O principal meio de propagação dessa mentira política não são neurônios, mas o WhatsApp. Há grupos desse tipo de mensagem nos quais nem o "bom dia" é verdadeiro! Não é justificativa nem explicação para o que está acontecendo, mas é um excelente exemplo da dimensão a que pode chegar a prática do nariz grande. Narizes esses que estarão sendo torcidos por quem teve a paciência de ler até aqui, já exarando impropérios e xingamentos ao autor, como sói ser.
Mente-se sobre acordos oficiais, rombos fiscais e orçamentários e ideologias praticadas ou pressupostas; quando os órgãos agora oficiais são questionados sobre essas falsidades, os questionadores são chamados de comunistas, anarquistas, oportunistas ou outro ista qualquer.
Devaneios e alucinações de ministros podem até ser compreendidos, face ao que cada um vivenciou, mas quando a ignorância e a mentira passam a ser política pública, elas acendem o sinal vermelho da governabilidade. Os ininterruptos escândalos frutificam e apenas corroboram os pressupostos aqui discutidos.

Autor: Adilson Roberto Gonçalves é químico, pesquisador da UNESP – Campus de Rio Claro.

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