O crime organizado obedece a duas lógicas: mercado e poder. Ocupação de territórios é disputa por mercados e não apenas o da droga. Começou bem a CPI do Crime Organizado. Não se trata de restringir a investigação — ou as políticas de segurança — à luta contra o tráfico. Esta é apenas uma das modalidades de atuação do crime organizado.
O crime organizado obedece a duas lógicas: mercado e poder. A ocupação de territórios é uma disputa por mercados e não apenas o da droga. Comercializam-se os seguintes produtos:
- Gás
- Gato de Internet
- Votos
Quando a polícia ataca determinada comunidade, muito provavelmente por trás da operação está uma disputa territorial, desalojando um grupo criminoso em favor de outro. No caso, as milícias, organizações formadas por ex-policiais e com óbvias ligações com a polícia. Nos últimos anos, além da venda de proteção, gás e gatonet, as milícias enveredaram também pela venda de drogas.
Relatórios do Ministério Público, por exemplo, revelam que essas organizações passaram a explorar a venda de drogas, atuando tanto na expulsão de traficantes tradicionais quanto na parceria com estas, formando “narcomilícias”
As milícias também buscam consolidar seu poder, através de apoios políticos, além de expandir seu controle sobre territórios estratégicos na capital e no interior do país. Tal estratégia promove o crescimento territorial dessas organizações, com aumento de suas atividades ilícitas, incluindo o tráfico, em um cenário de enfraquecimento das facções tradicionais. Quando combate uma facção, a Polícia Militar também se move pela lógica econômica, já que muitos PMs são parceiros de seus ex-colegas milicianos.
As milícias e a política
A família Bolsonaro se elegeu e manteve apoio político com a colaboração explícita e implícita das milícias, utilizando-se de recursos provenientes desses grupos para sua ascensão eleitoral e manutenção do poder em determinadas regiões, principalmente no Rio de Janeiro.
Como explicou o ex-deputado federal Fernando Gabeira, “família Bolsonaro se elege com a ajuda das milícias” Para ele, o Rio é um Estado onde, de um lado, “corrupção acontece em vários níveis” e, de outro, há a incapacidade do próprio poder público em “estar presente em regiões que são dominadas e lideradas por setores que não são oficiais”, como as milícias e o tráfico.
“Isso implica numa dificuldade muito grande no curso da democracia. Durante o período eleitoral só entram naquelas regiões e só se elegem os deputados, vereadores ou senadores que tiverem contato com esses grupos e autorização deles para entrar. Estabeleceu-se no Rio o que o Raul Jungmann chamava de ‘coração das trevas’, a associação de crime e política”, comentou.
As ligações do clã Bolsonaro com as milícias da zona oeste se estreitaram em 2002, com a eleição de Flávio Bolsonaro para a Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro. Flávio tinha apenas 22 anos, e se vendia como representante político e ideológico dos “guerreiros fardados”. O grande articulador da família, junto às milícias, era Fabrício Queiroz, tanto junto às milícias quanto aos batalhões policiais.
No seu período de deputado, Flávio aprovou 495 moções e concedeu 32 medalhas a a policiais militares, policiais civis, bombeiros, guardas municipais e membros do Exército, da Marinha e da Aeronáutica. Dentre os primeiros homenageados, estava Adriano da Nóbrega, morto anos depois pela Polícia Militar da Bahia, numa operação típica de queima de arquivos.
Não são apenas as milícias. Em São Paulo, o PCC controla um amplo território, onde cuida da segurança, impedindo o crime no varejo, que poderia atrapalhar suas atividades. Em outubro de 2024, o Tribunal Regional Eleitoral divulgou relatório de inteligência ao Ministério Público Eleitoral, com nomes de dez vereadores e dois prefeitos eleitos neste ano também são suspeitos de manter relação com o crime organizado.
O secretário bolsonarista
Em todo esse jogo de cena, da Operação que matou 121 pessoas, nenhuma explicação foi mais patética que a de Victor Santos, Secretário de Segurança Pública do Rio de Janeiro, em entrevista à Folha. Segundo ele, o objetivo da operação nunca foi prender os líderes do Comando Vermelho, mas busca e apreensão e de mandados de prisão para mapear e asfixiar a organização criminosa.
Disse ele: “Hoje o foco é o negócio. Se imaginar 280 mil pessoas, dividir a metade, 140 mil, pagando um plano básico de internet de R$ 100, temos R$ 14 milhões só de internet. Quanto de droga o criminoso tem de vender para faturar R$ 14 milhões? Então o foco nunca foi o criminoso. Eu quero os dados. A gente hoje tem informações de movimentações financeiras, que é o que vai dar efetividade a esse combate. Claro que numa fase ostensiva a gente tem que pensar nessa questão do confronto”.
Não explicou que tipo de dados consegue de pessoas mortas.
No governo Bolsonaro, foi Superintendente da Polícia Federal no Distrito Federal, por indicação de Flávio Bolsonaro. Substituiu Hugo de Barros Correia, que coordenava as ações da corporação no DF, responsável por um inquérito contra Jair Renan, o filho mais novo do ex-presidente Jair Bolsonaro.
Um dia depois de exonerado do cargo, foi nomeado Secretário de Segurança do Rio de Janeiro.
Autor: Luis Nassif – Publicado no Site GGN.

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