Não se tenha dúvidas. Quando o furacão chegar, não restará pedra sobre pedra, não apenas do político, mas do empresário Donald Trump.
Até algum tempo atrás, quem ousasse imaginar os arroubos de Donald Trump seria taxado de fantasioso. Trump atropelou todos os limites do bom senso.
A maneira como conseguiu atuar até hoje, de forma impune, passou a impressão de que foram liquidados completamente todos os limites democráticos. Reside aí o erro de raciocínio.
Todo abuso continuado gera uma reação cumulativa. A atuação de Trump já provocou a oposição dos seguintes setores:
- As universidades e os centros de pensamento jurídico.
- A imprensa, do liberal The New York Times aos antigos apoiadores do grupo Murdoch, incluindo Fox News, The Wall Street Journal.
- Todas as empresas importadoras, afetadas pelas novas tarifas e pelas maluquices de tarifas de 50% a 100% ao bel prazer de Trump.
- As comunidades latinas e negras.
São resistências cumulativas. E ele ainda vive dilemas. Se recua nas apostas, passa a impressão de fraco – imagem destruidora de lideranças fascistas. Se continua apostando, vai gerando mais desequilíbrios e criando mais resistências.
Em suma, a versão acabada do ditado “se correr o bicho pega, se ficar o bicho come”.
Faltava o episódio síntese, aquele capaz de ser assimilado por todos os níveis de público, até os terraplanistas. E, agora, ele chegou. Ou melhor, voltou para ficar.
O caso Epstein
Agora, paira sobre sua cabeça as revelações do caso Epstein – o milionário que arrumava meninas menores de idades para o mundo dos bilionários.
A versão de suicídio jamais foi convincente. Como uma das pessoas mais vigiadas dos EUA morre sob custódia federal?
Havia uma série de coincidências suspeitas.
- Duas câmeras de segurança próximas à cela falharam ou apresentaram problemas técnicos.
- Os dois agentes penitenciários responsáveis dormiram durante o plantão e falsificaram registros de rondas.
- Epstein havia sido retirado da vigilância antissuicídio apenas dias antes, apesar de um suposto intento anterior.
- O laudo oficial indicou suicídio por enforcamento com lençol. Mas o patologista independente contratado pela família (Michael Baden) afirmou que: “As fraturas no osso hioide são mais consistentes com estrangulamento homicida do que com enforcamento suicida.
- As marcas no pescoço também causaram dúvida: estavam horizontais (como de estrangulamento) e não oblíquas (como típico em enforcamento).
- Epstein foi preso em julho de 2019. Morreu menos de 40 dias depois. Ele estava pronto para delação sobre sua rede de tráfico sexual, finança e chantagens.
- A prisão e condenação de Ghislaine Maxwell (sua parceira) em 2021/2022 revelou novas informações, mas não nomes nem provas completas.
- Parte do material foi liberado em 2024 e 2025, mas muitos nomes foram suprimidos.
- Documentos como o “black book” e as gravações de câmeras privadas de Epstein ainda não foram integralmente tornados públicos.
Nas próximas semanas, será o prato predileto da mídia. The Times e New York Post, uma em Londres, outra em Nova York, ambas do grupo Murdoch, já iniciaram o tiroteio, secundando o The Washington Post, que trouxe a primeira reportagem, da nova rodada sobre as relações Epstein-Trump,
As reportagens do The Times têm manchetes bombásticas: “É uma história maior do que o mundo jamais conheceu”, diz ele.
Mostrou que os logbooks de voos no jato de Epstein – apelidado de “Lolita Express”- revelam passageiro proeminentes, mas sugerem que a lista é muito maior do que foi revelado, “muito ainda está por vir”, e especula até possíveis vínculos com a inteligência israelense.
Outra reportagem mostra o senador Ron Wyden afirmando que o governo Trump detinha registros secretos de US$ 1,5 bilhão em transferências financeiras relacionadas a Epstein, incluindo transações abastecidas por bancos russos.
Um conjunto grande de estragos políticos já foi contabilizado. Pesquisa da Reuters mostrou que 69% dos norte-americanos acreditam que o governo está ocultando informações sobre clientes de Epstein, e apenas 17% aprovam a forma como Trump conduziu o caso.
Entre os republicanos, 35% aprovam, 30% desaprovam e 35% estão indecisos. E a campanha sobre o tema mal começou. Figuras da ala MAGA, como Laura Loomer, Mike Pence e Josh Hawley, pressionam por mais transparência, chamando a postura atual de “cover‑up”.
Outros escândalos
Não é o único escândalo reprimido provisoriamente, em função da reeleição de Trump. Há muito mais macaquinhos no sótão de Trump, conforme sincretiza o Chat GPT.
1. Esquema de “hush money” e falsificação de registros (Nova York)
- Em março de 2023, o promotor Alvin Bragg apresentou 34 acusações criminais contra Trump por falsificar registros comerciais para ocultar pagamentos à atriz pornô Stormy Daniels antes da eleição de 2016 .
- Em maio de 2024, foi condenado por essas práticas (sem risco de prisão, mas com registro criminal).
2. Caso civil por fraude financeira (fraude patrimonial em NY)
- A procuradora-geral Letitia James moveu ação contra Trump e seu grupo, acusando inflação fraudulenta de patrimônio em mais de US$ 3,6 bi entre 2011‑2021.
- Em fevereiro de 2024, o juiz Arthur Engoron condenou Trump a pagar cerca de US$ 355 mi (com juros, ultrapassando US$ 500 mi) e proibiu-o de atuar como diretor de empresas em Nova York por três anos.
3. Condenação da Trump Organization por sonegação de impostos
- Em dezembro de 2022, a Trump Organization e seu CFO Allen Weisselberg foram considerados culpados por um esquema de 15 anos de fraude fiscal criminal.
- Weisselberg recebeu pena de prisão e tornou-se testemunha-chave.
4. Trump University – Fraude educacional
- Trump enfrentou várias ações por suposta operação fraudulenta da “Trump University”, acusada de enganar consumidores e operar como esquema RICO.
- Ele foi responsabilizado financeiramente em acordos, embora sem condenação criminal direta.
5. Mar-a-Lago – Seguros e avaliações falsas
- Indícios de fraude em seguro: Trump recebeu US$ 17 mi por suposto dano de furacão que, segundo o butler, não ocorreu.
- Em processos de fraude patrimonial, a mansão foi supervalorizada em sua contabilidade (até US$ 627 mi, contra avaliação real de US$ 18–27 mi).
6. Conflitos de interesse e favorecimento nos negócios
- Trump e sua família lucraram com negócios ligados a criptomoedas, empreendimentos imobiliários internacionais e acordos com governos estrangeiros – inclusive um memorando avalia US$ 2 bi com fundo dos Emirados.
- Críticos apontam uso de poder presidencial para favorecer esses negócios, levantando acusações de violações do emoluments clause e possíveis crimes financeiros.
Não se tenha dúvidas. Quando o furacão chegar, não restará pedra sobre pedra, não apenas do político, mas do empresário Donald Trump.
Autor: Luis Nassif – Publicado no Site GGN.
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