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6 de março de 2024

Uma história ridícula do Plano Real, por Luís Nassif!

 

Acompanhei de perto o Real, e posso assegurar algumas verdades conhecidas de todos os jornalistas que cobriram o plano.

A Casa das Garças, centro de lobby financeiro dirigido por Edmar Bacha, decidiu lançar um livro sobre os 30 anos do Real. Até aí, nada demais. O problema é a seleção de autores: o próprio Edmar Bacha, Pedro Malan, Pérsio Arida e Armínio Fraga. De fora, deixaram o verdadeiro pai do Real, economista André Lara Rezende. A vaidade é irmã gêmea do ridículo. Acompanhei de perto o Real, e posso assegurar algumas verdades conhecidas de todos os jornalistas que cobriram o plano.

Primeira, Edmar Bacha não teve a mínima participação no Real. Edmar era um economista estruturalista, que enveredou pelo monetarismo, mas era constantemente escrachado por Dionísio Dias Carneiro, o mais sólido dos monetaristas da PUC-Rio de Janeiro, berço do Plano. A não ser alguns trabalhos sobre os chamados déficits gêmeos, no começo dos anos 90, Bacha era mais conhecido por sua atividade sindical – de defensor da classe dos economistas, antes de se tornar mero propagandista do mercado.

Mais tarde, ganhou uma função no BBA – o banco de investimento criado por Fernão Bracher – que lhe permitiu enriquecer, como os colegas.

O mesmo ocorreu com Pedro Malan. Antes, teve atuação sindical na Ordem dos Economistas. Depois, foi negociador chefe da dívida externa brasileira, de 1991 a 1993 e representante do Brasil na Diretoria Executiva do Banco Mundial e do BID em Washington. Nessa condição, encaminhou muitos projetos para a Hidro brasileira, empresa de Sérgio Motta, um dos fundadores do PSDB. Foi o que garantiu os recursos iniciais para o lançamento do partido. Reside aí a única contribuição de Malan ao futuro Plano Real.

Gustavo Franco, na época, era um jovem economista que se especializara na hiperinflação alemã. Aliás, a primeira vez que se apresentou em São Paulo foi em um seminário organizado pela Agência Dinheiro Vivo, justamente para falar sobre o tema. Para contornar a hiperinflação, os alemães criaram uma moeda referenciada em custo de energia elétrica. Apesar desse seu conhecimento, Gustavo também não teve nenhum papel na formulação inicial do Real.

Pelo menos restou Pérsio Arida, este sim, um dos formuladores do Plano Real, coadjuvando André Lara. Há duas maneiras de ver o plano. A primeira, sua concepção. A engenhosidade da URV, a maneira como foi implementada, usando o dólar como referência, mas a URV como mediadora, foi uma obra de arte econômica.

A partir daí, houve o jogo político, de submeter toda a economia ao mercado financeiro. Mudaram a composição do Conselho Monetário Nacional, deram plena autonomia ao Banco Central, mantiveram as taxas de juros em níveis estratosféricos por meses e meses.

A questão dos precatórios

Estão corretos os que afirmam que o pagamento dos precatórios beneficiou os grandes investidores – especialmente o mercado financeiro. Foi esse o estratagema de Paulo Guedes. Primeiro, atrasou os precatórios – em grande parte, precatórios alimentícios. Com dificuldades, os titulares originais acabaram vendendo no mercado com enormes descontos.

Guedes pretendia que os precatórios pudessem ser utilizados para o pagamento de concessões e imóveis públicos, pelo valor de face. Por aí, completaria o golpe.

Deixou um enorme passivo para o governo Lula. A solução encontrada foi quitar os precatórios, e pelo valor de face. Não haveria outro caminho legal. Mas o golpe foi dado pelo governo Bolsonaro.

Autor: Luis Nassif – Jornal GGN.

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