Nascida
em 1896, no início do século XX Bauru começou a ganhar infraestrutura e viu sua
população crescer com a chegada da ferrovia e, mais tarde, das rodovias,
transformando-se num importante entroncamento comercial. O café ganhou força no
município no início do século, porém se desvalorizou e aos poucos cedeu lugar
ao processo de industrialização, sendo que, esta foi a principal responsável
pela urbanização do município. E foi justamente as margens da ferrovia que proporcionou
o desenvolvimento econômico e o crescimento da cidade que se tornaria “A
cidade sem limites”.
Difícil
entender que uma cidade com este início pujante e que na década de ’80, tenha sido
cogitada para ser a nova Capital do Estado tenha chegado ao ponto em que se
encontra em pleno Século XXI, sem um parque industrial moderno, sem
desenvolvimento, sem suas ferrovias, sem uma agricultura forte e dinâmica,
resistindo ainda graças ao comércio e ao setor de serviços.
Nos
últimos trinta anos a cidade vem patinando, escorregando para trás em
movimentos circulares, mas sem capacidade de se reerguer, como se estivesse
sendo sugada por um grande ímã embaixo de seus limites. A cidade parece estar
presa a uma armadilha de um interminável show circense do “Globo da Morte”, no
qual os atores (políticos e empresários), cada vez mais exaustos, voltam à cena
para mais um giro, numa dança tediosa e imutável.
Foi
se o tempo das grandes conquistas, como a construção de Hospitais, Campus da
Unesp e duplicação da Rodovia Mal. Rondon. Hoje um mero e simples prolongamento
de avenida é motivo de festa por parte dos políticos e de uma pequena parcela
da sociedade.
O
déficit habitacional gira em torno de 30 mil residências, o que não é pouco
numa cidade que possui uma autarquia (Cohab) que não constrói nada há décadas e
tem uma dívida milionária em litígio, além de ter sido palco recente de uma
operação (João de Barro) do GAECO que descobriu fraudes milionárias da ordem de
R$ 57 milhões desviados pelo seu ex-presidente em conluio com gente que ainda
permanece protegida pelo segredo de justiça. O prejuízo da cidade foi gigante,
sem limites, tanto financeiramente como moralmente.
A
rede de distribuição de água feita pela autarquia do DAE depende do Rio Batalha
e é realizado numa Estação de Tratamento antiga, quase obsoleta. Os períodos de
estiagem cada vez maiores fazem 40% da população de 386 mil habitantes terem
calafrios. A mesma autarquia cabe a coleta de esgotos da cidade que recebeu a
fundo perdido R$ 129 milhões para a construção de uma Usina de Tratamento de
Esgotos em 2015, nove anos depois, ainda não foi concluída, a gestão da
Prefeita Suellen Rosin paralisou a obra em 2023. Essa situação além de manter o
esgoto de toda cidade sendo jogado no Rio Tietê, afasta investimentos e
contribui para a manutenção da cidade com IDH baixo.
Para
complicar a Prefeita lançou um Projeto faraônico que engloba o término da ETE,
obras de contenção de enchentes e a privatização do DAE. Um cheque em branco de
bilhões que se somam a manutenção da cobrança do Fundo de Tratamento de Esgotos
(CPMF bauruense), que ninguém tem coragem de cassar.
A
saúde que depende do Hospital Regional (Estadual) atende pacientes de diversas cidades
da região, vivendo um drama sem fim, com o déficit de leitos hospitalares e de
UTI’s que o Estado não revolve há muitos anos. Realizar um exame de qualquer
especialidade é sinônimo de espera de ao menos dois anos para os pacientes do
SUS. O governo do Estado nada faz além de contribuir com o caos, pois não
encara a questão da falta de leitos e a demora para realização de exames como
algo imprescindível a população.
A
cidade não possui rede informatizada para os serviços de saúde, medicamentos e
afins. Tudo funciona sem que haja controle que possibilitem aos servidores,
médicos e usuários terem respostas rápidas para suas necessidades. Pensar num
APP que facilite a marcação de consultas e a busca por remédios nem em sonho.
Faltam medicamentos para diabetes, alto custo e não há justiça que faça isso
ser alterado.
O
asfalto que já foi utilizado em campanhas eleitorais pela atual prefeita e seus
antecessores, permanece não chegando aos bairros mais distantes. As grandes
avenidas que cortam o município com fluxo intenso de veículo, ônibus e
caminhões, estão sempre aguardando manutenção, duplicação e iluminação decente.
Por
falar em iluminação, a cidade é uma das mais mal iluminadas do Estado. A CPFL
que já foi uma estatal, depois de privatizada abandonou a iluminação pública. As
lâmpadas antigas não servem para iluminar nem a casa da dinda ou da luz
vermelha como eram chamadas antigamente. Nem prefeitura, nem CPFL, respondem do
porquê dessa situação vergonhosa que coloca em risco a vida dos munícipes, que
pagam impostos em dia.
De
1990 até hoje a cidade teve por conta das reeleições apenas seis prefeitos
eleitos:
01/01/1989
a 31/12/1992 - Antônio Izzo Filho.
01/01/1993
a 31/12/1996 - Antônio Tidei de Lima.
01/01/1997
a 27/08/1998 - Antônio Izzo Filho – (Cassado).
27/08/1998
a 02/12/1998 - Assumiu o Vice Nilson Costa.
02/12/1998
a 03/02/1999 - Antônio Izzo Filho reassume mediante liminar. Em seguida, cai a
liminar e ele é preso.
03/02/99
a 31/12/2000 - Nilson Costa reassume mediante liminar.
01/01/2001
a 20/09/2003 - Nilson Costa – (Cassado pela da Justiça)
20/09/2003
a 13/10/2003 - Assume o vice Dudu Ranieri.
13/10/2003
a 31/12/2004 - Nilson Costa reassume mediante liminar.
01/01/2005
a 31/12/2008 - Tuga Angerami.
01/01/2009
a 31/12/2016 - Rodrigo Agostinho.
01/01/2017 a 31/12/2020 - Clodoaldo Gazzeta.
01/01/2021 a 31/12/2024 – Suellen Rosin.
A turbulência é notória na vida pública da
cidade, com cassações, retornos, liminares e prisão de prefeito. Isso tudo influencia
se somarmos ao fato de que neste período a cidade andou para trás. A
administração pública se comportou como se estivesse num atoleiro ou num campo
de areia movediça. O poder é concentrado nas mãos de poucos empresários, assim
como os donos da riqueza. Poucas famílias detêm mais de 90% do PIB da cidade,
que sofre com a desigualdade social e com o fato de que esta elite não permite
o desenvolvimento da cidade. Colaboram com a fuga das grandes empresas e
impedem que novos negócios se abram na cidade.
Uma
das teses muito ventiladas na cidade é de que os empresários locais não querem
grandes indústrias com medo de que os salários pagos por estas entrem em choque
com a miséria que destinam aos seus colaboradores. Essa
elite se comporta como se fossem os “kennedys’ de Bauru, um patriarcado que
pensa exclusivamente em seus umbigos, em seus negócios e nada mais. São
extremamente conservadores no que tange à política e aos seus negócios. Isso
prejudica e retira da cidade a possibilidade de nos transformarmos numa grande
São José do Rio Preto, numa Maringá ou qualquer outra cidade progressista.
A
população precisa acordar, não apenas votando com seriedade, mas sim, cobrando resultados
efetivamente a gestão inteira, por mudanças, promessas de campanha e pelo
cumprimento exato daquilo que foi proposto no caderno de realizações de cada
candidato eleito na cidade. É preciso pôr fim aos cargos de confiança que geram
despesas, injustiças e dependência política, visto que alguns vereadores da
base governista indicam seus afilhados aos cargos e depois ficam nas mãos do
prefeito.
É
preciso cobrar a reestruturação das autarquias, com o fechamento da Cohab em
definitivo. A modernização da Emdurb que trata de assuntos por demais importantes
na cidade e nada faz para administrá-los com zelo e eficiência, como, por
exemplo, a destinação do lixo domiciliar e reciclável. O DAE, que presta
serviço caro, ineficiente e precisa ter de uma vez por todas uma discussão com
a sociedade sobre seu destino – Modernizá-lo ou Privatizá-lo?
Cabe
ao povo pressionar e exigir dessa gente, pois se forem esperar que eles o
façam, teremos apenas despesas, prejuízos e insatisfação. A cidade e os
recursos são do povo, cabe ao povo então fiscalizar, cobrar e exigir.
Autor:
Rafael Moia Filho: Escritor, Membro da Academia Bauruense de Letras, Blogger e
Graduado em Gestão Pública.