Quais as eleições municipais mais
importantes? Qual será o impacto das novas regras? Qual a influência dos
resultados na corrida para 2022? Dados históricos indicam que as eleições
municipais influenciam pouco as eleições de governadores e do presidente
da República. Mesmo assim, elas sempre enviam sinais para o mundo político. Todos
que sonham com a cadeira presidencial se preocuparão em “fazer bonito” em suas
bases.
Urna eletrônica
Engana-se quem pensa que as disputas
serão apenas entre a direita e a esquerda. A eleição de Bolsonaro iniciou
uma reorganização nos campos políticos. Dos dois lados, veremos tentativas de
afirmação de hegemonias.
Neste cenário, um bom conselho é prestar
bastante atenção numa velha máxima da política: nunca fique tão amigo de um
aliado que ele não possa virar adversário; e nunca vire tão inimigo de um
adversário que ele não possa virar aliado.
Em São Paulo e no Rio, Bolsonaro e os
pré-candidatos ao Planalto, Doria e Witzel, duelarão pela
hegemonia na direita. O primeiro objetivo de cada um é vencer. O segundo será
derrotar seu adversário de campo ideológico.
Se o candidato de Doria naufragar e
tivermos um segundo turno na capital paulista entre um Bolsonarista e alguém da
esquerda, quem vocês acham que o governador apoiará por debaixo dos panos? Uma
vitória do presidente na capital paulista sepultaria as pretensões do João.
Não seria surpresa também ver Witzel
apoiando “discretamente” um nome da esquerda no segundo turno contra um
candidato Bolsonarista. O Capitão vai tentar ganhar, se não der, seu objetivo
será derrotar Witzel.
No nordeste, Recife jogará um papel
diferenciado. O desfecho das alianças na esquerda já passou por Pernambuco em
2018, selando a neutralidade do PSB e o apoio do PCdoB ao PT.
O PSB mantém aceso um namoro com o PDT
ao mesmo tempo em que tenta construir um caminho próprio para 2022. Recife é
sua joia da coroa. Qual será a aposta do PT? Lançar Marília Arraes contra João
Campos? Sacrificar novamente a petista para não romper com os socialistas?
Tentar impor pela força sua hegemonia?
No sul, o destaque será Porto Alegre.
Manuela lidera as pesquisas. Pode receber o apoio do PT e do PSOL. Uma vitória
da esquerda num reduto “azul” reforçaria os argumentos dos que apostam na
possibilidade de uma guinada à esquerda em 2022.
Além destas cidades, será importante
observar se as articulações em torno de futuros blocos ficarão de pé. PDT, PSB,
Rede e PV caminharão juntos? O PDT e o DEM definirão movimentos em comum? O que
o PT exigirá de PCdoB e PSOL para apoiar Manuela e Freixo?
O “Centro” vai finalmente sair dos
vídeos promocionais e desfilar na avenida? Com que roupa? Lula e Bolsonaro
reafirmarão suas posições de grandes cabos eleitorais? Moro vai entrar em
campo?
Será a reafirmação da renovação, com
candidatos “outsiders” por legendas de pouca expressão triunfando novamente ou
a política tradicional retomará o seu lugar?
Alianças inimagináveis, luta por
hegemonia, corrida desesperada pela sobrevivência e outros ingredientes farão
parte do cardápio da eleição que tem tudo para ser a mais fragmentada, difícil
e imprevisível da história.
Autor: Ricardo Capelli - Jornalista,
especializado em Administração Pública pela Fundação Getúlio Vargas (FGV). Texto
publicado no Site Congresso em Foco.
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