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1 de abril de 2021

Facebook bloqueia Nicolás Maduro por divulgar informação falsa sobre a covid-19

Presidente venezuelano promoveu um remédio que afirma, sem provas, que pode curar o coronavírus. 

O presidente venezuelano, Nicolás Maduro, em uma entrevista coletiva. Manaure Quintero - Reuters

O Facebook congelou temporariamente o perfil de Nicolás Maduro por considerar que o líder chavista publica notícias falsas sobre a covid-19. A medida responde à publicação de um vídeo, em janeiro, em que ele afirma que um suposto remédio é eficaz para combater o coronavírus. É o Carvativir, também chamado de “gotas milagrosas José Gregorio Hernández”, em homenagem a um médico venezuelano do século XIX que em um mês será beatificado pelo Vaticano. Este suposto remédio foi divulgado pelo Governo venezuelano como uma cura da covid-19, incorporado aos tratamentos e distribuído até mesmo a populações vulneráveis como a carcerária.

“Foi iniciada uma campanha brutal contra o Carvativir. É um antiviral, ajuda como antiviral a parar, a neutralizar a célula do coronavírus. Dez gotinhas sob a língua a cada quatro horas e o milagre acontece”, disse Nicolás Maduro para defender o produto feito à base de tomilho e que não tem estudos científicos conhecidos que comprovem sua eficácia para a covid-19. “É um remédio natural, estudado e comprovado cientificamente na Venezuela e aprovado e autorizado para seu uso pelas autoridades sanitárias e farmacológicas da Venezuela”.

Além de retirar o polêmico vídeo da rede social, o Facebook determinou o fechamento da conta do mandatário porque viola suas políticas sobre notícias falsas. “Seguimos o guia da Organização Mundial da Saúde que diz que atualmente não há medicamentos para curar o vírus”, disse um porta-voz do Facebook à agência Reuters. “Pelas repetidas violações a nossas regras, congelaremos a página durante 30 dias, durante os quais será somente de leitura”. Ou seja, o mandatário e sua equipe não poderão interagir através dessa conta. A medida não se aplica, entretanto, ao Instagram, propriedade do Facebook.

As sociedades médicas e científicas vêm alertando sobre o uso do Carvativir feito pelo Governo. A Academia Nacional de Medicina fez questão de afirmar que o composto não tem nenhum aval científico. Maduro, entretanto, ordenou sua distribuição em todo o país e sua comercialização livre em farmácias. Nesta semana as gotas foram aplicadas em presos de uma cadeia lotada na região de Caraballeda, no litoral central do país, como tratamento preventivo. Em um vídeo divulgado pelas redes sociais, um policial informa aos detentos que um médico passará pelas celas com uma colher para dar a eles gotas para prevenir a covid-19.

Maduro afirmou que o produto foi desenvolvido no Instituto Venezuelano de Pesquisas Científicas. Mas uma pesquisa do portal investigativo Armando.info revelou que o laboratório que estava por trás do Carvativir não tem experiência anterior na elaboração de fármacos. A empresa que o produz funcionava anteriormente como uma importadora de peças para carros, segundo uma reportagem publicada em janeiro.

Não é a primeira vez que uma dessas plataformas bloqueia conteúdos de Maduro. No passado, o mandatário se queixou de que eles e seus aliados foram tratados injustamente pelas empresas que gerem as redes sociais, incluindo o que ele chamou de suspensão arbitrária de contas. Apesar disso, o chavismo se tornou forte no uso dessas plataformas para impulsionar tendências favoráveis ao Governo, divulgar propaganda e organizar campanhas contra a oposição e seus adversários políticos.

Nesse caso, nenhum porta-voz do Governo reagiu à penalização do Facebook. No ano passado, no começo da pandemia, o Twitter restringiu a conta oficial da Presidência da Venezuela por suposta atividade incomum e apagou mensagens de Maduro em que ele recomendava outra poção feita de ervas para curar a covid-19. A Venezuela atravessa atualmente uma segunda onda de contágios. De acordo com os números oficiais, são 154.905 casos confirmados e 1.543 mortes por coronavírus, com uma ampla subnotificação atribuída por epidemiologistas à baixa capacidade de diagnóstico das autoridades sanitárias.

Autora: Florantonia Singer de Caracas para o El País.

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