Andrej Babis - Foto de Bernadett Szabo da Agencia Reuters.
'Com a vitória de Babis, a soberania se sobrepõe a agendas militaristas externas, e consolida um bloco regional cético ao liberalismo globalista'. As eleições realizadas neste domingo, 5 de outubro, podem fornecer a base política interna para reviver o Grupo de Visegrado.
[i] O político populista nacionalista Andrej Babis está prestes a retornar ao cargo de primeiro-ministro após a vitória de seu partido nas últimas eleições. Eles não têm maioria, mas espera-se que formem uma coalizão com alguns dos partidos menores que compartilham sua visão de mundo.
Este é um acontecimento importante, visto que a República Tcheca está sob controle liberal globalista desde que Andrej Babis perdeu a reeleição em 2021. Embora o ex alto funcionário da OTAN Petr Pavel ainda seja presidente, o primeiro-ministro tem mais poder.
Eis por que seu retorno é tão importante: (i) A República Tcheca pode em breve se mover para a direita em questões socioculturais. A coalizão que ele espera formar com partidos menores com ideias semelhantes pode aproximá-lo da direita em questões socioculturais devido às suas visões mais radicais.
Uma das plataformas de mídia da Reuters está muito preocupada com esse cenário e alertou que” a votação tcheca coloca o casamento entre pessoas do mesmo sexo e os direitos LGBTQ+ em jogo“. Segundo a avaliação deles, ele pode tentar redigir sua própria versão do projeto de lei de propaganda anti-LGBT da Hungria e/ou consagrar dois gêneros na Constituição, como a vizinha Eslováquia acabou de fazer. (ii) Também é provável que implemente uma política mais pragmática em relação à Ucrânia. A era em que a República Tcheca fornecia o máximo apoio político-militar à Ucrânia pode acabar em breve, a julgar pelos comentários pós-eleitorais de Andrej Babis. Ele declarou que o país não está pronto para ingressar na União Europeia e sugeriu veementemente o corte da ajuda técnico militar.
Esta última opção poderia levar a República Tcheca a dissolver a iniciativa ocidental que lidera para vasculhar o mundo em busca de munição para a Ucrânia ou a transferir o controle da Ucrânia para a OTAN, o que poderia levar a interrupções no fornecimento que enfraqueceriam a frente, de acordo com o jornal The New York Times. (iii) O “Modelo Orban” poderia, portanto, provar sua aplicabilidade na região. Se Andrej Babis se comportar como esperado nas frentes de política interna e externa, isso comprovará a aplicabilidade do chamado “modelo Orbán” na Europa Central.
O retorno do primeiro-ministro eslovaco, Robert Fico, ao cargo em outubro de 2023 o viu seguir prontamente os passos de seu homólogo húngaro, mas alguns observadores questionaram se isso seria realmente o início de uma tendência. Todas as dúvidas seriam dissipadas se Andrej Babis fizesse o mesmo, o que confirmaria a relevância desse modelo para a região.
Pode haver motivos para reaviver gradualmente o Grupo de Visegrad, composto por esses três países e pela Polônia, que foi informalmente suspenso devido à antipatia de Varsóvia pela abordagem de Viktor Orbán em relação ao conflito ucraniano.
O novo presidente conservador nacionalista da Polônia, Karol Nawrocki, afirmou no verão que priorizará esse grupo, para que suas visões domésticas compartilhadas e seu pragmatismo comparativo em política externa possam estabelecer a base para isso. Seu governo liberal globalista ainda odeia Viktor Orban, mas as duas políticas externas de fato da Polônia ainda podem levar a algum progresso.
A proeminência geopolítica da Europa Central continua a crescer, como se comprova pela ampla atenção dada às últimas eleições tchecas e às suas consequências mais prováveis. Isso é especialmente significativo no que diz respeito aos grandes planos estratégicos da Polônia para restaurar seu status de grande potência por meio da “Iniciativa dos Três Mares” que lidera e que abrange toda a Europa Central. A revitalização do Grupo de Visegrado após o retorno de Andrej Babis ao poder criaria um núcleo de países para concretizar esses planos com mais facilidade.
Em vista do exposto, as eleições tchecas são importantes porque representam a disseminação do “modelo Orbán” por toda a Europa Central, o que fornece a base interna para a revitalização gradual do Grupo de Visegrado, se Karol Nawrocki realmente tiver vontade política. As divergências entre seus membros em relação à Rússia ainda podem ser um obstáculo a uma cooperação mais estreita, mas se ele as deixar pragmaticamente de lado em busca dos grandes objetivos estratégicos da Polônia, então este grupo poderá em breve retornar à vanguarda da política regional.
Tradução: Artur Scavone.
Autor: Andrey Korybko - Analista político americano baseado em Moscou, especializado na transição sistêmica global para a multipolaridade. Publicado no Site Brasil 247.
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