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4 de maio de 2020

Ausência de governo!

           “A mente de um fanático é como a pupila do olho:
quanto mais luz incide sobre ela, mais se irá contrair.”
Oliver Wendell Holmes.

Tem sido recorrente desde a posse do atual presidente seus arroubos autoritários contra a mídia (em especial a Rede Globo, Folha de S. Paulo, Estadão e os jornalistas em geral que cobrem diariamente o Palácio do Planalto), contra o STF (principalmente quando este cumpre seu papel institucional em defesa da constituição e barra qualquer ato de governo), e o Congresso Nacional (composto em sua maioria por parlamentares aliados ou de ideologia de direita, políticos fisiologistas, demagogos que vivem em busca de cargos e poder).
Difícil entender que um ex-deputado que esteve na mesma Câmara por 28 anos não consiga ou não queira compreender a situação em que se encontra, o cenário lhe era totalmente favorável, não foram os citados acima quem mudaram, mas sim, o desempenho frustrante de um presidente eleito para mudar muitas coisas e que na verdade patina na sua verborragia inconsequente e as vezes chula.
Seus apoiadores sectários incitados nas redes sociais pelo próprio presidente, por seus filhos ou pelo chamado gabinete do ódio, se acostumaram a sair as ruas sempre que algo que o presidente queria não deu certo, quer seja por inconstitucionalidade ou até por ser inaceitável perante o parlamento. Essa horda de apoiadores pratica então, atos que vão desde a violência contra jornalistas, opositores até o pedido de golpe militar, intervenção, volta do AI5 ou fechamento de Congresso e STF.
A liberdade de expressão é um direito, mas todos podem ser responsabilizados se atentarem contra preceitos também constitucionais. Dessa forma, com idas e vindas e correção de desvios por força da Lei, vive-se na democracia, em liberdade e aperfeiçoamento constante.
O que tem feito o presidente é algo diferente e mais grave, pelo cargo que ocupa. Tem pregado a sedição, com ameaças claras à ordem constituída. Vai muito além da irresponsável militância que exerce contra o isolamento social, e leva seguidores a fazerem o mesmo, preocupado exclusivamente com seu projeto eleitoral, que teme ser prejudicado caso demore a retomada da economia devido à epidemia do coronavírus. Junta-se a um grupo de autocratas bizarros e coloca o Brasil na companhia isolada de Bielorrússia, Turcomenistão e Nicarágua. Não se preocupa com a marcha sem recuo da Covid-19 que ultrapassou sete mil mortos e mais de cem mil contaminados no Brasil.
Neste domingo 03 de maio, o presidente volta a vociferar na frente de sua plateia, pequena em relação ao povo brasileiro, mas que carrega nas veias o fascismo e o sectarismo bolsonarista raiz, ele soltou um pouco enigmático “não queremos negociar nada”. “Queremos a independência verdadeira dos Três Poderes (...). Chega de interferência. Não vamos admitir mais interferência”, avisou o presidente, aproximando-se de um chavismo de direita — todos os poderes nas mãos do Executivo, com Judiciário e Legislativo no papel de figurantes. O que é inaceitável.
Os inimigos para o bolsonarismo crescem a cada nova manifestação, passando por Rodrigo Maia, David Alcolumbre, João Dória, Witzel, e neste domingo o mais recente inimigo declarado passou a ser o ex-herói Sérgio Moro. Não há lógica, não há inteligência, apenas a contínua força motriz de um homem querendo governar como se estivesse num regime militar. Podendo editar medidas e decretos a revelia da sociedade, vetando ou censurando a tudo e a todos na mídia e na sociedade, assim protegendo a si e aos seus filhos e aliados.
Sem perceber, ou quem sabe propositadamente, o presidente em seu discurso canhestro rasgou o próprio juramento que fez na posse, conforme o artigo 78 da Carta: “Prometo manter, defender e cumprir a Constituição, observar as leis, promover o bem geral do povo brasileiro (....)”. Na política e na saúde, ele vai em sentido contrário. O presidente aceitou as regras constitucionais para se eleger deputado federal e presidente da República. Agora quer virar a mesa, o que é inconcebível.
Pior que as atitudes dele, somente aqueles que o apoiam incondicionalmente sem se atentarem para o caminho de trevas para onde estão caminhando.

Autor: Rafael Moia Filho: Escritor, Blogger e Graduado em Gestão Pública.

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