A corrupção não é uma invenção brasileira,
mas a impunidade é uma coisa muito nossa.
Jô Soares
Até pouco tempo, os brasileiros
acreditavam que a corrupção era coisa que só acontecia no DF ou em grandes
processos licitatórios envolvendo os governos estaduais. Entretanto, após a
operação Lava Jato, muitos questionavam a possibilidade de forças tarefas serem
utilizadas em munícipios brasileiros para investigarem o poder executivo destas
cidades.
Em Bauru, no final de 2019, uma destas
operações realizadas pelo MP – Ministério Público de São Paulo através do
GAECO, com o nome Operação João de Barro, tomou de “assalto” a Cohab – Cia
Habitacional de Bauru.
Em sua primeira fase, os investigadores
encontraram algo em torno de dois milhões em espécie na casa do presidente da
autarquia municipal. Nas buscas confiscaram muitos documentos, agendas,
computadores, celulares e todo tipo de material que pudesse elucidar o caminho
do dinheiro e das transações ilegais que eram realizadas naquela autarquia há
pelo menos doze anos.
Na cidade a sociedade aguarda a
divulgação com ansiedade dos nomes dos demais envolvidos e quanto foi desviado
da empresa no munícipio. Embora haja confiança no trabalho dos profissionais do
MP e do GAECO, muitos estão céticos com relação a prisão dos envolvidos se
condenados pela justiça, mas principalmente se serão obrigados judicialmente a
devolverem o dinheiro que desviaram.
Imaginem o seguinte: Se numa cidade de
porte médio com quase quatrocentos mil habitantes, numa autarquia que não tinha
há muitos anos a função de construir casas e núcleos habitacionais desviaram
tanto dinheiro, o que estaria acontecendo em grandes estatais em plena
atividade financeira e comercial?
O mesmo raciocínio se aplica e é
pertinente, a possibilidade de outros casos terem acontecido ou ainda estarem
ocorrendo dentro do munícipio de Bauru. Afinal de contas, a corrupção conta com
a ousadia dos corruptos e o silencio ou conivência dos “bons”.
Me lembro que
quando ainda presidente da extinta Batra - Bauru Transparente, uma ONG que
defendia a transparência e o combate a corrupção na cidade, tentamos fazer uma
parceria com o excelente OSB – Observatório Social do Brasil que em 2015 havia
economizado mais de um bilhão de reais em três anos (2012,13,14) apenas com o
controle dos editais e dos processos licitatórios em 19 Estados brasileiros e
mais de cem cidades.
Em Bauru, apesar
do esforço dos integrantes da Batra e de palestras e matérias divulgadas em
veículos da mídia, não encontramos respaldo da sociedade civil através dos
empresários da cidade para a implantação da parceria que tinha à época um
custo de menos de dez mil reais mensais, com uma expectativa de economia para
os cofres públicos e correção de rumos dos erros e fraudes em editais do
poder público de milhares de reais ao mês.
É isso que me
refiro como o silencio dos “bons”, não adianta criticarem os políticos, se
votam em palhaços e brincam com a seriedade do voto. Não adianta reclamarem da
política se quando aparecem as oportunidades de correção de rota, silenciam e
deixam de participar do que é certo.
Autor:
Rafael Moia Filho – Escritor, Blogger e Graduado em Gestão Pública.
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