As tecnologias da informação dão azo a muita coisa indesejada e artificial. Criação eletrônica tem sempre o dedo humano, ao menos até agora. Mas não é disso que se trata a reflexão aqui. E também não se pode pautar apenas pelo assunto mais falado da semana. O destaque é a ocupação de quatro cadeiras na Academia de Letras de Lorena na festa de 15 anos acontecida em 14 de setembro. Momento único, com apresentações musicais de produções autorais e regionais, junto com dança, a mais nobre expressão artística do movimento. Tenho reconhecidas dívidas com instituições de que participo, pois o tempo corre diferente quando a urgência se manifesta. Mas o carinho também é presente, e é isso que sinto pela Academia de Letras de Lorena. Sou um dos membros fundadores; dos 23 iniciais somos hoje apenas onze, uma vez que é facultado ao membro se desligar passando a remido ou emérito. Dois outros passarão à condição de remido a pedido. A imortalidade não tem prazo, mas tem peso e responsabilidades que nem todos conseguem continuar a suportar. A professora Neide, nossa incansável presidente, foi devidamente homenageada por ex-alunos que atuaram no cerimonial e a XV Coletânea reúne poemas, contos, crônicas e ensaios cujo début foi o tema principal. Na minha contribuição lembrei dos fundadores e da professora Maria Luiza Reis Pereira Baptista que me convidou a integrar a Academia, mesmo sem o saber.
Por enquanto, temos as fotos da festa, e algumas impressões escritas acerca do acontecimento. As seis horas de viagem de Campinas a Lorena e de lá para cá são feitas para o deleite de pouco mais de quatro horas entre as fotos, a cerimônia com muita arte, cultura e emoções, seguida da confraternização e fofocas acadêmicas. Sim aprendi deste os tempos universitários que a melhor parte da discussão de um evento é na hora do café em que nos despimos de ternos e gravatas e falamos o que realmente importa. Importa para os interlocutores, não para ser espalhafato como é hoje nas redes de boatarias. Viagens longas já estão me deixando descadeirado, sinal do tempo que passa em direção única e com alta velocidade. Tempo por tempo seria um número adimensional, dirão os colegas cientistas, eu sei, mas a liberdade poética me permite que transforme em nulo, quando rápido, e em infinito, enquanto não dure. Subverto outro poeta pelo jeito. Os verbos se invertem, pois era para ganhar tempo e perder peso...
Brincadeiras à parte, a postagem coincidiu com o aniversário de Paulo Freire, devidamente mencionado na postagem do ano passado (https://adilson3paragrafos.blogspot.com/2023/09/historias-quentes.html), que é também Dia Nacional do Teatro. Combinação perfeita para a pantomima eleitoral que estamos vivendo em que a educação passa ao largo. Voltam à discussão a proibição dos celulares em sala de aula e a inteligência artificial como ferramenta de aprendizagem. Desde o tempo em que a tabuada foi abandonada em sala de aula e sua implicação direta na menor capacidade dos alunos em realizar contas de cabeça, ou seja, raciocínio rápido para questões mais simples, entendo que certos facilitadores são disfarces para menor desenvolvimento da cognição. Não apenas minha opinião, pois países europeus que haviam abandonado a escrita cursiva e introduzido as ferramentas eletrônicas nas escolas estão voltando atrás. Outra observação é que escolas consideradas de excelência, algumas também de elite, não aderem imediatamente a soluções mágicas, pois o cérebro humano, em sua complexidade de aprendizado, segue caminhos não totalmente conhecidos. O professor, além de administrar os humores nas salas de aula, precisa se desdobrar para convencer os alunos a aprenderem. Dizem que, se fizerem aulas no tik-tok, os alunos prestarão atenção. Deixem para os atores o entretenimento e para os educadores o sabor do saber.
Autor: Professor Adilson Roberto Gonçalves – Publicado no Blog dos Três Parágrafos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário