“Nunca se mente
tanto como antes das eleições,
durante uma guerra e
depois de uma caçada"
Otto Von Bismarck.
A divulgação do vídeo da reunião
ministerial ocorrida em 22 de abril evidencia com clareza a intenção de
interferência na Polícia Federal, algo que nem Michel Temer, um presidente
corrupto com sete processos nas costas tentou durante seu curto mandato. A
vontade do presidente de ter um aparato pessoal de informação para poder
obstruir ou se antecipar as investigações que envolvem seus 19 familiares ficou
clara no decorrer da reunião.
A
sociedade pode ter acesso ao vídeo da reunião graças a liberação por decisão de
Celso de Mello, decano do Supremo Tribunal Federal. Trazendo novas evidências
conclusivas sobre o que já se suspeitava: o presidente Jair Bolsonaro mente.
Depois do vídeo, a versão presidencial
de que queria interferir na sua segurança pessoal, e não na superintendência da
Polícia Federal no Rio de Janeiro, torna-se completamente inverossímil.
Como demonstrou reportagem da TV Globo,
menos de um mês antes da reunião ,Bolsonaro havia promovido o responsável por
sua segurança e o substituído pelo então número dois na função.
No vídeo, o presidente fala
textualmente: “Já tentei trocar gente de segurança no Rio, oficialmente, e não
consegui. E isso acabou. Eu não vou esperar foder a minha família toda (...)
porque eu não posso trocar alguém da segurança na ponta da linha. Vai trocar!
Se não puder trocar, troca o chefe dele. Se não puder trocar o chefe dele,
troca o ministro. E ponto final. Não estamos para brincadeira”.
Tudo o que ocorreu depois da reunião se
encaixa na narrativa do ex-juiz Sergio Moro. Não há dúvidas de que o presidente
trata da PF, um órgão de Estado, quando promete ir até o fim para fazer valer a
sua vontade antes que a sua família seja atingida. Querendo transformar desde
antes das eleições a PF no quintal de sua moradia no Condomínio Vivendas da
Barra.
No restante, a reunião entra para os
anais da história como um dos episódios mais execráveis do exercício do poder presidencial nos 130
anos da República no Brasil.
O linguajar chulo, deplorável,
inconsistente com quem ocupa o maior cargo no país, deixa claro, nos rompantes
autoritários e nas exibições de incapacidade gerencial diante de uma crise
monstruosa, que Jair Bolsonaro rebaixa a presidência e humilha a quem
representa, colocada pelos constituintes de 1988 no pináculo do edifício
democrático. A democracia que o elegeu é a mesma que tem sido vilipendiada por
seus atos e suas falas.
As ofensas desferidas a governadores e
prefeitos, o perverso e criminoso discurso do ignóbil à frente da pasta da
Educação pedindo cadeia para ministros do STF, que qualifica de vagabundos.
As palavras incoerentes e sem nexo da
Ministra dos Direitos Humanos contra mandatários estaduais e municipais clamando
por prisão, demonstra que estes não são ministros, mas se parecem com
seguidores nefastos de uma seita.
Um elemento a mais aparece no vídeo.
Bolsonaro afirma que tem acesso a um dispositivo de inteligência particular.
Ora, nada no ordenamento constitucional, nem nos princípios que norteiam as
sociedades democráticas, autoriza o chefe de Estado a dispor de um aparelho
pessoal de bisbilhotagem.
Se estivéssemos vivendo num país sério
com todas as Instituições democráticas funcionando com total independência, a (PGR) Procuradoria Geral da República deveria por obrigação aprofundar a
investigação acerca da conduta de Bolsonaro que, além de cercar-se de
assessores insanos, autoritários e incapazes, pode ter cometido crimes. Que a
PGR se mostre à altura do cargo que ocupa.
Ressalve-se as ameaças infames feitas
pelo general Augusto Heleno, do GSI, a respeito de uma eventual apreensão do celular
presidencial poderia ter “consequências imprevisíveis”. Dados a baixeza e o
desvario mostrados numa reunião formal, assusta de fato imaginar o que
Bolsonaro diz em particular para seus seguidores (Ministros e assessores).
Autor:
Rafael Moia Filho – Escritor, Blogger e Graduado em Gestão Pública.
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