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8 de julho de 2024

Heróis humanos e falhos!

Meus heróis são professores. Ao contrário do que a música diz, os que morreram não deve ter sido de overdose, mas de vida já vivida. Nem todos encerraram suas atividades mundanas, pois convivi com mestres com duas décadas a mais de idade - o que não é muito - e que estão por aí curtindo suas aposentadorias ou atuando no que gostam ou deveriam gostar: viver. Com eles soube que o aprendizado se faz por exemplos e contraexemplos, assim creio que pregava Piaget, e com muita repetição. De preferência, repetimos os exemplos e os escrevemos em folhas físicas ou mentais, sempre com a intenção de absorver e transformar a informação. A insistência nos erros tem nos tornado menos humanos e tristemente mais iguais uns aos outros. Se assim não fosse, não haveria tantas guerras insanas e por interesses exclusivamente econômicos de alguns grupos que permanecem na surdina. Dizem que é defesa de princípios democráticos, liberdade de expressão, religiosidade, etc. Enganai-vos uns aos outros, eis a mensagem. Aos mestres, volto a eles, que continuem vivendo e usando seus cérebros para não degenerar, mesmo que não seja para atividades profissionais.

A internet é um ambiente de males e bens. Por meio dela, já encontrei colegas de escola e professores do passado com quem pude trocar algumas lembranças e fixar passados para reafirmar presentes. Uns seguiram carreiras esperadas, outras aparecem em lugares e profissões inusitadas, impensáveis 30 ou 40 anos atrás. Nesta semana, porém, tive um dissabor. O nobre professor de matemática na educação primária, com sua postura distinta, elegante e nome diferente, dava aulas claras que me faziam prestar atenção em todos os detalhes. Nunca tive problemas na escola e lembro de cada um dos professores, talvez não todos pelo nome completo. O sobrenome do de matemática vim a descobrir buscando no diário oficial. Os funcionários públicos têm sua vida escancarada naquelas páginas, todas digitalizadas agora. Sei quando ele foi promovido com adicionais por tempo de serviço, em que posição ficou no concurso que prestou para o magistério, em que grau da carreira se aposentou e todas as licenças para tratar de saúde que tirou. O mais importante é que permaneceu no "Felipe Cantúsio", escola pública em que estudei, até se aposentar. Maravilhas cibernéticas.

Mas eu mencionei um, porém. A mesma internet dá acesso aos processos judiciais em que constam um determinado nome. Podem procurar e encontrarão tudo sobre todos, a menos que seja sigilo de Justiça ou que somente são públicas algumas informações gerais. Ações trabalhistas não aparecem nas buscas, precisando ser advogado para ter acesso a processos pelo nome das pessoas. No caso do site do Tribunal de Justiça, está lá escrito que o professor de matemática tentou passar a mão na herança da mãe, sem comunicar os demais herdeiros, e embolsou mais de 100 mil reais! Vejam só como se dá a destruição de um herói. A mãe dele parece que faleceu no final de 2014 e havia sido funcionária da Universidade de São Paulo (USP) pelo menos de 1966 a 1986, segundo o mesmo diário oficial. A matemática ajudou a fazer as contas do benefício, mas não do escândalo. Ou do quanto decepcionou o discípulo aqui. Já não sei se arriscarei ainda mais a decepção para matar a curiosidade de saber o que aconteceu com os demais professores daquela escola. A ignorância é uma bênção, bem sabem o que delas se beneficiam em palanques e púlpitos.

Autor: Professor Adilson Roberto Gonçalves – Pesquisador da Unesp -Academia de Letras de Lorena - Academia Campineira de Letras e Artes -Instituto Histórico, Geográfico e Genealógico de Campinas -Instituto de Estudos Vale paraibanos - União Brasileira de Trovadores - Seção Campinas. Publicado no Blog dos Três Parágrafos.

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