É difícil explicar nossa atração por frases fortes. A frase de impacto sobre a falta de interesse na paz foi proferida por David Wengrow, conferencista do último evento presencial de 2023 do Fronteiras do Pensamento.
Como estamos acostumados a ver no cenário político, frases fora de contexto podem produzir resultados desastrosos. É preciso dizer que a declaração de David veio em resposta ao questionamento do talentoso mediador Marcos Piangers sobre a ênfase que os historiadores dão às guerras. Talvez seja preciso dizer mais. Comecemos pelo princípio.
O antropólogo, arqueólogo e escritor britânico David Wengrow fechou a temporada 2023 do Fronteiras com um passeio especial pela história da humanidade. Fomos convidados a tomar outros caminhos, a rever velhos conceitos aprendidos na escola. Coautor do best seller O Despertar de tudo, Wengrow está reescrevendo a história a partir de suas pesquisas, oferecendo novas perspectivas e teorias, algumas delas surpreendentemente óbvias, como tantas outras depois de serem reveladas. A revolução agrícola durou cerca de 3.000 anos em diferentes estágios evolutivos de diferentes sociedades nos diversos cantos do mundo. Como algo que dura 3.000 anos pode ser chamado de revolução?
Civilizações antigas já haviam consolidado cidades muito antes da agricultura ser dominada. O mundo antigo é muito mais complexo do que nos ensinaram. Wengrow apresentou diferentes tipos de organizações sociais da antiguidade: igualitárias, totalitárias, anárquicas, democráticas, com ou sem classes sociais distintas, e até mesmo povos com modelos de organização social diferentes para cada época do ano.
Minha
admiração por Wengrow aumentou quando ele respondeu uma pergunta da plateia
sobre o futuro: “As pessoas têm muito interesse no futuro, entendo, mas minha
dedicação está focada em compreender o passado”. Bela demonstração de
sabedoria, eu diria. Quando Piangers comentou sobre o fato da história antiga
ser contada de guerra em guerra, Wengrow demonstrou senso de humor dizendo que
ninguém está interessado na paz, e complementou. Na arqueologia parece não
haver muito interesse em estudar os momentos de paz da história da humanidade,
mas eles contam muito sobre nós. Momentos de paz interessam a Wengrow. A mim
também, cada dia mais.
Autor:
Luiz Fernando Bettella – Publicado no Site Fronteiras do Pensamento.
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