A liberdade é determinada pelo algoritmo, eis o resultado de nossas escolhas modernas. Na minha timeline aparecem sites de literatura, de escrita criativa, de matemática, de curiosidades científicas e dos meus amigos mesmo, ou, ao menos, conhecidos ao longo da vida. Mas quando aparece algo inusitado, como uma propaganda da extrema direita ou um site de pseudociência vendendo cura quântica, eu fico preocupado se o algoritmo encontrou em algum clique meu, aquela tendência. Sim, somos produtos de nossas buscas frenéticas pelo mundo cibernético, queiramos ou não. Quando fiz a especialização em Jornalismo Científico, há oito anos, foi a primeira vez que fui apresentado ao poder computacional de ler nossas mentes e lábios. Se conversamos sobre um assunto próximo a uma dessas máquinas, não tarda para que apareçam propagandas com alguma referência ao que falamos. Se comenta que hoje pode estar chovendo e que não tem guarda-chuva, nem capa plástica de proteção, em alguns minutos aparecerá uma referência a site de previsão do tempo ou um anúncio de loja de acessórios, que pode ou não incluir um guarda-chuva. Surpreendente!
Nas viagens sempre temerosas, agora, pelas redes sociais, incorporei alguma lentidão por esses dias e ignorei várias datas dessas duas, três semanas. A juntada de palavras para marcar o tempo ficou comprometida com minha própria condição física. A mente possui limitações que a próxima mente dúvida. Eterno pode ser o pensamento, mas as trocas fluidas para sinapses são limitadas. Pensamento esse que passo a ser regulado por algoritmos, não nos esqueçamos. Não sei se é a dosagem do remédio ou o ocaso que se aproxima, mas ficou difícil o registro instantâneo e frequente das passagens, fatos e correlatos. Mesmo assim, leio a bula da formulação do boticário e nada encontro. Ou melhor, encontro tudo, pois a farmacêutica responsável, cujo registro está estampado com nome e número, cobriu todas as possibilidades de insucesso da medicação para isentar de culpa quem fez a prescrição, desde pequenas indisposições gástricas até a falência de órgãos, passando por tonturas, sangramentos, perda de apetite (que não seria ruim para diminuir a cintura abdominal) e outras disfunções. Cada bula vira um tratado de medicina com possibilidades múltiplas a dar inveja ao Dr. House, seriado muito bom de assistir.
A modernidade faz com que substituamos palavras à revelia da lógica. Outro dia a prestigiada revista Piauí usou algoritmo no lugar de logaritmo, aquela operação matemática maravilhosa que é o oposto da potenciação. A matéria tratava de crônicas irônicas de um século atrás e não prestaram atenção na transcrição da palavra, uma vez que o tenebroso algoritmo é bem mais recente do que os queridos logaritmos. Creio que assumiram o equívoco, pois publicaram carta com tal alerta; não sei se o material na versão digital foi corrigido por não ter acesso a ele. Os logaritmos me fizeram aprender a explorar todos os recursos de minha calculadora com quatro operações básicas, já relatado alhures, uma vez que o logaritmo da multiplicação dois termos é a soma dos logaritmos de cada termo. Porém, fico surpreso quando alunos do ensino médio relatam horrores quando adentram esse campo da matemática. Pode ser parte do problema geral de interesse pela aprendizagem que adentrou nosso sistema educacional. Entre as dúvidas dos algoritmos e as certezas dos logaritmos, fico com as últimas.
Autor: Professor Adilson Roberto Gonçalves – Publicado no Blog dos Três Parágrafos.
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