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1 de janeiro de 2024

Renascer é todo dia! Como assim?

  

Em Antes de partir, Jack Nicholson e Morgan Freeman dão um show de interpretação ao cumprir uma lista de desejos antes de morrer!

Acho que temos apenas três tipos de dias. 1º) Um se chama “ontem” e se foi! O segundo é o “amanhã” e nem sei se haverá, tipo talvez sim, talvez não!  É uma pena, nada podemos fazer no ontem ou no amanhã. 3º) O terceiro dia é o “hoje” e nele podemos fazer o que quisermos. Hoje sempre será o dia certo para amar, acreditar, fazer acontecer, causar e principalmente escutar, contemplar e perdoar.

Final de ano é balanço geral e será que realizamos o que prometemos? É comum escutar que a cada ano renascemos. E se lhe avisassem que tem 12 meses antes de morrer? Qual seria sua lista de prioridades para renascer todos os 365 dias?

Melhor forma

O médico inglês Richard Smith provocou uma grande polêmica mundial ao dizer que o câncer seria a melhor forma de morrer. Ele disse: "Você pode dizer adeus, refletir sobre a vida, deixar mensagens, visitar lugares especiais pela última vez, ouvir as músicas favoritas, ler poemas e se preparar, de acordo com suas crenças, para encontrar seu criador ou curtir o esquecimento eterno." Se você assistir o filme “Antes de partir” com Jack Nicholson e Morgan Freeman você pode até achar que ele tem razão.

Smith listou quatro maneiras de falecer: 1. Morte súbita, que vem se tornando menos comum por que as pessoas estão fazendo mais prevenção, deixando se de ser súbita 2. A demência, uma morte lenta. 3. A falência dos órgãos, uma morte imprevisível. 4. E por câncer, que ocorre ao longo de meses, dando tempo para despedidas e outros preparativos.

Para Smith, as pessoas tentam não pensar a respeito da morte, mas nunca pensar sobre ela faz mal. Os filósofos estoicos, como Sêneca, mostraram claramente que contemplar a própria morte não só leva a uma morte melhor, como a uma vida melhor. Uma aceitação por inteiro da morte significa uma vida plena e dá significado à vida. É um ciclo natural.

Morte súbita?

Agora a situação está mudando, pois com a ajuda da Inteligência Artificial, pesquisadores da Universidade Técnica da Dinamarca conseguiram prever a morte súbita da pessoa com 78% de acerto! São resultados muito confiáveis, pois usaram dados pessoais e história médica de seis milhões de dinamarqueses. Ou seja, a morte súbita pode ser prevista!

Esta inteligência artificial foi chamada de Life2Vec e a pesquisa publicada na “Nature Computacional Science”. Os resultados são muito significantes pois sua base é um serviço público de qualidade e único na Dinamarca, com informações seguras disponíveis de pessoas entre 35 e 65 anos. Os dados analisados foram de 2008 a 2020, sendo que os primeiros 8 anos foram analisados sob a seguinte pergunta: - Quem continuava vivo depois de 2016 a 2020. E assim checaram se o modelo era preciso ou não. E foi o mais preciso de todos os algoritmos utilizados até hoje.

O risco de morte súbita está associado ao histórico de saúde e a outros dados como renda, diagnóstico psiquiátrico e gênero. Para um dos autores do artigo, Sune L. Jorgensen, os resultados servem para prever e tratar problemas de saúde antes que ocorram e ajudar também os governos a diminuir a desigualdade social. Segundo ele não deve ser usado por seguradoras.

Saber com antecedência da morte, pode criar situações embaraçosas, como as provocadas pela previsão de que o mundo vai acabar. Elas foram alegremente abordadas na música “E o mundo não se acabou” de Assis Valente, gravada por muita gente e a imbatível Paula Toller. Afinal, o acerto da pesquisa foi de 78% e errou em 22%. Vale a pena ouvir a música.

Reflexão final

A virada do ano é o 365º (trecentésimo sexagésimo quinto) momento do ano em que o “hoje” vai passar a ser “ontem”. O amanhã não temos certeza de que haverá. Renato Russo nos ajudou muito a entender isto, cantando para que amemos as pessoas como se não houvesse amanhã. O “ontem” e o “amanhã” são apenas dados estatísticos e históricos, a vida mesmo é “hoje”!

Para você, desejo que cada dia de 2024 seja um renascer consciente e feliz!

Autor: Professor Alberto Consolaro - Titular da USP e Colunista de Ciências do JC. Publicado no JC de Bauru.

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