O
andamento da informação que nos chega é emblemático. Em um momento, o destaque
foi quase exclusivo para a evolução da covid-19; logo depois, foram as
enchentes e as mortes em Petrópolis. Quase ato contínuo, o seletor de notícias
muda para falar da guerra na Ucrânia que já completa um mês. Aproximando o
primeiro de abril do calendário eleitoral, o foco são as eleições, necessárias
eleições, de daqui a seis meses. Mudaram os demais fatos? Não, apenas a decisão
editorial de alguém que julga o que deve e o que não deve ir para as telas. Os
profissionais da área se baseiam no que chama de interesse público do fato, mas
há limites e situações de contorno que nem sempre são lógicos. O enunciado
quase folclórico da busca pelos quinze minutos de fama extrapolou para a
notícia em si. Notícia da manhã já é velha no almoço. Os diários pessoais -
este espaço conhecido como blog - não ficam para trás, ainda mais quando
postados com inexplicável atraso. Parafraseando Caetano, em meio à vida cheia
de preguiça e todos meio grogues, quem lê tanto blog?
Vida de
Facebook é aquela fantasiosa em que o dono da página ou perfil publica apenas a
parte bonita de sua vida, aquilo que ele escolhe para impactar ou iludir seus
leitores, (per)seguidores e até amigos. Integra aquele conjunto de notícias e
acontecimentos efêmeros, de utilidade, talvez, para melhorar a autoestima e
extrapolar os dissabores intrínsecos da vida. Não aprecio tal superficialidade
falsa, perigosa por expor intimidades desnecessárias, e prefiro divulgar ali
questões mais nobres, digamos, aproveitando que há milhares de pessoas com
acesso e que podem saber um pouco mais de minhas reflexões, contestá-las,
travar um debate. Por exemplo, quando doei sangue, postei uma fotografia do
dia, que recebeu um número de curtidas maior do que quando divulgo este blog e
outras publicações escritas. A palavra é meu meio, não a imagem, e isso é,
digamos, emblemático. Esta semana estive novamente no Hemocentro da Unicamp,
sem fotos e, portanto, sem curtidas nem leituras do blog. Quem ler as linhas
acima de forma conjunta chegará à conclusão de que a autoestima ficou em
baixa. Asseguro que não.
O
conhecimento aprofundado não segue tais parâmetros efêmeros, necessitando uma
perenidade maior. A imagem pode valer mais do que centenas de palavras, mas se
ela for nebulosa pouco enriquecerá para a expansão do saber. As questões
básicas do aprendizado são assim, fundamentais e adquiridas quando exercitadas,
não precisando que novas fórmulas tenham de ser aplicadas a antigos
conhecimentos. Podem ajudar, mas a maior parte das deficiências de aprendizagem
de nossos alunos não é de tecnologias modernas, mas de fundamentos da estrutura
de nossa línguas e das operações básicas da matemática. Talvez tenha sido por
isso que durante a mais de uma hora que lá fiquei espetado e ligado à máquina
que faz aférese - retirada de plaquetas do sangue - que mentalmente relembrei a
dedução da fórmula de Bhaskara, aquela que calcula as raízes de uma equação de
segundo grau. Se tiverem tempo, vejam "O xis da questão" em edição
pretérita de nosso Boletim Anti-Covid (https://sites.google.com/unesp.br/boletim-anti-covid-19/ed_anteriores/bac-121-16072021).
#IniCiencias.
Autor: Adilson Roberto Gonçalves – Blog dos Três Parágrafos
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