O mês de março é devotado a Marte, segundo a
etimologia do nome. É paradoxal que o período em que fixamos comemorações
referentes às lutas das mulheres esteja atrelado ao deus grego da guerra. Lutas
e guerras parecem se opor quando é a esperança e a busca por uma vida melhor
que são os objetivos. Mas não, vitórias advêm do embate; o que é ganhado não é
conquistado. Marte e Vênus possuem características mitológicas opostas, mas,
que na verdade, se complementam. Nossa criatividade transcende a lógica,
portanto. Em relação ao dia internacional de luta das Mulheres, pasmei a
seguinte trova, devidamente postada nos grupos de trovadores: Feminista,
feminina, / pode tudo isso a mulher; / somente ela determina / ser feliz onde
quiser. A trova moderna é uma composição de quatro versos, rimando o primeiro
com o terceiro, e o segundo com o quarto, cada um com sete sílabas fonéticas
(diferentes das sílabas gramaticais) e com sentido completo. A definição é essa
e se a trova é realmente trova fica por conto dos que a leem e julgam, às
vezes.
Para Marte eu não vou porque a Nasa abriu inscrição
de voluntários, mas o candidato necessita ter nacionalidade norte-americana ou
o green card que dá equivalência de cidadania. Sou brasileiro exclusivo, sem
qualquer pretensão de outra nacionalidade, uma vez que aqui nasci e é aqui que
vivo, mesmo tendo uma evidente ascendência europeia. Injusto por parte da
Agência Espacial Norte-americana, que poderia ter um pouco mais de diversidade
cultural entre os pretendentes à viagem só de ida para o planeta vermelho.
Poderia contribuir com o conhecimento químico, influência da gravidade e
atmosfera do outro planeta na artrite & artrose de um pós cinquentão e já
caminhando para conseguir a gratuidade de idoso, e, ao final do dia, poderia
recitar uns poemas, trovas e outros escritos para entreter, desde que na língua
de Camões e não na de Shakespeare. Seria um bom investimento, não é verdade?
De grandes mulheres perdemos a Cecilia Prada,
escritora, diplomata, jornalista vencedora do prêmio Esso, indicada para o
Nobel de Literatura, dentre outros predicados de uma vida dedicada à cultura
campineira. As devidas homenagens estão sendo feitas a ela. Escrevi um texto
para o Correio Popular, recuperando e-mails que tive a felicidade de com ela
trocar. No início do mês seria o aniversário de Niza de Castro Tank, falecida
há quase dois anos. O Centro de Ciências Letras e Artes (CCLA) de Campinas fez
uma homenagem para lembrar da data, com agradável noite de depoimentos, música
e exibição do documentário As joias da princesa, de Teresa Aguiar e Ariane
Porto. Vale a pena conferir no YouTube: https://www.youtube.com/watch?v=6r28Ap2v_3g.
Mas também é prazeroso continuar com as que, na ativa, realizam a doce arte de
existir. A imortal Fernanda Montenegro volta a interpretar, mais uma vez,
Simone de Beauvoir. Tive a oportunidade de vê-la, magnânima, em "Viver Sem
Tempos Mortos". Parodiando a frase nunca dita por Che Guevara: "há
que envelhecer, mas sem perder a serenidade, jamais". Por fim, continuando
entre os imortais, o dia foi coroado com a eleição de Lilia Schwarcz para a
Academia Brasileira de Letras (https://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2024/03/lilia-schwarcz-e-eleita-para-a-abl-e-se-torna-11a-mulher-a-ganhar-titulo-de-imortal.shtml).
Autor: Professor Adilson Roberto Gonçalves. Publicado no Blog dos Três Parágrafos.
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