Seguidores

6 de maio de 2020

A crise mundial do petróleo!

“Aqueles que corrompem a opinião
pública são tão funestos como àqueles
que roubam as finanças públicas”
Adlai Stevenson

Preço do petróleo em terreno negativo pela primeira vez na história 
A pandemia do novo Coronavírus trouxe consigo além das mortes, alterações no modo de vida dos seres humanos em todo planeta, o mundo parou em quarentena com a necessidade do isolamento social. A utilização do petróleo como combustível e fonte energética sofreu uma redução drástica, com isso, a produção reduziu a extração e as vendas caíram muito.
A Arábia Saudita tentou no final de 2019 alertar os demais países produtores sobre a necessidade de redução da extração e produção de petróleo, uma vez que o movimento aéreo e o consumo seriam afetados em todo planeta. Porém, os russos não aceitaram tal proposta, mantendo-se assim o nível alto de produção nas bacias petrolíferas do Oriente Médio. Como os sauditas haviam previsto, os preços caíram vertiginosamente, chegando ao ponto inimaginável de assistirmos os preços do barril de petróleo West Texas Intermediate (WTI), óleo do tipo leve, que é negociado na Bolsa de Nova York e é referência para os preços nos EUA ficarem negativos.
Ou seja, o vendedor estava pagando para o comprador levar seu produto. Por trás disso estão tecnicalidades das operações do mercado futuro de petróleo, os brutais efeitos da crise de demanda provocada pela covid-19 e também os acordos nem sempre exitosos de reduzir a produção envolvendo os países da OPEP+ (grupo formado pela OPEP e outros onze países produtores liderados pela Rússia) e contrações do chamado grupo America+2 (EUA, Canadá, Brasil, Colômbia, Noruega e Reino Unido).
Além deste problema, outro surgiu e expôs os problemas de funcionamento do mercado de petróleo, principalmente na relação entre o mundo físico e o mundo financeiro. Os detentores dos contratos do mercado futuro no qual os compradores assumem hoje o compromisso de comprar petróleo no futuro, a um preço pré-estabelecido com vencimento em maio, optaram por não receber o petróleo que tinham direito em função da escassez de estoque para armazena-lo.
Isso ocorreu porque esses contratos venceram no dia 21 de abril em condições muito desfavoráveis para os compradores. Dada a redução da capacidade de estoques, a oferta mundial mesmo com os cortes de produção anunciados pela Opep+― continua num patamar muito acima tanto da demanda por petróleo, como da necessidade de processamento nas refinarias.
A alternativa que restou para os operadores financeiros foi aceitar os preços negativos, minimizando assim suas perdas com as obrigações contratuais do mês de maio. Portanto, o que ficou negativo na verdade foi o preço de trocar o contrato vendido por comprado, e não os próprios barris físicos do petróleo. Uma das contradições entre o mundo financeiro e o mundo físico é essa: os contratos open interest em que as transações ainda não foram completadas (antes da data do vencimento) envolvem volumes muitas vezes maiores que o volume físico transacionado diariamente, o que mostra como os preços do petróleo são determinados principalmente por fatores financeiros.
Esse desastre do mercado futuro abalou os mercados de ações. Empresas de petróleo foram especialmente penalizadas e algumas tiveram perdas enormes em seu valor de mercado. Algumas empresas médias do setor passam a ser alvos de aquisições hostis, o que pode indicar uma nova onda de fusões e aquisições envolvendo, inclusive, grandes empresas estatais, fundos soberanos e fundos abutres.
Petróleo WTI cai 140% e tem preço negativo pela 1ª vez na história
Quem se aproveitou desse cenário foram os chineses que aumentaram suas importações de petróleo recompondo suas reservas estratégicas. Apesar das refinarias chinesas, principalmente as estatais, trabalharem com contratos de longo prazo e, por isso, não poderem substituir facilmente os fornecedores, o país se prepara para uma retomada do mercado de derivados no médio prazo e, ao mesmo tempo, auxilia a manutenção dos preços em patamares mais baixos no curtíssimo prazo.
Nos EUA, a depressão prolongada dos preços já provoca uma reação do sistema financeiro que começa a tomar o controle de petrolíferas que ficaram em extrema fragilidade financeira. Desde a queda dos preços de 2015, pequenos e médios produtores americanos do Shale gas e Tight oil aproveitaram as baixas taxas de juros e aumentaram seu endividamento, acreditando que a queda dos preços daquele ano seria temporária. As financeiras agora procuram manter a garantia dos fluxos de caixa dessas empresas, embora desprezem os investimentos necessários para a manutenção da produção física. A médio prazo, isso pode significar a destruição permanente das chances de retomada de produção, já que essas operações de exploração precisam manter uma pressão mínima em seus reservatórios para que eles continuem produzindo.
No Brasil, essa onda ainda não afetou a produção da Petrobrás, entretanto, como exportamos combustíveis, percebemos que os preços do Diesel e Gasolina caíram cerca de 10% nas bombas de combustíveis da região sudeste. Porém, não percebemos nenhuma preocupação do governo brasileiro em ter uma estratégia para a pós pandemia no que se refere a compra de petróleo. 
Obs: Alguns dados extraídos do Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (Ineep).

Autor: Rafael Moia Filho: Escritor, Blogger e Graduado em Gestão Pública.

Nenhum comentário: