Um estudo publicado nesta
segunda-feira (01/07) mostra que a humanidade está casada em comunhão total de
prejuízos com um aquecimento global de 1,5oC. Seus autores apontam que só a
infraestrutura de energia já em construção e planejada no planeta já causará
emissões de gás carbônico (CO2) mais altas do que o máximo necessário para
estabilizarmos o aquecimento da Terra nesse patamar.
China precisa desativar de duas a três usinas de carvão por semana para manter-se dentro da meta estabelecida no Acordo de Paris. Mas as emissões devem subir este ano – Foto Pixabay
É o chamado efeito de emissões
comprometidas, ou lock-in, na expressão em inglês. Ele corresponde ao
carbono que será inevitavelmente emitido ao longo da vida útil de um
equipamento de infraestrutura, como uma usina termelétrica – que pode durar 30
anos ou mais – ou um carro.
A equipe da pesquisadora Dan Tang, da
Universidade da Califórnia em Irvine (EUA), estimou que a estrutura já
implementada no mundo emitirá, se operar como vem operando até agora 648
bilhões de toneladas de CO2. Há outras 188 bilhões de toneladas em obras e
equipamentos planejados. Ou seja, um total de 846 bilhões de toneladas já
estariam encomendados, por assim dizer.
Ocorre que o “teto” de emissões
estimado pelos cientistas para que tenhamos uma chance de pelo menos 66% de
limitar o aquecimento a 1,5oC (como almeja o Acordo de Paris) é de apenas 580
bilhões de toneladas, na melhor das hipóteses. Isso equivale cerca de dez anos
de emissões globais no rito atual.
Para limitar a temperatura abaixo de 2oC,
que é o objetivo menos ambicioso do acordo do clima, a situação é um pouco
melhor: o “teto” estimado de emissões da humanidade é de cerca de 1,2 trilhão
de toneladas, embora ele seja contestado por alguns cientistas – que argumentam
que nós já gastamos quase metade disso e é preciso considerar emissões de outros
gases de efeito estufa além do CO2.
“Nossos resultados mostram que
basicamente não existe espaço para nova infraestrutura emissora de CO2 com as
metas climáticas existentes. E, se o mundo quiser alcançar 1,5o C, as
usinas fósseis e os equipamentos industriais existentes precisarão ser
aposentados mais cedo, a menos que possam ser equipados com captura e
armazenamento de carbono ou que suas emissões possam ser compensadas”, disse
Steve Davis, de Irvine, coautor do estudo, publicado no periódico Nature.
Não ajuda o fato de a maioria dessas
usinas e desses equipamentos estarem na China: 41% de toda a infraestrutura
carbonizante está operando ou planejada para operar no gigante asiático – que
tem 250 gigawatts de usinas a carvão para construir, mais do que todo o parque
elétrico do Brasil somado.
Os investimentos na China para essa
infraestrutura chegam a US$ 6 trilhões, e dificilmente alguém dirá aos chineses
para abrirem mão disso. Afinal, mesmo que mais de metade do carbono emitido
pela humanidade tenha ido para o ar apenas nos últimos 30 anos, foram os países
desenvolvidos que causaram o problema originalmente – e os países em
desenvolvimento não se esquecem disso.
A matemática do clima, porém, é
implacável e não respeita história ou geografia: usinas chinesas, oleodutos
norte-americanos e caminhões brasileiros vão ter que sair de cena.
“Embora analistas de clima e energia
enfatizem que evitar 1,5oC de aquecimento, por exemplo, é ‘tecnicamente
possível’, nossos resultados botam essa possibilidade em contexto: nós teríamos
chance razoável de atingir a meta de 1,5oC com (1) uma proibição global de
qualquer novo equipamento emissor de CO2 – incluindo a maioria das usinas
fósseis já propostas, e (2) reduções substantivas nas vidas úteis históricas
e/ou na taxa de utilização da infraestrutura já existente”, escrevem Tang e
colegas.
Autor: Escrito
por Neo Mondo
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