Sexta-feira, 19 de julho, houve falha global de
computadores, impedindo parte do tráfego aéreo, operações financeiras e
bancárias e surgiram muitas telas azuis enlouquecedoras. Raul Seixas e Robert
Wise foram lembrados na semana passada, o dia em que a Terra parou. Um,
pela linda e provocante música, o outro, pela direção do filme de 1951. Há
outra película mais moderna, sempre há uma versão mais nova. Prefiro o filme
original, baseado no conto Farewell to the Master, de Harry Bates. A parada
computacional global, no entanto, não teve um apelo para o fim das guerras,
como foi o filme, um protesto contra a Guerra Fria em curso na época. Um pouco
diferente do conto, que foi publicado em 1940 quando era a Segunda Guerra que
afligia os povos. Alguns cogitaram a parada atual ser o bug do milênio com 24
anos de atraso e lembro que tal alerta - ou alarme - foi uma grande falácia,
pois não haveria a catástrofe apenas porque a data registrada nos computadores
iria zerar com a virada para o ano 2000. Robert Wise também dirigiu a
"Noviça rebelde" e, por falar em versões, minhas considerações sobre
o nome equivocado desse filme foram publicadas no Chumbo Gordo (https://www.chumbogordo.com.br/445083-rebelde-versao-por-adilson-roberto-goncalves/).
Os Jogos Olímpicos de Paris estão começando, hora de ver esportistas superando a si próprios e dando-nos um pouco de entretenimento diferenciado. Gosto de assistir a competições de atletismo, natação, esportes coletivos, dentre outros. Ficaremos parados à frente de telas para ver o certame que dura um mês. O tempo dedicado aos jogos não é tão extenso quando comparado ao medido pelo interesse com que paramos para ver futebol. Isso não consigo entender, uma vez que a emoção nas demais modalidades é muito mais intensa. Sem contar que, em Paris, apenas o ludopédio feminino brasileiro estará representado. Nada de espantoso, com certeza, pois as Olimpíadas são para os melhores. O Jornal da Cidade de Bauru publicou um pequeno manifesto meu sobre o assunto, em que fui auto estimulado a escrever sobre a expressão "jogo bonito"
(https://sampi.net.br/bauru/noticias/2846354/articulistas/2024/07/futebol-jogo-bonito). Não, não sou Lima Barreto, mas também não gosto de futebol por
motivos outros. É entediante, apenas isso.
Com tanto acontecimento, o mundo pira. O verbo nada
tem a ver com peixe, do tupi-guarani, nem com o fogo, do grego. Pirar tem o
sentido menos usado de fugir, sair: pirou sem falar com ninguém. Mas, no
Brasil, é ficar louco seu mais vasto emprego. Os melhores etimologistas dizem
que a origem é duvidosa, tal qual acontece com vários outros vocábulos. E fui
dar uma espiada na hemeroteca da Biblioteca Nacional para ver quando a palavra
(pirar e pirado) começou a ser impressa nos jornais e revistas. Com o sentido
de fugir, aparece em O Malho, edição de 1937, mas não encontrei alusão ao
sentido de enlouquecer no primeiro quartil do século passado. O buscador
retorna palavras que terminam em pirar, separadas por hífen na mudança de
linha. Inspirar, transpirar, respirar, suspirar, aspirar e expirar estão nesse
grupo. E conspirar também aparece. Coincidência, não? Conspirações que dia
sim, outro também, voltam a assombrar nosso dia a dia, de ataques a sistemas
eleitorais a ameaças ideológicas inexistentes (ou evidentes). Até dizem que os
peixes (não pira!) do Sena foram removidos do rio para passar a tocha (uma
pira) e para não atrapalhar os nadadores nas Olimpíadas. Será?
Autor: Professor Adilson Roberto Gonçalves – Pesquisador da Unesp -Academia de Letras de Lorena - Academia Campineira de Letras e Artes -Instituto Histórico, Geográfico e Genealógico de Campinas -Instituto de Estudos Vale paraibanos - União Brasileira de Trovadores - Seção Campinas. Publicado no Blog dos Três Parágrafos.
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