Gustavo
Bebianno não tem passado, perdeu o presente e o único futuro, se houver, é de
homem-bomba da República.
Brasília é o Monte Everest da
política. Muitos chegam ao acampamento base, a uma altitude de 5.364
metros. Não deixa de ser um feito. Alcançar os 8.848 metros do cume
é coisa para “fora de série”. Só os “super-humanos” conseguem manter-se
no topo por muito tempo.
Gustavo Bebianno não tem passado,
perdeu o presente e o único futuro, se houver, é de homem-bomba da República.
Chegou perto do pico graças ao seu faro de empreendedor. Viu um iaque selvagem
subindo a montanha sozinho e resolveu apostar no animal.
Circula na capital federal que o
ex-ministro foi o responsável por reunir 15 milhões de argumentos para
convencer Luciano Bivar a “emprestar” o PSL para o Capitão. Seu lugar no
Palácio do Planalto cumpriria a suposta missão de monitorar o “payback” da
empreitada.
Bolsonaro já vinha revelando aos mais
próximos três preocupações: a inabilidade política de Paulo Guedes, a fúria
indomável de seus meninos e a “verve empreendedora” de Bebianno.
Guedes se adaptou rápido a altitude
estabelecendo uma parceria com Rodrigo Maia. O filho Carlos parecia um problema
insolúvel. Até a Folha de SP revelar os laranjas do PSL.
A queda de Bebianno pode resolver dois
problemas do governo. Primeiro, retira da “Capela Sistina” um habitante devoto
do Exu Caveira, a entidade das coisas materiais. É difícil construir governos
imunes aos “adoradores da carne”. Mas dentro do Vaticano, não dá.
Em segundo lugar, o episódio enche de
argumentos os que querem ver os filhos afastados.
Ao expor seu ministro, o presidente
atirou no próprio pé. Ao ameaçar publicamente o Capitão, Bebianno deixou o
presidente sem opção. Pior do que ser injusto é demonstrar fraqueza.
Se olhasse para história recente, o
presidente teria refletido antes desta trapalhada. Dilma Roussef se pautava
pela imprensa. Uma simples nota numa revista era suficiente para ela pegar o
telefone e cobrar explicações de seus ministros.
É a típica ilusão-classe média da
mídia como expressão da “sacro santa” opinião pública. Bolsonaro parece morder
a mesma isca da petista. A Folha não atirou em Bebianno. O alvo dela é o
presidente, corroer sua autoridade e governabilidade.
Existem duas maneiras de enfrentar
situações como essa. A mais fácil é jogar o auxiliar aos leões. Resistir aos
ataques pode sempre cobrar um preço de popularidade no curto prazo. No longo
prazo, sinaliza para o exército que o general é fiel à tropa e vai com ela para
a guerra.
Dilma escolheu o primeiro caminho. A
cada nova denúncia defenestrava seus auxiliares no Jornal Nacional. Parecia dar
certo. Atingiu uma popularidade impressionante. Para o povão era a “mulher do
Lula”, para a classe média, a “faxineira implacável”. Uma soma imbatível.
Acabou isolada. Brasília virou um mar
de ressentimento e desconfiança. Quando Cunha abriu o processo de impeachment o
destino da presidenta já estava traçado.
A novela da demissão deixará marcas. O
sinal de instabilidade e desequilíbrio deixará o Congresso ressabiado. O custo
da reforma da previdência pode ter subido.
A oposição vai comemorar a queda, mas
é bom não perder o foco. Três pilares sustentam o governo: o grupo militar da
dupla Heleno-Mourão, o núcleo econômico de Paulo Guedes e a aliança Moro-Globo.
Tirando alguns técnicos qualificados e
um ou outro político experiente que ocupa posição em função de acordos
pontuais, todos os outros são coadjuvantes. Estão ali para distrair a plateia
enquanto o jogo principal do momento – a reforma da previdência – é jogado.
Bebianno era um destes. Chegou a
ocupar um pequeno espaço em função do temperamento de Onyx. Exonerado, pode
soltar a bomba que quiser. Se a reforma for aprovada voltará para a planície e
será o que sempre foi: ninguém.
Autor: Ricardo
Cappelli
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