Jair Bolsonaro é o
maior adversário de Jair Bolsonaro. Nos últimos dias tem se esmerado em criar
situações desfavoráveis ao seu próprio governo. Isto em um momento de recesso
do Legislativo e do Judiciário, quando poderia aproveitar o vazio para ocupar o
espaço político com uma agenda positiva. Contudo, uma sucessão de declarações
desastradas e desnecessárias, deu aos seus oponentes amplo material para
desgastar o seu governo. Colocando em risco, inclusive, a aprovação em segundo
turno da reforma da Previdência pela Câmara, em agosto. E a tramitação inicial
da mesma reforma no Senado. Ao invés de colher os louros pela vitória
expressiva – a PEC obteve 379 votos – acabou fornecendo munição à oposição.
Mesmo sabendo que o que foi aprovado difere em muito em relação ao projeto
inicial elaborado pelo ministério da Economia.
É sabido que a
popularidade de Bolsonaro no Nordeste é baixa – é a menor de todas as regiões
do país. Lá esteve apenas duas vezes em quase sete meses de governo. A última
foi ontem, quando esteve em Vitória da Conquista. Deve ser registrado que o
Presidente viajou muito pouco pelo país. Mas as sucessivas declarações contra
os nordestinos acabaram gerando um movimento de rejeição na região – ampliando
ainda mais a sua impopularidade. É sabido que Bolsonaro desconhece a
Constituição. Mas suas falas atingiram três artigos da Carta Magna (art. 5,
XLII; art. 19, III e art. 37, caput). No café da manhã com os correspondentes
estrangeiros disse – e a gravação da EBC não deixa qualquer dúvida – que não enviaria
recursos federais ao Maranhão e se referiu aos nordestinos como “paraíbas”,
denominação pejorativa utilizada no Rio de Janeiro para denominar os migrantes
oriundos do Nordeste (em São Paulo eram chamados de baianos e a expressão era
entendida como sinônimo de burro, ignorante, desqualificado). É inaceitável
ouvir de um Presidente da República uma afirmação que menospreza brasileiros. O
pior foi a tentativa – infrutífera – de tentar justificar o injustificável, sem
reconhecer o erro, algo típico da personalidade de Bolsonaro – que imputa
sempre aos adversários a razão dos seus erros, forjando um ambiente permanente
de conspiração contra ele próprio. O caso limite deste pathos na família é o
seu filho Carlos.
Apontou depois a sua
metralhadora verbal para o INPE. Acusou o instituto – que tem reconhecimento
internacional – de agir como instrumentos de ONGs que teriam como o objetivo
primordial desmoralizar o agronegócio. Mais uma vez esteve presente a teoria
conspirativa. Foi imediatamente desmentido. Queria censurar a divulgação dos
dados sobre o desmatamento da Amazônia. Como se o problema principal fosse a
exposição das informações e não o ato em si, ou seja, a ação predatória de
setores atrasados do agronegócio. Foi mais um ataque a uma instituição de
Estado, verdadeira obsessão presidencial. Antes tinha menosprezado o Itamaraty.
E, por via transversa, também atingiu as Forças Armadas, em especial o
Exército. Tudo devido à mágoa por ter abandonado a vida militar. Sabia que não
poderia galgar postos mais altos que exigiriam muito estudo e suas limitações
intelectuais são evidentes. Isto explica os ataques aos generais através do seu
preposto, o filho Carlos.
A insanidade
governamental foi também dirigida ao FGTS e a multa de 40% no caso de demissão
sem justa causa. Imputou o desemprego à multa, numa associação digna de um
trapalhão. Insistiu na falácia de que “muitos direitos” significam poucos
empregos. A saída, portanto, seria retirar ganhos históricos dos trabalhadores
para enfrentar o desemprego. Bobagem, evidentemente. No limite poderá até
advogar o fim da Lei Áurea. Afinal, na escravidão havia o pleno emprego. Mais
uma vez Bolsonaro revelou seu absoluto desconhecimento no campo econômico – o
que, durante a campanha eleitoral, dizia não ser problema pois tinha o “posto
Ipiranga” (em tempo: à propósito, onde está Paulo Guedes?). A questão central é
a inexistência de um projeto econômico para o país. O governo não sabe o que
quer. Vive do improviso, de medidas pontuais e ineficazes para enfrentar a estagnação.
O que fica destas
declarações de Jair Bolsonaro – e foram muitas, destaquei somente algumas – é
que não está preparado para o exercício da função. Defensores dizem que ele é
muito espontâneo, que é o seu estilo. Não. Em sete meses demonstrou a mesma
vulgaridade dos tempos de deputado do baixo clero. Só que agora no exercício do
principal cargo, o de Presidente da República Federativa do Brasil. E em um
momento que o país necessita de uma direção segura, competente, republicana.
Estamos vivendo a pior crise da história econômica brasileira. Nada indica que
estamos próximo de encontrar uma saída. Pelo contrário, com Bolsonaro no
Planalto a crise só tende a se agravar. Aguardemos agosto, mês funesto para
nós. Enquanto isso, resta rir e perguntar: sabe a última do Bolsonaro?
Autor: Historiador Marco Antônio Villa –
Publicado no Correio Brasiliense e Jornal Estado de Minas.
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