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Jonathas Assunção, ex-secretário da Casa Civil de Nogueira e Braga Neto, testemunhou pró Bolsonaro no STF: prisão pedida por operar esquema bilionário de sonegação.
O engenheiro Jonathas Assunção Salvador Nery de Castro foi um dos alvos centrais da Operação Poço Lobato deflagrada nesta 5ª feira, 27 de novembro, e que tem como objetivo desmantelar um esquema bilionário (estimados R$ 26 bilhões) de sonegação fiscal.
Jonathas Assunção desempenha o papel de executivo encarregado de “relações governamentais e institucionais” do emaranhado de empresas reais e fictícias lideradas pelo advogado Ricardo Magro, dono da Refit (outrora “Refinaria Manguinhos”). Os dois, Magro e Jonathas, conheceram-se há cerca de 15 anos quando ambos trabalhavam sob ordens e determinações do então deputado Eduardo Cunha.
O engenheiro Jonathas Assunção foi chefe de gabinete no Ministério da Casa Civil nos tempos em que o apenado Walter Braga Neto, general preso por tentativa de golpe de Estado, ocupou o posto de ministro. Assunção virou secretário-executivo da Casa Civil quando o senador Ciro Nogueira foi nomeado para o posto. A partir de então, turbinou seu poder no Palácio do Planalto e também no Congresso Nacional.
“Tudo era com ele no governo Bolsonaro: liberação de emendas, nomeação de aliados para cargos públicos, colocação de emendas no Orçamento”, diz um deputado do PP, amigo irmão do Ciro Nogueira. E completa: “o Jonathas era o operador real de poder do Arthur e do Ciro no Palácio. Ele surgiu como resolvedor de problemas para a bancada do PP nos tempos do Eduardo Cunha”. Atualmente, Cunha e Jonathas estão brigados. O ex-presidente da Câmara dos Deputados, que também puxou cana por corrupção, também foi operador político de Ricardo Magro. Os dois não se falam mais, estão negocialmente rompidos, e Jonathas obviamente segue a linha de lealdade ao chefe de momento.
Como era o método da Orcrim de Magro
Ricardo Magro começou a atuar fortemente em Brasília como advogado de Eduardo Cunha quando o ex-deputado era líder do PMDB na Câmara — por volta de 2013, 2014. Uma das teses de Cunha, no Parlamento, era a quebra do monopólio de fornecimento de combustíveis para os postos de abastecimento apenas pela BR Distribuidora (empresa estatal privatizada no período em que Michel Temer ocupou a presidência da República) e por grandes empresas multinacionais que tinham sistema próprio de refino e distribuição. Eram os tempos da briga pela instituição das “bandeiras brancas” nos postos de combustíveis, sistema que terminou por vingar: os estabelecimentos de venda de combustíveis no varejo não precisam mais ter adesão a bandeira única de uma fornecedora.
Ricardo Magro deixou a equipe de defesa jurídica de Cunha para assumir, então, a liderança da Refinaria Manguinhos, no Rio de Janeiro, e transformou-a depois em Refit. A Refit é conhecida por ser uma “refinaria fake”, ou seja, nunca fez passar uma gota de combustível refinado em sua torre de operação – usa a planta exclusivamente para lavar combustível importado que entra no país ilegalmente e é distribuído para postos de “bandeira branca” sem pagamento de impostos nem nos portos, nem nos postos. Nos bastidores da investigação da Operação Poço Lobato diz-se que Eduardo Cunha está na origem da montagem desse esquema, junto com Magro.
Atuação conjunta no Congresso
“O dinheiro os unia. A briga por dinheiro os separou nos tempos de desgraça”, segue explicando o deputado PP que se mantém próximo de Ciro Nogueira e um pouco distante de Arthur Lira e de Eduardo Cunha. A relação de Lira com Jonathas, chancelada por Nogueira, deu-se justamente no período do governo Jair Bolsonaro, quando a dupla de pepistas era a toda poderosa dona da “sacralidade” do Orçamento Secreto. Arthur Lira, como presidente da Câmara, cuidava do verniz legal e regular das emendas dos deputados. Ciro Nogueira assinava as liberações pelo Executivo. Mas, no Palácio do Planalto, quem organizava o esquema de liberações era Jonathas Assunção. Isso o tornou extremamente popular entre deputados e senadores. Um dos grandes amigos de Assunção no Congresso terminou sendo Hugo Motta, à época um obscuro deputado do PMDB e agora presidente da Câmara apadrinhado por Lira.
“Quando acabou o governo Bolsonaro, precisando seguir alinhado com alguém que conhecesse o Congresso e a alma dos deputados para evitar que passasse o projeto que caça os devedores contumazes, o Ricardo Magro pescou o Jonathas para ser o lobista dele em Brasília”, explica o deputado do PP, deixando claro como funcionam as catracas de Brasília onde ora se está dentro do Planalto ou na Esplanada dos Ministérios com a caneta na mão, ora se está prestando serviços e comprando facilidades nos porões da capital da República.
Jonathas Assunção estava presente naquela famigerada “Reunião do Golpe” de 5 de julho de 2022, no Palácio do Planalto, quando o então presidente Jair Bolsonaro chamou seus ministros para pedir ideias que lhe permitissem vencer “de qualquer jeito” a campanha eleitoral de reeleição. Foi na reunião que se expôs toda a dinâmica golpista enfim deflagrada no 8 de janeiro de 2023. Assunção foi uma das testemunhas que depuseram no Supremo Tribunal Federal a favor do agora apenado Jair Bolsonaro, ex-presidente da República e preso por tentativa de golpe de Estado cumprindo pena na carceragem a Polícia Federal em Brasília.
Autor: Luís Costa Pinto - Jornalista, nasceu no Recife em 1968. Formou-se na Universidade Federal de Pernambuco. Atuou nas principais redações de jornais e revistas do Brasil, destacando-se em Veja, O Globo e Época. Vencedor dos prêmios Esso e Líbero Badaró de Jornalismo e o Jabuti de Livro reportagem, é autor de Os Fantasmas da Casa da Dinda (1992, Ed. Contexto), As Duas Mortes de PC Farias (1995, Ed. Best Seller) além de Trapaça – Saga Política no Universo Paralelo Brasileiro (vol. 1, 2019, vol. 2, 2020, vol. 3, 2022), O Vendedor de Futuros (2021) e O Procurador (2024), estes cinco últimos livros pela Geração Editorial. É também roteirista e produtor de podcasts.Publicado no ICL.

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