Quando o delegado da Polícia Federal, Wallace Fernando Noble Santos, invadiu o apartamento do Almirante Othon Luiz Pinheiro da Silva, derrubou-o no chão e algemou-o, estava consumado um dos atos mais indignos da história republicana. De um lado, um cientista com enormes favores prestados ao país; do outro, um delegado que, pouco tempo depois, foi preso por corrupção.
Em seguida, Othon foi julgado pelo inominável juiz Marcelo Bretas – hoje sob investigação, acusado de beneficiar clientes de um advogado muito amigo – e condenado a 43 anos de prisão. Na época, Othon alegou ter sido vítima de interesses nacionais. Estava certo, mas os detalhes da história nunca vieram a público.
A negociação França Brasil, para o submarino nuclear, foi fechada em outubro de 2008. Houve uma disputa para saber quem seria a empresa de engenharia a tocar a construção do estaleiro. A França propunha uma empreiteira francesa. O Brasil bateu pé em defesa de uma empreiteira nacional, caso contrário não haveria transferência de tecnologia. A escolhida foi a Odebrecht. Aí ocorreu uma pressão anglo-americana sobre a França. Não se temia o acordo em si, mas a possibilidade do Brasil, depois de determinado período de uso do urânio, o transformasse em plutônio, que é residual do urânio, totalmente fora do controle da Agência Internacional de Energia Atômica de Viena. Já nos anos 80, o Brasil foi acusado de remeter plutônio para o Iraque.
Os membros do clube nuclear (Estados Unidos, Reino Unido, França, Rússia e China), também conhecido como Clube de Londres, até então eram os únicos proprietários de artefatos e submarinos nucleares. Por conta disso, em fins de novembro de 2008, a França retirou a transferência de tecnologia do Centro Radiológico, trinta dias antes das assinaturas do contrato final, em 21 de dezembro daquele ano. Também enviou uma equipe que vasculhou os computadores da Marinha no Rio de Janeiro, Brasília e São Paulo, e nas instalações de Aramar, em Sorocaba, deletando tudo o que havia sido encaminhado para a Odebrecht fazer seu preço para a construção do Centro Radiológico.
Isso nada tinha a ver com o reator do submarino, mas com o plutônio.
A Odebrecht, evidentemente, não tinha interesse em artefatos nucleares, mas tinha um enorme contrato para cumprir, de construção do Centro de Manutenção Especializada, mas nada sabia de tal construção. Por isso contratou o Almirante Othon. Só que Marcelo Odebrecht, o desastrado executivo que destruiu a companhia, decidiu economizar 28,5% de tributos e resolveu pagar todos seus consultores através de uma empresa, a Strategic, sediada no exterior, sem atentar para as consequências políticas.
Em seu depoimento à Justiça, Marcelo admitiu que fazia esses pagamentos com fundos de suas empresas no exterior, e não com dinheiro desviado de projetos do Brasil. A própria Marinha, na época, publicou nota oficial desmentindo que Othon tenha influenciado para a troca de submarino alemão pelo francês. O resultado foi esse, de duas pessoas desclassificadas impondo-se sobre uma figura da história. Hoje, viúvo, Othon passa seus últimos dias aguardando a decisão final do Supremo Tribunal Federal sobre seu caso.
Em setembro do ano passado o delegado Wallace foi demitido da Polícia Federal. Descobriu-se que recebia propinas para interferir em diferentes inquéritos entre 2016 e 2018.
Em
fevereiro de 2023, o Conselho Nacional de Justiça decidiu afastar Marcelo
Bretas da 7a Vara Federal Criminal do Rio de Janeiro. Foi acusado de violação
dos deveres de imparcialidade e tratamento humano com as partes. E, como tudo
termina em circo, Bretas transformou-se em influenciador digital. Totalmente
ignorante das implicações políticas.
Autor: Luís Nassif – Publicado no Site GGN.
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