O turismo como
fator econômico nunca foi levado a sério na política brasileira. Isso não é
novo. Mas o atual governo torna ainda mais difícil que estrangeiros queiram
visitar o Brasil.
Você sabe quem é o ministro do Turismo?
Exato. Normalmente, o nome designado para essa pasta no governo é
amplamente desconhecido. A não ser que esteja envolvido num escândalo. Como é o
caso do atual ocupante do cargo. Ele é suspeito de ter desviado dinheiro de
campanha originalmente destinado a candidatas mulheres.
Que o ministro continue no cargo,
apesar de depoimentos incriminatórios, mostra, sobretudo uma coisa: como tal
posto é considerado desimportante dentro do gabinete ministerial. Caso
contrário, interessados já teriam derrubado sua cadeira há muito tempo.
O fato de o ministro do Turismo não
ser importante não é novidade, mas é uma das razões pelas quais o turismo no
Brasil está completamente subdesenvolvido, tendo em vista o potencial do país.
Em todo o mundo, os grandes polos turísticos sofrem com o excesso de
visitantes, moradores reclamam das ruas lotadas, do aumento do aluguel e do
custo de vida.
Mas, no Brasil, os brasileiros
permanecem muitas vezes entre si, mesmo nos destinos turísticos mais
famosos. O setor está subdesenvolvido. E este é acima de tudo um drama
econômico tendo em vista o potencial natural, social e cultural que o
país tem para oferecer como destino. Mas com cerca de 6,5 milhões de
visitantes por ano, o Brasil não está nem entre os 30 destinos turísticos
mais importantes do mundo – e isso após uma Copa do Mundo de futebol e dos
Jogos Olímpicos como uma vitrine para o país.
O Brasil está desperdiçando uma
tremenda oportunidade de criar empregos para pessoas que, de outra forma,
teriam dificuldade em conseguir trabalho na indústria ou no setor de serviços
informais devido à falta de treinamento. A natural hospitalidade e
cortesia brasileiras combinadas com treinamento na indústria hoteleira e
gastronômica, além de um curso de idiomas em inglês, ofereceriam um enorme
potencial de emprego para muitas pessoas.
Mas o país carece de infraestrutura
turística. A situação piorou mesmo nos últimos anos, apesar dos eventos
esportivos internacionais. Acho que falta ao Brasil uma compreensão básica do
que poderia atrair turistas estrangeiros. Porque aquilo que agrada
aos brasileiros geralmente não apetece aos estrangeiros – e
vice-versa. Um exemplo disso é a publicidade que a autoridade turística
(Embratur) vem fazendo no exterior há anos: os tecnocratas de Brasília
realmente acreditam que um turista da Europa tomará um caro voo de 12
horas para o Brasil para ver "12 shopping centers para encher suas
malas" ou "A magia do Natal”?
No início do ano, o Brasil
suspendeu a exigência de visto para turistas dos EUA, Canadá, Japão e Austrália.
O abalado ministro anuncia agora com orgulho as estatísticas mensais sobre o
aumento do interesse das viagens desses países pelo Brasil. Até o final do
mandato do atual governo, em 2022, o ministro planeja quase dobrar o número de
turistas para 12 milhões.
Como todos os seus antecessores, é
improvável que ele tenha sucesso nisso. É muito possível que o balanço
turístico deste governo seja claramente negativo: quem ainda quer ir a parques
naturais e fazer ecoturismo no Brasil quando o governo, ao mesmo tempo,
mina todos os controles e medidas para a proteção da Amazônia e abre
caminho para o lobby agrícola?
Quem quer vir ao Brasil como membro da
comunidade LGBT quando os ataques a gays, lésbicas e transexuais aumentam
e nada é feito publicamente sobre isso? Quem quer vir a um país com uma taxa de
homicídios assustadoramente elevada e as taxas de acidentes mais altas do
mundo, onde o governo não apresenta nada melhor do que armar a população e
relaxar a impunidade no tráfego rodoviário? Qual artista ainda acha o Brasil
interessante no momento em que o Judiciário está cada vez mais
vistoriando a arte para ver se ela viola os valores tradicionais da
família?
Autor:
Jornalista Alexander Busch correspondente de América do Sul do grupo editorial
Handelsblatt (que publica o semanário Wirtschaftswoche e o
diário Handelsblatt) e do jornal Neue Zürcher Zeitung.
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