A prefeita de Bauru, Suéllen Rosim (Patriota), voltou a criticar as restrições impostas pelo governo do Estado de São Paulo para tentar reduzir os casos de covid-19. Ao participar de uma entrevista num dos maiores portais da internet do país, ela afirmou que não vê o lockdown como uma solução para a pandemia. "Estou há semanas presa em um decreto em fase vermelha porque a justiça me obrigou. Não tivemos espaço para mostrar que essa história de lockdown funciona? Não funciona. Vai diminuir o número de casos? Não diminuiu nas cidades que seguiram", disse Suéllen.
Durante o período da campanha eleitoral a então candidata omitiu do eleitorado de Bauru – SP que era bolsonarista, e que, assim como o presidente, também era negacionista. Após poucos dias da sua posse, foi correndo a Brasília para encontros com o presidente, com a ministra Damares e se esbaldou em fotos e almoços.
Ela rebateu os críticos afirmando que é "realista" com a situação e questionou o efeito do lockdown em Araraquara, também no interior de São Paulo. "O lockdown não funcionaria em Bauru. Araraquara é prova disso. Os casos diminuíram, mas o número de mortes segue subindo. É um novo quadro com essas cepas. Não tenho dificuldade em tratar a realidade. Eu não sou negacionista, sou realista", afirmou. Os dados, porém, contradizem a prefeita de Bauru. Casos, mortes e internações estão em queda em Araraquara, cidade que decretou lockdown em 21 de fevereiro. Ela mentiu seguindo a lógica bolsonarista.
As duas cidades estão em ritmos contrários na pandemia. Em Bauru, houve aumento de 34% no número de mortes na variação semanal. Já em Araraquara, teve queda de 37% na média móvel no mesmo período. No final da semana passada, o prefeito de Araraquara, Edinho Silva (PT), reconheceu que o lockdown de pouco mais de uma semana teve efeito no sistema de saúde da cidade e ajudou a encerrar a fila por internações em casos de covid-19. "A média móvel (de casos) caiu 53%, as internações caíram 30%", declarou ele.
Sobre as mortes, reconheceu que elas ainda não caíram, mas por serem reflexo de um cenário anterior ao fechamento das atividades. Especialistas apontam que medidas restritivas não têm efeito imediato sobre óbitos. Estudos também mostram que o lockdown é uma medida eficaz para reduzir casos e, consequentemente, mortes.
Suéllen ainda criticou o "abre e fecha" dos serviços de acordo com os decretos estaduais. "A gente vai ficar nesse abre e fecha por bastante tempo. Nosso sistema precisa melhorar, precisamos de mais vacinas. Mas não posso ignorar quem está passando fome. Em Bauru eu já estou com uma sobrecarga, tendo que distribuir cestas básicas", completou a prefeita. Bauru é uma das seis regiões do interior de São Paulo que, nesta semana, bateram recorde de novas internações em leitos destinados ao tratamento de covid-19. As outras regiões são Marília, São José do Rio Preto, São João da Boa Vista, Sorocaba e Taubaté.
A prefeita comentou também o protesto realizado em fevereiro em Bauru contrário às medidas anunciadas pelo governador do João Doria (PSDB) de restringir as atividades no estado. Participaram do ato o dono da Havan, Luciano Hang, e o senador Major Olímpio (PSL-SP), que morreu na semana passada em decorrência da covid-19. "Fui ao protesto cobrar o Hospital das Clínicas, não fui pedir a saída de Doria, porque assim como eu, ele foi eleito pelo voto. Não posso pedir para ele sair assim como espero que ninguém peça que eu saia", afirmou a prefeita.
Para a política, prefeitos que tiveram a mesma postura dela foram tratados de forma diferente. A afirmação foi feita ao comentar as críticas contra ela feitas pelo governador João Doria (PSDB). "Outros prefeitos tomavam medidas iguais as minhas e, simplesmente, não tinham o mesmo trato. Então, você percebe que a mulher na política é muito mais desafiada. A decisão que você toma é porque você está se referindo a alguém, porque alguém mandou, e não é por aí. Então você chama atenção de uma prefeita, mas não chama muita atenção de um prefeito".
O governador afirmou que a prefeita era negacionista e estava fazendo "vassalagem para o presidente Jair Bolsonaro". "Poderia ter sido falado de uma forma diferente? Talvez sim, porque eu não fui reverenciar ninguém. Sou uma prefeita que vai onde for preciso ir. E outras mulheres prefeitas, vereadoras, e deputadas acabam enfrentando isso. Vejo isso nas reuniões, sou muito respeitada por muitos deles. Não me vitimizo em momento nenhum, isso não me incomoda mesmo, mas é porque o perfil que escolhi foi esse. Mas acho que a política precisa respeitar mais as mulheres e nossas decisões", completou.
Após
mais de noventa dias de mandato, a gestão da prefeita se resuma a essas
picuinhas, a falta de envolvimento com a gestão pública na cidade e aos atritos
com o governador Dória, coincidentemente adversário de Bolsonaro.
Autor: Rafael Moia Filho – Escritor, Blogger, Analista Político e Graduado em Gestão Pública.
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