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18 de abril de 2022

A desinformação é parte da estratégia para destruir as democracias!

A crise de credibilidade da imprensa e as novas possibilidades e dificuldades criadas pela era digital quanto os obstáculos existentes para o exercício profissional no governo Bolsonaro, este foi o tema do Congresso em Foco Talk desta quinta-feira (14). Com participação dos jornalistas Rosental Calmon Alves (diretor do Knight Center for Journalism in the Americas e professor da Universidade do Texas), Fausto Salvadori (Ponte Jornalismo) e a Kátia Brasil (Amazônia Real), os desafios do jornalismo na atualidade foram o foco da conversa, mediada pelo fundador do Congresso em Foco, Sylvio Costa.

Relatório da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) trazem conclusões alarmantes sobre os riscos que o jornalismo profissional e independente enfrenta diante do crescimento exponencial das redes sociais. Os ataques não são apenas virtuais. De 2016 até o final de 2021, a Unesco registrou assassinatos de 455 jornalistas, que morreram por causa de seu trabalho ou enquanto o exerciam. Quase nove de cada dez desses assassinatos continuam sem solução.

“Nós estamos vivendo um momento muito grave para a democracia, o sistema de democracia liberal ocidental. Você tem governos que usam a democracia e as liberdade democráticas para destrui-las. A desinformação é parte da estratégia deles”, ressaltou Rosental Alves.

No Brasil a situação também é preocupante. Levantamento divulgado no último dia 7 pela Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) registrou 453 ataques à imprensa no país em 2021. Em 69% dos casos, as agressões foram feitas por agentes públicos. Só o presidente Jair Bolsonaro (PL) foi responsável por quase 20% delas.

“Muitos dos ataques que aconteceram nos últimos anos não têm haver com os erros do jornalista. Eles atacam jornalistas, cientistas, artistas, educadores. É um movimento que se opõem ao aumento da presença das mulheres, das pessoas LGBTQI+. Acho muito difícil de obter qualquer vitória sobre esse movimento”, explicou Fausto Salvadori, diretor de redação e um dos fundadores da Ponte Jornalismo.

As agressões também são maiores contra as mulheres. Em 2020, 37,5% dos ataques a profissionais de imprensa brasileiros foram direcionados a mulheres, segundo a Abraji. Elas foram alvos constantes de agressões, restrições na internet, discursos estigmatizantes e processos judiciais.

Kátia Brasil, cofundadora e editora-executiva da agência de jornalismo independente e investigativo Amazônia Real, ressaltou que o medo é, infelizmente, uma parte da profissão. “Sempre fomos atacados. A gente convive com essa questão dos ataques, das ameaças, com medo de sair de casa. O jornalismo investigativo sempre foi assim, na corda bamba”, ressaltou.

De acordo com a pesquisa, na ausência do jornalismo profissional, as fakes news se espalham pelas redes sociais de forma apavorante. Situação agravada na pandemia. Em setembro de 2020, mais de 1 milhão de postagens circularam no Twitter com informações imprecisas, não confiáveis ​​ou enganosas relacionadas à pandemia, conforme o Observatório de Infodemia Covid-19 da Fondazione Bruno Kessler.

“Você se distancia dos fatos e cria uma nova realidade, uma realidade alternativa. A gente tá lidando com algo diferente, muito mais nefasto do que você estar numa oposição”, explicou Rosental. “É um movimento que são pessoas que nem dá para conversar. As pessoas não apenas têm essas opiniões radicais, como elas acreditam em coisas que não existem. O que você faz com isso?”, indagou.

O jornalista apontou alguns caminhos: “Fazer um jornalismo de qualidade, baseado em princípios éticos, métodos. Fazer com um nível de transparência que nós não tínhamos antes. Antes a gente só fazia o jornalismo, hoje a gente precisa ir além. Explicar para as pessoas o que é jornalismo e explicar o que parece jornalismo, mas não é”, destacou.

Os outros entrevistados também veem esse caminho. “O nosso trabalho é esse. É viver na linha de frente o tempo todo e saber se resguardar. Fazer um trabalho transparente, independente e investigativo de alta qualidade”, concordou Kátia Brasil.

Rosental alertou para a complexidade do tema e as tentativas de minimiza-lo, como a PL da Fakes News. “O perigo de tentar se contrapor a isso, é cair na armadilha de criar censuras, de dar para as plataformas as ferramentas que elas sejam guardas da informação”, ressaltou. Apesar disso, o jornalista vê com otimismo o desfecho deste cenário: “todas as revoluções passam por período caóticos. Nós somos a geração de transição dos meios digitais de comunicação, e eu sou otimista que a nova geração vai criar um ambiente midiático mais justo”, concluiu.

Autor: Congresso em Foco.

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