Jair Bolsonaro e Alexandre Ramagem. Crédito Agência Brasil.
Entre os agentes afastados pelo STF, um tinha cargo de chefia e três trabalhavam no gabinete de Ramagem; PF acusa o grupo de favorecer clã Bolsonaro.
No bojo das investigações sobre a Abin paralela de Bolsonaro, que espionou 30 mil cidadãos brasileiros críticos ao governo de então com o software israelense FirstMile, o Supremo Tribunal Federal (STF) determinou o afastamento de sete agentes da Polícia Federal e servidores da agência subordinados a Alexandre Ramagem, ex-diretor-geral da Agência Brasileira de Inteligência (Abin). Os policiais seriam encarregados de monitorar os alvos e produzir relatórios que favorecessem narrativas mentirosas com o objetivo de perseguir esses críticos e favorecer o ex-presidente e seus aliados.
Alvo da operação Vigilância Aproximada nesta quinta-feira (25), Ramagem seria a figura de liderança do grupo. O afastamento se dará até o final das investigações.
De acordo com a coluna Na Mira, do portal Metrópoles, a PF afirma que Ramagem havia dividido a Abin paralela em dois grupos. O primeiro, chamado de “Alta-Gestão”, era composto por delegados federais que estavam cedidos à Abin e teria como atribuição de fazer a gestão do software FirstMile. O próprio Ramagem e delegado Carlos Afonso Gonçalves seriam dessa diretoria.
Gonçalves é delegado da PF desde 2003, especialista em operações aéreas e piloto de helicóptero. Já atuou como diretor do Departamento de Inteligência Estratégica da Abin e, depois, secretário de Planejamento e Gestão do órgão. É um dos que foi afastado do cargo pelo STF enquanto rolam as investigações.
O outro grupo, dos “Subordinados”, tinha policiais federais cedidos à Abin e executava as tarefas determinadas pelos diretores. É daí que vieram os outros 6 agentes afastados. O grupo está proibido de acessar quaisquer dependências da PF, manter contato com qualquer um dos investigados e tiveram o acesso bloqueado aos sistemas digitais correspondentes. Veja quem são a seguir.
Marcelo Araújo Bormevet é servidor e secretário de Planejamento e Festão da Abin, cargo que já esteve nas mãos de Gonçalves;
Felipe Arlotta Freitas é policial federal e trabalhou na coordenação do Centro de Inteligência Nacional (Cin), a Abin de Bolsonaro;
Carlos Magno de Deus Rodrigues, também policial federal, foi coordenador-geral de Credenciamento de Segurança e Análise de Integridade Corporativa;
Henrique César Prado Zordan, outro policial federal, trabalhou no gabinete de Ramagem, o diretor-geral da Abin;
Alexandre Ramalho, também é policial federal e também trabalhou no gabinete de Ramagem;
Luiz Felipe Barros Félix, policial federal, também trabalhou no gabinete de Ramagem.
Para além desta breve ficha, com suas funções oficiais no órgão, a PF diz que é possível que os agentes exercessem atividades não oficiais. Já teria em curso, inclusive, procedimentos internos na corporação apurando as suspeitas. Nesse sentido, a investigação também aponta que o grupo seria responsável por realizar operações de contra inteligência para dificultar operações da PF que investigavam o clã Bolsonaro e seus aliados mais próximos. É citado um plano para favorecer Jair Renan, o filho ‘04’ do ex-presidente inelegível.
Centro Nacional de Inteligência (Cin)
As atuais revelações partem de documentos obtidos no âmbito da Operação Última Milha e apontam que agentes lotados no Centro de Inteligência Nacional (Cin) utilizaram o software FirstMile para espionar a população. O curioso é que o Cin foi criado em julho de 2020 justamente com um decreto do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), funcionando como uma nova estrutura dentro da Abin que era, à época, chefiada por Ramagem.
O novo setor da Abin foi criado com a desculpa de assessorar os órgãos competentes da Abin que realizam “atividades e políticas de segurança pública e à identificação de ameaças decorrentes da atividade criminosa”. Ao que parece, 30 mil professores, pesquisadores, juristas e jornalistas críticos a Bolsonaro eram considerados como ameaças.
O Cin, povoado por servidores e agentes próximos a Ramagem e ao clã Bolsonaro, chegou a ser chamado na imprensa de “Abin paralela”. Deixou de existir após a ascensão do novo Governo Lula e o advento da Operação Última Milha.
De acordo
com Ramagem, que por meio de nota se defendeu das acusações negando
irregularidades, era o Departamento de Operações da Abin que tinha permissão
para operar o sistema FirstMile. A declaração contradiz os documentos obtidos
pela PF que mostram o uso do sistema por pessoas ligadas à Cin.
Autor:
Raphael Sanz – Publicado na Revista Forum.
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